Santuário de Nossa Senhora da Esperança

IPA.00004226
Portugal, Viseu, Sátão, São Miguel de Vila Boa
 
Santuário nacional onstruído no séc. 18, seguindo uma arquitetura tradicional e de estrutura seiscentista, mas revelando, na decoração do interior, a intensão de aplicar o conceito barroco berniniano do "bel composto", obedecendo a um programa iconográfico e decorativo unitário, apesar de apresentar algumas notas dissonantes resultantes de intervenções posteriores, da segunda metade do séc. 18. O edifício terá sido patrocinado pelo juiz da Irmandade, o Cónego Luís Bandeira Galvão, que nele se fez sepultar, seguindo um programa que ele próprio terá, certamente, delineado. Cremos, contudo, que as obras se terão prolongado no tempo, levando à construção de um nártex no final do séc. 18, que integrou parcialmente o volume da atual torre sineira, que se encontra desalinhada com a atual fachada principal e a qual sofreu obras de ampliação em altura, sendo as ventanas de época distinta dos óculos do primeiro registo, e feitura de uma nova cobertura em coruchéu galbado; mantém, contudo, os primitivos pináculos de bola, contrastantes com os aplicados na fachada do templo, estes mais tardios. É de planta poligonal composta por nave, antecedida por nártex, por capela-mor e por sacristia e torre sineira adossadas ao lado esquerdo, o templo com coberturas diferenciadas em falsas abóbadas, a da nave, pintada em "trompe l'oeil" e a da capela-mor em caixotões pintados, iluminada unilateralmente por janelas rasgadas em capialço na fachada lateral direita. Fachada principal rematada em frontão sem retorno e truncado superiormente por cruz, rasgado com os vãos em eixo, composto por portal em arco abatido e por janela de sacada, encimada por frontão triangular. Fachadas com cunhais apilastrados, firmados por pináculos, e rematadas em frisos e cornijas, a lateral direita com porta travessa. A torre sineira possui três registos, o superior com ventanas de volta perfeita e cobertura em coruchéu. O interior revela-se um hino à decoração barroca joanina, em que a talha, azulejo e pintura contribuem como um todo para provocar no crente efeitos visuais e sensoriais intensos. Os painéis de azulejo, executados na fase denominada do Ciclo dos Mestres, datados e assinados pelo pintor lisboeta Teotónio dos Santos, apresentam uma iconografia erudita, representando cenas do quotidiano, cenas galantes, batalhadas, caçadas, numa alusão à efemeridade da vida e ao conflito que o terreno tem com a morte ("vanitas"), complementados pelas alegorias que correm num registo superior, em forma de pinturas, representando as Virtudes Cardeais que devem servir como exemplos de conduta aos crentes. Estas cenas culminam, na cobertura, em elementos arquitetónicos que criam uma ilusão perspética e direcionam o olhar do crente para o medalhão central, onde nos surge personificada a Virgem em Glória. A pintura difere em termos de programa e de elementos decorativos da existente sobre o coro-alto, apesar de poderem ser atribuídas ao mesmo pintor italiano, Pascoal Parente, resultando numa alusão à glorificação de Deus pela música e pelo canto, revelando-se contemporâneas da feitura do órgão positivo que se acha sobre o coro. Ainda do mesmo autor, os painéis pintados das paredes da capela-mor e o revestimento decorativo do arco triunfal. A talha dourada e policroma constitui dois elementos mais notáveis no interior do templo, com os retábulos colaterais, que se prolongam sobre o arco triunfal, a teia - confessionário na zona do presbitério e, obviamente, o arco triunfal, onde impera um tipo de gramática decorativa joanina, marcada pelo recurso aos drapeados em boca de cena, baldaquinos, acantos, concheados, festões, plumas... Destaca-se o efeito cenográfico criado pelo arco triunfal, onde as alusões à Virgem estão patentes nos seus símbolos, a torre, o sol e a lua, servindo de antecâmara ao local onde surge a imagem milagrosa do orago. Estas alusões são complementadas pelas pinturas da cobertura da capela-mor, em caixotões, onde nos surgem representados os atributos da Litanias Marianas, inspiradas no Cântico dos Cânticos e identificadas por inscrições latinas. A sacristia constitui um interessante complemento a esta riqueza decorativa, destacando-se a cobertura, com símbolos da Paixão de Cristo, cujos Passos surgem representados no espaldar do arcaz, mas especialmente o lavabo, onde uma simples taça concheada surge envolvida por talha decorativa, representando Cristo e a Samaritana.
Número IPA Antigo: PT021817090011
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Santuário  

Descrição

Planta poligonal irregular composta por nave, antecedida por galilé, capela-mor mais estreita, e sacristia e torre sineira adossadas ao lado esquerdo, de volumes articulados e escalonados e coberturas diferenciadas em telhados de uma (sacristia) e duas águas, rematadas em beiradas simples, sendo em coruchéu rebocado e pintado, encimado por pináculo fusiforme, na torre sineira. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por socos em cantaria de granito, com cunhais apilastrados, firmados por pináculos piramidais com bola, e rematadas em frisos e cornijas. Fachada principal virada a O., rematada em frontão sem retorno, em cortina, interrompido no topo por plinto paralelepipédico que sustenta esfera e cruz latina. É rasgada por portal em arco abatido, sustentado por pilastras toscanas, de acesso à galilé, encimado por janela de sacada, com bacia de cantaria e guarda em ferro, para onde abre porta janela, de perfil retilíneo e rematada por friso e frontão triangular, que irrompe pelo remate da frontaria. No lado esquerdo, ligeiramente recuada, a torre sineira, de três registos definidos por frisos e cornijas, o inferior rasgado por óculo circular e janela retilínea, o intermédio cego, surgindo, no superior, quatro ventanas de volta perfeita, assentes em impostas salientes *1. A estrutura remata em frisos, cornijas e com pináculos esféricos sobre altos plintos paralelepipédicos nos ângulos; na face frontal, enorme cruz latina, surgindo, na N., o mostrador do relógio. Fachada lateral esquerda marcada pelo corpo adossado, com dois panos definidos por pilastra, o do lado direito com porta de verga reta, surgindo, na face O., uma janela retilínea, ambas com molduras simples em cantaria. Fachada lateral direita rasgada, na nave, por porta travessa em arco abatido, ladeada por dois janelões retangulares, em capialço, surgindo um terceiro no corpo da capela-mor. Fachada posterior ligeiramente elevada relativamente ao remate primitivo, em empena cega com cruz latina no vértice. No lado direito, a sacristia, em meia-empena, rasgada por janela quadrangular com moldura simples e protegida por grades. INTERIOR com galilé revestida a azulejo de figura avulsa, figurando elementos antropomórficos, barcos, flores, casas, aves, querubins, etc. O portal axial é de verga reta, com moldura simples. A nave tem as paredes revestidas a pinturas murais, com silhares de azulejo figurativos, a azul e branco, assinados, tendo cobertura em falsa abóbada de berço de madeira, assente em frisos e cornija e reforçada por tirantes metálicos, pintada com quadraturas; pavimento em lajeado de granito. Os vãos possuem sanefas de talha dourada, compostas por cornijas, espaldares e lambrequins. Coro-alto assente sobre a galilé, com guarda balaustrada e acesso por porta no lado do Evangelho, a partir da torre sineira, surgindo, no lado oposto, um órgão de tubos. No lado do Evangelho, púlpito quadrangular, com bacia pintada de marmoreados fingidos e guarda de talha dourada e pintada, com acesso por porta de verga reta com moldura pintada de marmoreados fingidos e encimada por sanefa com espaldar e lambrequins. Presbitério elevado por um degrau e protegido por teia de talha pintada, formando balaústres, tendo confessionários nos extremos. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas e com fecho saliente, ostentando pinturas murais fitomórficas, ladeado por capelas retabulares colaterais, dedicadas a São José (Evangelho) e São Caetano (Epístola); prolongam-se sobre o arco triunfal, revestindo a parede a talha dourada e policroma. A capela-mor tem as paredes forradas com dois registos decorativos, o inferior com silhares de azulejos figurativos e o superior com painéis pintados, tendo cobertura em falsa abóbada de berço de caixotões pintados e molduras douradas, assente em cornijas de talha com mísulas equidistantes. Sobre supedâneo de degraus centrais com os maciços protegidos por guarda de balaústres de talha dourada, surge a mesa de altar e o ambão, ambos sobre colunas de talha dourada. Na parede testeira, o retábulo-mor de talha dourada, com apontamentos de pintura, tendo corpo de planta côncava e um eixo definido por quatro colunas ornadas por pâmpanos e por oito pilastras com os fustes ornados por acantos, todas assentes em consolas. Ao centro, tribuna de volta perfeita e boca rendilhada, de perfil curvo e com o fundo apainelado e coberto em quarto de esfera, onde surge trono com o orago; está sobrepujado por baldaquino de lambrequins, rematado por esfera, ornada pelas iniciais "AM", e coroa fechada. A estrutura remata em quarteirões encimados por anjos músicos de vulto, encarnados e pintados, enquadrados por uma arquivolta exterior, de acantos e interrompida pelo remate da tribuna, formando um tímpano ornado por acantos enrolados. Altar paralelepipédico com frontal de madeira pintado, a imitar brocado florido, encimado por sacrário embutido, envolvido por acantos e a porta ornada por cruz lenhosa. No lado do Evangelho, porta de verga reta de acesso à sacristia, de planta retangular, com as paredes rebocadas e pintadas de branco, percorridas por painéis de azulejo figurativo e de enchimento, azul e branco, com teto de caixotões pintados. Tem arcaz encimado por espaldar com painéis pintados e lavabo.

Acessos

No Lugar de Abrunhosa, na Rua Fernando Pais de Magalhães

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 95/78, DR, 1.ª série, n.º 210 de 12 setembro 1978 (órgão) / Decreto n.º 5/2002, DR, 1.ª série-B, n.º 42 de 19 fevereiro 2002 (santuário)

Enquadramento

Urbano, isolado, implantado em ligeiro declive, sobre plataforma artificial que cria um pequeno adro com acesso por escadaria frontal e fechado por muros em cantaria de granito aparente, interrompidos por acrotérios, encimados por urnas, estando envolvido por terreiro de acesso, também ele encerrado por muro em alvenaria de granito, com acesso frontal, todo ele pavimentado a calçada e com corredor lajeado de acesso às escadas do templo., flanqueado por candeeiros de iluminação pública. O perímetro do terreiro encontra-se pontuado por árvores de grande e médio porte, surgindo, no recinto, algumas árvores e bancos de jardim em pedra e um cruzeiro assente em plataforma quadrangular de três degraus, composto por plinto galbado e cruz latina com os braços terminados em lóbulos. Para o terreiro, no lado N., abre-se uma casa de apoio e, nas imediações, situa-se o Chafariz de Nossa Senhora da Esperança, em cantaria de granito, composto por espaldar recortado e de moldura saliente, ladeado por dois vãos e rematado por cornija e três pináculos piramidais. Ao centro, duas bicas que vertem para tanque retangular com bordo saliente e régua para apoio do vasilhame; sobre as bicas, painel de azulejo policromo representando o orago, encimado por azulejo com a inscrição "N(ossa) S(enhora) D(a) ESPERANÇA"; sob o painel, a data, em azulejo, "1992", sob a qual surge a data gravada "C(âmara) M(unicipal) S(átão) / 1992". O edifício está envolvido por casas de habitação unifamiliares e terrenos incultos.

Descrição Complementar

O NÁRTEX apresenta uma pintura a representar a Virgem com o Menino. OS AZULEJOS DO TEMPLO formam painéis de azulejo a azul e branco, definidos por barras de festões e com quarteirões nos ângulos, contendo cenas do quotidiano (aguadeiro, lavadeiras, jovem músico, crianças num baloiço), banquetes, cenas galantes com fundos de jardim, cenas portuárias, caçadas aos patos e javalis. Sob o púlpito, surge a inscrição: "theotonio dos santos o pintou em L(i)x(bo)a". Sobre os azulejos, surgem PINTURAS perspetivadas, representando entre elementos arquitetónicos, figuras alegóricas femininas, enquadradas por amplas estruturas formadas por arcos e pilastras, representando as Virtudes Cardeais com os seus respetivos atributos e inscrições que permitem identificá-las. Assim, surgem no lado do Evangelho: a Fortaleza, com uma coluna e a inscrição "IN PROTECSION / FORTIT VDINIS", e a Prudência, segurando um espelho e com a inscrição "ADINVENITEAM / PRVDENTIA SVA"; no lado oposto, a Temperança com a inscrição "IN SANTIFICOTIONE / CVM SOBRITATA" e a Justiça segurando uma balança e com a inscrição "IVSTITIS ET PAS / OSCVLATA SVNT". Entre os nichos, surgem janelas fingidas, encimadas por sanefas de talha; na parede fundeira, ao nível do coro, surge uma escadaria perspetivada, composta por dois lanços de degraus e um patamar. A COBERTURA apresenta pintura em "trompe l'oeil", com um nível de fragmentos de balaustrada, balcões, muros e pórticos tendo pinturas ornadas com motivos decorativos como concheados, querubins, medalhões, festões, onde se enquadram duas figuras representativas das Virtudes Teologais, a Fé no lado do Evangelho e a Caridade no lado oposto, identificadas por inscrições nas cartelas inferiores. Convergindo para o medalhão central, surgem medalhões com inscrições bíblicas; ao centro, a Virgem em Glória. Sobre o coro-alto, surge um medalhão com anjos que sustentam um drapeado e a inscrição "LAVDATE DOMINVM / IN CHORDIS E ORGANO". Numa tarja, a inscrição " PASCOAL IOZÉ PARENTE / A PINTOV NO ANO DE 1763". O CADEIRAL DO CORO forma um U composto por banco corrido assente em mísulas de pedra com espaldar de talha policroma, formando apainelados definidos por pilastras ornadas por flores e remate em friso e cornija, de marmoreados fingidos. O ÓRGÃO é do tipo positivo, encerrado em caixa paralelepipédica de talha policroma, composto por um castelo com os tubos em meia-cana, em disposição diatónica em teto, encimado por falsas gelosias em boca de cena, com motivos fitomórficos vazados. Os nichos laterais têm os tubos em disposição cromática, também encimados por falsas gelosias fitomórficas. Na base, os tubos de palheta, os centrais dispostos em leque. A caixa remata em cornija contracurva, interrompida pelas armas do Cónego Luís Bandeira Galvão. Tem consola em janela, onde surge cartela de concheados com a inscrição "PLAVDAT / NVNC / ORGANIS MA / RIA / Ex Serm S. Aug / Ep. 18", ladeado pelos tubos dos registos, fechados por portadas, em armário, com um teclado em pau-santo e marfim e pedaleira. Encontra-se assinado "D(om) FRAN(cis)CO / ANT(Oni)O / SOLHA / O FES / ANO 1768". PÚLPITO quadrangular assente em consola de marmoreados fingidos, rosa, com guarda plena de talha dourada e policroma, tendo pilastras laterais e os painéis ornados por enrolamentos, acantos, festões e as iniciais "AM", encimadas por coroa e ladeadas pelas iniciais RC &SP (Real Confraria Esperança). Tem acesso por porta de verga reta e moldura de marmoreados fingidos, encimada por sanefa composta por cornija, remate rendilhado e encimada por espaldar recortado com cartela, palmas e concheado central. Os RETÁBULOS COLATERAIS são semelhantes, de talha pintada e policroma, de planta reta e um eixo definido por duas colunas com profusão decorativa de laçarias e flores, e terço inferior marcado por folhagem, assentes em consolas e por quatro pilastras com os fustes ornados por acantos e assentes em plintos paralelepipédicos ornados por acantos. Ao centro, nicho de perfil curvo com penha para imaginária e encimado por dossel com lambrequins e berloques, de onde se desprendem cortinas a abrir em boca de cena. A estrutura remata em entablamento e fragmentos de cornija e anjos que sustentam guirlandas que se dependuram de uma cartela central, que interrompe a arquivolta que envolve o conjunto. Acima desta, dois quarteirões sustentam sanefas de lambrequins com decoração vazada e espaldares recortados e ornados por acantos e leque de plumas. O ARCO TRIUNFAL está envolvido por talha dourada e policroma formada por fragmentos de cornija, de frontão, enrolamentos e concheados, formando cornucópias, onde assentam anjos de vulto, os inferiores sustentando símbolos marianos (Lua e Sol) e os superiores centrando um resplendor ladeado por torres, outro símbolo mariano, sobre os quais evolui uma sanefa de perfil convexo, decorado por lambrequins e borlas. Entre os anjos de vulto, surgem filacteras com as inscrições: "PVLC VT LUN" e "FLEG VT SOL". A CAPELA-MOR possui teto de caixotões pintados com molduras de talha dourada e florões nos ângulos, representando as Litanias Marianas, envolvidas por anjos ou vasos de flores e identificadas por inscrições. Nas paredes, PAINÉIS PINTADOS enquadrados por molduras de talha dourada e "chinoiserie", representando a "Apresentação da Virgem no Templo", "Visitação" e "morte da Virgem" (Evangelho), surgindo, no lado oposto, o "Nascimento da Virgem" e a "Ascensão da Virgem". No pavimento, surge, ao centro, a SEPULTURA do Cónego Luís Bandeira Galvão, composto pela pedras de armas, com o brasão dos Bandeira "(...) de vermelho, com uma bandeira quadrada de ouro, perfilada de prata, carregada de um leão de azul, armado e lampassado de vermelho, a haste de ouro." (Armorial Lusitano, p. 77); está encimado pelo capelo envolvido por cordões entrelaçados, identificando o seu título de cónego; na base, a inscrição: ""SEPULTURA / DE LUIS BA(n)DEI / RA GALVÃO, IN / DIGNO ESCRA / VO DE MARIA / S(anti)S(si)MA, SUBTI / TULO DA SPE(rança) / OBIIT ANNO / 1776". A SACRISTIA tem teto de caixotões com molduras pintadas de marmoreados fingidos e com cartelas centrais enquadrando os atributos da Paixão (martelo, turquês, túnica, azorrague, coroa de espinhos, Sudário de Verónica, coluna, cruz, lança, escada, palma, cordas, cravos, cálice, dados, estandarte com "SPQR", esponja do vinagre). O ARCAZ da sacristia ocupa uma das paredes, encimado por espaldar com ilhargas, de talha policroma, definindo seis painéis pintados com cenas da Paixão de Cristo, que centram um oratório enquadrado por pilastras decoradas por motivos vegetalistas, e rematam em baldaquino em forma de domo, de onde se dependuram drapeados a abrir em cova de cena, com o fundo pintado com motivos florais e contendo a imagem do Crucificado. As pinturas que o rodeiam representam "Cristo no Horto", "Flagelação", "Caminho do Calvário", "Crucificação" (de feitura mais recente), "Prisão de Cristo". Possui um LAVABO de talha dourada que envolve a pequena taça em cantaria, formando um pequeno nicho retilíneo com molduras múltiplas em marmoreados fingidos, que rematam em espaldar ornado por enrolamentos, concheado e cornija de perfil curvo. Ao centro, um poço ladeado pela figura de Cristo e pela Samaritana, de onde sai a bica que verte para taça concheada. Sobre o conjunto, uma cartela recortadas com a inscrição "DA DOMINE VIRTVTEM MANIBVS / MEIS AD ABSTERDENDVM / OMNEM MACVLAM: VT SINE / POLLVTIONE MENTIS ET CORPORIS / VALEAM TIBI SERVIRE". Existem dois painéis de AZULEJOS a azul e branco, com molduras inferiores ornadas por festões e as superiores recortadas exteriormente, formando cartelas, volutas, anjos de vulto, pináculos e quarteirões nos extremos, que enquadram duas cenas bíblicas: "Entrada de Cristo em Jerusalém" e a "Última Ceia".

Utilização Inicial

Religiosa: santuário

Utilização Actual

Religiosa: santuário

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Viseu)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

EMPREITEIRO: António Domingues Esteves (1937-1938). ENTALHADOR: José da Fonseca Ribeiro (atr., 1730). ORGANEIRO: Francisco António Solha (1768). PINTOR: Pascoal José Parente (1763). PINTOR de AZULEJO: Teotónio dos Santos (1730).

Cronologia

Séc. 15 - existência de uma pequena Capela em Abrunhosa; séc. 17 - a Capela é dedicada a Nossa Senhora da Esperança; 1670 - criação da Irmandade de Nossa Senhora da Esperança, pelo bispo de Viseu, D. Jerónimo Soares, a qual recebe de Alexandre VIII (1610-1691) muitas indulgências; 1701 - reforma dos estatutos da Irmandade; 1702, 10 abril - aprovação dos estatutos pela Diocese de Viseu, os quais preveem a existência de um juiz, um escrivão, um tesoureiro, dois mordomos, um regedor e quatro deputados, eleitos anualmente; 1716 - segundo Frei Agostinho de Santa Maria, a Irmandade é composta por 350 membros, provenientes de vários locais da freguesia, mas também de outras freguesias limítrofes, como Rio de Moinhos, Ladário, Lusinde, Pindô, Povolide, São Pedro de France, Castendo, Treixedo, Ínsua, Mioma e Viseu; a Irmandade pensa construir um novo templo que permita receber todos os peregrinos que procuram cura para os seus males; a imagem é descrita como sendo de madeira estofada, com o Menino no braço esquerdo, tendo manto e uma coroa de prata; séc. 18, década 20 - construção da nova igreja por iniciativa do Cónego Luís Bandeira Galvão, cumprindo o voto do seu tio, seu homónimo e irmão da confraria de Nossa Senhora da Esperança; 1730 - pintura dos azulejos da nave por Teotónio dos Santos; provável execução dos púlpitos, talvez da autoria do entalhador José da Fonseca Ribeiro; 1732 - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo padre António Rodrigues Monteiro, surge a referência às duas capelas de Nossa Senhora da Esperança, a maior junto à povoação e construída recentemente pelos irmãos; 1741 - Bula de agregação da Irmandade à Arqui-Confraria do Santíssimo Sacramento da Basílica de São João de Latrão, pelo Papa Benedito XIV; 1742 - os Irmãos mandam traduzir a Bula papal; 1763 - pinturas do teto e paredes da nave por Pascoal José Parente; 1768 - feitura do órgão por Francisco António Solha, certamente financiado pelo cónego Luís Bandeira Galvão; 1776 - falecimento de Luís Bandeira Galvão, sepultado na capela-mor; 1788 - o bispo Frei José do Menino Jesus, em visitação, proíbe o culto em todas as capelas da freguesia, exceto na da Esperança, que se achava decentemente decorada para prosseguir as atividades litúrgicas; séc. 18, final - séc. 19 - obras de ampliação da igreja, remodelação da torre sineira e feitura do remate da fachada principal; 2007 - início das obras de recuperação do edifício, financiadas pelo programa FEDER e Município de Sátão; 2009, 14 agosto - inauguração do restauro e beneficiação do templo pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, acompanhado pelo Presidente da Câmara de Sátão, Alexandre Vaz.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de granito, rebocada e pintada; pilastras, pináculos, modinaturas, frisos, cornijas, pavimentos, supedâneo, pedra tumular, bacia do púlpito, pia do lavabo, cruzes em cantaria de granito; portas, mobiliário de madeira; órgão, teias, retábulos, lavabo em talha dourada; pinturas decorativas sobre tela nas paredes, sobre madeira nas coberturas e sobre a pedra no arco triunfal; painéis de azulejo na nave, capela-mor, sacristia e de figura avulsa no nártex; cobertura exterior em telha cerâmica.

Bibliografia

ALVES, Alexandre - Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e Viseu. Viseu: Governo Civil do Distrito de Viseu, 2001, vol. III; Armorial Lusitano. Lisboa: Editorial Enciclopédia, Lda., 1961; COELHO, José, Memórias de Viseu ( arredores I ), Viseu, 1941; EUSÉBIO, Maria de Fátima - A Capela de Nossa Senhora da Esperança. A Obra de Arte total num Depoimento de Fé. Viseu: Fundação Mariana Seixas, 2006; MARIA, Frei Agostinho de Santa - Santuário Mariano... Lisboa: Antonio Pedrozo Galram, 1716; MECO, José - O Azulejo em Portugal. Lisboa: Edições Alfa, 1989; PAIS, Alexandre Nobre - «“O Theatro Moral de la Vida Humana” no Convento de São Francisco da Bahia” in Oceanos, Lisboa: Comissão dos Descobrimentos Portugueses, 1979, n.º 36 / 37; PAULA, Mara Raquel Rodrigues - Pascoal Parente e a pintura setecentista em Portugal. Coimbra: s.n., 2011. Texto policopiado. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; SIMÕES, J.M. dos Santos - Azulejaria em Portugal no século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979; SOUSA, Albano Martins - Terras do Concelho do Sátão. Sátão: Câmara Municipal de Sátão, 1991; VALENÇA, Padre Manuel - A Arte Organística em Portugal. Braga: Editorial Franciscana, 1990, 2 vols..

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DREMCentro/DM

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMCentro/DM

Documentação Administrativa

IHRU: PT DGEMN/DSARH-010/243-0011, PT DGEMN/DSAR-010/243-0010, PT DGEMN/DSMN-0572/12; DGLAB/ADViseu: Irmandades e Confrarias, Irmandade de Nossa Senhora da Esperança de São Miguel de Vila Boa [documentação não consultada]

Intervenção Realizada

DGEMN: 1934 - estimativa das obras necessárias no templo, com a revisão da armação e forro dos telhados, construção de uma escada interior de acesso ao coro, reparação dos tetos e paramentos das paredes com as respetivas pinturas decorativas; 1937 / 1938 - comparticipação nas obras, adjudicadas a António Domingues Esteves, consistindo na reparação geral do telhado, reparação dos tetos em castanho e dos painéis laterais, reparação das pinturas e revisão dos rebocos exteriores e interiores; PROPRIETÁRIO: 2007 / 2008 / 2009 - restauros dos tetos, talha dourada, pintura e azulejos, com a sua remoção e recolocação; restauro profundo da sacristia, com revisão de rebocos e argamassas.

Observações

*1 - segundo a tradição, os sinos têm uma sonoridade particular, pois o promotor da obra, o Cónego Luís Bandeira Galvão, durante a sua fundição, ocorrida no local, ia lançando moedas de ouro para a liga que os compôs.

Autor e Data

Paula Figueiredo 2013 (no âmbito da parecia IHRU / Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja

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