Capela da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real / Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real

IPA.00008845
Portugal, Vila Real, Vila Real, Vila Real
 
Arquitectura religiosa, maneirista, rococó e neoclássica. Igreja de Misericórdia de planta longitudinal de nave única e presbitério, interiormente coberta com tecto de madeira e iluminada pelas janelas laterais, com sacristia e sala do Despacho adossada à fachada lateral, aberta para a nave através de tribuna. Fachada principal terminada em frontão sem retorno truncado por sineira, rasgada por portal em arco de volta perfeita e com imagem da Virgem inserida em nicho do tímpano. Fachadas laterais com porta travessa e janelas de capialço. Interiormente possui silhar de azulejos maneiristas, tipo "tapete", duas capelas laterais em arco de volta perfeita, dois retábulos de talha rococó, púlpito no lado do Evangelho, de bacia rectangular sobre mísula e guarda plena de talha, e ampla tribuna com colunas toscanas no lado da Epístola. Presbitério acedido por escadas frontais e parede testeira formando a capela-mor e duas colaterais em cantaria, com retábulo-mor neoclássico, de talha policroma, de planta convexa e um eixo. Casa do despacho com tecto barroco, em caixotões de talha formando painéis pintados com motivos vegetalistas. Igreja de fundação quinhentista, mas de traçado essencialmente maneirista, remodelada decorativamente no séc. 18 e 19. Apresenta volume trapezoidal devido aos acréscimos feitos ao longo do séc. 16, conservando dessa época o portal da fachada lateral direita, em arco de volta perfeita com chanfro, e janelas igualmente com chanfro, enquanto que a modinatura dos vãos da fachada oposta é já do séc. 17. A fachada principal, com portal em arco de volta perfeita deve ter sido redecorado no séc. 17, lavrando-se os falsos colunelos, e a zona superior talvez na centúria seguinte, com a feitura do remate em frontão sem retorno, coroado pelos plintos decorados, e com a colocação da sineira e respectivas aves laterais, seguindo uma tipologia muito comum no distrito, em detrimento da sineira já existente sobre a fachada lateral, como é comum nas Misericórdias. As duas janelas e o pequeno vão sob a cornija que foram rasgadas entre o 18 e o 19, foram recentemente entaipadas, mantendo-se, no entanto, as suas molduras interiores. Exteriormente, refira-se ainda a colocação de nichos, de diferente modinatura, com imagens pétreas da Virgem e de Santa Bárbara, também de diferente tratamento, nos cunhais posteriores do imóvel. No interior, o coro-alto foi apeado e o silhar de azulejos seiscentistas de diferentes padrões reaproveitados, um deles de padrão de massaroca com a variante de ondulados, deverão ser os restos do antigo revestimento colocado em 1672, os quais poderiam surgir sobrepostos, como era comum, ou pertencer a dois espaços distintos, posteriormente remodelados. Das capelas laterais da nave, apenas a do lado da Epístola conserva a estrutura arquitectónica envolvente maneirista, ainda com pinturas murais, mas os retábulos de talha dourada que albergava, em barroco de transição, foram recentemente apeados para deixar à vista as mesmas pinturas. No retábulo lateral do Evangelho é notório o contraste entre a qualidade do corpo e a mesa de altar do mesmo, a qual tem qualidade inferior; no retábulo da Epístola, os motivos fitomórficos e os arabescos laterais vazados são pouco comuns no rococó e a base saliente revela influência da Escola de Braga. Constitui a única Misericórdia do distrito com tribuna dos mesários, aberta para a nave. Conserva a antiga cabeceira maneirista, com as típicas três capelas, a central mais alta, em abóbada de berço, modificada e entaipada no séc. 18 para a colocação do retábulo-mor, mas conservando atrás deste parte da sua estrutura primitiva, em caixotões com vestígios de policromia. O tipo de planta convexa do retábulo-mor e do remate do ático formando superfície côncava e em feixe de acantos é pouco comum no neoclássico.
Número IPA Antigo: PT011714230089
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja de Confraria / Irmandade  Misericórdia

Descrição

Planta longitudinal de nave única e presbitério, com sacristia, casa do despacho e anexo estreito trapezoidais adossados à fachada lateral direita. Massa de disposição horizontalista, formando dois volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na igreja e de três nos corpos adossados. Fachadas em cantaria aparente, de aparelho regular com as juntas tomadas, rematadas em cornija sobreposta por beirado simples. Fachada principal virada a S. terminada em frontão triangular sem retorno, truncado por sineira, em arco de volta perfeita assente em pilares e terminada em empena, albergando sino, encimada por cruz com hastes em haspa e entrançadas, ladeada por águias coroadas; cunhais coroados por elegantes pináculos piramidais assentes em plintos paralelepipédicos decorados nas faces exteriores com florões. Portal em arco de volta perfeita de duas arquivoltas, a exterior mais larga, assentes em falsos colunelos levemente lavrados sobre bases decoradas e com impostas de molduras sobrepujadas por querubim. No tímpano, abre-se nicho em arco de volta perfeita assente em pilastras almofadadas, interiormente com abódada decorada por folha de hera, albergando imagem da Virgem sobre esfera com querubim e serpente enrolada. Fachada lateral esquerda, rasgada por porta travessa de verga recta e três janelas rectangulares com capialço; na oposta, abre-se portal em arco de volta perfeita, de aduelas largas, com chanfro, e nos corpos adossados, de dois pisos, rasgam-se, no primeiro, três janelas rectangulares jacentes, de capialço, e, no segundo, quatro de peitoril, sendo uma moldurada e duas com chanfro. Sobre a cornija do remate da fachada, ergue-se, sobre soco, sineira de ventana em arco de volta perfeita assente em pilares e terminada em cornija recta. Fachada posterior cega, terminando a da igreja em empena e a do corpo adossado em cornija recta; nos cunhais abrem-se dois nichos de ângulo, de verga recta, moldurados, encimados por cornija recta, albergando sobre plinto as imagens, em pedra, de Santa Bárbara, a NO., e da Virgem com o Menino, a NE.. INTERIOR da nave com paredes rebocadas e pintadas de branco, tendo rodapé pintado de preto e azulejos de padrão policromo, o P-114 e um outro de 4 X 4, reaproveitados, formando silhar, pavimento, junto ao portal, lajeado com lápides sepulcrais e, o restante, em soalho com sepulturas numeradas, e delimitadas por guias de granito; o tecto é de madeira envernizada de perfil curvo, assente em cornija do mesmo material, com tirantes de ferro. Portal axial com data de 1548 inscrita na ombreira, protegido por guarda-vento em madeira envernizada e portas frontais envidraçadas. Do lado da Epístola conserva-se um lanço das escadas de pedra que conduziam ao coro-alto e, em plano superior, na parede fundeira, as mísulas que o sustentavam e as molduras de duas janelas rectangulares, entaipadas, encimadas por outra central, de menor dimensão, junto ao tecto. No lado do Evangelho abre-se capela em arco de volta perfeita sobre pilastras toscanas, albergando imaginária, e porta travessa ladeada por pia de água benta gomeada. Sucede-lhe retábulo, de planta convexa e um eixo, em talha marmoreada e dourada, e o púlpito, de bacia rectangular assente em mísula, pintada a marmoreados fingidos, e com guarda plena em talha policroma a branco, com frisos, florões e elementos fitomórficos dourados, acedido por escada de madeira, pintada a marmoreados fingidos e com guarda em balaustrada. No lado da Epístola rasga-se capela com vestígios de pinturas murais, em arco de volta perfeita, entre pilastras suportando entablamento rematado por pináculos piramidais e frontão de volutas; segue-lhe um retábulo em talha policroma e dourada, de planta recta e um eixo. Uma teia em ferro, formando losangos, pintada de verde e de perfil curvo separa o resto da nave. No lado da Epístola, abre-se tribuna de comunicação à Sala do Despacho, de vão rectangular, com arquitrave sustentada por colunas toscanas, as duas laterais semi-embebidas, assentes em cornija, com guarda em quadrícula de madeira. Presbitério sobrelevado com três degraus centrais de acesso e parede testeira rasgada por três capelas, de arcos em volta perfeita, sobre pilastras toscanas, correspondendo à capela-mor e capelas colaterais. A capela central alberga o retábulo-mor em talha policroma a bege e dourado, de planta convexa e um eixo, definido por quatro colunas de fuste liso com o terço inferior marcado por anel fitomórfico e superiormente decorado com grinalda, assentes em duas ordens de plintos, os inferiores ornados de grinaldas e florões e os superiores com elementos fitomórficos diferentes, e de capitéis coríntios; ao centro abre-se tribuna, com moldura de perfil curvo e fecho saliente, interiormente pintada com flores e albergando trono expositivo de quatro degraus, facetados, decorados com elementos fitomórficos e florões; sobre o entablamento, com friso de florões no alinhamento das colunas, desenvolve-se o ático em tabela, decorada com grinaldas e motivos vegetalistas, sobreposta por delta luminoso envolvido em resplendor, terminado em cornija contracurvada e ampla folha de acanto recortada, sendo ainda ladeado de aletas e urnas; sotobanco ornado de motivos vegetalistas e grinaldas, integrando sacrário tipo templete, ladeado de aletas e tendo na porta custódia; altar tipo urna com frontal ornado de florão central e grinaldas. As capelas colaterais têm a parede testeira pintada de branco, cobertura em abóbada de berço e albergam imaginária. Sob a tribuna, rasga-se porta de verga recta, de moldura simples, de acesso à sacristia e actual casa mortuária, com paredes rebocadas e pintadas de branco; a outra porta rasgada do lado da Epístola comunica com um corredor estreito, a partir do qual se desenvolve escada de um lanço de acesso ao segundo piso, à zona da tribuna e sala do despacho, igualmente com paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento em granito ou madeira e com janelas conversadeiras. Destaca-se a sala do despacho com tecto plano, de caixotões, em talha policroma, de molduras decorados com acantos, grandes florões nos encontros e painéis pintados com motivos vegetalistas e, no central, o brasão nacional e um vazio; o tecto assenta numa cornija entalhada com os mesmos motivos e, nos ângulos, sobre mísulas de acantos.

Acessos

São Dinis, Travessa da Misericórdia; Rua Nova; Rua Teixeira de Sousa. WGS84 (graus decimais) lat.: 41,295715; long.: -7,745180

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, isolado, integrado num quarteirão do Centro Histórico, com as fachadas circundadas por ruas estreitas, convergindo as laterais para um largo frontal de pavimento calcetado, com passeio separador. Em frente da fachada principal, disposta no topo do quarteirão, abre-se um espaço lajeado, de planta semicircular, delimitado por esferas metálicas.

Descrição Complementar

INSCRIÇÕES: à entrada da nave, do lado do Evangelho, encontra-se inserida no pavimento a lápide sepulcral do "soldado arcabuzado", de mármore, com a inscrição "AQUI JAZ O SANTO SOLDADO JOSÉ CUSTÓDIO INOCENTEMENTE ARCABUZADO EM 12-5-1813", possuindo à cabeceira uma caixa de madeira com duas ranhuras e a inscrição "Aqui se lanção as esmolas pro soldado arcabuzado". No pavimento da nave foram reutilizados diversas lápides sepulcrais inscritas, de várias épocas, identificando-se uma junto ao portal axial com a data de 1725. RETÁBULOS: Retábulo lateral do Evangelho de planta convexa e um eixo composto por um nicho em arco de volta perfeita, com moldura recortada ornada e sobreposta por concheados e elementos fitomórficos, com pequena cartela na chave, flanqueada por orelhas com elementos vegetalistas vazados, querubins e fragmentos de cornija, terminando em espaldar recortado, ornado com cartela também recortada e rematado com fragmentos de cornija e concheados; interiormente, o nicho é pintado por flores policromas e alberga imaginária sobre mísula; sotobanco decorado com apainelado recortado com concheados, integrando ao centro sacrário, envolvido por concheados e com custódia na porta, de perfil curvo. Altar tipo urna, com frontal e custados ornados de cartelas concheadas inseridas em molduras. A capela lateral do lado da Epístola possui arco de volta perfeita pintado no extradorso com folhas de acantos e no intradorso por bosantes, de fecho volutado, enquadrada por pilastras toscanas pintadas a marmoreados fingidos, assentes em plintos com faces frontais almofadadas e decoradas com figuras zoomórficas afrontadas, de capitéis coríntios, e com florão nos seguintes, que sustentam friso e cornija; esta é sobreposta por frontão de volutas, pintado a marmoreados, rematado por cruz latina, tendo no tímpano as cinco chagas de Cristo entre coroa de louros, e, lateralmente, pináculos piramidais sobre plintos galbados; no interior, apresenta lateralmente filacteras pintadas com inscrição em latim e na cobertura o sol, a lua e, nos ângulos, dois ventos; a parede testeira é rebocada e pintada. O retábulo do lado da Epístola tem um eixo, composto por nicho de perfil curvo, com dupla moldura recortada ornada e sobreposta por concheados e elementos fitomórficos, flanqueada por quarteirões, assentes em falsos plintos, igualmente com concheados, querubins e elementos vegetalistas vazados, terminado em espaldar recortado, ornado com concheados, brasão e coroa, em cartela central, e elementos vegetalistas, sendo rematado em fragmentos de cornija com concheados; interiormente, o nicho é pintado com flores policromas e alberga, sobre alto plinto galbado, ornado de concheado e vários frisos, nicho com imaginária, de estrutura envolvida por concheados; sob o nicho, a moldura recortada com motivos fitomórficos e conheados, prolonga-se pelo sotobanco; banqueta decorada igualmente de concheados e altar tipo urna, com frontal e costados ornados com concheados inseridos em almofada recortada.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1528, 20 Março - sendo provedor Lobo Coutinho, fidalgo da Casa Real, a Misericórdia comprou uma morada de casas a Rui Dias, escudeiro, e sua mulher Isabel Lobo, por 9$600, para se edificar a Igreja da Confraria; a Misericórdia passou a receber uma esmola perpétua anual de 3000 reais, doada pelo Marquês de Vila Real, D. Pedro de Meneses; 1532 - D. Pedro de Castro construiu à sua custa a igreja de Misericórdia, casa do despacho e demais dependências; 1538, 23 Abril - instituição de capela com missa diária pelo protonotário D. Pedro de Castro; vinculava que, na casa que possuía na vila, vivesse alguma boa mulher pobre com a obrigação de varrer a igreja e a rua junto às suas portas, todos os sábados; o Provedor devia apresentar quatro capelães anuais para dizer as missas; 1542, 8 Agosto - compra de uma morada de casas na rua da Misericórdia pela Irmandade a Pêro Lopes, sapateiro e genro de João Francisco Barroso, e a sua mulher Margarida Fernandes, moradores na vila, para se alargar a igreja, por 18$000, os quais receberam 14$000 em dinheiro e 3$000 em duas vinagreiras de prata, em penhor; 1547, 20 Setembro - o então Provedor da Santa Casa, o licenciado António Moutinho, apresentou ao tabelião Fradique Luís, dois alvarás dos Marqueses de Vila Real, num dos quais, datado de 15 Outubro 1518, a Marquesa ordenava ao seu almoxarife Braz Cão satisfazer o pagamento a Constança Rodrigues de 8$255, que lhe devia, e dos quais a Marquesa já havia recebido 7$200 por empréstimo e despendido 1$055 em missas; 1548, 8 Janeiro - compra a Catarina Vaz, mulher de João Francisco, da vila, de uma morada de casas na rua da Misericórdia, por 7$000, para se alargar a igreja; data inscrita na ombreira interior do portal axial; 1549, 20 Julho - compra de umas outras casas que pertenceram a Inês Dias; 1558, 10 Agosto - o Dr. António de Ervedoza e mulher, Jerónima Fernandes, instituíram uma capela de três missas rezadas cada semana, para sempre, uma na segunda-feira em louvor de Todos os Santos, outra na sexta-feira em louvor das Cinco Chagas de Cristo, e a outra no sábado em honra de Nossa Senhora; nesta data era provedor Dionízio Tavares, filho do licenciado Simão Tavares, ouvidor de Vila Real, que instituiu por testamento duas missas em cada ano; 1563, 13 Agosto - Leonor Henriques, viúva do Dr. António de Valença, instituiu uma capela para que o provedor lhe mandasse dizer uma missa cantada na primeira segunda feira a seguir ao dia de São João Baptista de cada ano; 1572, 10 Outubro - alvará de D. Sebastião autorizando a Misericórdia a comprar as casas de Maria Pinto e de seus filhos, situadas no centro da vila, junto à Confraria, para ampliar as suas instalações; 1573 - falecimento de D. Isabel de Meseses, casada com Paulo António Telo de Meneses, filha e herdeira de Diogo de Magalhães Barreto, que por testamento pede que rezassem por sua alma doze missas anuais, uma na primeira sexta-feira de cada mês e todas da Paixão, ditas no altar de Jesus; 1584, 23 Maio - Manuel Teixeira instituiu capela, onde se deveria mandar dizer três missas, uma em louvor da Paixão de Cristo, outra de Nossa Senhora do Rosário e outra do São Tiago, Apóstolo; 1588, 14 Janeiro - Fernão Lourenço e mulher, Inês Cardosa, instituem por testamento uma capela, onde deviam ser sepultados, com missa perpétua em honra das Chagas de Cristo; 1589, 29 Janeiro - D. Isabel de Meneses, filha de Diogo de Magalhães Barreto, institui por testamento oito missas rezadas por sua alma, para sempre, e que se lhe desse anualmente no dia de Santos, duzentos reis; 1591, 7 Abril - falecimento de António Dias Leitão, abade de Santa Eulália da Cumieira, que deixara por testamento a seu tio Alexandre Dias umas casas, com o encargo de anualmente mandar dizer na Misericórdia, onde havia de ser sepultado, mil e seis reis de missas pagas por esmola; 1595, 10 Outubro - Catarina Martins, viúva de António Pires Colmado, instituiu por testamento capela e uma missa cada semana, para sempre, por sua alma e do seu marido; 1598, 1 Agosto - Fernão Pinto Pimentel e mulher Maria Correia instituíram capela, dedicada a Nossa Senhora da Coroa, e morgado, a que uniram e vincularam todos os seus bens, ao lado do altar-mor, do lado do Evangelho; os seus primeiros administradores foram os sobrinhos; 1599, 28 Março - Gonçalo Lobo Tavares, contador de propriedade das rendas dos marqueses de Vila Real, alcaide-mor da vila de Lamas de Orelhão, instituiu uma capela dedicada a Ecce Homo, junto ao altar-mor, do lado da Epístola, com obrigação do provedor repará-la do necessário, dando-lhe autorização para colocar no arco as armas dos Lobos e no pavimento fazer a sua sepultura; 1600, 28 Janeiro - o Pe. António Pires, reitor de São Cristóvão de Parada de Cunhos, instituiu por testamento duas missas na Misericórdia, por sua alma e dos seus pais; 25 Julho - Luís de Mesquita de Andrade instituiu por testamento uma missa todas as quartas-feiras rezada no altar da capela de Fernão Pinto Pimentel; 1664 - organização do "Tombo Velho da Santa Casa"; 1672 - o então provedor da Misericórdia, Dr. Matias Alvarez Mourão, mandou fazer com os seus bens uma grande tribuna para exposição do Senhor, dourar e apainelar de figuras todo o vão da mesma, azulejar as paredes e pintar de brutesco o tecto da igreja; os azulejos da igreja tinham a inscrição: "esta obra mandou-a fazer o doutor Mathias Alvares Mouram cavaleiro professo na Ordem de Christo, lente de prima em leis, deputado do fisco na cidade de Coimbra, dezembargador dos agravos da Suplicação, sendo provedor da misericordia no anno de 1672"; 1716, 20 Setembro - provisão de D. João V para a Misericórdia observar a instituição do número de 160 Irmãos; séc. 18, 2ª metade - feitura dos retábulos colaterais; 1752 - referência documental à existência da capela do protonotário na Misericórdia; 1779 - referência documental às imagens do Senhor do Túmulo, à Senhora das Lágrimas, ao Senhor dos Passos e ao Ecce Homo; 1794, 13 Julho - pedido para confirmação real dos privilégios da Misericórdia; 1796, 13 Março - sendo Provedor Joaquim José da Silva Barbosa e Sousa, a Irmandade alugou uma casa na rua de Trás da Misericórdia para aí instalar o seu hospital, uma vez que o do Espírito Santo já não respondia às necessidades da vila ; 13 Maio - compra de umas casas para as "pôr em forma e figura d'hospital, de lhe fazer capella própria", onde pudessem ter cerca de 12 doentes, por 500$000; 3 Agosto - a Misericórdia dispunha de 500$000, que despendeu na compra de uma casa na Praça Velha a José Manuel Pinto, tendo concretizado a compra Francisco da Silveira Pinto da Fonseca, tenente da cavalaria; 16 Outubro - transferência dos doentes da casa alugada na Rua de Trás da Misericórdia para o edifício recém adquirido, que passou a ser designado de Hospital da Providência; 1797, 20 Maio - reunião da Mesa para verificar se todos concordavam com a continuação da obra do hospital, o que foi aprovado; deliberou-se a feitura de um regulamento; 1813, 12 Maio - fusilamento de José Custódio, soldado no Regimento de Vila Real, por roubo de um cálice de ouro de uma igreja, mas que o povo diz ter morrido inocente; foi sepultado na igreja da Misericórdia e é designado popularmente por santo soldado; 1814, 15 Maio - Ana Eufrásia da Rocha Asseca e Francisca Teresa Madalena da Rocha deixaram ao hospital da Divina Providência um legado de 50 mil cruzados; 1816, 14 Agosto - memória do Dr. Francisco Inácio Pereira Rubião expondo que o Hospital Militar não era o sítio ideal para o novo hospital da Misericórdia; 25 Agosto - pede-se para verificar se as casas contíguas ao da Divina Providência, pertencentes a D. Ana da Silva, poderiam ser permutadas com as casas legadas pelo Morgado de Gouvinhas; a Mesa resolve pedir uma lotaria para as obras do hospital; neste período, os medicamentos para o hospital vinham da botica de São Domingos; 1817, 19 Janeiro - em reunião de Mesa decide-se construir um novo hospital no largo da Casa da Câmara, no sítio do cano velho; para a construção precisaram de um acordo com João Botelho Pimentel, que tinha casas no local; venderam-se pois as casas do Morgado de Gouvinhas; nomeou-se para inspeccionar as obras, duas vezes por dia, o Pe. Francisco António Machado; 1 Julho - compra de um resplendor para o Santo Cristo da banqueta, por $750; 1820, Março - compra de 8 lanternas e 8 varas por 30$170, de varões de ferro para os panos das portas, por $800; gastou-se $200 com os chumbadouros dos mesmos e $240 com o pedreiro que os abriu; 1824, Fevereiro - pagamento de 2$000 ao pintor que dourou a cruz da Irmandade; Agosto - pagamento de 14$400 ao retratista por retratar o provedor; 1830, Setembro - pintura de uma bandeira, por 4$800; 1894, 19 Junho - aprovação dos Estatutos pelos quais a Misericórdia se passou a reger; 1992, Março - aprovação de novos Estatutos da Misericórdia; 1998 / 1999 - entaipamento dos vãos da fachada principal, remoção do coro-alto e outras alterações.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito; molduras dos vãos, escadas do antigo coro e outros elementos em cantaria de granito; portas e caixilharia de madeira; vidros simples; silhar de azulejos policromos; retábulos, púlpito e respectiva escada de acesso em talha policroma e dourada; pavimentos em lajes de granito e em madeira; tectos de madeira envernizada, estuque e em apainelados entalhados na sacristia; teia em ferro; telas pintadas em bandeiras; algerozes metálicos; cobertura de telha de tipo marselha.

Bibliografia

GOODOLPHIM, Costa, As Misericórdias, Lisboa, 1897; AZEVEDO, Correia de, Vila Real, Porto, s.d.; ALMEIDA, José António Ferreira de (coord.), Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1976, p. 581; SOUSA, Fernando de, GONÇALVES, Silva, Memórias de Vila Real, vol. 1, Vila Real, 1987, p. 141 - 142 e 241 a 253; Fundação Calouste Gulbenkian, Guia de Portugal, vol. 5, tomo I, Lisboa, 1987, p. 185 - 186; GONÇALVES, Manuel Silva, GUIMARÃES, Paulo Mesquita, Cinco Séculos de Misericórdia no distrito de Vila Real, in Estudos Transmontanos e Durienses, vol. 8, Vila Real, 1999, pp. 115-140; PARENTE, João, Roteiro Arqueológico e Artístico do Concelho de Vila Real, Vila Real, 1999, p. 70 - 73; TOJAL, Alexandre Arménio, PINTO, Paulo Campos, Bandeiras das Misericórdias, Lisboa, 2002; PAIVA, José Pedro (direcção), Portugaliae Monumenta Misericordiarum. Crescimento e Consolidação: de D. João III a 1580, vol. 4, Lisboa, 2005.

Documentação Gráfica

DGEMN:DSID

Documentação Fotográfica

DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

IAN/TT: Chancelaria de D. João V, Livro de Índices; Chancelaria de S. Sebastião e D. Henrique, Privilégios, liv. 9, fl. 336 - 336v.; Arquivo Distrital de Vila Real: Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real

Intervenção Realizada

Proprietário: 1780 - despesa de $120 com o caleiro de lata existente debaixo do pé direito do Senhor, onde corria água que se benzia para os enfermos; 1814, 2 Julho - obra da banqueta do altar-mor e dos outros altares, por 289$302; Dezembro - conserto do telhado; 1815, 20 Julho - pagamento de 106$400 por pintar e dourar a tribuna e 85$850 da banqueta; 1816, 3 Junho - despesa de $480 com o caiador; 2 Dezembro - conserto e pintura da tumba por 1$600; 1818, 3 Janeiro - reparação dos telhados, pagando-se em cal, argamassa e jornais 3$620; Fevereiro - conserto dos bancos por $580; 1819, Agosto - compra de 5 chapas para a tumba, obra de carpintaria e pregos por $620; Dezembro - pagamento de $100 ao caiador que andou no telhado; 1820, Março - despesa de $400 com o carpinteiro que fez a grade e 1$200 com um taburno para assento da Irmandade; 1821, Abril - dispêndio de 1$700 para um taburno para os mesários; Agosto - pagamento de 6$780 por 5 "bargas" de cal fina, 5$040 de 8 de cal de Campeã, 1$920 de 4 carros de areia e 8$960 a 28 homens de "gramar" a cal; Setembro - compra de 60 telhões largos para a cumeada da igreja, por 2$640, e 1 milheiro e 800 de telha, por 12$980, e pagamento de 5$860 a 15 oficiais de caiador; Dezembro - pintura da imagem de Nossa Senhora da fachada principal, por $995; dispêndio de $360 por 12 "fixes" de ferro para os bancos de encosto da casa do despacho, $120 por 4 caibros, $800 por 4 tábuas, $360 pela obra de carpintaria da "fronta" do coro e sua "compustura", $360 por pregos e cavilhas para a moldura do coro, $1$050 pela obra de carpintaria de remendar os sobrados da sacristia e casa do despacho e $400 por 2 chaves, uma para o coro, outra da varanda dos Irmãos e outra da porta travessa; 1822 - construção de um cais atrás da Misericórdia para livrar a água da sacristia e da igreja, por 6$400; compra de 4 carros de pedra, por 1$200 e pagamento de 1$200 a 3 oficiais; Março - conserto do estandarte, por $360; Julho - colocação de porta nova, reforma de telhados e outras reparações na casa da Praça Velha, por 48$000; 1824, Fevereiro - reparação da casa do despacho por 32$570; Junho - despesa de 7$740 por 1 milheiro de telha e 24 telhões; $580 pela condução de pedra; $600 do carregamento de cal grossa; 4$640 de pregos; 18$970 de madeira; $400 por um carro de areia; 1$800 por 3 "bargas" de cal grossa; 2$040 por jornais e 17$730 por jornais dos carpinteiros; 9$020 do mestre caiador e jornais; 1$110 por 3 "bargas" de telha; 1826, Março - pagamento de $834 de ferro para chapear as portas travessas e $180 de pregos; Maio - despesa de tintas, óleos e jornais da pintura das portas, por 2$680; 1827, Novembro - conserto da cimalha da torre por 2 oficiais, por $960; 1828, Julho - conserto do sino, por $120, e pagamento de $960 ao carpinteiro que fez a varanda; Novembro - conserto dos castiçais, por $140; 1830, 5 Janeiro - colagem de uma flor na banqueta nova, por $202; Julho - conserto do telhado da igreja e dos azulejos, por 2$410; 1831, Janeiro - conserto de uma bandeira nova, por $160; Fevereiro - conserto do sino, por 3$60; Abril - arranjo da prata, resplendor e título da Senhora da sacristia e coroa do Senhor, por 2$800; Julho - conserto dos telhados e sino, por 31$500; conserto das bandeiras, reforma e encarnação da imagem, por 14$400; Outubro - pintura das portas e janelas da igreja, por 6$075; Novembro - conserto da bandeira, por $120, e dos pedestais e banquetas, por $200; 1832, Março - conserto das sepulturas e dois altares, por 2$305; caiação dos lados e frente da igreja, por $750; 1998 / 1999 - reparação geral incluindo o apeamento do coro-alto, a construção do guarda-vento e do tecto de madeira envernizada em substituição do tecto de estuque de perfil curvo; 1998 / 1999 - reparação geral incluindo construção do guarda-vento e do tecto de madeira envernizada, pavimentação com lajetas de granito do presbitério, casa mortuária, sacristia, tribuna e salão; detecção da estrutura em cantaria das capelas laterais, optando-se pela remoção dos respectivos retábulos de talha dourada; substituição da grade metálica da tribuna por uma de madeira, entaipamento das duas janelas rectangulares da fachada principal; 2006 - obras de conservação na igreja; restauro das pinturas murais da capela lateral da Epístola pelos restauradores Umbelina Ribeiro e António Madureira.

Observações

*1 - As Capelas laterais da nave albergavam retábulo de talha dourada, de estrutura semelhante, provavelmente de princípios do século 18, de planta côncava e um eixo, definido por duas pilastras decoradas de acantos e com anjos, assentes em plintos com motivos fitomórficos e de capitéis coríntios, prolongadas numa arquivolta igualmente decorada com motivos vegetalistas, tendo na chave, cartela, a do lado da Epístola com as cinco Chagas de Cristo, envolta em acantos; as pilastras enquadram amplo nicho, interiormente facetado, ornado de apainelados de acantos e com abóbada de meia laranja, com os mesmos motivos; o do lado do Evangelho integrava estrutura com apainelados pintados e o do lado oposto caixão do Cristo morto e, inferiormente, altar paralelepipédico; o do Evangelho com frontal bipartido, tendo apainelados de motivos vegetalistas, emoldurados por frisos de acantos, e o da Epístola tripartido, tendo nos painéis laterais apainelados de acantos e no central brasão esquartelado, com elmo e paquife; este retábulo tem ainda os seguintes ornados de florões.

Autor e Data

Ricardo Teixeira 2000 / Paula Noé 2007

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