Moinho de Maré da Mourisca
| IPA.00009793 |
Portugal, Setúbal, Setúbal, Sado |
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Arquitectura agrícola. Moinho de maré, com funcionamento na vazante. Testemunho do uso da energia renovável das marés, pertencente à categoria de moinho de roda horizontal, construído junto a uma represa, tira partido da diferença de nível entre a preia-mar e a baixa-mar. Apresenta volumetria alongada e planimetria longitudinal, com simplicidade e clareza de linhas bem proporcionadas, no despojamento de decoração em volumes maciços, rematados à face por empenas simples rebocadas e caiadas, sendo o branco sublinhado pela cor azul na moldura dos vãos e na cor das portadas e cuja cobertura consiste numa estrutura de madeira, apresentando telhado de duas águas em telha de canudo. |
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Número IPA Antigo: PT031512080064 |
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Registo visualizado 575 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Extração, produção e transformação Moagem
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Descrição
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Planta em L, com planimetria alongada, composta por corpo principal e antecorpo lateral, regular, sem coincidência exterior / interior, três volumes articulados em justaposição, dois escalonados, com disposição horizontal. Coberturas escalonadas em telhados de duas águas. O edifício assenta em embasamento de alvenaria gigante onde se abrem a O. 6 pojadores rectangulares e, do lado oposto, as correspondentes 6 golas em arco de volta inteira. Fachada principal voltada a O. de dois panos e dois registos, com embasamento em pequeno ressalto; o pano da direita corresponde à sala da moagem, tendo o registo inferior definido por porta com degrau, aberta para acesso à zona da comporta grande da caldeira e, do lado oposto, abre-se sobre a caldeira um pequeno vão de janela; no registo superior rasgam-se uma série de seis janelas iluminantes, horizontalizantes; o remate da empena é em beiral; no pano da esquerda abre-se a porta principal e no registo superior, quatro janelas verticalizantes de duas folhas. Antecorpo com fachada principal de um único pano e registo, correspondendo ao espaço do lavabo e pequena arrecadação, com duas portas e uma janela, tendo por remate empena oblíqua; a fachada de topo é cega e remata em beiral. Fachada a E. ergue-se sobre o esteiro do rio, tem dois panos e dois registos: o pano da esquerda tem uma porta descentrada para a esquerda, dando sobre diminuto varandim com resguardo em ferro; o registo superior é definido por série de 6 janelas idênticas e correspondentes às da fachada oposta; no pano da direita rasgam-se três janelas no registo inferior e, no superior quatro, todas de duas folhas; o remate desta fachada é em pequeno beiral. Fachada a S. de um pano e dois registos, no inferior abre-se uma porta e uma janela e no superior, duas janelas, sendo o remate em empena angular, com chaminé de base rectangular. Articulação interior / exterior com pequeno desnivelamento. INTERIOR de espaço diferenciado em vestíbulo que se constitui em espaço de exposição e venda de produtos relacionados com a região, com cobertura em abóbada de tijolo à vista; desta passa-se para a sala de moagem, vendo-se no topo o reboco da parede com "janelas" abertas que mostram dois tipos de parede primitivas; integra oito moendas montadas numa bancada de madeira, sob a qual se encontram as engrenagens de ferro que transmitem a rotação dos rodízios aos veios das mós; este sistema de engrenagens permite que, através de um esquema de multiplicação de um rodízio accione duas mós em simultâneo. Tem um pranchão que corre a cerca de dois metros acima da plataforma das mós e ao qual se aplica o "turco", de onde aquelas suspendem quando é preciso levantá-las para limpeza; a cobertura é de madeira suportado por travejamento e asnas de madeira e o pavimento é de tijoleira; atravessando-se de novo o vestíbulo entra-se na sala de exposições, com lanço de escada com varandim adossada à parede, com sala de audiovisuais, dando acesso a sala de reuniões, que se situa por cima do vestíbulo, com cobertura em madeira. A iluminação interior faz-se através dos vãos abertos já descritos. |
Acessos
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Localizado na Herdade das Mouriscas, sítio das Mouriscas, junto à localidade do Faralhão |
Protecção
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Inexistente |
Enquadramento
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Rural, isolado, ribeirinho, integrado no perímetro da Reserva Natural do Estuário do Sado, situado em zona de sapal, ao fundo de uma estreita língua de terra, junto a pequeno cais de acostagem, de pontes do tipo palafita, com zona lúdica e de lazer anexa, vislumbrando-se, não muito longe, as chaminés da Central Termoeléctrica de Setúbal. |
Descrição Complementar
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O moinho está construído junto a uma grande represa ou caldeira que comunica com o esteiro do rio através de uma comporta reguladora da água da caldeira que se faz alimentar pela água da maré que sobe e que é fechada logo que a caldeira se enche de água na preia-mar. O tempo de laboração em cada maré é de 3 a 4 horas, consoante a amplitude das mesmas. Quando a vazante deixa os rodízios descobertos, abrem-se as pequenas comportas ou pojadouros dos canais que conduzem a água acumulada na caldeira por baixo da sala da moagem, expelindo-a sob grande pressão contra as "penas" do rodízio, fazendo-o girar. Este movimento é transmitido às mós que podem atingir uma rotação de cerca de 150 voltas por minuto na preia-mar. No exterior, junto à fachada principal encontram-se duas mós e um rodízio. |
Utilização Inicial
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Extração, produção e transformação: moagem |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: museu |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Ministério do Ambiente e Recursos Humanos: Instituto da Conservação da Natureza |
Época Construção
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Séc. 17 (conjectural) |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido |
Cronologia
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Sécs. 13 / 14 - Este tipo de moinho era já utilizado em Portugal; 1601 - data incisa em pedra encontrada encastoada na construção, que poderá indiciar a época de construção do moinho ( OLIVEIRA, 1883) que era de oito moendas cujas mós se encontravam montadas sobre uma plataforma de pedra e madeira e cujo pavimento originalmente se encontraria a cerca de 50 cm abaixo do actual pavimento; constituído de início por uma sala de moagem; data incerta - séc. 20, primeira década - referenciados quatro moinhos de maré em actividade nas margens do Rio Sado; séc. 20, anos 60 - época até à qual o moinho da Mourisca esteve em funcionamento, após o que sofreu um período de abandono e degradação; 1975 - já se encontrava abandonado e em ruínas; séc. 20, época incerta - construção do actual nível de pavimento a nível acima do anterior, devido à sedimentação de areias, e ampliação do edifício em altura; 1989 - aquisição da Herdade das Mouriscas pela Reserva Natural do Sado, pelo seu valor intrínseco devido às características morfológicas, características naturais da paisagem, que sustenta um testemunho único de património edificado; 1993, Setembro - aberto concurso para apresentação de projecto de execução das obras de recuperação do moinho; 1994 - início da reconstrução e recuperação do moinho de maré, inserido no Programa Global das Mouriscas que pretende revitalizar a Herdade como um todo, dentro do espírito de conservação e usufruto do património cultural edificado; 1997 - concretização da implementação de um Programa Global de Desenvolvimento de que resultou o Centro de Educação Ambiental das Mouriscas que o moinho integra. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes, estrutura autónoma. |
Materiais
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Pedra: calcário, mármore da Arrábida, entulho, cal, lajes de pedra calcária; cerâmica: tijolo, tijolo maciço, tijoleira, telha de canudo; vidro: simples; metal: ferro fundido; alvenaria: alvenaria de pedra, alvenaria de tijolo, alvenaria mista, argamassa; madeira. |
Bibliografia
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DIAS, Jorge, OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, GALHANO, Fernando, Sistemas Primitivos de Moagem em Portugal, Porto, 1959; OLIVEIRA, António de, Um Moinho de Maré em Aldeia Galega do Ribatejo no século XVI, "in" O Instituto, vol. CXXIX, Coimbra, 1967; OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, GALHANO, Fernando, PEREIRA, Benjamim, Sistemas de Moagens, Lisboa, 1983; Seminário: A Educação Ambiental e a reserva Natural do Estuário do Sado, Setúbal, Março, 1990; História da Região da Freguesia do Sado, Junta de Freguesia do Sado, Setúbal, 1993; Seminário, A Educação Ambiental e a Reserva Natural do Estuário do Sado, Setúbal, Março, 1990; Revista Sem Mais, Setúbal, Agosto, 1995; Roteiro Cultural do Concelho de Setúbal - Sado, CMS, s. d.. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID; RNES |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID; RNES |
Documentação Administrativa
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IHRU:DGEMN/DSID; RNES |
Intervenção Realizada
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RNES: 1994 - efectivação de estudos e projectos que garantissem a segurança e operacionalidade da reconstrução; demolição de parte da estrutura em estado avançado de degradação, do pavimento, trabalhos de consolidação a nível das fundações, recuperação e reconstrução da estrutura do moinho. O projecto de arquitectura foi elaborado pelo ICN e os restantes projectos de especialidade foram efectuados por firmas exteriores, tendo sido elaborado um prévio parecer do LENEC sobre a reconstrução. A execução da obra foi levada a cabo pela firma ENATRA - Engenharia e Trabalhos Públicos, Lda.. |
Observações
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*1: Constituídos por área de sapal - antigos arrozais cuja vegetação natural foi regenerando -, uma área de floresta, com pinheiros e sobreiros, e ainda uma zona de baixa de solos de maior capacidade agrícola, e algumas construções para além do moinho. |
Autor e Data
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Albertina Belo 2001 |
Actualização
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