Ermida de Nossa Senhora da Piedade / Capela de Nossa Senhora da Piedade

IPA.00009149
Portugal, Faro, Tavira, União das freguesias de Tavira (Santa Maria e Santiago)
 
Arquitectura religiosa barroca e rococó. Capela de nave única sem capela-mor, com acrescento de uma nave a N. com acesso a partir de dois arcos. Retábulo rococó. Interessante exemplar de arquitectura barroca, implantada numa das zonas tradicionalmente mais importantes da cidade, junto à sua principal fonte pública. Existem muitas semelhanças entre o portal principal e o Pórtico da Portaria do Convento de Nossa Senhora da Graça de Tavira (v. PT050814050018), da autoria do Arquitecto Diogo Tavares que, para além da vasta obra que deixou em Tavira, como a Igreja de São José do Hospital (v. PT050814060019) ou a Ermida de São Sebastião (v. PT050814060005), é o responsável pela fachada da Igreja do Carmo de Faro (v. PT050805040010); na provável origem destas analogias está a possibilidade de algum dos responsáveis do Convento da Graça tenha sido Juiz da Confaria de Nossa Senhora da Piedade e patrocinado a sua (re)construção, nos meados do Séc. 18 (LAMEIRA, 1996). Dupla nave conseguida pelo acrescento a N., que afasta este templo das tipologias comuns modernas. Tímpano do portal decorado com um coração ardente em baixo-relevo; Empena da fachada de carácter cenográfico, com amplo frontão de composição dinâmica com volutas laterais, assumindo o impacto urbanístico pretendido; Retábulo-mor rococó com aplicações de talha dourada.
Número IPA Antigo: PT050814050022
 
Registo visualizado 462 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta longitudinal regular composta por nave, dupla capela intercomunicante, em forma de segunda nave, a N. e sacristia. Massa simples disposta na vertical, com cobertura uniforme em telhado de duas águas, à excepção da segunda nave (com telhado de uma água) existindo ainda um campanário adossado ao ângulo NO. que potencia ainda mais em altura o edifício. Embasamento irregular ao longo das três fachadas visíveis, sugerido por uma banda polícroma. Fachada principal virada a E. organizada em dois panos; pano principal corresponde à nave da igreja, compõe-se de dois registos delimitados por cunhais que terminam em impostas: primeiro registo, definido por portal de arco recto em cantaria sobrepujado por tímpano que continua a moldura do lintel, protegido por frontão triangular incompleto nas arestas laterais; decoração do tímpano composta por um coração ardente trespassado por um punhal, em baixo-relevo; a ladear o portal principal, do lado N., uma pequena placa rectangular horizontal *1; segundo registo composto por um óculo elíptico moldurado ao centro do alçado; empena rematada por frontão contracurvado interrompido, delimitado por duas volutas que terminam nas impostas dos cunhias, sublinhadas por uma cornija decorativa policromada um pouco abaixo do frontão, e encimado axialmente por uma cruz; segundo pano corresponde à nave N. e apresenta-se como uma massa sem decoração, com beiral arrancando abaixo da voluta N. do frontão do pano principal. Fachada lateral N. abre para a R. dos Pelames e compõe-se de dois corpos definidos a um só registo cuja altura é sublinhada pela cota mais baixa do terreno em que se implanta esta secção N. do imóvel; corpo E., corresponde à nave N. do interior, é uma massa homogénea sem decoração, com beiral assente directamente na caixa murária; segundo corpo corresponde à Sacristia e diferencia-se do anterior pela existência do campanário, que prolonga em altura o volume da sacristia, ostenta, sensivelmente ao centro, um óculo quadrilobado; campanário com sineira voltada a E., bem acima do nível dos telhados da nave, de arco de volta perfeita enquadrando o sino, terminando em frontão contracurvado irregular definido por duas volutas com uma terminação circular ao centro. Fachada lateral S. virada para uma artéria secundária, apresenta uma divisão idêntica à da fachada N., mas sem o impacto em altura daquela; compõe-se de dois panos sem decoração, correspondendo o E. à nave, delimitado junto à fachada principal por cunhais e com beiral assente directamente na caixa-murária, com uma placa de azulejos indicativa da Rua em que se encontra; segundo pano corresponde à sacristia e divide-se em dois registos, sendo o primeiro ocupado por uma porta de arco recto com moldura em cantaria e o segundo por uma janela quadrangular de reduzidas dimensões. Fachada posterior, virada a O., completamente adossada. INTERIOR: Nave rectangular pouco profunda com cobertura em abóbada de berço que repousa em cornija uniforme a todo o rectângulo. Iluminação escassa proporcionada apenas pelo óculo da fachada principal. Nave N. mais baixa que a principal e de tecto recto em estuque, com acesso a partir de dois arcos de volta perfeita assentes em três suportes, duas pilastras adossadas nos extremos e um pilar oitavado ao centro, assente em base rectangular e com imposta e capitel sugeridos, havendo ainda um arco toral que parte deste pilar central e repousa no interior da caixa-murária a N. Pavimento das naves uniforme e decoração policromada das paredes a imitar mármore a um terço da altura e a toda a extensão das paredes. Retábulo-mor composto por sotobanco, banco, corpo e ático, de estrutura vertical tripartida: eixos laterais simétricos e de planta recta, com uma porta de de arco rebaixado profusamente decorada que se eleva até ao nível do banco; corpo composto por molduras douradas de decoração sinuosa inscrita; corpo central: sotobanco trapezoidal com medalhão ao centro e decoração horizontal moldurada; banco composto por sucessão de molduras delimitadas verticalmente; corpo de planta côncava delimitada por pilastras com volutas e incrustações de dourado, terminado em capitéis compósitos que sustentam o entablamento; interior fechado por vidraça; ático acompanha a curvatura da abóbada e separa-se dos corpos inferiores por um entablamento de dupla cornija que arranca do corpo central e se prolonga pelos laterais; decoração de carácter radial, vegetalista com volutas. SACRISTIA: espaço rectangular de reduzidas dimensões, com iluminação escassa de N. e de S., com acesso a partir das portas dos corpos laterais do retábulo-mor.

Acessos

Rua Gonçalo Velho

Protecção

Em vias de classificação

Enquadramento

Urbano, orla fluvial em ligeiro declive S. - N., parcialmente adossado, junto a uma das principais portas da muralha da cidade (Porta da Vila), defronte da antiga Fonte da Praça - hoje Estação Elevatória de Águas (v. PT050814050055). Implantação em declive S. - N., acompanhando a evolução natural da colina genética de Tavira rumo ao leito do rio. Fachada principal virada a O., para o largo definido pela intersecção das Ruas dos Pelames e de Gonçalo Velho, constituindo mesmo o imóvel ordenador desse largo; este apresenta de piso em paralelepípedos transformado em parque de estacionamento desordenado, cuja tentativa de ordenação através da colocação de pinos junto à capela ainda não resolveu. Fachadas laterais desafogadas, a S. para a Tv. da Fonte, que conduz à Igreja da Misericórdia de Tavira (v. PT050814060003), uma artéria bastante estreita, e a N. para a R. dos Pelames, sendo separada do rio por imóveis de dois pisos onde funciona uma oficina automóvel e uma clínica privada, construções que aproveitaram estruturas habitacionais pré-existentes, mas que pouco têm que ver com a arquitectura tradicional urbana da cidade. Fachada E. adossada a um edifício de dois pisos, mais alto que a capela, de feição característica na cidade, com andar nobre rasgado por portas simétricas protegidas por varandim de ferro. Edifícios nas imediações seguem genericamente esta tipologia, encontrando-se alguns em mau estado de conservação e apresentando funções comerciais de carácter tradicional sem o devido cuidado de manutenção dos imóveis, a maioria já sem os típicos telhados de tesouro.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: capela

Utilização Actual

Religiosa: capela

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese do Algarve)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Diogo Tavares (conj.)

Cronologia

Séc.18, 2ª metade - construção da capela ou reconstrução de uma já existente sob hipotética orientação do Arquitecto Diogo Tavares ou inspirada em imóveis de sua autoria já existentes em Tavira; Séc. 18, finais - execução do retábulo-mor; 1911 - Lei de Separação da Igreja do Estado e consequente nacionalização dos bens; 1934 - Propriedade entregue à Comissão da Igreja encarregue do culto da freguesia de Santa Maria, Séc. 20, década de 80 - substituição do antigo pavimento em madeira pelo actual em tijoleira; transferência para parte incerta da lápide sepulcral que se encontrava diante do altar; 1983, 28 novembro - proposta de classificação da Câmara Municipal de Tavira; 1991, 04 dezembro - abertura do processo de classificação; 1993, 04 dezembro - parecer do Conselho Consultivo do IPPAR a propor a classificação como Valor Concelhio; 1996, 23 dezembro - despacho de homolgação do Ministro da Cultura como Interesse Municipal.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria rebocada e caiada; cantarias; madeira nas portas e no retábulo; telha; vidro no óculo; tijoleira; estuque

Bibliografia

ANICA, Arnaldo Casimiro, Tavira e seu termo. Memorando histórico, vol. 1, Tavira, Câmara Municipal de Tavira, 1993; LAMEIRA, Francisco, Inventário artístico do Algarve. A talha e a imaginária, vol. IV (Concelho de Tavira), Faro, Secretaria de Estado da Cultura, 1990; IDEM, Roteiro das igrejas de Tavira, Faro, Secretaria de Estado da Cultura, 1996; IDEM, A talha no Algarve durante o Antigo Regime, Faro, Câmara Municipal de Faro, 2000; SANTANA, Daniel, "O Convento de Nossa Senhora da Graça de Tavira", Revista Monumentos, Lisboa, DGEMN, Março de 2001.

Documentação Gráfica

CMT

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Séc. 20, década de 80 - substituição do pavimento; 2000, CMT - Obras de conservação geral e pintura das paredes, feitas por um pedreiro local como acção preventiva

Observações

*1 - Placa da Câmara Municipal de Tavira contendo informações básicas sobre a História da capela, em português e em inglês; 2 - a campanha barroca do Convento graciano de Tavira foi já estudada por Daniel Santana, que identifica claramente as obras então realizadas com o Arquitecto Diogo Tavares (SANTANA, 2001)

Autor e Data

Patrícia Viegas 2000 / Paulo Fernandes 2002

Actualização

 
 
 
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