Centro Histórico do Porto, Ponte Luiz I e Mosteiro da Serra do Pilar

IPA.00006143
Portugal, Porto, Porto, União das freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória
 
Núcleo urbano sede distrital. Cidade medieval muralhada com vestígios de cerca românica e da muralha gótica e importantes transformações do Barroco, Neoclássico e Revolução Industrial. O Centro Histórico do Porto é constituído por uma malha urbana de grande valor histórico, cultural, artístico e arquitectónico.
Número IPA Antigo: PT011312140163
 
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Registo

 
Conjunto urbano  Aglomerado urbano  Cidade  Cidade medieval  Cidade fortificada   Eclesiástica (Bispo)

Descrição

É constituído por uma malha urbana confinada à linha da muralha fernandina do séc. 14, mais alguns arrabaldes próximos, tais como Miragaia a O., os Guindais e Fontaínhas a E.. A presença do rio foi fundamental para a implantação do povoado romano, como meio de comunicação e trocas, a atestar por escavações recentes, levadas a cabo tanto no Bairro da Sé como na Ribeira, que permitiram pôr a descoberto o percurso da antiga via romana de Conímbriga a Braga, que passava pelas que hoje se designam como Ruas dos Mercadores, Bainharia e Pelames. A necessidade de defesa militar e protecção contra um possível inimigo conduziram a que um novo pólo urbano se desenvolvesse no Morro da Sé ou da Penaventosa. Deste modo deparamo-nos com dois pólos urbanos que se desenvolveram e caracterizaram o burgo: são eles a zona ribeirinha junto ao rio, cais de embarque e desembarque de mercadorias e ponto de passagem para a outra margem, onde os comerciantes dominam apoiados pelo Rei; e o Morro da Sé, onde o domínio é do Clero e do seu Bispo, que, através de uma carta de doação de D. Teresa do couto do Porto ao bispo francês D. Hugo, lhe confere plenos poderes e seus sucessores. Neste morro em torno da catedral é erguido no séc. 12 um primeiro perímetro de muralhas, mas com o aumento de população e expansão da cidade, uma nova muralha, a fernandina, é construída já no último quartel do séc. 14. A Idade Média é um período de grandes transformações e aumento demográfico onde começa já a despontar a ideia de se edificarem hospitais, albergarias e praças. Contudo foi nos séculos seguintes, com o período do Renascimento e mais tarde no séc. 18 com o advir do Barroco que a cidade tomou novas formas e ganhou novo alento. A criação da Junta de Obras Públicas, por volta de 1762, foi o primeiro passo para se criar um departamento que se responsabilizasse pelo desenvolvimento urbanístico do Porto, sendo para isso primordial a acção dos Almadas (João de Almada e Melo e seu filho Francisco de Almada e Mendonça). Após o terramoto de Lisboa de 1755, fazendo-se uso de nova legislação são iniciados novos projectos e arranjos urbanísticos tendo em conta o interesse público. Importantes trabalhos intramuros são levados a cabo, nomeadamente o reordenamento da Praça da Ribeira, abertura da Rua de São João, criação da Praça de São Roque (demolida em meados séc. 19, para dar lugar à Rua Mouzinho da Silveira), a construção do Hospital de Santo António, entre outras obras. O séc. 18 é a centúria por excelência dos grande edifícios civis, empreendimentos públicos e do aumento extramuros de proprietários residentes. Entrando já no séc. 19, constata-se que o crescimento da população conduziu inevitavelmente ao crescendo de construções em altura, acrescentos e mansardas. Grande parte do pano das muralhas é demolido, dado que o conceito de cidade confinada dentro de um perímetro ou muralha ia contra os ideias de feição iluminista. Com o eclodir do Liberalismo novas teorias de urbanismo são postas em prática, a burguesia mercantil com o seu poder e dinamismo vai ter papel importante nas novas reformas urbanísticas provocadas pelo fomento da indústria. Na segunda metade do século assiste-se aos começos da especulação fundiária. Já nos inícios do séc. 20, a galopante ocupação do centro histórico conduz a um adensamento do tecido urbano, com as visíveis carências a nível de infraestruturas e que conduzirá em 1914 ao Plano de Melhoramentos e Ampliação da cidade do Porto, no qual a intervenção do britânico Barry Parker teve papel preponderante. De 1914 a 1962, verificaram-se dez Planos Urbanísticos que culminaram com o Plano Director Municipal da Cidade do Porto, no ano de 1962 da autoria de Robert Auzelle.

Acessos

Avenida dos Aliados, Rua dos Clérigos, Praça da Batalha

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional / ZEP, Aviso n.º 15173/2010, DR, 2.ª série, n.º 147 de 30 julho 2010 / Património Mundial - UNESCO, 1996

Enquadramento

Urbano. O Centro Histórico do Porto testemunha um desenvolvimento urbano que nos conduz até às épocas romana, medieval e almadina (séc. 18). Os vestígios arqueológicos encontrados provam que o local foi ocupado desde o século 8 a .c. A variedade da arquitectura civil reflecte os valores culturais de épocas sucessivas, adaptando-se perfeitamente à estrutura social e geográfica do burgo. Um dos aspectos mais importantes do Porto e seu centro histórico em particular é o seu cariz panorâmico, fruto da complexidade do terreno, articulação harmoniosa das ruas e do diálogo com o Douro e Vila Nova de Gaia. Aqui encontram-se intervenções planeadas e não planeadas ao longo de várias épocas, permitindo o seu estudo desde a Idade Média até à Revolução Industrial.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Pública: estatal, municipal; Privada: Igreja Católica, pessoas singulares e colectivas

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 06 / 12 / 14 / 16 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Nicolau Nasoni, John Carr, Carlos Amarante, Marques da Silva, Barry Parker, Robert Auzelle.

Cronologia

1000 a. c., cerca - origem do povoado, no morro da Sé, durante o Bronze Final; séc. 5 / 4 a.c. - vestígios de ocupação na Penaventosa, com cerâmicas de tradição púnica; séc. 3 / 2 a. c. - continuidade da ocupação humana no morro da Sé, documentada por estruturas de casas pré-romanas; séc. 3 - construção de uma cintura defensiva no morro da Penaventosa; 589 - primeira referência a um bispo Portucalense: terceiro Concílio de Toledo com a presença de dois bispos tutelares de Portucale, Constâncio (585-589) e Argiovito (585-610); 868 - a cidade de Portucale é apresada por Vímara Peres; 1120 - o burgo portuense é doado ao bispo francês D. Hugo, por D. Teresa; 1147 - início provável da construção da Sé; 1120 - D. Hugo reconstrói a antiga muralha, passando-se a designar a mesma de cerca velha ou românica; 1123 - D. Hugo concede Carta de Foral aos habitantes da cidade; 1136 - é bispo do Porto D. João Peculiar; reconstrução da cerca muralhada do morro da Penaventosa; edificação da catedral românica; séc. 13 - expansão urbana da zona ribeirinha, marcada pela construção dos conventos de S. Francisco e de S. Domingos; 1325 - D. Afonso IV manda iniciar a construção da sua Alfândega, na zona ribeirinha, e a nova cerca de muralhas; 1350 - é edificada junto à Sé a Torre dos Paços do Concelho; 1369 - primeiro alargamento do termo do concelho; 1376 - conclusão da muralha fernandina; 1384 - o Porto manifesta o seu apoio a D. João, Mestre de Avis; 1386 - autorização régia para constituição da judiaria intra-muros, no morro da Vitória; 1394 - nascimento do Infante D. Henrique na casa da Alfândega; 1395 - início da abertura da Rua Nova ou Formosa, também conhecida pela Rua dos Ingleses (actual Rua Infante D. Henrique), via de importância estruturante na organização da área ribeirinha; 1405 - transferência da Mitra para a Coroa da jurisdição do burgo e respectivo couto; 1415 - D. Henrique prepara na cidade parte da frota que tomará Ceuta. Segundo a tradição, este episódio trouxe aos portuenses o epíteto de tripeiros; 1416 - início da construção do Convento de Santa Clara, próximo da Sé; 1517 - o rei D. Manuel I concede novo foral ao Porto; neste reinado abrem-se dois importantes eixos no sopé do morro da Vitória, a Rua de Belmonte e a Rua das Flores; 1582 - durante o período de domínio filipino, é criado o Tribunal e Cadeia da Relação do Porto; 1598 - início da construção do convento de São Bento da Vitória; reconstrução do Mosteiro da Serra do Pilar na margem esquerda do Douro; 1583 - a freguesia da Sé deixa de ser a única freguesia existente e são criadas as freguesias de São Nicolau, Vitória e São João de Belomonte. Esta última foi extinta pouco tempo depois; 1619 - primeiro projecto da praça quadrada no Campo das Hortas, extra-muros, actual Praça da Liberdade; 1725 - chega à cidade o pintor-arquitecto italiano Nicolau Nazoni; 1737 - remodelação do edifício do Paço Episcopal; 1754 - é lançada a primeira pedra da construção da Torre dos Clérigos segundo o projecto de Nicolau Nazoni; 1757 - motim popular contra a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro; 1763 - início do funcionamento da Junta de Obras Públicas, presidida por João de Almada e Melo, primo direito do Marquês de Pombal, que traça pela primeira vez um plano de desenvolvimento da cidade; 1770 - a 15 de junho é lançada a primeira pedra da construção do novo Hospital de Santo António, projectado pelo inglês John Carr; 1799 - nascimento de Almeida Garrett, poeta, dramaturgo, romancista, soldado voluntário do Batalhão Académico durante o Cerco do Porto, deputado da nação e embaixador; 1807 - segundo projecto do arquitecto Carlos Amarante, é construída a Real Academia da Marinha e do Comércio, depois Academia Politécnica, o actual edifíco da Faculdade de Ciências; 1808 - sublevação popular contra os invasores franceses; 1809 - tragédia da Ponte das Barcas; 1820 - a 24 de Agosto, um levantamento militar, marca o início da Revolução Liberal; 1832 - início do Cerco do Porto que durou ano e meio, episódio decisivo das lutas entre Liberais e Absolutistas; 1834 - fundação da Associação Comercial do Porto e início da construção do Palácio da Bolsa; 1836 - Lordelo, Foz e Campanhã, são anexadas ao concelho do Porto; 1837 - Paranhos é igualmente integrada no concelho; 1843 - construção da Ponte Pênsil (demolida); 1846 - constitui-se a Junta Provisória do Governo Supremo do Reino e tem início a Patuleia; 1859 - início da construção do edifício da Alfândega sobre a praia de Miragaia; 1865 - inauguração do Palácio de Cristal pelo Rei D. Luís I, com a Exposição Internacional do Porto; 1875 - abertura da Rua Mouzinho da Silveira; 1877 - inauguração da ponte ferroviária D. Maria Pia, do engenheiro francês Gustavo Eiffel; 1881 - Correia de Barros apresenta um plano urbanístico, com vista ao desenvolvimento equilibrado da cidade; 1886 - inaugurada a Ponte D. Luís I, da autoria do belga Teófilo Seyrig; 1887 - decisão da abertura da Estrada Exterior da Circunvalação; 1888 - abertura do mercado Ferreira Borges; 1891 - primeira Revolta Republicana, em 31 de Janeiro; 1892 - edição da Planta Topográfica da cidade, levantada por Gerardo Telles Ferreira; 1895 - integração no concelho das freguesias de Aldoar, Ramalde e Nevogilde; 1895 - a cidade do Porto foi a primeira em Portugal e na Península Ibérica a possuir uma linha de carros eléctricos, a Linha da Restauração com o famoso 22; 1900 - é lançada a primeira pedra da construção da Estação de São Bento, da autoria do arquitecto Marques da Silva. Para esta construção a Igreja e o Convento de Freiras de São Bento e Avé Maria tiveram que ser demolidos; 1915 - é apresentado, pelo arquitecto inglês Barry Parker, o plano para "Renovação da Zona Central", que será parcialmente executado; 1915 - é aberta a Avenida dos Aliados, que se vai transformar preferencialmente num eixo de ligação do centro histórico com as zonas novas da cidade; 1919 - tentativa da restauração da monarquia, conhecida como Monarquia do Norte; 1939 - demolições no Bairro da Sé, alargamentos e realinhamentos; 1934 - o Palácio de Cristal recebe a Exposição Colonial Portuguesa; 1951 - demolição do Palácio de Cristal para construção de um Pavilhão para o Campeonato do Mundo de hoquéi em patins; 1957 - é inaugurado o actual edifício dos Paços do Concelho; 1958 - apoio popular à candidatura de Humberto Delgado; 1962 - o "Plano Director da Cidade do Porto", de Robert Auzelle, surge como nova tentativa de planeamento urbanístico; 1963 - inauguração da Ponte da Arrábida, da autoria do engenheiro Edgar Cardoso; 1975 - criação do CRUARB (Comissariado para a Renovação Urbana da Área Ribeira-Barredo), com vista a resolver os problemas de habitação no centro histórico do Porto; 1991 - inauguração da Ponte de São João, da autoria do engenheiro Edgar Cardoso; 1996 - no dia 5 de Dezembro, no México, o centro histórico do Porto é incluído na Lista do Património Mundial pela Unesco; 1998 - na cidade do Porto tem lugar a VIII Cimeira Ibero Americana, nas instalações do edifício da Alfândega; 2001 - o Porto é, juntamente com Roterdão, Capital Europeia da Cultura; 2018, 02 julho - publicação da Resolução da Assembleia da República n.º 149/2018 recomendando o estabelecimento da zona especial de proteção dos centros históricos do Porto e Gaia, em DR, 1.ª série, nº 125/2018; 20 dezembro - alteração da designação do Centro Histórico do Porto, inscrito na Lista do Património Mundial da UNESCO, para Centro Histórico do Porto, Ponte Luiz I e Mosteiro da Serra do Pilar, mantendo-se a área do bem inscrito e a da sua zona tampão, em Aviso n.º 19137/2018, DR, 2.ª série, n.º 245/2018

Dados Técnicos

Predominância de edifícios com estruturas em alvenaria de granito, taipa, pavimentos em madeira, telhados de telha cerâmica, clarabóias, varandas em ferro forjado, abundância de azulejos nos revestimentos de fachadas, caixilharias dos vãos em madeira pintada, rebocos coloridos, pavimentos de espaço público em granito.

Materiais

Granito, taipa, cal, areia, madeira, telha cerâmica,vidro, ferro forjado, azulejo.

Bibliografia

COSTA, Padre Agostinho Rebelo da, Descripçam Topographica e Histórica da Cidade do Porto, Porto, 1788; PASSOS, Carlos de, Guia Histórica e Artístico do Porto, Porto, 1935; PERES, Damião (dir.), História da Cidade do Porto, Barcelos, 1962; ALVES, Joaquim Jaime Ferreira, O Porto na época dos Almadas. Arquitecturas. Obras Públicas. Dissertação de Doutoramento em História de Arte, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 1988; PACHECO, Hélder, Porto, Lisboa, 1988; MARQUES, Hélder , MARTINS, Luís Paulo e FERNANDES, José A., Rio - Porto Percursos nos Espaços e Memórias, Porto, 1990; Porto do Nome Portugal, Porto, 1992; CRUARB, Porto a Património Mundial. Processo de Candidatura do Centro Histórico do Porto à UNESCO, Porto, 1993; RAMOS, Luís A. Oliveira (dir.), História da Cidade do Porto, Porto, 1994; QUARESMA, Maria Clementina, Inventário Artístico de Portugal - Cidade do Porto, Lisboa, 1995; Porto a Património Mundial - Processo de Candidatura da Cidade do Porto à Classificação pela UNESCO como Património da Humanidade, Porto, 1996; Bairro da Sé do Porto, Contibuto para a sua Caracterização Histórica. Porto, 1996; COUTO, Júlio, O Porto em Sete Dias, Porto, 1997; CRUARB, Porto Património Mundial, Porto, 1998, vol. II; CRUARB, Porto Património e Paradigmas, Porto, 1999; CRUARB, Porto Reflectir sobre a Cidade Histórica, Porto, 1999; IDEM, Porto Património Mundial - Cruarb 25 Anos de Reabilitação, Porto, 2000; Cruarb 25 Anos de Reabilitação Urbana- Caderno de Fichas de Obras - As Intervenções de 1974 a 2000, Porto, 2001; CABEÇAS, Maria da Conceição; D' ARA, Concha, Porto Monumental e Artístico Património da Humanidade, Porto, 2001; CRUARB, Operação de Reabilitação Urbana das Fontaínhas Plano e Projectos de Emergência após as derrocadas de Dezembro de 2000, Porto, 2001; Mapa de Arquitectura do Porto, Argumentum, 2003

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DREMN; CMP: CRUARB; DGOTDU: Arquivo Histórico (Anteplano Regional do Porto - Aditamento, Eng. Antão de Almeida Garrett, 1946; Plano Director da Cidade do Porto, Câmara Municipal do Porto - Gabinete de Urbanização, 1962)

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID; DGEMN:DRMN; CMP: CRUARB.

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DREMN, DGEMN:DSARH; CMP: CRUARB

Intervenção Realizada

Em diversas épocas pelo Ministério das Obras Públicas a Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais; CMP / CRUARB: 1974, desde - Operação de Reabilitação em curso, intervenções consecutivas registadas no Livro de Fichas de Obras, com áreas de intervenção mais avançadas na Ribeira /Barredo, Sé e Miragaia.

Observações

Autor e Data

Rui Losa / Isabel Alves (CRUARB) 2002

Actualização

 
 
 
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