Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Arcos de Valdevez

IPA.00008913
Portugal, Viana do Castelo, Arcos de Valdevez, União das freguesias de Arcos de Valdevez (São Paio) e Giela
 
Arquitectura religiosa, barroca e neoclássica. Igreja da misericórdia barroca, com planta longitudinal e consistório composto por átrio e corpo trapezoidal, com fachada principal da igreja axial, em empena de cornija, com portal interligado a nicho superior entre vãos, e consistório de cornija recta merloada, com portal de frontão interrompido e sineira superior; a decoração interior, apesar de conservar alguns elementos barrocos na sacristia, consistório e igreja, nesta última é essencialmente neoclássica. Cruzeiro barroco com coluna galbada, capitel historiado e representação escultórica na cruz. Igreja com frontispício de formas e linguagem decorativa barroca, formando conjunto harmonioso com a fachada do consistório, sensivelmente mais simples; a igreja contém no nicho retábulo de talha dourada de estilo nacional e conserva no interior outros elementos barrocos, como as portas colaterais da capela-mor com almofadas entalhadas com mascarões e as pinturas dos capialços das janelas e arco triunfal; a decoração de estuque da capela-mor, os retábulos, púlpito, coro-alto e "grande órgão" são neoclássicas, de talha branca e dourada; o retábulo da capela do lado da Epístola é de talha policroma, mas encontra-se muito repintada; os lambris de azulejos são recentes. Na sacristia, interessantes armários de parede e um arcaz, com ferragens douradas rendilhadas, e, sobre o último, oratório em pau preto e talha com imagem de Cristo Crucificado, de grande qualidade plástica, cerrado por vidro, ladeado por espelhos com moldura de talha dourada. No piso superior do Consistório armários, setecentistas, de estilo D. José, com portas almofadadas, revelando trabalho cuidado em talha. Cruzeiro barroco de base decorada com elementos fitomórficos, coluna galbada estriada e folhagens no terço inferior, capitel historiado com cenas da Paixão de Cristo e Cristo na face frontal da cruz e amplo resplendor também em cantaria.
Número IPA Antigo: PT011601410025
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja de Confraria / Irmandade  Misericórdia

Descrição

Planta longitudinal de nave única e capela-mor rectangular, com dependências compostas por átrio irregular e corpo trapezoidal, adossado a sacristia rectangular. Volumes articulados e escalonados, com coberturas em telhados de duas, quatro e uma águas. Fachadas rebocadas e caiadas, com duplas pilastras nos cunhais, sobrepujadas por pináculos. Fachada principal virada a N., com igreja terminada de cornija moldurada; portal de verga recta, sobreposto por sacada do amplo nicho, de arco pleno, ambos entre pilastras e encimado por cornija e escudo real com volutas; lateralmente óculos quadrilobados e janelas de frontão curvo. No interior do nicho, retábulo de talha dourada de Nossa Senhora da Porta, com 3 nichos entre cariátides e baldaquinos. Um pouco recuado, construção terminada em cornija ameada, encimada por sineira, em arco pleno, de frontão curvo interrompido por pináculo sobre acrotério. Portal de vão rectangular, com pilastras molduradas e frontão de volutas interrompido por pinha sobre acrotério e pináculos laterais embebidos. Dá acesso, através de arco pleno, ao átrio lajeado com porta frontal, de vão rectangular e cornija recta, de acesso ao 1º piso do Consistório, escada de dois lanços e arranque em dupla espiral, à esquerda, para comunicação com o coro-alto e o piso superior, e vão em arco pleno que sustenta balcão, à direita, que conduz a porta de vão rectangular com cornija recta, do piso superior do Consistório. Fachada NO. marcada pelo alçado do átrio, ameado, e pelo corpo do Consistório de dois pisos, percorrido por cornija saliente, com gárgulas de canhão nos vértices, e rasgado, no 1º piso, por porta ladeado por janela, de vãos rectangulares, e, no 2º piso, por três janelas de vão rectangular, com moldura e cornija recta. Fachada S. rasgada, centralmente, por janelão rectangular, ladeado, inferiormente, por janelas de idêntico formato. No INTERIOR, capialços das janelas pintados com motivos fitomórficos e portas com almofadas entalhadas, algumas com carrancas. Nave com coro-alto prolongado, no lado da Epístola, para o coreto do órgão, assente em mísula, 2 retábulos colaterais e 2 laterais postos de ângulo, de talha branca e dourada; no lado da Epístola púlpito quadrado sobre mísula pétrea e capela profunda, de arco pleno sobre pilastras com retábulo de talha com imagem da Virgem no nicho central, portas com frontaleiras e abóboda de berço pintada com motivos vegetalistas e medalhão central. Tecto, de madeira, pintado com painéis de enrolamentos e 3 centrais figurativos, representando a Visitação e Assunção da Virgem. Arco triunfal pleno sobre pilastras pintadas com motivos fitomórficos e com sanefa de talha. Na capela-mor, lambril de azulejos, retábulo de talha branca e dourada com painel de Nossa Senhora da Misericórdia; cobertura em abóbada de berço com trabalhos de estuque. Dependências com paredes e rebocadas e pintadas de branco. Consistório com quatro salas no 1º piso, duas comunicando entre si através de porta de vão rectangular, uma pelo exterior e outra pela sacristia, e duas salas no 2º piso, com comunicação por arco pleno sobre pilastras, com janelas "conversadeiras", destacando-se o fogão de sala em pedra e os armários entalhados de castanho. Sacristia lajeada, com lambril de azulejos de estampilha azul e amarelo, com vãos rectangulares de comunicação com a igreja e o Consistório. Apresenta lavabo de pedra com duas bicas em forma de flor, arcaz de pau preto, com ferragens douradas, em vão de arco abatido, sobre pilastras, com a face e o intradorso pintados com motivos vegetalistas e dois armários embutidos, com portas de castanho almofadadas e ornamentadas com ferragens douradas. Cruzeiro com soco de 2 degraus quadrados escalonados, base decorada com folhas e grinaldas, fuste com folhagem no terço inferior e restante estriado; capitel quadrangular com passos da vida de Cristo separados por volutas e remate em cruz, de braços quadrangulares e terminados em botão, com imagem de Cristo, de pés sobrepostos, resplendor e inscrição superior de "INRI".

Acessos

São Paio, Largo Conselheiro Pinto Osório, Rua Dr. Vaz Guedes. VWGS84 (graus decimais): lat.: 41,844732; long.: -8,419031

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 2/96, DR, 1.ª série-B, n.º 56 de 06 março 1996

Enquadramento

Urbano, integração harmónica, confrontando com pequeno largo calcetado, formado por entroncamento de arruamentos. O cruzeiro implanta-se no largo calcetado da fachada posterior onde ficava o cemitério.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ESCULTOR: Álvaro José Pereira de Faria (1791).

Cronologia

1595 - fundação da Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia de Arcos de Valdevez, "de esmolas pecuniárias voluntárias, de que foi solicitador Gaspar Gonçalves Lourenço", dando início à sua actividade assistencial junto dos presos, pobres, doentes e idosos, e à construção da sua igreja e albergaria; compra do terreno no Lugar do Cruzeiro a Francisco Alves, o Carrapiço, e sua mulher, por 50$000, o qual rendia 25 alqueires de pão meado; 1596, Junho - a construção ia adiantada, encontrando-se o edifício parcialmente já forrado e telhado, com os seus altares construídos, e aguardando a autorização do arcebispo de Braga, para se começar a oficiar; 1597, 13 Junho - o Abade de S. Paio, Amador da Costa, certifica que o templo está decente para celebração eucarística; 15 Junho - concessão de licença para celebração da missa pelo Arcebispo de Braga, Frei Agostinho de Jesus; 29 Junho - data do primeiro sepultamento na então denominada "Igreja nova"; 2 Julho - aquando da data da primeira celebração eucarística e da eleição da Mesa Administrativa, diz-se que a Igreja ainda estava em construção "com pedra vinda de Requeijo"; 1598 - aplicação do sobrado do Consistório e vedação do quintal com grades de ferro; 1601 - construção do cruzeiro e do órgão da Igreja; 1614 - início da construção da Capela da Humildade; 1622, 2 Julho - celebração da primeira missa na Capela da Humildade; 1625 - o Provedor Belchior Aranha de Brito mandou fazer o retábulo novo, pintar o painel e grades; 1627 - o Abade de Proselo deu para a Igreja 12$000; 1634 - o Provedor António de Magalhães doou um azulejo no valor de 90$000 composto por 960 peças; 1635 - colocação do pavimento de madeira na igreja custeado pelo provedor António de Magalhães; 1639 - doação de 40$000 pelo Provedor Paio da Rocha para pintar o tecto da igreja; mandou-se fazer um anteparo para a porta principal, o sobrado do coro, os taburnos dos altares, dourar o arco, púlpito e "frestas"; 1643 - construção do novo órgão da Igreja; 1644 - o Provedor Francisco Araújo Vasconcelos mandou fazer o coro e respectivas grades e, na parede do mesmo, um cofre com três chaves; 1646 - o Provedor Abade de Souto, Gaspar Barbosa de Araújo deu 40$000 para o pálio; 1710 - reedificação da fachada da Igreja da Misericórdia; 1733 - reconstrução do frontispício da Igreja; 1734 - obra do frontispício e pórtico da sacristia; 1735 - construção da Capela de Nossa Senhora da Porta com altar para se celebrar missa sobre o portal; 1742 - mandou-se lajear o adro; 1747 - mandou-se arranjar o forro do tecto da capela-mor; 1748 - concessão de indulgências aos fiéis que assistissem às missas nesta Igreja pelo Papa Pio VI; construção do novo órgão da Igreja; 1747 - douramento de sanefas e do tecto da Igreja; 1751 - mandou-se fazer um cruzeiro novo em frente do adro da igreja, no local em que estava o antigo; 1757 - mandou-se realizar a talha dos dois retábulos colaterais, para substituir as tábuas pintadas existentes e fazer um escano em substituição do velho; 1761 - devido aos estragos causados pelo terramoto, fizeram-se obras no "outão", porque ameaçava ruir; 1765 - nova reforma ao órgão; 1772 - o Papa Clemente XIV torna o altar da Capela da Humildade privilegiado perpetuamente; mandou-se dourar os dois retábulos colaterais; 1781 - decide-se substituir a primitiva tribuna por uma nova; 1784 - aprovado o risco da nova tribuna; 1791 - forro do corpo da igreja; 1797, 14 Março - feitura do novo altar de Nossa Senhora da Humildade, pelo Álvaro José Pereira de Faria, da cidade de Braga, por 100$000; 1798 - compra da imagem de Nossa Senhora das Dores; 1803 - construção do cemitério da Irmandade; 1813 - construção do altar dedicado a Santo António, a expensas de João Bento Barros e Joana Teresa da Costa Lima, residentes em Lisboa, em cumprimento de um voto que fizeram se os franceses fossem expulsos daquela cidade sem a porem a saque; 1821 - construção do novo órgão da Igreja, segundo o modelo do Convento de São Domingos de Viana do Castelo; 1838 - o Administrador Geral do Distrito de Viana do Castelo afirma que a maioria das Misericórdias estavam muito mal administradas, o que originava a perda de muitas dívidas e foros, em resultado do desleixo e pouco zelo das Misericórdias; 1839 - o Administrador envia um comissário contabilista para reformar todas a sua escrituração e examinar os erros de liquidação e desleixo; 1854 - mudança do cruzeiro para o cemitério; 1863 - a Misericórdia e hospital tinham 67 974$670 de fundos, sendo 2 396$000 em domínios directos, 2 000$000 em prédios rústicos e urbanos, 61 178$670 em capitais mutuados, 1 000$000 em papéis de crédito e 1 400$000 em alfaias, jóias e móveis; tinha 3 204$227 em receitas ordinárias, sendo 19$200 em géneros, 96$100 em dinheiro, 3 058$927 em juros de capitais mutuados e 30$000 em juros de papéis de crédito; e tinha ainda como despesas obrigatórias 2 821$360 rs, sendo 1 261$060 em encargos pios e 1 560$300 em encargos profanos; 1877 - desamortização dos bens, algumas propriedades no valor de 4:623$550; 1885, 19 Abril - inauguração do novo hospital da Misericórdia, que substituía assim o antigo, constituído por duas enfermarias, uma para doentes do sexo masculino e outra para o sexo feminino, com a capacidade máxima de 9 doentes; 1941 - mudança do cruzeiro para o lado E. da Igreja; 1988 - mudança do cruzeiro para o largo onde outrora se localizava o cemitério da Irmandade; 2004 - encerramento da igreja para proceder a obras urgentes de conservação; 2008 - reabertura da igreja ao culto.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes e sistema estrutural de paredes autónomas no cruzeiro.

Materiais

Estrutura em cantaria, com paramentos rebocados e pintados, com vãos e cunhais em cantaria, sineira em cantaria, escadas em pedra, paramentos interiores rebocados e pintados e revestidos com azulejos, retábulos, órgão e armários em madeira, cobertura em madeira telhada, pavimentos em lajes graníticas e soalhado, tectos rebocados e pintados, portas de madeira e de vidro, janelas gradeadas e envidraçadas.

Bibliografia

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Alto Minho, Lisboa, 1987, p. 132; ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Porto, 1988; AURORA, Conde d', Roteiro da Ribeira Lima, Ponte de Lima, 1959, p. 153 - 154; ARIEIRO, Pe. José Borlido Carvalho, Santa Casa da Misericórdia de Arcos de Valdevez. 4º centenário - 1595/1995, Arcos de Valdevez, 1999, p. 29 - 58; CHAVES, Luís, Os Pelourinhos e os Cruzeiros in Arte Portuguesa, Lisboa, s.d.; FONTE, Teodoro Afonso da, As Misericórdias do Alto Minho - perspectiva Histórica e actualidade, in I Congresso das Misericórdias do Alto Minho, Viana do Castelo, 2001, p. 96 - 117; GOMES, José Cândida, Terras de Valdeves, Arcos, 1899; s.a., Breve Inventário Artístico do Concelho de Arcos de Valdevez, Câmara Municipal de Arcos de Valdevez, s.d.; , 15 Novembro 2010 .

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Santa Casa da Misericórdia dos Arcos de Valdevez: 1973 - Obras de beneficiação e restauro; 1992 - obras de restauro e beneficiação; 1996 - obras de conservação; IPPAR: 2006 / 2007 / 2008 - obras de conservação e restauro.

Observações

Um armário do Consistório apresenta, interiormente, subdivisões correspondentes às diferentes freguesias que compõem o concelho. As madeiras utilizadas nas obras de 1992 foram retiradas do antigo Hospital de Arcos. A Santa Casa da Misericórdia projecta instalar nas instalaçoes do 2º piso um museu de Arte Sacra.

Autor e Data

Paula Noé 1992 / Paulo Amaral 2000

Actualização

 
 
 
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