Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Valença

IPA.00008919
Portugal, Viana do Castelo, Valença, União das freguesias de Valença, Cristelo Covo e Arão
 
Hospital de Misericórdia construído no séc. 19, caraterizado pela funcionalidade planimétrica, sobriedade das linhas, regularidade e simetria da distribuição dos vãos, resultante, em grande parte, de ser um projeto de raiz. De planta retangular irregular e fachadas evoluindo em dois pisos, a principal, com três panos, apresenta um esquema sensivelmente mais rico, com um jogo alternado de vãos, sempre retilíneos, exceto no portal principal, central, que é abatido e se interliga à janela de sacada de perfil contracurvo. O corpo avançado da capela, construído posteriormente, tem um tratamento diferenciado, terminando em frontão atarracado, coroado por cruz e urnas laterais, rasgado por óculos ovais e, na face nascente, por nicho com imagem. No interior tem retábulo em talha policroma, de corpo reto e um eixo, neoclássico. A fachada posterior é mais irregular e denota reformas construtivas. No interior do hospital, destaca-se o vestíbulo separado da escadaria central, de influência revivalista, por arcos com portais em ferro, e a bandeira da Misericórdia, com a figuração da "Mater omnium".
Número IPA Antigo: PT011608150038
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Saúde  Hospital  Hospital de Confraria / Irmandade  Misericórdia

Descrição

Planta retangular irregular, composto por um volume simples principal, a que se adossa, perpendicularmente à fachada lateral nascente, uma pequena capela de planta retangular. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de quatro águas, no edifício principal, e de duas águas na capela, rematadas em beirada simples. Fachadas em alvenaria rebocada e pintada de branco, com dois pisos separados por friso, excepto na fachada posterior, soco de cantaria, pilastras toscanas nos cunhais e terminadas em friso e cornija. Fachada principal virada a norte, de três panos, definidos por pilastras, o central mais estreito, rasgadas regularmente por vãos retilíneos sobrepostos, de molduras simples; no pano central, rasgam-se, no primeiro piso, portal de verga abatida, com fecho volutado, e encimado por friso que o interliga ao vão superior, ladeada por duas janelas de peitoril, gradeadas e com caixilharia de guilhotina, e, no segundo, janela de sacada de perfil contracurvo e guarda em gradeamento de ferro, ladeado por duas janelas de peitoril iguais às do piso térreo; nos panos laterais, rasgam-se, no primeiro piso, cinco janelas de peitoril, gradeadas e com caixilharia de guilhotina, tendo os dois últimos vãos do lado nascente e o último a poente sido foram transformados em portas; no segundo piso, abrem-se janelas de peitoril alternadas por janela de sacada, sobre friso, e guarda em gradeamento de ferro forjado. Todas as janelas de peitoril formam inferiormente brincos retos e as de sacada integram bandeira. Na fachada lateral nascente abre-se no segundo piso duas janelas de peitoril e uma de sacada, iguais às da frontaria; o corpo retangular da capela, disposto ao centro da fachada, de dois reghistos separados por friso, termina em frontão triangular, coroado com cruz latina de cantaria, no vértice, e por urnas, nos cunhais; ao nível do segundo registo, rasgam-se, em cada uma das faces, óculo oval, com moldura de cantaria, o qual, a nascente, é encimado por nicho em arco de volta perfeita, albergando imagem cerâmica de Santo António, sobre mísula retangular. Na fachada lateral poente, com soco em alvenaria de pedra, rasgam-se, no primeiro piso, oito janelas retangulares jacentes, gradeadas, e, no segundo, sete janelas de peitoril, com caixilharia de guilhotina. Fachada posterior com esquema de fenestração irregular, abrindo-se no primeiro piso duas portas e quatro janelas de peitoril, e no segundo sete janelas de peitoril, pequenas, tendo no cunhal sudeste pano de cantaria com vão semicircular. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas. A porta principal, com guarda-vento em madeira, dá acesso a um vestíbulo central, retangular, com pavimento e soco em cantaria de granito e teto plano, em estuque; lateralmente, através de portas de verga recta e moldura simples, comunica com os corredores transversais de distribuição, do primeiro piso, possuindo portões em ferro forjado pintado de branco, integrando bandeira decorada; na parede lateral direita, surge uma cartela com a inscrição "VIRTUTUM MAIOR EST CHARITAS AD 1838". Frontalmente, rasgam-se três portais, em arco quebrado sobre pilastras toscanas, o central, acedendo à escadaria para o segundo piso, possuindo também portão em ferro, pintado de branco, tendo sobre a bandeira, de motivos enrolados, brasão da Misericórdia de Valença, coroado, com a inscrição "Mizericórdia"; os portais laterais apresentam porta de madeira, com bandeira decorada por motivos lanceolados em vidro colorido. No primeiro piso situavam-se os consultórios e serviços administrativos. A escadaria tem três lanços e dois braços, com os primeiros degraus comuns, com silhar de azulejos de padrão moderno nas paredes e guarda em balaustrada de ferro. No segundo piso, a escadaria dá acesso direto à Sala das Sessões, e a corredores transversais de distribuição da Ala dos Homens e da Ala das Mulheres, através de portas de verga reta com moldura simples, inscritas. A Sala das Sessões situa-se em posição central no edifício, com janela de sacada central ladeada por duas de peitoril, e possui diversos quadros a óleo retratando os Mesários e beneméritos da Santa Casa. Neste piso ficam ainda as enfermarias, a maternidade e a capela. Esta tem as paredes com silhar de azulejos e o teto de madeira, de perfil curvo, pintado com brasão da Misericórdia. Possui retábulo em talha policroma, de corpo reto e um eixo, definido por colunas de fuste liso e capitel coríntio, tendo ao centro nicho de perfil curvo, albergando imaginária. A estrutura remata em espaldar contracurvo e tem altar tipo urna, com decoração fitomórfica no frontal.

Acessos

Valença, Largo Visconde de Guaratiba; Rua José Rodrigues; Rua São Francisco

Protecção

Incluído na Zona Especial de Proteção das Fortificações da Praça de Valença do Minho (v. IPA.00003527)

Enquadramento

Urbano, isolado em outeiro, adaptado ao declive suave do terreno. Ergue-se no interior da fortaleza, com fachada principal a abrir diretamente para a rua, onde se forma largo, pavimentado a calhau rolado e guias de granito, formando quadrícula. À fachada lateral esquerda, adossa-se muro, de alvenaria rebocado e pintado, que integra um dos Passos da Via Sacra (v. IPA.00006232) e fecha a fachada posterior, onde se desenvolve logradouro, também vedado por muro de alvenaria, sobreposto por gradeamento, e pavimentado com paralelos. No logradouro, ergue-se o Poço do Trem Militar. Frente ao edifício, do lado oposto do largo, a norte, no nº 9, localiza-se uma casa manuelina (v. IPA.00025024). Nas proximidades, a cerca de 50 metros para noroeste, erguem-se as Igrejas de Santa Maria dos Anjos (v. IPA.00006437) e da Santa Casa da Misericórdia (v. IPA.00006231) e, a cerca de 40 metros para sudeste a Igreja de Santo Estêvão (v. IPA.00006230).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Saúde: hospital de confraria / irmandade

Utilização Actual

Política e administrativa: sede de organização religiosa / Assistencial: lar

Propriedade

Privada: Misericórdia de Valença

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

DIRECÇÃO DAS OBRAS: José António da Silva Veiga (1838).

Cronologia

1758, 23 abril - segundo as Memórias Paroquiais pelo Pe. António Lourenço Lajes, a vila não tem hospital, nem casa de caridade, apesar de fazer muita falta devido a grande número de pobres; 1824, 18 outubro - aviso régio de D. João VI pondo à disposição do Provedor e demais Irmãos da Santa Casa da Misericórdia de Valença o resto do edifício do extinto convento de Santa Clara, de freiras clarissas, cujo terreno e instalações que anteriormente tinham servido de quartel de artilharia n.º 4, com a igreja, pedra e respectivos materiais, para instalação de um hospital pela Irmandade; 22 outubro - portaria transmitindo o imóvel à Misericórdia; 26 outubro - ofício ao Provedor Francisco Xavier Calheiros Bezerra de Araújo comunicando a doação; 1825 - Misericórdia decide construir um hospital, mas as obras são suspensas por falta de verba; 1826 - reinício das obras de construção do Hospital, sendo provedor Joaquim de Barros que, para o efeito, oferece 150$000; pouco depois, as obras voltam a parar devido à ocupação militar do terreno para a edificação; 1836 - o provedor Dr. Mateus José de Almeida escreve ao seu conterrâneo e amigo Joaquim António Ferreira, residente no Rio de Janeiro, pedindo uma esmola para o hospital; 1838 - data da inscrição no vestíbulo principal; 06 agosto - o provedor recebe do Brasil o donativo de 1.600$000 para a obra do hospital; a direção das obras do hospital fica a cargo de José António da Silva Veiga, que recebeu daquela verba 500 escudos, sendo o restante posto a juro, mas tendo-se-lhe adiantado 763$51 para as obras não pararem; 1840 - conclusão do corpo principal do hospital, que contava com duas enfermarias, uma para mulheres no primeiro piso e outra para homens no segundo, aproveitando-se os baixos para guardar a lenha e outros materiais; por falta de recursos, não se fizem obras na igreja; doação de 400$000 pelo benfeitor Joaquim António Ferreira, então barão de Guaratiba, residente no Brasil, que foi posta em juro; 26 dezembro - o hospital recebe os primeiros dois doentes: Manuel Marinho, do lugar da Bogalheira, e Francisco Pinto, da vila; nomeia-se mensalmente dois Irmãos da Mesa para custearem as despesas, fazendo em várias noites peditórios de panos, fios e ligaduras para o hospital; todos os domingos, um deles esmolava na vila; 1842 - envio de donativo no valor de 2.000 escudos por Joaquim António Ferreira; 1856 - ampliação do hospital até à zona da igreja do antigo convento franciscano; 1859, 12 março - falecimento do benfeitor Joaquim Ferreira, então já visconde de Guaratiba, que pouco antes remetera para o hospital a importância de 13.600 escudos, e a quem deixou em testamento 30.000 escudos em ações do Banco de Portugal e 12.700 escudos em inscrições da Junta de Crédito Público; 1864, maio - Joaquim José Ferreira, sobrinho do Visconde de Guaratiba envia do Brasil 1000$000 para o hospital; 1869 - conclusão das obras de ampliação do hospital; 1869, 30 junho - envio de 5.000 escudos pelo seu sobrinho, comendador Joaquim José Ferreira, também ele benfeitor do hospital e doador de várias dádivas; 1880, 09 julho - carta do Provedor solicitando a vinda de quatro Irmãs Hospitaleiras para realizarem o serviço do hospital, à semelhança do que já havia acontecido no Hospital de Viana do Castelo e Ponte de Lima; 08 agosto - chegada das três Irmãs Hospitaleiras a Valença; 1881, 10 outubro - inauguração numa das salas do hospital da Escola Municipal de Instrução Secundária de Valença, resultado dos esforços conjuntos da Misericórdia, da Câmara, auxiliados pelo reitor do Liceu Distrital de Viana, o Dr. José Joaquim de Araújo Salgado; a escola abriu com 25 alunas; 1882, 04 agosto - apresenta-se à Mesa a planta e orçamento da obra a fazer no segundo piso do hospital para estabelecimento de enfermarias; a Mesa resolve que no orçamento suplementar a fazer se pedisse a quantia precisa para pagar a despesa da planta, bem como a que era necessária para o retrato do benfeitor o Barão de Castelo de Paiva; perante a necessidade de camas no hospital, a Mesa decide ainda mandar fazer oito camas de ferro iguais às existentes; 1883, 01 maio - trata-se no hospital diariamente cerca de 25 doentes e no banco 150; para além das despesas com estes doentes, a Misericórdia gasta anualmente no mínimo 120$000 em medicamentos fornecidos para tratamento ao domicílio; neste ano o hospital tem de rendimento 4.295$960 e de despesa previsível 4.221$340; 1905 - 1906 - durante este económico, dão entrada no hospital 275 doentes de ambos os sexos; 1909 - o movimento de doentes no Hospital é de 4 homens e 2 mulheres; ali entram 126 homens e 187 mulheres; saem curados ou melhorados 117 homens e 166 mulheres; não têm melhoras 4 homens e 4 mulheres; falecem 9 homens e 6 mulheres; transitam para o ano seguinte 7 homens e 13 mulheres; 1910 - depois da proclamação da República, as Irmãs Hospitaleiras são afastadas do serviço no hospital; 1912, julho - o serviço de banco para consulta dos pobres passa a ser diário; setembro - notícia de que o hospital está muito bem montado com todas as condições higiénicas, o clínico recebe 300$000 e os doentes não pobres pagam a sua permanência, no valor de $300 diários; 1915 - regresso das Irmãs Hospitaleiras para cuidarem do serviço interno do hospital; outubro - arrematação em hasta pública da farmácia do hospital civil da vila e do fornecimento de medicamentos do mesmo e banco anexo; 1937, agosto - a Câmara Municipal concede um subsídio de 1.000$00 ao Hospital para que ele não feche; 1938, abril - a Câmara subsidia o hospital da Misericórdia com 1000$00; 1950, década - o trabalho hospitalar está entregue a um único médico, que recebe 218$50 mensais; 1975 - o hospital tem 323 hospitalizados, faz 33 operações, 419 pequenas operações, 73 radiografias e 929 análises e outros exames; 1992 - transferência dos serviços de saúde para uma nova unidade hospitalar; 1990, década - adaptação do hospital a Lar de Terceira Idade.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria rebocada e pintada; soco, pilastras, cornijas, urnas e cruz, molduras dos vãos e pavimentos em cantaria de granito; guardas das sacadas, grades, portas do vestíbulo e guarda da escadaria em ferro forjado; caixilharia de madeira e de alumínio; silhares de azulejos; pavimentos de madeira; vidro nas janelas; algerozes metálicos; cobertura em telha.

Bibliografia

CAPELA, José Viriato - Valença nas Memórias Paroquiais de 1758. Valença: 2003; OLIVEIRA, A. Lopes de - Valença do Minho: 1978; ROCHA, J. Marques da - Valença. Porto: 1991; PEREIRA, Maria Olinda Alves (Coordenação técnica) - Recenseamento dos Arquivos Locais. Câmaras Municipais e Misericórdias. Lisboa: 1996, vol. 3; NEVES, Augusto Pinto - Valença entre a História e o Sonho. Valença: 2003.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, SIPA

Documentação Administrativa

Santa Casa da Misericórdia de Valença

Intervenção Realizada

Proprietário: 1990 - adatação a Lar de Terceira Idade.

Observações

*1 - O antigo aquartelamento militar ficava a poente da igreja do Convento Franciscano. *2 - O 1º barão e visconde de Guaratiba, Joaquim António Ferreira, nasceu em Valença em 1777 e em 1796 foi trabalhar para o Brasil, onde fez fortuna. Legou ao hospital de Valença 300 ações do Banco de Portugal, de 1000$000 cada uma, e 15$953 em inscrições e títulos de dívida portuguesa

Autor e Data

Paulo Amaral e Miguel Rodrigues 2000 / Paula Noé 2006

Actualização

João Almeida (Contribuinte externo) 2018
 
 
 
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