Moinho de Vento do Esteval / Moinho Velho

IPA.00009791
Portugal, Setúbal, Montijo, União das freguesias de Montijo e Afonsoeiro
 
Arquitectura agrícola, vernácula, oitocentista. Moinho de vento, de torre circular, de alvenaria rebocada e caiada de branco, de uma moenda, do tipo mediterrânico "fixo", de planta circular, com telhado em cone de lona pintada de negro. Composto por vestíbulo, soto e sobrado, com aproveitamento da grande espessura da parede para espaços de arrumos; porta aberta a SE. próximo dos moinhos característicos do Sul, cujas aberturas são geralmente a E., de provável origem inglesa *3. Tejadilho cónico, negro contrastando com a brancura que ressalta da parede de alvenaria rebocada e caiada de branco, com faixa colorida em baixo; Painel de azulejos com figuração central "rocaille" pela policromia em tons de azul e branco, amarelo e manganês, e pela profusão e sumptuosidade dos ornamentos da cercadura, com orelhões e concheados, com marcação acentuada de volumes; registo devocional e de intenção provavelmente protectora.
Número IPA Antigo: PT031507020024
 
Registo visualizado 657 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Extração, produção e transformação  Moagem    

Descrição

Planta, circular, simples, não coincidência exterior / interior, de massa simples, com disposição verticalizante; cobertura cónica em tabuado recoberto de lona pintada com alcatrão, breu e sebo, que acaba dentro do capeado de remate da parede (fechal de baixo ou fechal de pedra), encimado por cata-vento (prolongamento de cata-vento interior que dá ao moleiro, dentro do moinho, a direcção rigorosa do vento) que se opõe ao frechal de madeira, fixo. As paredes espessas estreitando para cima dão-lhe um formato ligeiramente cónico, com barra colorida junto ao solo; porta de verga e ombreira rectas, de pedra, encimada por registo de azulejo. Junto à cimalha rasgam-se 3 janelas voltadas a SE., NE. e NO., de vergas e ombreiras de pedra; a janela que se abre sobre a porta é a maior e apresenta a laje do peitoril avoada, trabalhada em semicírculo; a portada é de madeira; ladeando a porta e no eixo das janelas andorinhas embutidas no centro de círculos de pedra ligeiramente reentrantes. Mecanismo: mastro oitavado, 4 varas (par que entra na mesma fura, apertado por cunhas), 4 velas de pano triangulares, presas pelos vértices: um à ponta da vara, outro a um gancho cravado no mastro e outro amarrado com a escota à vara da retaguarda, com disposição helicoidal, havendo 5 mudas de velas que compreendem a vela inteira, a meadela, o traquete, o bolacho e as pontas; 4 escotas com os búzios e cordame de ligação às pontas das varas, alternado com travessas de madeira. INTERIOR: de espaço diferenciado, composto por vestíbulo onde nasce, junto à porta, uma escada adossada à parede de acesso ao sobrado no topo, assente em arcos de alvenaria, e soto ou casa do meio (sobrado que divide o pé da parede) assente e suportado por grossas vigas de madeira; a escada é assente sobre um arco de berço aberto na parede; fronteiro à porta, também aberto na espessura da parede, uma pilheira (armário). No sobrado: o mastro ou eixo das velas, gira sobre duas chumaceiras firmadas ao anel móvel; a da frente é mais alta que a de trás, o que dá ao mastro a sua ligeira inclinação; entrosga de madeira com 32 dentes, aplicada ao mastro entre as duas chumaceiras; por meio do carrinho a entrosga transmite o movimento ao veio de cima, cuja espiga da extremidade inferior entra na caixa da segurelha, imprimindo-lhe o movimento de rotação; cunha ou parafuso levanta ou baixa o urreiro; duas mós, sendo uma fixa, corvo suporte do tegão, quelha e cadelo e 8 fusos. O telhado gira sobre rodas (carros) no trilho que encima a parede; o processo de rotação do telhado é efectuado por meio de um sarilho, cujo eixo tem uma das chumaceiras no anel giratório, e outra numa peça da sua armação, a canga; a corda passa por dois moitões, prende-se aos ganchos que estão espaçados ao longo do anel e da parede; para prender o moinho amarra-se com fortes cabos a armação às andorinhas (argolas de ferro cravadas na parede abaixo do capeado: para impedir o deslocamento de toda a armação, as pontas das vigas têm um dente que encosta à face interna do anel fixo à parede.

Acessos

Pç. da Força Aérea junto da Av. Circular, no Bairro Esteval, no termo do Montijo na estrada Montijo / Alcochete; Av. de Olivença, Av. Capitão Salgueiro.

Protecção

Categoria: IM - Interesse Municipal, Edital n.º 81/2009 da Câmara Municipal do Montijo de 25 junho 2009

Enquadramento

Peri-urbano, em planície, implantado no centro de uma praça, com zona relvada em torno, junto a cruzamento de vias, em destaque, junto a urbanização de bairro residencial em construção.

Descrição Complementar

Painel de azulejos figurativo, policromo em azul e branco com cercadura em amarelo e manganês representação de Nossa Senhora da Atalaia; rectangular, verticalizante, composição de 5X6 azulejos; Nossa Senhora pairando sobre nuvens e querubins, segura com uma mão o Menino ao colo e com a mão livre segura um ramo, apresentando-se ambos coroados e envoltos num resplendor único; dois pinheiros ladeiam as figuras centrais; representação com enquadramento arquitectónico em marmoreado; cena com cercadura sumptuosa, cuja decoração é sublinhada por recortes sinuosos de curvas e contracurvas, orelhões e concheados extravasa a moldura com cartela, com a inscrição na parte inferior "N.S.DA TALAIA". Interior: núcleo museulógico com exposição sobre o moinho e a história da sua recuperação, com história comparada entre este moinho e outros do concelho e outros de todo o mundo, com maqueta interactiva e jogos didácticos.

Utilização Inicial

Extração, produção e transformação: moagem

Utilização Actual

Cultural e recreativa: museu vivo *1

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

Séc. 18 / 19, meados - instalação de moinhos de vento, em terrenos baldios, ao longo da costa fluvial do Montijo; 1826 - construção do moinho, data aposta em resto de madeira que teria pertencido ao mastro onde era costume gravar-se a data de construção do moinho, encontra-se hoje exposta no vestíbulo; séc. 20, inícios - encerramento da actividade do moinho *2; 2000 - recuperação do imóvel no âmbito de uma candidatura apresentada pela Câmara do Montijo referente à renovação Urbana do Bairro do Esteval - 3ª fase, num total de 52 milhões de escudos dos quais dezoito milhões respeitam ao moinho e à elaboração de um CD-Rom com os resultados dos trabalhos de recuperação (em vias de concretização); 2000, Setembro - abertura ao público do imóvel como espaço museológico; 2008, 20 Agosto - deliberação camarária para classificação do imóvel como Interesse Municipal; 2009, 08 abril - proposta de encerramento do processo de classificação da DRCLVT por não ter valor nacional; 15 Abril - despacho de encerramento do processo de classificação do Diretor do IGESPAR.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Pedra: calcária, mármore; vidro: simples; metal: ferro forjado, fundido; alvenaria: mista de pedra e tijolo, e cal, rebocada e caiada; madeira: diversos tipos de pinho, exótica (mastro); lona pintada com alcatrão, breu e sebo.

Bibliografia

PEREIRA, Esteves, RODRIGUES, Guilherme, Dicionario Historico, chorografico, heraldico, biographico, bibliographico, numismático e artístico, Vol. 1, Lisboa, 1904; COSTA, Américo, Dicionário Chorografico de Portugal Continental e Insular, Vol. 1, Porto, 1929; João Luís da, Concelhos Ribeirinhos da Margem Sul do Tejo, Estremadura - Boletim da Junta de Província, n.ºs 38 - 40, Lisboa, 1955; GALHANO, Fernando, Moinhos e Azenhas de Portugal, Lisboa, 1978; MECO, José, Azulejaria Portuguesa, Lisboa, 1989; GRAÇA, Luís, Edifícios e Monumentos Notáveis do Concelho de Montijo, Montijo, 1989; MORAIS, Paulo, "in" Jornal de Notícias, 7 de Julho de 2000; CARDOSO, Florindo, "in" Jornal Público, 12 de Julho de 2000; MORAIS, Paulo, "in" Correio da Manhã, 25 de Julho de 2000.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; CMM: Arquivo

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CMM: Arquivo

Documentação Administrativa

CMM

Intervenção Realizada

CMM / Associação de Arqueologia da Amadora: 2000 - recuperação do imóvel seguindo métodos de construção tradicionais, e partindo de estudo arqueológico (por exemplo estudo das vigas existentes desenvolvido pela Associação da Arqueologia da Amadora *4); respeitaram-se as estruturas existentes, utilizando nomeadamente resinas sintéticas nas madeira que foi, assim, possível manter; introdução de melhorias no funcionamento mecânico e inovações de alta tecnologia, caso das velas, preparadas para se manterem durante dez anos sem ganhar fungos. O Estado custeou 65% dos custos ao abrigo do programa de renovação urbana e o restante esteve a cargo da autarquia local. O projecto esteve incluído na 3ª fase de renovação urbana da zona do Esteval e integra ainda os arranjos exteriores do moinho.

Observações

*1 Presentemente o moinho é dedicado essencialmente às actividades pedagógicas junto das escolas do concelho, mas também a turistas; há a ideia de arranjar um local, que poderá ser na Quinta da Atalaia (onde funciona um museu agrícola), onde se possa fazer o pão para ser levado por quem visite o moinho. 2* Segundo informação do assessor cultural da Câmara Municipal do Montijo (ao Jornal de Notícias) nem os mais idosos residentes no Montijo se lembram de alguma vez ter visto o moinho em funcionamento, pelo que, provavelmente, o seu encerramento se teria dado no início do século XX. *3 Os serviços culturais da Câmara Municipal do Montijo estão a levar a cabo pesquisa sobre a actividade moageira e sobre todos os moinhos de vento e de maré existentes no Concelho do Montijo, na Biblioteca Nacional e na Torre do Tombo. *4 Esta Associação é a representante de Portugal na Sociedade Internacional de Molinologia.

Autor e Data

Albertina Belo 2001

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login