Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Valença
| IPA.00008919 |
Portugal, Viana do Castelo, Valença, União das freguesias de Valença, Cristelo Covo e Arão |
|
Hospital de Misericórdia construído no séc. 19, caraterizado pela funcionalidade planimétrica, sobriedade das linhas, regularidade e simetria da distribuição dos vãos, resultante, em grande parte, de ser um projeto de raiz. De planta retangular irregular e fachadas evoluindo em dois pisos, a principal, com três panos, apresenta um esquema sensivelmente mais rico, com um jogo alternado de vãos, sempre retilíneos, exceto no portal principal, central, que é abatido e se interliga à janela de sacada de perfil contracurvo. O corpo avançado da capela, construído posteriormente, tem um tratamento diferenciado, terminando em frontão atarracado, coroado por cruz e urnas laterais, rasgado por óculos ovais e, na face nascente, por nicho com imagem. No interior tem retábulo em talha policroma, de corpo reto e um eixo, neoclássico. A fachada posterior é mais irregular e denota reformas construtivas. No interior do hospital, destaca-se o vestíbulo separado da escadaria central, de influência revivalista, por arcos com portais em ferro, e a bandeira da Misericórdia, com a figuração da "Mater omnium". |
|
Número IPA Antigo: PT011608150038 |
|
Registo visualizado 86 vezes desde 27 Julho de 2011 |
|
|
|
Edifício e estrutura Edifício Saúde Hospital Hospital de Confraria / Irmandade Misericórdia
|
Descrição
|
Planta retangular irregular, composto por um volume simples principal, a que se adossa, perpendicularmente à fachada lateral nascente, uma pequena capela de planta retangular. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de quatro águas, no edifício principal, e de duas águas na capela, rematadas em beirada simples. Fachadas em alvenaria rebocada e pintada de branco, com dois pisos separados por friso, excepto na fachada posterior, soco de cantaria, pilastras toscanas nos cunhais e terminadas em friso e cornija. Fachada principal virada a norte, de três panos, definidos por pilastras, o central mais estreito, rasgadas regularmente por vãos retilíneos sobrepostos, de molduras simples; no pano central, rasgam-se, no primeiro piso, portal de verga abatida, com fecho volutado, e encimado por friso que o interliga ao vão superior, ladeada por duas janelas de peitoril, gradeadas e com caixilharia de guilhotina, e, no segundo, janela de sacada de perfil contracurvo e guarda em gradeamento de ferro, ladeado por duas janelas de peitoril iguais às do piso térreo; nos panos laterais, rasgam-se, no primeiro piso, cinco janelas de peitoril, gradeadas e com caixilharia de guilhotina, tendo os dois últimos vãos do lado nascente e o último a poente sido foram transformados em portas; no segundo piso, abrem-se janelas de peitoril alternadas por janela de sacada, sobre friso, e guarda em gradeamento de ferro forjado. Todas as janelas de peitoril formam inferiormente brincos retos e as de sacada integram bandeira. Na fachada lateral nascente abre-se no segundo piso duas janelas de peitoril e uma de sacada, iguais às da frontaria; o corpo retangular da capela, disposto ao centro da fachada, de dois reghistos separados por friso, termina em frontão triangular, coroado com cruz latina de cantaria, no vértice, e por urnas, nos cunhais; ao nível do segundo registo, rasgam-se, em cada uma das faces, óculo oval, com moldura de cantaria, o qual, a nascente, é encimado por nicho em arco de volta perfeita, albergando imagem cerâmica de Santo António, sobre mísula retangular. Na fachada lateral poente, com soco em alvenaria de pedra, rasgam-se, no primeiro piso, oito janelas retangulares jacentes, gradeadas, e, no segundo, sete janelas de peitoril, com caixilharia de guilhotina. Fachada posterior com esquema de fenestração irregular, abrindo-se no primeiro piso duas portas e quatro janelas de peitoril, e no segundo sete janelas de peitoril, pequenas, tendo no cunhal sudeste pano de cantaria com vão semicircular. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas. A porta principal, com guarda-vento em madeira, dá acesso a um vestíbulo central, retangular, com pavimento e soco em cantaria de granito e teto plano, em estuque; lateralmente, através de portas de verga recta e moldura simples, comunica com os corredores transversais de distribuição, do primeiro piso, possuindo portões em ferro forjado pintado de branco, integrando bandeira decorada; na parede lateral direita, surge uma cartela com a inscrição "VIRTUTUM MAIOR EST CHARITAS AD 1838". Frontalmente, rasgam-se três portais, em arco quebrado sobre pilastras toscanas, o central, acedendo à escadaria para o segundo piso, possuindo também portão em ferro, pintado de branco, tendo sobre a bandeira, de motivos enrolados, brasão da Misericórdia de Valença, coroado, com a inscrição "Mizericórdia"; os portais laterais apresentam porta de madeira, com bandeira decorada por motivos lanceolados em vidro colorido. No primeiro piso situavam-se os consultórios e serviços administrativos. A escadaria tem três lanços e dois braços, com os primeiros degraus comuns, com silhar de azulejos de padrão moderno nas paredes e guarda em balaustrada de ferro. No segundo piso, a escadaria dá acesso direto à Sala das Sessões, e a corredores transversais de distribuição da Ala dos Homens e da Ala das Mulheres, através de portas de verga reta com moldura simples, inscritas. A Sala das Sessões situa-se em posição central no edifício, com janela de sacada central ladeada por duas de peitoril, e possui diversos quadros a óleo retratando os Mesários e beneméritos da Santa Casa. Neste piso ficam ainda as enfermarias, a maternidade e a capela. Esta tem as paredes com silhar de azulejos e o teto de madeira, de perfil curvo, pintado com brasão da Misericórdia. Possui retábulo em talha policroma, de corpo reto e um eixo, definido por colunas de fuste liso e capitel coríntio, tendo ao centro nicho de perfil curvo, albergando imaginária. A estrutura remata em espaldar contracurvo e tem altar tipo urna, com decoração fitomórfica no frontal. |
Acessos
|
Valença, Largo Visconde de Guaratiba; Rua José Rodrigues; Rua São Francisco |
Protecção
|
Incluído na Zona Especial de Proteção das Fortificações da Praça de Valença do Minho (v. IPA.00003527) |
Enquadramento
|
Urbano, isolado em outeiro, adaptado ao declive suave do terreno. Ergue-se no interior da fortaleza, com fachada principal a abrir diretamente para a rua, onde se forma largo, pavimentado a calhau rolado e guias de granito, formando quadrícula. À fachada lateral esquerda, adossa-se muro, de alvenaria rebocado e pintado, que integra um dos Passos da Via Sacra (v. IPA.00006232) e fecha a fachada posterior, onde se desenvolve logradouro, também vedado por muro de alvenaria, sobreposto por gradeamento, e pavimentado com paralelos. No logradouro, ergue-se o Poço do Trem Militar. Frente ao edifício, do lado oposto do largo, a norte, no nº 9, localiza-se uma casa manuelina (v. IPA.00025024). Nas proximidades, a cerca de 50 metros para noroeste, erguem-se as Igrejas de Santa Maria dos Anjos (v. IPA.00006437) e da Santa Casa da Misericórdia (v. IPA.00006231) e, a cerca de 40 metros para sudeste a Igreja de Santo Estêvão (v. IPA.00006230). |
Descrição Complementar
|
|
Utilização Inicial
|
Saúde: hospital de confraria / irmandade |
Utilização Actual
|
Política e administrativa: sede de organização religiosa / Assistencial: lar |
Propriedade
|
Privada: Misericórdia de Valença |
Afectação
|
Sem afetação |
Época Construção
|
Séc. 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
|
DIRECÇÃO DAS OBRAS: José António da Silva Veiga (1838). |
Cronologia
|
1758, 23 abril - segundo as Memórias Paroquiais pelo Pe. António Lourenço Lajes, a vila não tem hospital, nem casa de caridade, apesar de fazer muita falta devido a grande número de pobres; 1824, 18 outubro - aviso régio de D. João VI pondo à disposição do Provedor e demais Irmãos da Santa Casa da Misericórdia de Valença o resto do edifício do extinto convento de Santa Clara, de freiras clarissas, cujo terreno e instalações que anteriormente tinham servido de quartel de artilharia n.º 4, com a igreja, pedra e respectivos materiais, para instalação de um hospital pela Irmandade; 22 outubro - portaria transmitindo o imóvel à Misericórdia; 26 outubro - ofício ao Provedor Francisco Xavier Calheiros Bezerra de Araújo comunicando a doação; 1825 - Misericórdia decide construir um hospital, mas as obras são suspensas por falta de verba; 1826 - reinício das obras de construção do Hospital, sendo provedor Joaquim de Barros que, para o efeito, oferece 150$000; pouco depois, as obras voltam a parar devido à ocupação militar do terreno para a edificação; 1836 - o provedor Dr. Mateus José de Almeida escreve ao seu conterrâneo e amigo Joaquim António Ferreira, residente no Rio de Janeiro, pedindo uma esmola para o hospital; 1838 - data da inscrição no vestíbulo principal; 06 agosto - o provedor recebe do Brasil o donativo de 1.600$000 para a obra do hospital; a direção das obras do hospital fica a cargo de José António da Silva Veiga, que recebeu daquela verba 500 escudos, sendo o restante posto a juro, mas tendo-se-lhe adiantado 763$51 para as obras não pararem; 1840 - conclusão do corpo principal do hospital, que contava com duas enfermarias, uma para mulheres no primeiro piso e outra para homens no segundo, aproveitando-se os baixos para guardar a lenha e outros materiais; por falta de recursos, não se fizem obras na igreja; doação de 400$000 pelo benfeitor Joaquim António Ferreira, então barão de Guaratiba, residente no Brasil, que foi posta em juro; 26 dezembro - o hospital recebe os primeiros dois doentes: Manuel Marinho, do lugar da Bogalheira, e Francisco Pinto, da vila; nomeia-se mensalmente dois Irmãos da Mesa para custearem as despesas, fazendo em várias noites peditórios de panos, fios e ligaduras para o hospital; todos os domingos, um deles esmolava na vila; 1842 - envio de donativo no valor de 2.000 escudos por Joaquim António Ferreira; 1856 - ampliação do hospital até à zona da igreja do antigo convento franciscano; 1859, 12 março - falecimento do benfeitor Joaquim Ferreira, então já visconde de Guaratiba, que pouco antes remetera para o hospital a importância de 13.600 escudos, e a quem deixou em testamento 30.000 escudos em ações do Banco de Portugal e 12.700 escudos em inscrições da Junta de Crédito Público; 1864, maio - Joaquim José Ferreira, sobrinho do Visconde de Guaratiba envia do Brasil 1000$000 para o hospital; 1869 - conclusão das obras de ampliação do hospital; 1869, 30 junho - envio de 5.000 escudos pelo seu sobrinho, comendador Joaquim José Ferreira, também ele benfeitor do hospital e doador de várias dádivas; 1880, 09 julho - carta do Provedor solicitando a vinda de quatro Irmãs Hospitaleiras para realizarem o serviço do hospital, à semelhança do que já havia acontecido no Hospital de Viana do Castelo e Ponte de Lima; 08 agosto - chegada das três Irmãs Hospitaleiras a Valença; 1881, 10 outubro - inauguração numa das salas do hospital da Escola Municipal de Instrução Secundária de Valença, resultado dos esforços conjuntos da Misericórdia, da Câmara, auxiliados pelo reitor do Liceu Distrital de Viana, o Dr. José Joaquim de Araújo Salgado; a escola abriu com 25 alunas; 1882, 04 agosto - apresenta-se à Mesa a planta e orçamento da obra a fazer no segundo piso do hospital para estabelecimento de enfermarias; a Mesa resolve que no orçamento suplementar a fazer se pedisse a quantia precisa para pagar a despesa da planta, bem como a que era necessária para o retrato do benfeitor o Barão de Castelo de Paiva; perante a necessidade de camas no hospital, a Mesa decide ainda mandar fazer oito camas de ferro iguais às existentes; 1883, 01 maio - trata-se no hospital diariamente cerca de 25 doentes e no banco 150; para além das despesas com estes doentes, a Misericórdia gasta anualmente no mínimo 120$000 em medicamentos fornecidos para tratamento ao domicílio; neste ano o hospital tem de rendimento 4.295$960 e de despesa previsível 4.221$340; 1905 - 1906 - durante este económico, dão entrada no hospital 275 doentes de ambos os sexos; 1909 - o movimento de doentes no Hospital é de 4 homens e 2 mulheres; ali entram 126 homens e 187 mulheres; saem curados ou melhorados 117 homens e 166 mulheres; não têm melhoras 4 homens e 4 mulheres; falecem 9 homens e 6 mulheres; transitam para o ano seguinte 7 homens e 13 mulheres; 1910 - depois da proclamação da República, as Irmãs Hospitaleiras são afastadas do serviço no hospital; 1912, julho - o serviço de banco para consulta dos pobres passa a ser diário; setembro - notícia de que o hospital está muito bem montado com todas as condições higiénicas, o clínico recebe 300$000 e os doentes não pobres pagam a sua permanência, no valor de $300 diários; 1915 - regresso das Irmãs Hospitaleiras para cuidarem do serviço interno do hospital; outubro - arrematação em hasta pública da farmácia do hospital civil da vila e do fornecimento de medicamentos do mesmo e banco anexo; 1937, agosto - a Câmara Municipal concede um subsídio de 1.000$00 ao Hospital para que ele não feche; 1938, abril - a Câmara subsidia o hospital da Misericórdia com 1000$00; 1950, década - o trabalho hospitalar está entregue a um único médico, que recebe 218$50 mensais; 1975 - o hospital tem 323 hospitalizados, faz 33 operações, 419 pequenas operações, 73 radiografias e 929 análises e outros exames; 1992 - transferência dos serviços de saúde para uma nova unidade hospitalar; 1990, década - adaptação do hospital a Lar de Terceira Idade. |
Dados Técnicos
|
Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
|
Estrutura em alvenaria rebocada e pintada; soco, pilastras, cornijas, urnas e cruz, molduras dos vãos e pavimentos em cantaria de granito; guardas das sacadas, grades, portas do vestíbulo e guarda da escadaria em ferro forjado; caixilharia de madeira e de alumínio; silhares de azulejos; pavimentos de madeira; vidro nas janelas; algerozes metálicos; cobertura em telha. |
Bibliografia
|
CAPELA, José Viriato - Valença nas Memórias Paroquiais de 1758. Valença: 2003; OLIVEIRA, A. Lopes de - Valença do Minho: 1978; ROCHA, J. Marques da - Valença. Porto: 1991; PEREIRA, Maria Olinda Alves (Coordenação técnica) - Recenseamento dos Arquivos Locais. Câmaras Municipais e Misericórdias. Lisboa: 1996, vol. 3; NEVES, Augusto Pinto - Valença entre a História e o Sonho. Valença: 2003. |
Documentação Gráfica
|
|
Documentação Fotográfica
|
DGPC: DGEMN:DSID, SIPA |
Documentação Administrativa
|
Santa Casa da Misericórdia de Valença |
Intervenção Realizada
|
Proprietário: 1990 - adatação a Lar de Terceira Idade. |
Observações
|
*1 - O antigo aquartelamento militar ficava a poente da igreja do Convento Franciscano. *2 - O 1º barão e visconde de Guaratiba, Joaquim António Ferreira, nasceu em Valença em 1777 e em 1796 foi trabalhar para o Brasil, onde fez fortuna. Legou ao hospital de Valença 300 ações do Banco de Portugal, de 1000$000 cada uma, e 15$953 em inscrições e títulos de dívida portuguesa |
Autor e Data
|
Paulo Amaral e Miguel Rodrigues 2000 / Paula Noé 2006 |
Actualização
|
João Almeida (Contribuinte externo) 2018 |
|
|
|
|
| |