Convento de São Francisco / Quartel do Regimento de Infantaria n.º 3 / Pousada de São Francisco

IPA.00000904
Portugal, Beja, Beja, União das freguesias de Beja (Salvador e Santa Maria da Feira)
 
Arquitectura religiosa e funerária, gótica. Convento Franciscano, de cujo primitivo núcleo gótico resta apenas a Sala dos Túmulos, uma capela tumular privada à semelhança do panteão régio da Batalha; de planta exteriormente rectangular, com abside poligonal marcada apenas no interior, formada por pequena nave e cabeceira dedois tramos, apresenta abóbada artesoada, de desenho semelhante à da do deambulatório da Sé de Lisboa (v. PT031106520004); os fechos decorados e as meias colunas com capitéis fitomórficos de crochet (um arcaísmo ou um revivalismo de época consoante os autores CHICÓ e DIAS), recebem a descarga das nervuras. A Igreja, fruto da campanha de obras setecentista, apresenta nave única de dois tramos, com arcossólios nos alçados laterais e capela-mor poligonal. O convento era um dos mais ricos exemplares da Ordem Franciscana em Portugal. A Sala dos Túmulos, considerada por Mário Chicó, a capela gótica mais elegante do Baixo Alentejo, um dos mais interessantes testemunhos da arquitectura gótica quatrocentista no Sul do País. Nos blocos de cantaria aparelhada encontram-se siglas iguais às da torre de menagem do castelo. Estabelecimento hoteleiro inserido na rede Pousadas de Portugal, integrado no grupo das Pousadas Históricas.
Número IPA Antigo: PT040205090009
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos (Província de Portugal)

Descrição

Planta longitudinal, composta por igreja de planta rectangular antecedida por portaria dispostas no sentido SO. - NE., com dependências adossadas à fachada lateral NO. e torre sineira a SE., e antigas dependências conventuais a SE., dispostas em torno de claustro quadrado: refeitório (actual sala de jantar) a SO., Sala dos Túmulos e Sala capitular (actual Sala de Estar) a NE.. Sala dos túmulos de planta longitudinal, entre a igreja e a sala do capítulo. Na fachada posterior o alçado correspondente à Sala dos Túmulos amplamente vazado por janela em arco quebrado, mainelada, de dois lumes, enquadrada por arquivoltas sobre 2 colunelos, com capitéis vegetalistas. INTERIOR: Sala dos Túmulos composta por pequena nave rectangular e cabeceira de dois tramos rematados por ábside poligonal; um arco triunfal quebrado moldurado separa a nave da capela-mor, estribando-se em meias colunas com capitéis fitomórficos; uma abóbada de berço cobre a nave, outra de cruzaria de ogivas, com cadeia, a capela-mor e abside, descarregando em meias colunas, de capitéis fitomórficos; fechos decorados com emblemas heráldicos dos Freire de Andrade, Sousas de Arronches e Pereiras. Duas molduras dividem horizontalmente os três panos da abside, abaixo do parapeito da janela e ao nível dos capitéis da mesma; seis edículas rasgam-se na espessura dos alçados laterais, quatro arcossólios em arco quebrado e dois vãos entaipados que estabeleciam outrora a comunicação com a ábside da igreja, a N. (este em arco redondo sobrepujado por frontão triangular), com a sala do capítulo, a S.. No pavimento da cabeceira uma campa de pedra legendada pertencente a João Freire de Andrade *1. O espaço envolvente do edifício contem uma piscina e um corte de tenis envoltos por jardim de traçado rectilíneo

Acessos

Largo D. Nuno Álvares Pereira

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 29 604, DG, 1.ª série, n.º 112 de 16 maio 1939 / ZEP, DG, 2.ª série, n.º 80 de 04 abril 1961 (Sala dos Túmulos da capela do Convento de São Francisco)

Enquadramento

Urbano. Encosta-se à capela-mor da igreja conventual franciscana, num dos ângulos do claustro; abre para a ala E. do mesmo por porta em arco quebrado, vedado por portão metálico.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Comercial e turística: pousada / Religiosa: igreja

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Grupo Pestana Pousadas

Época Construção

Séc. 13 / 14 / 16 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: António Lino; E. Maia Rebelo, José Alves (projecto de adaptação a pousada); ARQUITECTO PAISAGISTA: Gonçalo Ribeiro Telles (Jardins); DECORADOR: Carlos Pietra Torres

Cronologia

1268, 10 de Novembro - escritura pública de constituição da comunidade de São Francisco de Beja por iniciativa do alcaide-mor de Beja, Lopo Esteves, e dos vereadores Diogo Fernandes e Vasco Martins; os terrenos para a implantação do convento, situados a S. junto às muralhas, serão doados por Paio Pires; 1272 - passa a fazer parte da Província dos Algarves; 1279 - por morte de D. Afonso o convento recebe um legado de 50 libras; 1302 - D. Dinis manda erguer a capela integrada no convento franciscano, sob invocação de São Luís, bispo de Tolosa, em acção de graças pela intervenção milagrosa deste santo durante uma caçada; 1348 - ainda surgem obras documentadas; séc. 15 - João Freire de Andrade, neto do mestre de Aviz, D. Nuno Freire, institui na capela o seu panteão familiar (Sala dos Túmulos); em meados do século o vão de acesso à abside da igreja é transformado em edícula de feição clássica, na qual é inserido um túmulo em mármore com o brasão dos Freires e Câmaras (ESPANCA, 1993); ainda neste século realizam-se várias reconstruções entre as quais as do Refeitório e do Claustro; 1621/1640 - recebe vários benefícios régios durante o reinado de D. Filipe III; séc. 17/18 - nos reinados de D. Pedro II e de D. João V realiza-se a remodelação geral do convento tendo-se construido novos dormitórios; 1694/1726 - substituição da antiga igreja por uma nova; 1834 - com a extinção das ordens religiosas o convento é profanado; muitos dos altares de talha dourada foram oferecidos à Santa Casa da Misericórdia que os mandou aplicar na Igreja de Nossa Senhora da Piedade (020513016); 1834/1846 - os túmulos, respectivos escudos e leões de suporte são retirados; três das arcas tumulares são transformadas em bebedouros para animais, colocadas duas junto à nora e uma perto da cisterna; 1850 - início obras de adaptação a quartel, para instalação do Regimento de Infantaria nº7; sofre então várias adulterações: a capela servirá de barbearia, armazém de palha, biblioteca, etc.; na igreja construiu-se um pavimento intermédio, truncando-a em altura; vários vãos foram entaipados, azulejos arrancados, pinturas murais caiadas, etc.; 1941, 17 Maio - Decreto-lei n.º 31272 de criação da Comissão Administrativa das Novas Instalações para o Exército a serem instaladas no convento; 1945 - início da actividade construtiva da Comissão Administrativa das Novas Instalações para o Exército; 1947/1953 - estava em curso a obra do Quartel Novo, para o Regimento de Infantaria 3, pela Comissão Administrativa das Novas Instalações para o Exército, cuja conclusão total está prevista até fim de 1954; 1955 - conclusão da obra do novo quartel pela Comissão Administrativa das Novas Instalações para o Exército e entrega ao Ministério do Exército *2; 1992 - aprovado o projecto de adaptação do convento a pousada e início das obras; as pinturas murais das abóbadas da Sala do capítulo e da capela tumular de Duarte Pinto, encontravam-se muito degradadas, algumas encobertas por caiações ou apresentando queda das camadas preparatória e pictórica deixando à vista o suporte de alvenaria de tijolo; 1992, 24 de Novembro - auto de cessão do imóvel à Enatur; 1993 - encontrados vestígios arqueológicos de um cemitério quinhentista no claustro do convento; 1994 - projecto de arquitectura paisagista para o pátio por Gonçalo Ribeiro Telles; Abertura da pousada ao público; 1995 - descoberta no convento de uma necrópole romana; 2007, 19 setembro - Despacho de encerramento do processo de classificação do Convento, por se aguardar proposta de classificação do Núcleo Central Histórico da cidade, a apresentar pela CM de Beja.

Dados Técnicos

Estrutura autónoma e estrutura mista. Pintura mural afresco sobre desenho preparatório igualmente afresco, em vermelho sinopia (antiga sala do capítulo e capela tumular de Duarte Pinto) *3

Materiais

Inerte: Cantaria aparelhada e alvenaria rebocada em estruturas; cantaria em molduras e pavimento; tijoleira em pavimento; vidro; ferro (gradeamento da porta de acesso); Vegetal: palmeira-das-vassouras (Chamaerops humilis), alecrim (Rosmarinus officinalis)

Bibliografia

ARAGÃO, Teixeira de, A Capela dos Túmulos do extinto convento de São Francisco, O Ocidente, 1878; BELÉM, Frei Jerónimo de, Crónica Seráfica da Santa Província dos Algarves, Lisboa, 1750; CANELAS, Carlos, História dos Conventos de Beja, Arquivo de Beja, Beja, 1965; CARAPINHA, Aurora e TEIXEIRA, J. Monterroso, A Utopia com os Pés na Terra. Gonçalo Ribeiro Telles, 2003; CHICÓ, Mário, A Arquitectura Gótica em Portugal, 3ªed., Lisboa, 1981; CUNHA, Eugénia, LOPES, Maria Conceição, SILVA, Ana Maria e UMBELINO, Cláudia, "Intervenção arqueológica de emergência no Convento de São Francisco - Beja", Actas do 3º Encontro de Arqueologia Urbana, 1997; DIAS, Pedro, A arquitectura gótica portuguesa, Lisboa, 1994; ENATUR, Pousada de São Francisco, Lisboa, 1994; ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal, Distrito de Beja, Lisboa, 1993; LOBO, Susana, Pousadas de Portugal. Reflexos da Arquitectura Portuguesa no Século XX, Coimbra, Imprensa Universitária de Coimbra, 2006; MESTRE, Joaquim Figueira, Beja - olhares sobre a cidade, Beja, 1993; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1950, Lisboa, 1951; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1951, Lisboa, 1952; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1952, Lisboa, 1953; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1956, Lisboa, 1957; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério nos anos de 1957 e 1958, 2º Volume, Lisboa, 1959; MURAL DA HISTÓRIA, "Conservação e restauro das pinturas murais do Convento de São Francisco em Beja", Monumentos, nº3, Lisboa, DGEMN, Setembro, 1995, pp.72-77; VIANA, Abel e outros, Guia Turístico de Beja, 1950; 15 Anos de Obras Públicas (1931-1947), Lisboa, 2º volume Livro de Ouro, 1949, p. 172.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMSul; IHRU: Arquivo Pessoal Gonçalo Ribeiro Telles

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID; BNP: FREIRE, Vasco, Livro das Antiguidades da Cidade de Beja, 1610, Ms 885; SILVA, Félix Caetano da, Apontamentos vários sobre as memórias da História da cidade de Beja, Ms 8019.

Intervenção Realizada

DGEMN: 1944 - pequenas beneficiações; Comissão Administrativa das Novas Instalações para o Exército: 1956 - início das obras complementares das instalações já entregues, compreendendo o edifício da enfermaria, o equipamento e instalação da lavandaria, as instalações sanitárias gerais, a ampliação das cavalariças, o posto de transformação de energia eléctrica; 1957 - obras complementares de instalações já entregues, dentro do Programa Trienal 1955 - 1957: equipamento para a lavandaria, construção do edifício da enfermaria, capela, construção de duas guaritas na entrada principal, execução do pórtico de ginástica, ampliação das cavalariças e conclusão dos arruamentos; 1958 - obras complementares de instalações já entregues, dentro do Programa para o Triénio 1958 - 1960: melhoramentos e beneficiações em diversos edifícios; 1959 - reparação da cobertura e de rebocos salitrosos; limpeza do pavimento; 1968 - impermeabilização da cobertura; sondagens no pavimento e limpeza; 1982 - reconstrução dos pavimentos; reparação de vitrais; 1992/1995 - obras de reabilitação e adaptação a pousada: consolidação e reforço estrutural de contrafortes, abóbadas e paramentos, rebocos e caiações; reorganização dos espaços, incluindo eliminação da laje horizontal de betão armado que dividia a igreja; conservação e restauro das pinturas murais abóbadas Sala do Capítulo e na Capela tumular de Duarte Pinto: remoção da cal com bisturi ou por acção abrasiva, reintegração cromática, consolidação de rebocos e remoção de rebocos sem pintura, refazer moldurs em falta e aplicação de nova argamasa, de cal hidráulica e areia, nas zonas com falta de reboco original.

Observações

*1 - muitos dos altares de talha dourada da igreja encontram-se na Igreja de Nossa Senhora da Piedade (v. PT040205130016); *2 - Os novos quartéis, instalados no convento na década de 50 do Séc. 20, obedeciam, por igual, nas suas caraterísticas essenciais, aos mesmos programas e a idênticas preocupações de concepção, seguindo um esquema de quartel-tipo; *3 - na abóbada da sala do capítulo e em metade da abóbada da capela tumular a película cromática é pouco coesa evidenciando uma carbonatação deficiente; na restante parte da abóbada os pigmentos denotam boa aderência à preparação sendo esta mais rugosa e vendo-se marcas de pincel.

Autor e Data

Isabel Mendonça 1993 / Rosário Gordalina 1998 / Patrícia Costa 2003

Actualização

Rosário Gordalina 2006 / Luísa Estadão 2007 / Teresa Camara 2009
 
 
 
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