Núcleo urbano da cidade de Sobral / Vila Real do Sobral

IPA.00009597
Brasil, Ceará, Ceará, Sobral
 
Núcleo urbano sede administrativa. Cidade situada em margem fluvial. Vila moderna de fundação régia portuguesa. Centro da cidade está implantado em terreno plano na margem de um rio. Povoado de origem dita espontânea, formado a partir de uma fazenda de criação de gado no início do séc. 18 e cujo crescimento urbano justificou a elevação a vila na 2ª metade de Setecentos. Núcleo inicial, de carácter maioritariamente residencial, polarizado em torno da Igreja Matriz, configurando uma praça onde foram depois construídas a Casa do Capitão-mor e a Casa da Câmara e Cadeia. Formação quase contemporânea do núcleo de vocação comercial, aglutinado em redor da Igreja do Rosário. Traçado predominantemente ortogonal, baseado na hierarquia entre ruas principais e ruas secundárias, organizando-se a partir do cruzamento de quatro eixos estruturantes de cronologia diferenciada, que articulam entre si as principais praças, espaços amplos dominados quase sempre por uma igreja de filiação tardo-barroca ou ecléctica. Espaço construído revelando relativa homogeneidade volumétrica, composto por edificações de um ou dois pisos, ocupando lotes rectangulares e mostrando as fachadas alinhadas à face da rua. Definição dos tipos arquitectónicos coincidente com o encadeamento dos diferentes ciclos económicos da vida urbana (CASTRO, 1973): casa térrea do séc. 18 (ciclo do gado); sobrado da 1ª metade do séc. 19 (ciclo comercial); casa térrea de oitão valorizado da 2ª metade do séc. 19 (ciclo do algodão), tendencialmente eclética; casa ecléctica, casa com influência Arte Nova, casa com influência Art Déco e casa modernista na 1ª metade do séc. 20 (ciclo industrial).
Número IPA Antigo: BR920701670037
 
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Registo

 
Conjunto urbano  Aglomerado urbano  Cidade  Vila moderna  Vila moderna  Régia (D. José)

Descrição

A cidade observa-se como uma mancha extensa, cuja horizontalidade é interrompida apenas pela pontuação vertical das torres sineiras. A planura do terreno facilitou a adopção de um traçado urbano predominantemente ortogonal, mostrando uma hierarquia viária entre ruas principais de maior largura e ruas transversais mais estreitas, articulando-se com o espaço livre das praças, que surgem em número significativo e acolhem, por regra, edifícios marcantes de uso colectivo. Esta malha revela diversos ajustamentos resultantes de um crescimento faseado ao longo do tempo. É ainda identificável a área equivalente ao primeiro povoado da Fazenda Caiçara, polarizado em torno da Matriz, formando depois uma ampla praça de planta trapezoidal, onde se situa a Casa do Capitão-mor e a Casa da Câmara. Na 2ª metade de Setecentos uma rede urbana conjugava já dois núcleos de desenvolvimento quase simultâneo, o núcleo da Matriz e o núcleo de Nossa Senhora do Rosário, este último aglutinado em redor da igreja e do espaço de configuração triangular resultante da convergência de caminhos estruturantes. A trama correspondente a esta etapa de formação revela alguma irregularidade na dimensão e forma dos quarteirões (quadras), tornando-se tendencialmente mais ortogonal com a expansão urbana oitocentista. A nova rectícula, gerando zonas de transição, agregou os dois núcleos iniciais e estendeu-se para N. e E., até atingir a Praça de S. João, espaço rectangular dominado pelo teatro e pela Igreja do Menino Deus, crescendo mais tarde para O. e NO. até à vasta praça onde se situa a Igreja do Patrocínio. A consistência da malha urbana resulta do facto de se estruturar a partir do cruzamento de quatro eixos principais, encadeando as praças mais significativas: os caminhos iniciais, de orientação SE. / NO. (antigas Rua Velha e Rua Nova do Rosário, actuais Ruas José Sabóia e Ernesto Dioclesiano), que do rio se dirigem para a serra, ligando a Matriz à Igreja do Rosário, que são interceptados por dois eixos perpendiculares, a antiga Rua do Negócio (actual Menino Deus) e a paralela mais tardia, a Avenida Dom José. Esta, relacionada com o preenchimento do vazio antes existente entre os dois núcleos originais e de que resultou a actual Praça José Sabóia, configura um novo acesso à Praça de S. João. A orientação transversal aos primeiros percursos estruturantes é também repetida na actual Rua do Rosário, que se direcciona para a área de influência da Praça do Patrocínio. Verifica-se que a organização viária permaneceu vinculada às linhas geradoras do povoado, que fixaram e condicionaram as direcções do posterior crescimento urbano, ampliando a cidade com uma trama ortogonal mais rigidamente padronizada. No entanto, persistiram até ao séc. 20 zonas intersticiais livres, como a área ribeirinha a E. da Igreja das Dores, cuja ocupação incorporou as irregularidades de base do núcleo matricial. Observando a relação entre a massa edificada e as áreas livres, nota-se uma forte presença da vegetação, em especial de espécies arbóreas, quer nas praças, quer nos logradouros. Os quarteirões centrais apresentam-se mais densamente preenchidos, tanto na zona residencial da Matriz, como na zona comercial concentrada em torno da Igreja do Rosário. Exceptuando-se os edifícios públicos ou aqueles que resultam de demolições recentes e sequente emparcelamento dos lotes, as edificações acompanham, em geral, o alinhamento da rua, ocupando lotes rectangulares de dimensão similiar e com o lado mais estreito orientado para a rua. Nas zonas mais recentes, as quadras possuem maior dimensão e mostram menor densidade construtiva, tornando-se mais frequente a ocorrência de recuos frontais ou laterais das fachadas, relativamente à rua, facto relacionado com a preferência por novos tipos arquitectónicos. O conjunto das edificações apresenta características volumétricas comuns, raramente excedendo os dois pisos (pavimentos), verificando-se maior incidência de casas térreas na zona da Matriz, enquanto na área do Rosário surge preferencialmente o edifício com dois pisos. A classificação dos tipos arquitectónicos pode ser morfológica e cronologicamente sequenciada, em função dos diferentes ciclos económicos responsáveis pela formação urbana (CASTRO, 1973). O primeiro tipo edificado, representando o ciclo do gado, refere-se à casa térrea do século 18: construída em lotes estreitos, alinhada à face da rua, apresenta uma fachada onde se rasgam apenas as aberturas elementares (porta-janela ou duas portas), por vezes com vergas curvas, sendo a superfície rematada por um característico beirado, localmente conhecido como "beira sobeira", anunciando a cobertura com telhado de duas águas; é possível distinguir-se as casas da 1ª fase, com um pé-direito baixo e estrutura autónoma em madeira, das casas da 2ª fase, ocupando lotes um pouco mais largos e com um pé-direito mais alto. Sobrevivem poucos exemplares destas primeiras casas, sendo de destacar a Casa do Capitão-mor na Praça da Matriz. Contudo, estas modestas casas térreas, pela sua simplicidade e economia de meios, fixam um tipo reproduzido com escassas variações até à actualidade. Durante o séc. 19 o ciclo comercial propiciou o aparecimento de uma segunda categoria de casa, o sobrado, com o piso térreo destinado ao comércio e o piso superior reservado à habitação, ocupando parcelas urbanas de maior dimensão. Numa primeira fase, o sobrado mostra ainda um reduzido número de portas e janelas, beiral rematado por cornija de argamassa e cobertura de duas águas, para, numa fase posterior, apresentar uma fachada mais extensa, rematada por platibanda ornamentada e por telhado de três ou quatro águas, salientando-se o caso dos sobrados ocupados hoje pelo Museu D José e pela Casa de Cultura. Na 2ª metade de Oitocentos, e coincidindo com o ciclo do algodão, é reconhecível um outro tipo de casa térrea, denominada "casa de oitão valorizado"; trata-se de uma edificação preferencialmente localizada nas esquinas e por isso destacando o chamado oitão, isto é, a empena do telhado de duas águas que surge sublinhada como um desproporcionado frontão angular e que aloja uma falso piso e respectiva fenestração, sendo também, por isso mesmo, chamada de falso sobrado. A este respeito é muito referenciada a Casa Fernandes Mendes (actual Patronato Maria Imaculada), igualmente um caso único de revestimento azulejar na fachada. No entanto, as numerosas variações morfológicas e estilísticas exibidas pelas casas de oitão expõem um tipo arquitectónico demasiado híbrido, aconselhando a sua inclusão numa corrente arquitectónica manifestamente ecléctica e revivalista, capaz de recorrer simultaneamente aos motivos neo-clássicos e às derivações decorativas tardo-barrocas. Esse evidente eclectismo é perceptível na maioria das construções do séc. 20, fruto do ciclo industrial e com maior peso quantitativo no centro histórico. Constituem, frequentemente, o resultado da actualização estilística de antigas casas térreas, que receberam um novo revestimento decorativo, particularmente visível na platibanda, onde se cruzam balaustradas e uma mistura ornamental de difícil catalogação, processo que é válido tanto para a tendência ecléctica, como para as influências Arte Nova e Art Déco. Dos imóveis mais marcantemente eclécticos e monumentais distinguem-se a Casa Senador Paula Pessôa (antigo Paço Episcopal e actual Colégio Santana) e o Palace Club (actual Centro de Línguas). As edificações de inspiração Arte Nova e Art Déco, também derivadas da importação de novos gostos arquitectónicos a partir da dinâmica urbana de Fortaleza, vulgarizam os recuos frontais e laterais nas edificações de raiz, privilegiando o rasgamento de amplas janelas múltiplas, emolduradas por linhas ondulantes e coroamentos curvilíneos, nos casos Arte Nova, entre os quais se salienta a correnteza de casas da Praça Samuel Pontes. Nos exemplos onde é mais visível a influência Arte Déco, as linhas curvas são substituídas por linhas rectas, insinuando um tímido jogo de planos lineares que organizam simetricamente a superfície da fachada e a platibanda. A tendência novecentista para romper com o tradicional alinhamento das fachadas à face da rua acentua-se com a arquitectura modernista dos anos 40, de que se registam alguns exemplos notáveis, em especial de moradias quase isoladas no lote. Essa ruptura aparece muito vincada na arquitectura contemporânea, que tende a dissimular a própria casa atrás do muro, único elemento que acompanha o desenho da quadra e da rua, num crescente esfarelamento da massa edificada, aspecto que mais se evidencia à medida que nos afastamos do núcleo central da cidade.

Acessos

BR 220; Avenida Senador Fernando Távora

Protecção

Tombamento Federal - IPHAN, 1999.

Enquadramento

Urbano. Constituindo a cidade interior mais importante do N. do estado do Ceará, Sobral situa-se na margem esquerda do Rio Acaraú, na faixa central da sua bacia hidrográfica e junto a uma das zonas mais estreitas do seu leito, o que facilitava a passagem das boiadas nos séculos 17 e 18. Insere-se na paisagem do sertão, vasta planície pontuada por carnaúbas (árvore da família das palmeiras) e onde a vegetação arbustiva e esparsa apenas se apresenta verde na época das chuvas, mantendo-se seca durante os meses de estio. A aridez do sertão é suavizada pelo recorte de algumas montanhas, salientando-se o contorno da Serra da Meruoca, localizada a cerca de 10 km para NO., e cuja fertilidade natural assegurou desde o séc. 18 o abastecimento de víveres (cereais, mandioca, cana de açúcar, frutas), um factor importante na consolidação do núcleo urbano. Tradicionalmente as famílias abastadas possuíam um "sítio" (quinta) na serra para habitação sazonal. A serra, a várzea e o rio formam o enquadramento paisagístico da cidade, actuando a margem ribeirinha como nítido limite urbano, apesar da actual existência de duas pontes assegurando uma rápida travessia. Na margem oposta apenas recentemente se desenvolveu o Bairro Dom Expedito. Devido à topografia plana, a extensão da cidade, que ultrapassou o perímetro marcado pela linha ferroviária, não é visualmente perceptível, à excepção do panorama observável a partir do Alto do Cristo, miradouro situado numa área periférica.

Descrição Complementar

Não aplicável

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Não aplicável

Afectação

Não aplicável

Época Construção

Séc. 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

1650 - alvará régio regulamentando a concessão de sesmarias, a fim de promover a ocupação do interior brasileiro; os caminhos das boiadas, provenientes principalmente da Baía, Pernambuco e Paraíba, desempenharam um papel fundamental no povoamento do sertão cearense, ao permitir a fixação de percursos migratórios direccionados para os vales dos rios Juaguaribe e Acaraú, e em menor grau na ribeira de Siará, potenciando a instalação de fazendas de criação de gado e o gradual aparecimento dos primeiros núcleos urbanos do Ceará, por esse motivo localizados no interior do território; 1702 - concessão de uma sesmaria a António da Costa Peixoto, vereador de Aquiraz, em terras que formaram a Fazenda de Caiçara, localizada na margem esquerda do Acaráu, tal como as fazendas de Cruz de Padre e Pedra Branca, enquando na margem oposta se instalaram as fazendas da Várzea Grande e Marrecas. A Fazenda de Caiçara foi herdada pelos filhos do primeiro sesmeiro, correspondendo ao perímetro da actual cidade de Sobral a parte que coube a Apolónia da Costa, mulher do sargento-mor António Marques Leitão; a propriedade passou depois para Quitéria Marques de Jesus, como dote de seu casamento com o capitão António Rodrigues Magalhães; 1729 / 1736 - fundação da Vila de Icó nas margens do Juaguaribe; 1742 - Caiçara tornou-se sede do Curato de Nossa Senhora da Conceição da Ribeira do Acaraú; 1743 - doação de uma parte das terras, pelo capitão António Rodrigues Magalhães, para construção da Capela de Nossa Senhora da Conceição, futura Matriz de Sobral; 1748 - elevação a Vila da povoação de Aracati, situada nas margens do Juaguaribe, mas junto ao litoral; 1756 - escritura de doação das terras para a construção da Matriz de Caiçara, documento que revela ainda o objectivo de promover a formação de um povoado, uma vez que reserva área para construção de dez casas para os proprietários e fixa a proibição dos rendeiros possuirem gado vacum ou cavalar. Numa época em que a pecuária se consolidava como principal actividade económica do Ceará, destacando-se a produção de carne seca e couro, destinados à exportação, desenvolvia-se igualmente um mercado interno, estimulando o crescimento dos núcleos urbanos, tornando-se Caiçara um ponto central de uma rede de troca de produtos, assegurando a ligação entre o sertão e o porto de Acaraú; 1766 - ordem régia determinando a existência do minímo de 50 fogos para uma povoação ser elevada a vila; 1767-1769 - Caiçara contava 75 casas; 1773 - Caiçara foi elevada à categoria de "Vila Distinta e Real de Sobral". Neste período existiam doze ruas: Rua de Nossa Senhora do Carmo (lado direito da Praça da Matriz), Rua Detrás da Matriz, Rua Defrente da Matriz, Rua Esquerda da Matriz, Rua do Rio (actual das Dores), Rua de Nossa Senhora dos Milagres (lado N. da Câmara), Rua do Negócio (actual Menino Deus), Rua de Nossa Senhora do Bom Parto (actual Padre Fialho), Rua da Beira do Rio (atrás da Capela das Dores), Rua da Cadeia (atrás da Câmara), Rua da Campina da Jurema (Praça da Várzea) e Rua de Gongorra (continuação da Rua dos Milagres, onde se situava o mercado); 1774 - deliberação municipal obrigando os moradores a terminar a construção das suas casas no prazo de um ano e proibindo a edificação de casas em palha; 1775 - a Câmara mandou fazer a planta da Cadeia; 1776 - nomeação de José de Xarez Furna Uxôa como Capitão-mor de Sobral, pelo Governador de Pernambuco Capitão General José César de Meneses; 1777 / 1778 - demolição da primeira igreja matriz e início da construção de novo templo; 1777 - construção da Igreja do Rosário, promovida pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretinhos, em 30 braças de terreno doado por Vicente Lopes Freire com o fim de aí ser erguida uma capela; 1788 - levantamento e avaliação do património da Vila, encomendado pela Câmara para regular a cobrança de impostos; 1790 / 1794 - período de seca, provocando o declínio da produção de carne seca; 1795 - escritura de compra dos terrenos envolventes à Igreja do Rosário, pela irmandade homónima, referindo-se no documento a obrigação de aforar os chãos para moradas de casas e mencionando-se já a presença de algumas construções e ruas, como a Rua Velha do Rosário (actual Coronel José Sabóia) e Rua Nova do Rosário (actual Ernesto Deoclesiano), factos que traduzem a formação de um novo núcleo urbano, vinculado aos caminhos que ligavam o núcleo consolidado da Matriz à Serra da Meruoca; 1799 - carta régia conferindo autonomia ao Ceará, que deixa de estar sujeito à jurisdição do Governo de Pernambuco; séc. 19, início - crescente relevância do cultivo do algodão e aumento do tráfego comercial entre Sobral e o porto de Aracaú, confirmando a vila como importante ponto nodal da rede de percursos que atravessava o Ceará; 1802 - ordem para a construção da estrada entre Sobral e Fortaleza; 1810, cerca - início da construção da Igreja do Menino Deus, relacionada com a instalação de um pequeno convento de freiras carmelitas; 1816 - Memória do Ouvidor Desembargador José António Rodrigues de Carvalho descrevendo a estrada para Fortaleza e referindo que a Casa da Câmara e Cadeia de Sobral ainda não estava concluída, contando-se 237 casas na área urbana; 1818 - edificação da Igreja das Dores, no lugar de antigo nicho de oração; 1818-1821 - aterro do terreno pantanoso que separava o núcleo da Matriz e a área do Rosário, construindo-se aí o novo mercado público (actual Praça José Sabóia); 1836 - edificação da Casa Senador Francisco de Paula Pessoa (actual Colégio Santana); 1837 - edificação do Sobrado Radier na Av. Dom José; 1841 - primeiras providências municipais com vista à construção do cemitério; 1841 - elevação à categoria de cidade com a denominação de Fidelíssima Cidade Januária de Acaraú; 1842 - restituição do topónimo Sobral; 1844 - construção do sobrado de João Pedro Bandeira de Melo, primeiro Juiz da Paz de Sobral (actual Museu D. José); 1848 - edificação do actual edifício da Câmara Municipal; arranjo da Praça de S. João (ala junto à Igreja do Menino Deus); 1856 - construção do Solar dos Figueiredos (actual Casa da Cultura); 1858 - construção da Igreja de Santo António; 1860 - elaboração de um plano de urbanização que não chegou a ser executado, apesar de testemunhar uma preocupação com o ordenamento da cidade; 1861 - construção do cemitério de S. José, deixando de haver enterramentos no recinto correspondente à actual Praça do Patrocínio; 1867 - instalação do Teatro Apolo numa construção comum na actual Rua Conselheiro Rodrigues Júnior; 1870 - grave crise económica na sequência de vários períodos de seca, afectando especialmente a produção pecuária e algodoeira; 1875 - construção do Teatro de S. João; 1895 - instalação da Fábrica de Tecidos Sobral; 1882 - inauguração da estação ferroviária, acabando o traçado da linha férrea por constituir um limite à expansão urbana, acentuando a densidade da área central; 1885 - benção da capela-mor da Igreja do Patrocínio; séc. 20, 1ª metade - incremento da actividade industrial; 1915 - criação da Diocese de Sobral, sendo primeiro bispo D. José Tupinambá da Frota, promotor de novos edifícios que marcaram a orientação contemporânea da cidade: adaptação a Palácio Episcopal das antigas casas Senador Paula Pessôa (actual Colégio Santana) e Bandeira de Melo (actual Museu D. José), construção do Seminário Diocesano (actual Universidade do Vale de Acaraú), Santa Casa da Misericórdia, Abrigo Sagrado Coração de Jesus e Arco do Triunfo; 1934 - conclusão do arranjo da Praça de S. João; 1935 - construção da Ponte Otto Alencar; 1938 - demolição do mercado público da Praça José Sabóia; 1949 - demolição do cruzeiro existente junto à frontaria da Igreja do Menino Deus; 1954 - inauguração da nova estrada Sobral-Fortaleza.

Dados Técnicos

Estrutura mista. Paredes em taipa, adobe ou tijolos ligados por argamassa de barro, frequentemente reforçadas por uma estrutura em madeira quase autónoma. Cobertura com telhas de aba e canudo (capa e canal), inicialmente manufacturadas e com perfil em V, aplicadas sobre encaibramento de perfil circular ou quadrado. Beirados simples ou com cimalha de telha, denominada beira-sob-beira, solução conhecida no Ceará como beira sobeira ou beira seveira. Pavimento urbano tradiconal em tijoleira.

Materiais

Terra, pedra calcária, madeira (carnaúba), betão, ferro, vidro

Bibliografia

Livros e collecções de Officios e demais papéis pertencentes a Câmara Municipal de Sobral, 1874; STUDART, Guilherme, Seiscentas Datas para a Chronica do Ceará na segunda metade do século XVIII, Fortaleza, 1891; STUDART, Guilherme, Notas para a História do Ceará (segunda metade século XVIII), Typographia do "Recreio", Lisboa, 1892; Idem, Datas e Factos para a História do Ceará, Fortaleza, 1896; Comemorando o Tricentenário da Vinda dos Primeiros Portugueses ao Ceará,1603-1903, Ceará, 1903; BEZERRA, António, Notas de Viagem ao Norte do Ceará, Lisboa, 1915; LINHARES, Fortunato Alves, "Apontamentos para a História e Corografia do Município e Cidade de Sobral", Boletim da Academia Sobralense de Estudos e Letras, ano I, n.º1, 1944; Idem, Notas Históricas da Cidade de Sobral, Sobral, 1945; CASAL, Aires, Corografia Brasílica, Rio de Janeiro, 1945; AZEVEDO, Aroldo de, Vilas e Cidades do Brasil Colonial, Universidade de São Paulo, ensaio de geografia urbana retrospectiva, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, São Paulo, 1956; GIRÃO, Raimundo, O Ceará, 1966; STUDART FILHO, Carlos, Páginas de História e Pré-História, Fortaleza, 1966; CASTRO, José Liberal de, Pequena Informação relativa à Arquitectura Antiga do Ceará, Fortaleza, 1973; ARAÚJO, Pe. Franciso Sadoc, Cronologia Sobralense (1604-1800), Fortaleza, 1974; LIRA; João Mendes, Sobral na História do Ceará e a Personalidade do Padre Ibiapina, Sobral, 1976; SOUZA BRASIL, João Pompeu de, "Sobral, tentativa de interpretação histórica da sua acção polarizadora sobre a região", Revista de Ciências Sociais de Fortaleza, III, n.º2, s.d.; LEMENHE, Maria Auxiliadora, "A economia pastoril e as vilas coloniais do Ceará", Revista de Ciências Sociais, Fortaleza, 1981 / 1982, pp. 75-106; COSTA, Francisco José Lustosa de, Sobral de meu tempo, Brasília, 1982; GIRÃO, Valdelice Carneiro, As Oficinas ou Charqueadas no Ceará, Recife, 1982; GIRÃO, Raimundo, Evolução Histórica Cearense, Fortaleza, 1985; PESSOA, João Ribeiro, "Notícias da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Caiçara (1767)", Revista do Instituto Histórico e Antropológico do Ceará, Fortaleza,1988; LEMENHE, Maria Auxiliadora, As Razões de uma Cidade: Conflito de Hegemonias, Fortaleza, 1991; ANDRADE, Plácido Martinho, Sobral, Humor e Prosa, Fortaleza, 1992; FROTA, D. José Tupinambá, História de Sobral, Fortaleza, 1995; IPHAN, 4ª Coordenadoria Regional, Estudo para Tombamento do Conjunto Urbanístico da Cidade de Sobral- Ceará, (policopiado), Fortaleza, 1998, 3 vol.s; Idem, Sobral, Patrimônio de Todos: Roteiro para a Preservação do Patrimônio Cultural, Fortaleza, 1999; DUARTE JÚNIOR, Romeu, "Ceará no século XVIII: Icó, Aracati e Sobral", Oceanos, Lisboa, 41, 2000, pp. 104-118; AAVV, Sobral Histórico e Evolução Urbana, Sobral, 2000

Documentação Gráfica

DGEMN: DSID; IPHAN; Prefeitura Municipal do Sobral (PMS); Museu D. José (Sobral)

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID; IPHAN; PMS; Museu D. José (Sobral)

Documentação Administrativa

AHU: cx. 9, doc. 555, 572, 583; cx. 12, doc. 656, 697; cx. 17, doc. 956; cx. 18, doc. 1041, 1053; cx. 19, doc. 1090, 1093, 1118; cx. 20, doc. 1133, 1161, 1162; cx. 21, doc. 1230; cx. 23, doc. 1351; IPHAN; PMS; Museu D. José (Sobral)

Intervenção Realizada

Prefeitura Municipal de Sobral (PMS): 1997 - recuperação do Solar dos Figueiredos e adaptação a Casa da Cultura; 1999 - arranjo da envolvente da Igreja das Dores; 2000 - construção do Museu do Eclipse em frente à Igreja do Patrocínio; construção da nova ponte sobre o Rio Acaraú; recuperação de sobrado para a Casa da Cultura. IPHAN: 1999 - restauro da Igreja do Menino Deus; 2000 - restauro da Igreja das Dores e da Igreja do Rosário

Observações

Análise dos aspectos históricos e da tipologia arquitectónica feita, principalmente, com base nos elementos constantes no "Estudo para Tombamento do Conjunto Urbanístico da Cidade de Sobral" (1998), destacando-se ainda as propostas tipológicas de José Liberal de Castro (1973). O topónimo Caiçara significa, na língua indígena, estacas de mato ou cerca de pau. O topónimo Sobral designa um lugar abundante em sobreiros e terá sido um nome dado pelo Ouvidor do Ceará, Carneiro de Sá, talvez natural de uma povoação portuguesa com essa denominação. A marcação das fundações da primitiva igreja matriz, identificadas em escavações arqueológicas, observam-se a cerca de três metros a E. da actual Sé. Antes da autonomia do Ceará relativamente a Pernambuco, Aquiraz e Fortaleza disputaram o estatuto de capital. Aquiraz, elevada a vila em 1713, era sede da Ouvidoria, enquanto Fortaleza, vila desde 1726, constituía a sede da Capitania do Ceará. A Prefeitura de Sobral tem em projecto a recuperação da frente ribeirinha e a reabilitação dos denominados "corredores culturais", isto é, as frentes urbanas da Rua Coronel Ernesto Dioclesiano e Av. Dom José, integrando ainda a envolente da Sé e da Igreja do Rosário.

Autor e Data

Anouk Costa, Lobo Carvalho, Margarida Tavares, Teresa Ferreira 2001

Actualização

 
 
 
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