Palácio Loures / Grémio Literário

IPA.00022129
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Arquitectura residencial. palácio, em que o fachada posterior articula ao nível do seu piso térreo com terraço em jardim de planta rectangular irregular. Contrastando com um exterior sóbrio e despojado, os interiores do edifício particularizam-se pela sua unidade decorativa, ostentando um leque eclético de correntes artísticas. No piso térreo a variedade de revestimentos téxteis, ao nível dos muros e pavimentos, bem como os programas decorativos de grande coerência, assumem especial destaque: a denominada Sala Verde, de gosto império, com um ambiente de tonalidades claras, motivos submetidos a composições geométricas (losangos e riscas) e mobiliário de linhas direitas, e o bar, de gosto vitoriano, pautado por um ambiente de carregada policromia, motivos repetitivos e mobiliário com estofo capitonné. No andar nobre, notabilizam-se pela componente decorativa que apresentam, os compartimentos desenvolvidos em torno do pátio. Destaca-se o terraço com elementos de tratamento naturalista segundo gramática de feição Arte Nova, designadamente vitrais, equipamento, ferros forjados e fundidos. Na denominada Sala de Fumo, com revestimento em boiserie entalhada, pontuada no muro de topo pela presença de lareira com motivos de cariz arquitectónico, distinguem-se, pela qualidade e erudição do programa decorativo, dois vãos preenchidos por vitrais com temática e tratamento plástico Arte Nova. Igualmente iluminada pelo pátio, observa-se uma sala cujo protagonismo é conferido pelo programa decorativo de gosto Neo-Luís 15 que apresenta. Destacam-se as técnicas de acabamento do espaço, concretamente boiserie ao nível dos muros e gipserie no tecto, segundo gramática de inspiração rocaille, pela utilização de concheados, fundos quadriculados e formas sinuosas de tratamento assimétrico. Papel de relevo protagonizam também os apontamentos pictóricos observados, designadamente, sobre as portas (com a representação de putti) e no tecto. O Arquitecto Paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, ao criar a peça central e fulcral do jardim - uma obra de arte única em mosaico de vidraço - valorizou de maneira indiscutível este espaço.
Número IPA Antigo: PT031106200594
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo planta retangular

Descrição

Planta rectangular, massa simples paralelepipédica e cobertura efectuada por telhado a 4 águas. Em reboco pintado com cunhais de cantaria, compõe-se de 4 pisos (um deles parcialmente enterrado e apenas visível no alçado lateral N.) e abertura de vãos com emolduramento simples de cantaria, a ritmo regular. Alçado principal a O., composto por 3 pisos separados por friso de cantaria e compartimentado em 3 corpos, dos quais se demarca o axial. No piso térreo, corpo central separado por pilastras de cantaria e rasgado a eixo por porta principal de verga curva com consola em voluta ao centro, ladeada por janelas de peito com bandeira em semicírculo. No andar nobre, destacam-se 3 janelas de sacada de verga curva com consola em voluta ao centro, ritmadas por emolduramentos rectangulares de cantaria a inscrever tondi, servidas por varanda comum com guarda contracurvada em ferro fundido. Sucedem-lhes, no último piso, 3 janelas de peito de verga curva e emolduramento rectangular a inscrever remate escultórico com cabeça feminina ladeada por festões de flores. Os corpos laterais análogos, apresentam o mesmo tipo de organização mas mais simplificada, o piso térreo marcado pela alternância de janelas e portas (as dos extremos apresentam-se inscritas em painel com placagem de cantaria). Nos 2 pisos superiores registam-se, em cada um dos corpos, janelas de verga curva com guarda metálica - 3 de sacada no 1º piso e 3 de peito no 2º andar - apresentando-se as do último piso inscritas em emolduramento recto como as centrais, mas sem a componente escultórica. O alçado é superiormente rematado por platibanda em balaustrada articulada ao centro com frontão interrompido por pedra de armas dos viscondes de Loures *2. O alçado posterior articula ao nível do seu piso térreo com terraço em jardim de planta rectangular irregular. O pátio, rasgado centralmente na massa do edifício, de planta quadrada e é estruturado em torno de um eixo circular, reconhecendo-se, no muro E., nicho de cantaria albergando fonte com bica em forma de mascarão. INTERIOR: a compartimentação é feita por salas comunicantes entre si, de planta quadrada e rectangular, distribuídas em torno do pátio que perfura centralmente o edifício e contiguamente ao alçado principal. Observa-se, ao nível do piso térreo, vestíbulo de planta rectangular, articulado a N. com outros compartimentos e a partir do qual se desenvolve, a E., escadaria - de dois lanços rectos com patamar intermédio e guarda de ferro fundido com apontamentos forjados - que conduzem aos restantes pisos e na qual se reconhece, no muro de topo, dois nichos de cantaria em arco de volta perfeita albergando estátuas.EXTERIOR: O jardim apresenta uma planta rectangular, desenvolvendo-se o seu maior eixo na direcção N.-S. .Situado defronte da fachada posterior do palácio é delimitado por muro em alvenaria. Os acessos ao jardim realizam-se: a partir do primeiro andar por duas escadarias em posição simétrica, adoçadas aos muros do jardim nos topos: N. a partir de porta com vitral policromático estilo Arte Nova e S. a partir de porta de serviço da zona da cozinha (ambas as portas ao nível do primeiro andar); a partir do rés-do-chão este acesso faz-se através de dois pares de grandes portas envidraçadas de bandeiras em arco perfeito. O jardim inscreve-se em torno da sua peça central dominante, uma zona circular plana, com cerca de 12 metros de diâmetro - um mosaico em vidraço. No extremo S. deste mosaico encontra-se numa caldeira sobreelevada um exemplar notável de palmeira-das-canárias (Phoenix canariensis). Esta peça de arte é delimitada por pérgula contínua em madeira, forrada por uma glicínia (Wisteria sinensis), interrompida a E., onde se situa, separado do muro limítrofe do jardim por estreita passagem, um chafariz de espaldar em pedra. Defronte deste chafariz, adoçado à fachada do palácio, encontra-se painel de azulejo com figura humana feminina, de inícios do séc. 20, implantado entre os referidos dois pares de portas envidraçadas. Estas portas comunicam exteriormente com o caminho principal do jardim que, pavimentado em calçada portuguesa ocupa todo o comprimento da fachada posterior se estende, estreitando, para os topos N. e S. do jardim, até ao acesso às respectivas escadarias. Outros caminhos, ortogonais em relação aos anteriores e às escadas, fazem a ligação entre estas e a zona circular central. O pavimento deste último troço de caminhos é em gravilha, tal como o do caminho circular sob a pérgula que envolve quase totalmente o mosaico central, encontrando-se neste último caminho colocadas em fila semicircular, várias mesas envoltas por cadeiras em ferro pintado de branco. Os caminhos, bem como os limites da propriedade, definem quatro vastos canteiros de posição simétrica que preenchem a matriz do espaço, ocupando os vértices da composição. No canteiro NE, entre a vegetação vamos encontrar várias placas calcárias de formato irregular que definem um percurso secundário *2. No muro N., junto a este canteiro abre-se para o exterior uma janela, presentemente entaipada a madeira. No canteiro SE. encontra-se uma pequena zona de estar com uma mesa rectangular em ferro com tampo em pedra mármore com cerca de um metro e vinte por setenta centímetros e um banco em ferro com costas junto a cada um dos seus lados de maior cumprimento *3. Estes elementos em ferro estão pintados de branco. A poucos metros desta zona foi construída junto ao muro S. uma bancada coberta para a execução de churrascos ao ar livre. Nos canteiros NO. e NE. encontram-se implantados dois exemplares notáveis de plátanos (Platanus orientalis). Todos os canteiros, excepto o SO., apresentam pelo menos um exemplar bem desenvolvido de um cordiline (Cordyline australis). A S. do chafariz encontra-se uma Yuca (Yucca) bem desenvolvida *4. A fachada posterior é revestida a vinha virgem (Vitis vinifera). A varanda envidraçada do primeiro andar constitui um local privilegiado para avaliar toda esta composição, constituindo como que um balcão sobre o jardim.

Acessos

Rua Ivens, n.º 35 - 43

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria n.º 206/2018, DR, n.º 59/2018, 2.ª série, de 23 março 2018 *1/ Incluído na classificação da Lisboa Pombalina (v. IPA.00005966)

Enquadramento

Urbano. Incluído na zona de protecção da Baixa Pombalina (v. PT031106190103), na proximidade do Edifício da Rádio Renascença (v. PT031106200596). Situado numa encosta orientada a sul desfruta-se a partir da fachada posterior de vista panorâmica sobre o rio Tejo, a sua margem sul e, ao fundo, a Serra da Arrábida.

Descrição Complementar

A leitura heráldica da pedra de armas é a seguinte: escudo esquartelado, ao 1º e ao 4º de Carneiros, ao 2º de Silvas e ao 3º de Costas. Timbre de Carneiros. Coroa de visconde. O vestíbulo a N., com lavabo de cantaria e, nos muros E. e S., e painéis azulejares monócromos figurando cenas de caça, integradas em molduras de carácter arquitectónico. No exterior - CHAFARIZ: apresenta uma planta semicircular, fechando o círculo ao nível do seu pavimento por dois degraus de acesso. No fundo apainelado, uma carranca derrama água para uma taça oval suportada pela cauda entrelaçada de dois peixes, cobertura em cúpula junto à qual se lê a data de 1844. O chafariz é rematado no topo por duas taças laterais e urna ao centro; ESCADARIAS: as duas escadarias são idênticas e apresentam ambas dois lances de doze degraus em pedra calcária separados por patamar pavimentado por lajes na mesma pedra. Na escadaria N. as duas portas com vitral policromado apresentam um medalhão no centro de cada uma, com um perfil feminino e motivos florais a enquadrar os seus caixilhos, superior e inferiormente; PAINEL DE AZULEJOS: de inícios do século 20, policromado, apresenta figura feminina de corpo inteiro ao centro, com os olhos em alvo, coroada por estrelas, ornamentada por jóias ao nível do pescoço, braços e tornozelos, enquadrada por motivos egípcios. Inscrição circular junto ao canto inferior direito, onde se lê "FAIENCES de SARREGUEMINES et DIGOIX. ARCHITECTURE, PARIS 28. R. Paradis"; MOSAICO DE VIDRAÇO: de planta circular, pavimentado a calçada portuguesa, em calcário, e em basalto representando este um florão central envolvido por moldura trabalhada geométrica *5.

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Cultural e recreativa: associação cultural e recretiva

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO PAISAGISTA: Gonçalo Ribeiro Telles (1968).

Cronologia

Séc. 19 - provável construção do imóvel, que foi residência urbana dos viscondes de Loures; 1844 - data de construção do chafariz na zona do jardim; 1846, 18 Abril - o objectivo da sua criação foi traçado na carta régia de D. Maria II: " considerando Eu que o fim dessa associação é a cultura das letras e que pela ilustração intelectual pode ela concorrer para o aperfeiçoamento moral"; 1846 - fundação do Grémio Literário; 1871 - é proprietária do imóvel D. Josefina Clarisse de Oliveira (n. 1840), viúva do 2.º visconde de Loures (Ângelo Francisco Carneiro, 1837 - 1870), que se torna 2.ª viscondessa de Valmor pelo seu casamento com Fausto de Queirós Guedes (1837 - 1898); 1909 - data inscrita em fotografia com a legenda " Sua Majestade o Rei D. Manuel II, no Grémio Literário" onde se encontram representados dois esgrimistas a competir perante a assistência e onde se pode constatar não só diferenças a nível do jardim como a inexistência do painel de azulejos exterior; 1911 - o edifício é propriedade dos herdeiros da 2.ª viscondessa de Valmor, representados por António Joaquim de Oliveira ; 1930 - 1972 - o edifício é propriedade de D. António Herédia e D. Josefina de Guedes Herédia; 1983 - 1990 - a sede da Secretaria de Estado da Cultura / Direcção-Geral dos Serviços de Gestão e Organização encontra-se instalada no n.º 35; 1919 - 1958 - o Grémio Literário encontra-se instalado no n.º 37, piso térreo e 1º andar ; 1958 - 1983 - a Biblioteca Popular de Lisboa encontra-se instalada no n.º 35, piso térreo, 1º, 2º e 3º andar; 1968 - projecto de arquitectura paisagista por Gonçalo Ribeiro Telles para o jardim; séc. 20, início da década de 70 - execução do jardim; séc. 20, meados da década de 90 - a pérgula foi refeita; 2001 - o imóvel é propriedade de D. António Herédia de Bandeira; 2006, proposta de classificação pelo proprietário; 29 maio - proposta de encerramento do processo de classificação, por se encontrar integrado no conjunto da Lisboa Pombalina; 01 junho - Despacho de encerramento do processo de classificação pelo vice-presidente do IPPAR; 2016, 19 janeiro - abertura do procedimento de classificação do Palacete Loures (onde se encontra sedeado o Grémio Literário), Anúncio n.º 15/2016, DR n.º 12, 2.ª série; 2017, 10 outubro - é publicado no DR, n.º 195, 2.ª série, o Anúncio n.º 172/2017, que torna publica a intenção da DGPC em propor a classificação do paláciom património integrado e jardim como MIP - Monumento de Interesse Público.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante

Materiais

Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, estuque, ferro forjado, madeira; Vegetal: árvores - palmeira-das-canárias (Phoenix canariensis), plátano (Platanus orientalis); arbustos: cordiline (Cordyline australis), Yuca (Yucca); trepadeiras - glicínia (Wisteria sinensis), vinha virgem (Vitis vinifera).

Bibliografia

CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga. Bairro Alto, 2ª ed., Vol. IV, Lisboa, 1954 - 1966 ; COSTA, Mário, Chiado Pitoresco e Elegante, Lisboa, 1965 ; VALDEMAR, António, Chiado : O Peso da Memória, Lisboa, 1990 VALDEMAR, António, Chiado, in SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo, (dir. de), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994; CARAPINHA, Aurora e TEIXEIRA, J. Monterroso, A Utopia com os Pés na Terra. Gonçalo Ribeiro Telles, 2003, pág. 268.

Documentação Gráfica

CML: Direcção Municipal de Planeamento e Gestão Urbanística, Arquivo de Obras, Procº nº 43083; Arquivo Pessoal Gonçalo Ribeiro Telles

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA, DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Procº nº 43083

Intervenção Realizada

1911 - transformação de dois vãos da fachada em janelas de peito; 1914 - instalação de marquise de ferro no terraço; 1916 - obras de adaptação de uma cave a instalação sanitária; 1919 - construção de um anexo no jardim, destinado à realização jogos desportivos; 1931 - obras gerais de beneficiação; 1938 - substituição das canalizações; 1939 - obras gerais de beneficiação; 1942 - pintura dos paramentos do terraço e de várias dependências interiores, substituição do madeiramento da cobertura e aplicação de telha tipo Marselha; reparação de trapeiras, portas e pavimentos; restauro de estuques e pinturas das paredes e tectos do 1º andar; 1943 - demolição de divisórias internas, alargamento e abertura de vãos de porta; 1945 - substituição da chapa de ferro zincada que serve de cobertura a um alpendre na varanda do jardim da sede do Grémio Literário; 1949 - obras gerais de beneficiação, reparação e limpeza; 1951 - obras gerais de beneficiação, reparação e limpeza; 1964 - reparação da cimalha; 1966 - obras simples de conservação; 1969 - beneficiação da chaminé de um fogão de sala; 1971 - pintura das fachadas e limpeza das cantarias que se encontravam indevidamente pintadas; 1983 - obras de reparação e conservação nas instalações da Biblioteca Popular de Lisboa; restauro dos estuques e pintura oitocentista do tecto da denominada Sala Luís XV, degradado em virtude da reparação dos pavimentos da Biblioteca Popular de Lisboa ; 1990 - medidas de segurança contra incêndios.

Observações

*1 DOF: Palacete Loures (onde se encontra sediado o Grémio Literário), incluindo o jardim e o património integrado, na Rua Ivens, 35 a 43; *2 nesta zona, junto ao muro N. foi projectado um bar que nunca foi executado. *3 - nesta zona foi projectado uma gaiola para pássaros de planta circular, acompanhada por dois bancos, também circulares, que nunca foram executados¸*4 - a vegetação observada indica-nos que o Plano de Plantação do projecto do Arquitecto Paisagista Gonçalo Ribeiro Telles não foi seguido na sua totalidade já que não existem no jardim plantas lá representadas como as árvores: magnólia (Magnolia soulangeana e Magnolia denudata), jacarandá (Jacaranda ovalifolia), cipreste (Cupressus sempervirens) e arbustos como cameleiras (Camellia japonica), azáleas (Rhododendron ferrugineum), folhado (viburnum tinus) e brincos-de-princesa (Fuchsia magellanica). A própria pérgula seria revestida a roseira (Rosa L.) e não a glicínea (Wisteria sinensis), como acontece na realidade. *5 - no projecto original, no ponto central do mosaico foi projectado um repuxo de água e não o sumidouro que lá se situa na realidade.

Autor e Data

Teresa Vale, Maria Ferreira e Sandra Costa 2001 / Teresa Camara 2008

Actualização

 
 
 
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