Casa e Quinta de São Gens / Casa e Quinta do Viso

IPA.00009088
Portugal, Porto, Matosinhos, União das freguesias de São Mamede de Infesta e Senhora da Hora
 
Arquitectura residencial, barroca, revivalista e eclética. Quinta composta por casa e jardim, desenvolvido, quer junto à fachada principal, quer na posterior, este último de carácter formal, com acesso principal por portal armoriado, barroco, rasgado no muro da propriedade. Casa de planta rectangular, com torre integrada, no centro da fachada posterior, à semelhança da Casa de Ramalde, do tipo casa-torre. A casa actual terá sido provavelmente inspirada na casa original, também ela com semelhanças a nível planimétrico e na escadaria que possuía na fachada principal, com a Casa de Ramalde, pertencente à irmã da primitiva proprietária. As fachadas apresentam decoração neoromânica, patente nos merlões e banda lombarda da torre, nos vãos em arco pleno, com motivos perlados, motivo que se repete em parte na cornija de remate, nos balcões de guarda plena, de algumas sacadas, principalmente na torre, misturando alguns elementos neorenascentistas como é o caso dos balcões alpendrados da fachada lateral S., com elementos neomanuelinos como é o caso da janela em arco canopial do segundo registo da torre e elementos neobarrocos, nomeadamente as sacadas em balaustrada, as cornijas recta do remate das janelas, o remate com cartela de decoração fitomórfico da janela de sacada do eixo da fachada principal, assim como a elevação em semicírculo, no remate, também no mesmo eixo, à semelhança de diversos solares setecentistas. Jardim com elementos barrocos, nomeadamente fontes e estátuas. Conserva ainda elementos provenientes da primitiva quinta, nomeadamente o portal, estátuas e fontes barrocas atribuídas a Nicolau Nasoni.
Número IPA Antigo: PT011308100040
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Residencial unifamiliar  Quinta  Palacete  

Descrição

Antiga quinta composta por casa no extremo S. com jardim formal desenvolvido posteriormente e no extremo N. da propriedade alguns edifícios de apoio e um mais recente do Laboratório de qualidade Alimentar. CASA de planta ligeiramente rectangular, integrando uma torre quadrangular no centro da fachada posterior. Volumes articulados de dominante horizontal, quebrada pelo verticalismo da torre. Coberturas diferenciadas em telhados de três e quatro águas. Fachadas de dois registos e quatro na torre, rebocadas e pintadas de amarelo, marcada por elementos em cantaria, nomeadamente, cunhais apilastrados, frisos de separação nos dois primeiros registos, embasamento, molduras dos vãos e cornija de remate, esta última sob duplo beiral, excepto na torre, antecedida por banda lombarda e sobrepujada por platibanda ritmada por merlões piramidais. Fachada principal voltada a O., com dois panos separados por pilastra. O mais longo apresenta friso de separação de registos marcado ao centro por portal em arco abatido, com moldura em meia cana, encimado por janela de sacada com guarda em balaustrada de granito, sobre grandes modilhões com brincos e na cornija de remate elevação em semicírculo. A janela de sacada apresenta igualmente brincos, encimada por cartela com festões e remate em cornija quebrada. Lateralmente surgem janelas de peitoril e, nos topos portas, ao nível do primeiro registo, sendo as janelas do registo superior rematadas por cornija. Pano mais estreito, no topo esquerdo, com par de janelas de verga recta, no primeiro registo, e janelas geminadas com colunelo entre elas, em arco pleno perlado, no segundo. A cornija de remate deste pano é decorada por pérolas. Fachada lateral N. com dois panos, o direito com porta ladeada por pilastras unidas a modilhões que suportam a sacada do segundo registo, com guarda em balaustrada de granito. Pano esquerdo, recuado no segundo registo, com terraço protegido por balaustrada e acesso por par de portas, as viradas a E. em arco pleno, sendo que a cornija de remate deste lado apresenta decoração de pérolas. Fachada lateral S. com registos separados por friso, modulado por duas composições verticais, formadas por janela gradeada encimada por janela de sacada com guarda plena de granito, sobre modilhão, com colunelos a suportar alpendre de três águas. Fachada posterior com dois panos, um mais longo, marcado ao centro pela torre, e o outro, no extremo direito correspondendo ao terraço, que faz o ângulo com a fachada lateral N.. O pano longo é recorrido por arcaria plena formando varanda superiormente com guarda em balaustrada, interrompida ao centro por escadaria de lanço recto com guarda plena e arranque volutado, bifurcada em patamar superior. O pano longo é subdividido em três, sendo o central a torre com três janelas serlianas, em arco pleno, com vitral, de iluminação da escadaria interior, encimado por janela peitoril com moldura em arco canopial, ladeada por mísulas, e janela com moldura recortada, de sacada plena, sobre modilhões. As últimas repetem-se nos restantes panos do último registo da torre. Os sub-panos que ladeiam a torre apresentam par de portas rematadas por cornija recta. INTERIOR organizado, no primeiro piso, através de grande vestíbulo, ladeado por dois salões, ocupados por serviços administrativos, o do lado esquerdo de maiores dimensões. O vestíbulo é decorado por silhar de azulejos industriais de padrão, policromos a azul e amarelo. Pavimento em mosaico de grés policromo com motivos geométricos e florais. Tecto em estuque decorado com apainelados. Na parede testeira rasga-se vão rectangular decorado por mascarões, de acesso à escadaria com guarda em balaustrada de madeira, de lanço recto com patamar intermédio de acesso a dois lanços paralelos, divergentes do primeiro. Esta zona apresenta tecto de estuque com caixotões, alguns decorados por florões. No topo da escadaria surgem três portas, duas laterais rectangulares, com bandeira e uma frontal em grande arco pleno. Neste piso superior repetem-se três salas, voltadas à fachada principal, duas delas correspondendo ao salão nobre e à sala de reuniões dos serviços e uma escada secundária de dois lanços de acesso aos dois últimos pisos da torre ocupados com gabinetes. Os diferentes espaços apresentam pavimento em soalho e tectos estucados, alguns lisos e outros mais decorados, mas sempre com grande simplicidade. JARDIM com duas áreas, uma a ladear a N., o terreiro que precede a fachada principal e outra desenvolvida junto à fachada posterior. Área junto ao terreiro de recorte rectangular, com relvado pontuado por árvores, com composição de cantaria, integrada no muro de delimitação N., formada por mesa, com painel de azulejos industriais, inferiormente, de padrão policromo a azul e amarelo, encimada por espaldar decorado por acanto e rabo de peixe, rematado por volutas com concha no topo. Área junto à fachada posterior, em terraço superior, trapezoidal, organizado formalmente, com placas relvadas definidas por caminhos pedonais com cerca de dois metros de largura, formando ao centro um rectângulo marcado por três caminhos longitudinais, e três transversais, os centrais a intersectar um chafariz com tanque enterrado de faces côncavas e convexas, rodeado por quatro bancos de cantaria com espaldar em forma de frontão de volutas. Nos topos dos caminhos do rectângulo surgem oito estátuas, quatro delas representando as estações do ano. O terraço apresenta no topo O. uma fonte ladeada por escadas, com espaldar delimitado por pilastras coroadas por pináculos e remate curvo corado por grande pináculo. O espaldar apresenta composição de volutas com bica inscrita em nicho concheado, ladeada por cabeças de leão. No topo oposto surge tanque rectangular com lavadouro e na face E., voltada à casa estátua com inscrição a data de 1905 em cartela.

Acessos

Senhora da Hora, Rua do Senhor nº 14; Exterior da Circunvalação, nº 11846

Protecção

Em vias de classificação

Enquadramento

Urbano, isolado, em propriedade fechada, junto ao gaveto entre a Rua do Senhor e a Estrada Exterior da Circunvalação, por alto muro em alvenaria de granito. No muro voltado a S., à Estrada Exterior da Circunvalação, abre-se janela gradeada rasgada em pano delimitado por pilastras coroadas por pináculos, com remate recortado encimado no eixo por pináculo piramidal. Junto ao gaveto desenvolve-se terreiro quadrangular que precede a fachada principal, com acesso por portal armoriado voltado à Rua do Senhor. O portal é ladeado por janelões gradeados encimados por volutas, com pano demarcado nos extremos por pilastras. O vão do portal, recortado superiormente, é rematado por frontão interrompido por grande pedra de armas *2 com paquife e lateralmente fogaréus e urna com flores. A antiga quinta confronta a N. com o terreno da Escola Preparatória da Senhora da Hora.

Descrição Complementar

INSCRIÇÕES: Inscrição gravada em lápide existente no vestíbulo, na parede lateral direita; mármore; leitura: Esta Casa senhorial da Quinta de São Gens, onde em 1928 foi instalada a Estação Agrária do Douro Litoral, foi restaurada em 1988 e inaugurada por S. Exa. o Ministro da Agricultura, Pescas e Alimentação, Eng. Álvaro Roque de Pinho Bissaia Barreto. Matosinhos 10.03.1989.

Utilização Inicial

Residencial: quinta

Utilização Actual

Política e administrativa: direção-regional / Política e administrativa: sede de associação

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Nicolau Nasoni (atr. 1746 / 1758). ARQUITECTO PAISAGISTA: Ilídio de Araújo (séc. 20, anos 80). ENGENHEIRO: Ruela (1930). FIRMAS DE MOBILIÁRIO: L. Costa, Lda. (1954-1957); Madeiras & Móveis, Lda. (1954-1957).

Cronologia

1542 - A Quinta de São Gens encontrava-se ligada ao morgadio de Ramalde, instituído por João Dias Leite; 1746 / 1758 - provável construção da primitiva casa, portal, fontes e estátuas, provavelmente segundo o risco de Nicolau Nasoni, que trabalhava igualmente na Casa de Ramalde (v. PT011312110043), propriedade da irmã da proprietária da Casa de São Gens (SMITH, 1966); 1758 - segundo as Memórias Paroquiais, a propriedade pertencia a Jerónimo Leite Pereira Pinto Guedes do Lago, fidalgo da Casa Real; 1889 / 1892 - abertura da Estrada Exterior da Circunvalação e consequente mutilação do topo S. da casa e do terreiro; 1892 - segundo o extracto da planta da cidade do porto, do General Augusto Geraldo Telles Ferreira, a casa apresentava uma dupla escadaria na fachada principal e outra semelhante à actual, na fachada posterior; séc. 19, final / séc. 20, início - reedificação da casa; 1920, década de - após um violento incêndio, a casa é vendida a emigrante no Brasil, que introduz profundas remodelações, nomeadamente prolongando a casa na fachada lateral N. e fazendo um jardim formal no terreiro; 1928 - a quinta é adquirida pelo Estado para aí instalar a Estação Agrária do Douro Litoral; 1930 - projecto de plantação de fruteiras junto ao terreiro da autoria Eng. Ruela; 1954 - 1957 - abertura de concurso público para o fornecimento de mobiliário de madeira e outros artigos de equipamento destinados à Estação Agrária do Porto, adjudicado às firmas Madeiras & Móveis, Lda. (Praia da Granja) e L. Costa, Lda. (Porto); 1989, 10 Março - inauguração das instalações após o restauro, pelo Ministro da Agricultura, Pescas e Alimentação, Eng. Álvaro Roque de Pinho Bissaia Barreto; 1988 - arranjo do jardim segundo projecto do Arquitecto Ilídio de Araújo, incluindo o reordenamento das estátuas, chafariz e bancos; 2003, 14 Abril - Despacho do Vice-Presidente do IPPAR, de abertura do processo de instrução relativa à eventual classificação do imóvel *1; 2009, 23 outubro - caduca o processo de classificação conforme o Artigo n.º 78 do Decreto-Lei n.º 309/2009, DR, 1.ª série, n.º 206, alterado pelo Decreto-Lei n.º 265/2012, DR, 1.ª série, n.º 251 de 28 dezembro 2012, que faz caducar os procedimentos que não se encontrem em fase de consulta pública; 2014, 13 agosto - publicação da Portaria n.º 661/2014, DR, 2.ª série, n.º 155, autorizando o Fundo de Reabilitação e Conservação Patrimonial a comparticipar o financiamento à Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN) para realização de obras de beneficiação do imóvel; 2016, 16 junho - publicação da abertura de procedimento de classificação de um conjunto de imóveis, como Monumentos de Interesse Municipal, em Anúncio n.º 147/2016, DR, 2.ª série, n.º 114; 2017, 26 maio - publicação do Anúncio n.º 76/2017, DR n.º 102/2017, 2.ª série, n.º 102, relativo à prorrogação de prazo para conclusão do procedimento de classificação do património cultural das freguesias do concelho como Monumentos de Interesse Municipal.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Estrutura da casa, embasamento, cunhais, molduras dos vãos, cornija de remate, balaustradas das varandas, muros, portal exterior, estátuas, bancos, fontes e tanque, em granito; portas, janelas e pavimentos, em madeira; tectos em estuque; vestíbulo com silhar de azulejos industriais; pavimento do vestíbulo em mosaico de grés; terraço da fachada lateral N. com pavimento em mosaico; cobertura em telha marselha.

Bibliografia

NÓBREGA, Alberto de Laura Moreira e Vaz Osório da, Pedras de Armas de Matosinhos, Matosinhos, 1960; SMITH, Robert, Nicolau Nasoni, Arquitecto do Porto, Lisboa, 1966; ARAÚJO, Ilídio, Nicolau Nasoni e a Quinta de São Gens, in a Paisagem e o Homem, Dezembro, 1983; ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1988; FERNANDES, Ilda, Senhora da Hora - Monografia, Senhora da Hora, 2000; www.ippar.pt, 13 Fevereiro 2006.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DSID; DRAEDM: AD

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN/DREMN

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN/CAM 0278/06, 0323/11, 0323/12, 0323/13, 0323/14, 0323/15, 0350/04, 0392/18, 0474/03

Intervenção Realizada

1930 - Arranjo do terreiro da entrada; DGEMN: 1988 - restauro da casa e arranjo do jardim; DGEMN: 1990, início da década - adaptação de alguns compartimentos interiores; 1996 / 1997 - colocação de sistema de segurança e intrusão; 1988 - trabalhos de conservação e restauro na casa; reordenamento dos espaços exteriores; 1998 / 1999 - pintura das fachadas e muro; 2000 / 2001 - reparação dos alpendres das varandas da fachada lateral S..

Observações

*1 - DOF: Quinta de São Gens incluindo o terreiro a O. e jardim a E.; *2 - No meio do escudo surgem as armas de D. Francisca Luísa Leite Pereira de Melo, esposa de Jerónimo Leite Pereira Pinto Guedes do Lago e irmã de D. Florência, morgada de Ramalde.

Autor e Data

Isabel Sereno 2001

Actualização

Margarida Elias (Centro de Investigação em Arquitectura, Urbanismo e Design (CIAUD-FA/UTL)) 2014
 
 
 
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