Convento da Ordem de São Francisco / Convento de Nossa Senhora de Guadalupe

IPA.00008231
Portugal, Ilha de São Miguel (Açores), Ribeira Grande, Ribeira Grande (Conceição)
 
Convento masculino franciscano, construído no séc. 17 e redecorado no séc. 18, composto por igreja e núcleo conventual, implantado no lado esquerdo da mesma, o qual foi ampliado com outros corpos após a sua adaptação a hospital da misericórdia, no séc. 19, e depois a centro de saúde já mais recentemente. A igreja é de planta retangular composta por duas naves antecedidas por galilé, e capela-mor mais estreita, possuindo coberturas internas diferenciadas em masseira e falsas abóbadas de berço, de madeira, e sendo iluminada pelos vãos da fachada principal e laterais. Fachadas com cunhais apilastrados e remates em friso e cornija, coroados por pináculos. Fachada principal tripartida, seguindo o esquema seiscentista da região, com cada pano rasgado por vãos em eixo, composto por arcos de volta perfeita e janelas de verga reta entre pilastras, rematada em tabela vazada por óculo, espaldar recortado e com aletas laterais. No lado esquerdo, dispõe-se recuado, sobre a galilé, torre sineira com dois vãos e remate em balaustrada. No interior, a organização espacial não corresponde à divisão da fachada, sendo um dos poucos templos do arquipélago com duas naves. Assim, a nave principal tem acesso pelo portal central da galilé, a secundária pelo portal direito e o portal esquerdo acede à portaria da zona regral. As naves separam-se por arcos sobre pilares, o primeiro menor, tendo a principal os topos posteriores truncados, exterior e interiormente, e coro-alto sobre a galilé e avançando para a nave, com guarda em balaústres torneados e órgão positivo, do séc. 19, que constitui o quarto maior dos nove órgãos executados por João Nicolau Ferreira e que é composto apenas por tubos labiais, na sua maioria construídos em madeira, caso raro entre os órgãos portugueses. No lado do Evangelho possui púlpito quadrangular, sobre mísula, com guarda em balaustrada e baldaquino mais tardio. Quer os vãos da galilé, quer os do interior possuem igual modinatura, de perfil reto encimado por friso convexo e cornija reta, indicando contemporaneidade da obra. Lateralmente existem duas capelas laterais e duas colaterais, com retábulos, executadas na 1.ª metade do séc. 18, em talha joanina com introdução de elementos de estilo rocaille, de corpo reto e três eixos. O arco triunfal é revestido a talha do mesmo período. A capela-mor é bastante profunda e tem retábulo-mor joanino de transição para o tardo-barroco, de corpo côncavo e três eixos. A nave secundária, mais curta e estreita, possui capela lateral dedicada a Nossa Senhora das Dores, invocação muito comum nos Franciscanos, e a cabeceira tem retábulo dedicado ao Santo Cristo, ambos da 2ª metade do séc. 18. O convento encontra-se muito alterado, desenvolvendo-se em torno de claustro quadrangular, com as alas de dois pisos, separados por friso, rasgando-se no primeiro cinco arcadas de volta perfeita e no segundo três janelas de varandim. A escada regral arranca de arco em asa de cesto e a casa do lavabo conserva o lavabo, de espaldar retangular, definido por pilastras e rematado em cornija, possuindo bacia retangular frontal.
Número IPA Antigo: PT072105020006
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos

Descrição

Convento formado por igreja e zona regral implantada no lado esquerdo. A IGREJA é de planta retangular, composta por duas naves desiguais, a principal de topos facetados interna e externamente e a secundária, disposta à direita, mais estreita e menos profunda, antecedidas por galilé, e por capela-mor mais estreita. À nave secundária adossa-se corpo retangular com instalações da Irmandade da Ordem Terceira de São Francisco, que se prolongam sobre a capela da nave. Volumes escalonados, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas nas naves e de quatro nas dependências da Irmandade, rematadas em beirada dupla. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, terminadas em friso e cornija, a igreja com pilastras nos cunhais. Fachada principal virada a nordeste, rematada em tabela retangular horizontal, flanqueada por pilastras toscanas, encimadas por pináculos tipo balaústre, sobre plintos paralelepipédicos, vazada por óculo circular, com moldura envolvida por bosantes, e rematada em frontão recortado de volutas, coroado por cruz latina de braços retangulares e contendo no tímpano cartela recortada de volutados e concheados com as insígnias da Ordem de São Francisco. A tabela é ladeada por aletas. A fachada, com soco galbado, divide-se em dois registos, marcados por friso e cornija, e três panos, definidos por duas ordens de pilastras toscanas, cada um dos registos rasgado por vãos, correspondendo no primeiro a arcos de volta perfeita, assentes em pilastras, de acesso à galilé, fechados por portões de ferro, e no segundo a janelas de varandim entre pilastras, atualmente de peitoril, com pano de peito rebocado e pintado de branco. A galilé, atualmente seccionada por parede, que individualiza a entrada da antiga portaria, é rasgada por três portais de verga reta, o central mais alto, com moldura encimada por friso convexo e cornija. Atrás da aleta do eixo esquerdo da fachada, surge recuada a torre sineira, de cunhais apilastrados, e rasgada por dois vãos em arco peraltado, albergando sinos, com pano de peito rebocado e pintado; é rematada em friso e cornija encimada, na face frontal, por balaustrada e acrotérios nos cunhais, coroados por pináculos, e, nas restantes faces, por platibanda plena, rebocada e pintada. A fachada lateral direita é rasgada por seis janelas, tendo a primeira moldura junto ao remate e pano de peito em cantaria, sendo ladeada por quatro mísulas de sustentação de antigas rótulas; a do topo é de sacada, com moldura encimada em friso e cornija e com guarda em ferro. No piso térreo abrem-se duas janelas. Quase no topo da nave possui corpo saliente, terminado em empena, correspondendo à capela lateral, e no topo tem corpo maior, também saliente, com dois registos, sendo o segundo rasgado por janela de peitoril. Nas fachadas laterais da capela-mor abrem-se duas janelas retilíneas e na posterior, terminada em empena reta, com cornija, abre-se janela retangular jacente e janela retangular. INTERIOR com as duas naves desiguais, separadas por três arcos, de volta perfeita, o primeiro mais baixo, sobre pilares quadrangulares de ângulos em toro, com as paredes rebocadas e pintadas de branco e coberturas em masseira, de madeira envernizada, assente em cornija de cantaria. A nave principal, disposta à esquerda, é mais larga e comprida, tem as paredes seccionadas em dois registos por cornija, abrindo-se ao nível do segundo, de ambos os lados, quatro janelas retilíneas. Coro-alto desenvolvido sobre a galilé e avançando para a nave, de madeira, com guarda em balaústres torneados e tendo, encostado à parede fundeira, sob o óculo, o órgão positivo; lateralmente possui porta de verga reta encimada por cornija, no lado do Evangelho de comunicação com o claustro e, no oposto, de ligação à nave secundária. O portal é ladeado por pia de água benta hemisférica. No lado do Evangelho abre-se porta de verga reta, com moldura encimada por duplo friso convexo e cornija reta, seguindo-se o púlpito, de bacia retangular, sobre mísula, com guarda em balaustrada, acedido, a partir do segundo piso do claustro, por porta de verga reta encimada por cornija e baldaquino facetado, em talha a branco, coroado por dois pináculos vegetalistas, lambrequim e inferiormente decorado por resplendor. A nave possui dois retábulos laterais, de talha pintada de bege e dourado, dedicados a Santa Ana (Evangelho) e a Nossa Senhora da Piedade (Epístola), seguidos de um eixo de vãos, formado por porta de verga reta com moldura encimada por cornija, e janela de igual modinatura, com rótulas de madeira, as do lado da Epístola de comunicação com as dependências da Irmandade dos Terceiros. Nave secundária com coro-alto, disposto num nível mais baixo que o da nave principal, inferiormente com o espaço fechado, acedido por porta de verga reta, no interior do qual se desenvolvem as escadas modernas de acesso ao coro, com guarda em balaústres torneados. No lado da Epístola tem retábulo de talha pintada a bege e dourado, dedicado a Nossa Senhora da Soledade ou de Nossa Senhora das Dores, de corpo convexo e três eixos. Um arco de volta perfeita sobre pilastras, revestido a talha pintada de bege e dourado, dá acesso à cabeceira, menos profunda que a capela-mor. Possui retábulo dedicado ao Senhor Santo Cristo, em talha pintada de bege e dourado, de corpo côncavo e três eixos. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras, revestidos a talha pintada de branco e dourado, decorados com acantos, ladeado por dois retábulos colaterais, postos no ângulo da nave, dedicados a Santo António (Evangelho) e ao Bom Jesus (Epístola), de talha pintada de bege e dourado. A capela-mor, muito profunda e com cobertura em falsa abóbada de berço, de madeira envernizada, tem sobre o supedâneo o retábulo-mor, em talha pintada de bege e dourado, com corpo côncavo e três eixos, definidos por quatro colunas de fuste liso, assentes em altos plintos paralelepipédicos almofadados e com motivos vegetalistas e de capitéis coríntios; no eixo central abre-se tribuna, em arco contracurvo, com boca ornada de concheados, festões e chave vegetalista; interiormente a tribuna é facetada e tem pintada painéis azuis com símbolos eucarísticos, delimitados por guarda plena a imitar cantaria, integrando falsos plintos sustentando colunas jónicas, de fuste azul e capitel dourado, e com drapeados vermelhos, sustentando a cornija onde assenta a cobertura, em cúpula tronco-piramidal com um Agnus Dei pintado no remate. A tribuna alberga trono expositivo de degraus contracurvos, decorados com acantos e volutados. Nos eixos laterais dispõem-se mísulas hemisféricas com acantos, sustentando imaginária, encimada por baldaquino de perfil curvo, com motivos vegetalistas e lambrequim e reposteiros a abrir em boca de cena. A estrutura remata em fragmentos de frontão e espaldar com as insígnias dos Franciscanos em cartela, sobreposta por querubins e motivos vegetalistas, envolvido por frontão adaptado ao perfil da cobertura, definido por friso côncavo denticulado, e tendo acantos enrolados formando pináculos no alinhamento das colunas exteriores. No sotobanco abrem-se as portas de acesso à tribuna, de perfil curvo e decoradas com elementos vegetalistas. Altar paralelepipédico, com friso superior rendilhado e lateralmente volutado, tendo o frontal pintado por moldura com acantos estilizados e tendo ao centro vários símbolos da Paixão de Cristo e o lenço de Verónica inserido num círculo. É encimado por sacrário tipo templete, cilíndrico, decorado com lambrequim sob a cornija, onde assenta cobertura em domo, e tendo a porta, com cruz, envolvida por motivos vegetalistas. Sob o pavimento da capela-mor, existe cripta. CONVENTO de planta irregular composto por claustro quadrangular, a que se adossou, em data mais recente, várias alas, a mais moderna disposta perpendicularmente e um pátio retangular posterior. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas, rematadas em beirada simples. Fachadas de dois pisos, rebocadas e pintadas de branco, com soco e remate em friso de cantaria. A principal, virada a nordeste, é rasgada por eixo de vãos, retilíneos e com molduras de cantaria, correspondendo no piso térreo a portas e no segundo a amplas janelas, com pano de peito rebocado e pintado de branco, e caixilharia de guilhotina. INTERIOR: portaria acedida pelo portal esquerdo da galilé, com escadas de ligação ao claustro. Este tem quadra quadrangular, de dois pisos, separados por cornija, com as alas definidas por cinco arcos de volta perfeita, assentes em pilares toscanos sobre bases; no piso superior, terminado em cornija, abrem-se três janelas de varandim, atualmente transformadas em peitoril, por pano de peito rebocado e pintado, e com moldura terminada em cornija. No centro da quadra, existe tanque recortado. As alas do primeiro piso apresentam pavimento de lajes, cobertura sobre travejamento de madeira e acesso às várias dependências por portas de verga reta. Na ala noroeste, possui ao centro, a escada regral para o segundo piso, de dois lanços, acedida por vão em arco em asa de cesto sobre pilastras toscanas. Próximo do corpo da igreja, há um outro vão, mais estreito que dá acesso a uma escada secundária que também conduz ao piso superior. A sul, um arco, de volta perfeita, dá acesso à casa do lavabo do antigo refeitório, o qual tem espaldar retangular, definido por duas pilastras, coroadas por pináculos tipo balaústre, e terminado em cornija reta, com uma bica, tendo frontalmente bacia retangular, pouco profunda, sobre mísula. Na ala norte existem duas portas, de diferentes dimensões, para comunicação com a igreja e, ao nível do segundo piso, existe porta de acesso ao púlpito.

Acessos

Ribeira Grande (Conceição); Rua de São Francisco

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Resolução do Presidente do Governo Regional n.º 64/1984, JORAA, 1.ª série, n.º 14 de 30 abril 1984

Enquadramento

Urbano, adossado, no interior da vila. Implanta-se sobre plataforma sobrelevada aos arruamentos envolventes, adaptada ao declive do terreno, possuindo passeio separador, com calçada à portuguesa. A fachada principal da igreja é precedida por larga escadaria, delimitada por muro, rebocado e pintado de branco, capeado a cantaria, possuindo à esquerda portão em ferro, ladeado por dois pilares sustentado vasos, delimitando a plataforma ao longo da antiga zona regral e corpo adossado, existindo na encosta dessa, placa arrelvada e ajardinada. Na fachada lateral direita a zona recuada possui alto muro rebocado e pintado, rasgado por porta de verga reta com acesso à casa da Irmandade. No topo dessa fachada possui alto muro do que resta da antiga cerca, com pano apilastrado e rematado em cornija, onde se abre a porta Carral, de verga reta e moldura percorrida por frisos, encimada por escudo da Ordem, e portão em ferro. No enfiamento da igreja do convento, ergue-se para norte a Igreja Paroquial da Conceição (v. IPA.00032570).

Descrição Complementar

O órgão é de médias dimensões e tem caixa em madeira de pinho resinoso, exteriormente pintada a imitar pau santo, formado por castelo proeminente e dois nichos, separados por pilastras, sobre falsas mísulas, e remate em cornija. Fachada composta por tubos de metal e alguns jogos no interior, nomeadamente um registo "acornetado" composto como uma sexquialtera. O castelo tem tubos de disposição diatónica em teto e gelosias a abrir em boca de cena e os nichos têm tubos de disposição cromática e gelosias em harpa. Os registos da mão esquerda são: corneta 2 vozes, dezanovena e 22ª, dezanovena, quinzena, ozena, flautado de 6 tapado, flautado de 6 aberto e flautado de 12 tapado; os registos da mão direita são: corneta 2 v, dezanovena, quinzena, dozena, oitava real, flautim, flautado de 6 aberto, flauta e flautado de 12 aberto. A capela lateral do Evangelho é à face, em talha pintada de bege e dourado, emoldurada por duas colunas torsas, com espira fitomórfica, sobre duas ordens de mísulas com acantos sobrepostas, e de capitéis coríntios, que se prolonga em igual arquivolta. Alberga retábulo de corpo reto e três eixos, definidos por quatro quarteirões, assentes em mísulas com acantos. No eixo central abre-se nicho de perfil trilobado, interiormente com resplendor, e nos laterais surgem apainelados, sobrepostos por mísulas hemisféricas com acantos, sobre motivos vegetalistas e concheados, e baldaquinos com lambrequins e motivos vegetalistas e drapeados a abrir em boca de cena. A estrutura remata em fragmentos de frontão, encimados por cartela recortada, festões e outros elementos. Sotobanco com apainelados contendo concheados e elementos fitomórficos, o central contracurvo. Sobre a estrutura desenvolve-se apainelado de acantos enrolados sobreposto por baldaquino alteado ao centro, com lambrequim e borlas. Tem altar tipo urna, com frontal definido por friso de acantos enrolados e concheados. A capela colateral do Evangelho e a lateral da Epistola, com estrutura semelhante, são à face, em talha pintada de bege e dourado, emolduradas por duas pilastras de fuste liso sobreposto por motivos vegetalistas, que se prolonga por igual arquivolta. Albergam retábulos de corpo reto e um eixo, definido por quatro pilastras, de fuste ornado por elementos fitomórficos, assentes em plintos paralelepipédicos com decoração semelhante e que se prolonga por igual arquivolta, e por duas colunas de fuste torso e espira fitomórfica, com o terço inferior marcado, sobre mísulas. Ao centro abre-se nicho de perfil trilobado. A estrutura remata em espaldar curvo, sobreposto por resplendor central seguro por dois anjos de vulto, concheados e elementos vegetalistas. Banco com apainelados contendo motivos vegetalistas e concheados. Altar tipo urna, com frontal definido por friso de acantos enrolados e concheados. Sobre a estrutura desenvolve-se apainelado, definido por volutados, sobreposto por motivos vegetalistas e cartela central, encimado por baldaquino alteado ao centro, com lambrequim e borlas, tendo ao centro suporte para lampadário. A capela colateral da Epístola, também à face e em talha pintada de bege e dourado, é emoldurada por duas pilastras de fuste liso sobreposto por motivos vegetalistas, que se prolongam por igual arquivolta. Alberga retábulo de corpo reto e três eixos, definidos por duas colunas exteriores, com fuste de terço inferior marcado e decorado com elementos vegetalistas, por duas pilastras com elementos vegetalistas e por dois quarteirões, todos assentes em mísulas. No eixo central abre-se nicho de perfil curvo, contendo painel pintado, e nos laterais surgem apainelados, sobrepostos por mísulas, friso emoldurando a imaginária e motivos fitomórficos. A estrutura remata em fragmentos de frontão, encimados por cartela recortada e elementos vegetalistas. Sotobanco com apainelados contendo elementos fitomórficos. Sobre a estrutura desenvolve-se apainelado com cartelas, motivos vegetalistas e concheados, sobreposto por baldaquino alteado ao centro, com lambrequim e borlas. Tem altar tipo urna, com frontal definido por friso de acantos enrolados e concheados. Na nave secundária, a capela de Nossa Senhora da Soledade ou das Dores é de talha pintada de bege e dourado, à face, emoldurada por duas pilastras de fuste liso sobreposto por motivos vegetalistas, que se prolonga por igual arquivolta. Alberga retábulo de corpo convexo e três eixos, definidos por colunas de fuste liso sobre plintos galbados, e de capitéis coríntios. No eixo central abre-se nicho de arco trilobado e nos laterais surgem apainelados com motivos vegetalistas. A estrutura remata em espaldar sobreposto por fragmentos de frontão, motivos vegetalistas e ampla cartela recortada, também com elementos vegetalistas. A cabeceira da nave tem arco sobre pilastras, revestido a talha pintada de bege e dourado, com motivos vegetalistas, encimado por espaldar de talha, rematada por cornija angular e sobreposto por acantos enrolados e Custódia. No interior possui retábulo pintado de bege e dourado, de corpo côncavo e três eixos, definidos por duas pilastras exteriores, com motivos vegetalistas, e quatro colunas torsas, de espira fitomórfica, sobre mísulas, e de capitéis coríntios. No eixo central abre-se nicho de perfil curvo e boca rendilhada, e nos eixos laterais apainelados sobrepostos por mísulas hemisféricas com acantos, e por baldaquinos, com drapeados a abrir em boca de cena. A estrutura remata em frontão semicircular, interrompido ao inferiormente pelo nicho, e sobreposto por festões, motivos vegetalistas e cartela central. Sotobanco de perfil contracurvo com apainelados contendo acantos enrolados e integrando sacrário, com porta encimada por baldaquino. Altar tipo urna com frontal delimitado por motivos vegetalistas. O espaço da antiga Ordem Terceira, desenvolvido atrás da nave secundária e acedido pelo portal do lado da Epístola, entre os retábulos da nave principal, encontra-se atualmente muito remodelado, com dois pisos, contendo várias salas de apoio e instalações sanitárias.

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Religiosa: igreja

Propriedade

Privada: misericórdia (igreja)

Afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ORGANEIROS: Dinarte Machado (2017). João Nicolau Ferreira (1863).

Cronologia

1507, 04 agosto - Ribeira Grande é elevada a vila, por carta de Foral de D. Manuel I; 1591, 18 fevereiro - Gonçalo Alvares Batateiro e sua esposa Inês Pires obtém licença do bispo de Angra, D. Manuel de Gouveia, para construção de uma capela com invocação de Nossa Senhora da Guadalupe; mais tarde, Inês Pires, já viúva, e demais habitantes da Ribeira Grande, manifestam vontade de fundar um convento franciscano com base na ermida; as várias tentativas efetuadas são, no entanto, inicialmente mal sucedidas, até porque a Ordem já possuía na vila o hospício de confessores e capelães, do mosteiro de Jesus; 1606, 04 julho - licença para a fundação do convento da Ordem de São Francisco pelo bispo de Angra, D. Jerónimo Teixeira; a autorização refere que, os frades devem escolher entre as ermidas de Nossa Senhora da Conceição, São Sebastião e Nossa Senhora de Guadalupe para fundarem o seu convento; face à doação que Inês Pires fizera da ermida, terra da horta anexa, bem como de mil cruzados, a Ordem escolhe a ermida de Nossa Senhora de Guadalupe para a fundação do convento; inicialmente os frades instalam-se em pequenas cabanas de palha junto à ermida; 1612 - início da construção do convento; 1613, 10 fevereiro - inauguração da igreja do convento; 11 fevereiro - transladação dos restos mortais dos fundadores da ermida para o altar-mor; com os anos são anexados terrenos circundantes, sobre os quais é edificado o convento; 1640, 20 novembro - breve do Papa Urbano VIII cria a Província de São João Evangelista, nos Açores; 1645, 17 setembro - segundo Frei Diogo das Chagas, assina-se em Capítulo o "livro da Ordem por casa noviciado", estando o convento já concluído; 1664, 08 junho - segundo frei Agostinho de Monte Alverne, um dos primeiros atos da Irmandade dos Terceiros da Ribeira Grande, é angariar fundos para encomendar uma imagem de "Cristo à Coluna", ou "Senhor dos Terceiros", conseguindo-se angariar donativos para a sua aquisição nesta data; depois de várias diligências, a Ordem Terceira de São Francisco, consegue construir uma capela para a imagem adquirida; 1717 - constituição da Custódia de Nossa Senhora da Conceição que incorpora as ilhas de São Miguel e de Santa Maria; 1749 - 1833 - segundo o "Livro de Actas da Ordem Terceira da Penitência", a Irmandade da Ordem Terceira é composta por um ministro, uma ministra, três definidores ou sacerdote eclesiástico, três definidores seculares, um secretário, um síndico, um vigário, mestre de noviços e uma mestre de noviças, um enfermeiro e uma enfermeira, dois zeladores, um vice ministro, dois foros e oito avisadores; séc. 18, 1ª metade - feitura dos retábulos laterais e colaterais da nave principal; séc. 18, 2ª metade - execução do retábulo do Senhor Santo Cristo; 1832 - após a extinção da Irmandade dos Frades Menores da Ribeira Grande, dá-se o encerramento do convento; incorporação da igreja nos bens da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande; 1834 - extinção das Ordens Religiosas; adaptação do convento a unidade hospitalar da Misericórdia, após pedido à Coroa; 1835, 10 julho - em sessão da Mesa da Misericórdia propõe pedir ao rei a mudança do hospital para o suprido convento de São Francisco com sua igreja, cerca e mais pertenças, dando-se em troca o edifício onde estava instalado o hospital e igreja de Espírito Santo; 1837, 22 janeiro - depois da sessão da Mesa da Misericórdia faz-se nova proposta de permuta para instalação do hospital no convento; 1838, 15 julho - nova proposta para transferência do hospital para o convento; 1839, 20 julho - Carta de Lei autoriza a troca de edifícios e a transferência do hospital para o convento; é também cedido o imóvel à Misericórdia da Ribeira Grande; 1841, 21 julho - data apontada pelos Estatutos, não datados, em que, por portaria régia, é dada autorização para a Ordem Terceira de São Francisco se poder manter na igreja do convento, no lado norte, e utilizá-la para todos os atos do culto, bem como uma sala como consistório; a Ordem Terceira deixa então de ser a proprietária da capela, sendo responsável apenas pelos seus bens que estivessem na igreja, nomeadamente na capela onde estava a imagem do Cristo e na sala do consistório, e ainda por algumas obras de manutenção na parte da igreja que utilizava; 1863 - construção do órgão positivo do coro-alto pelo carpinteiro micaelense João Nicolau Ferreira (1820-1878), instruído na arte da organaria pelo padre Joaquim Silvestre Serrão; séc. 20, início - inicia-se o progressivo abandono da igreja, começando a ser difícil encontrar padres para servir como capelães privativos, tornando-se necessário anexar o serviço religioso às funções paroquiais da Igreja de Nossa Senhora da Conceição; progressivamente o culto torna-se mais esporádico, passando a realizar-se apenas as missas obrigatórias pelos benfeitores da Santa Casa da Misericórdia e as poucas missas da responsabilidade da Ordem Terceira (missas da procissão dos Terceiros); 1912 - data inscrita em cartela sobre a porta da cerca; 1946 - o mordomo do hospital, Jaime de Sousa Terceira, alerta para o mau estado do templo; 1953 - compra de reposteiros, passadeiras, utensílios não litúrgicos e cadeiras; 1971 - nesta data a Santa Casa da Misericórdia é a única usuária da igreja, já não existindo referência à Ordem Terceira de São Francisco; 1974, 25 abril - após esta data dá-se a nacionalização ou regionalização dos hospitais; a indefinição se a igreja passa para o Estado ou continua pertencendo à Misericórdia, faz adiar a realização de obras no imóvel; 1986 - devido à progressiva degradação, a Misericórdia abandona as instalações da igreja e compra um novo edifício na Rua da Conceição, para instalação da sua sede; 1990 - fecho da igreja por questões de segurança do edifício e das pessoas; 14 maio - ofício da Misericórdia ao Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande explicando que ainda não tinha avançado com as obras de conservação na igreja porque não estão "esclarecidas nem definidas as circunstâncias inerentes à parte restante daquele imóvel"; 1994 - encerramento oficial da igreja; 03 fevereiro - ofício da Misericórdia ao Assistente Eclesiástico da Ordem Terceira, o Pe. Edmundo Pacheco, informando que a igreja de Nossa Senhora da Guadalupe não está em condições de continuar aberta ao público mas, dada a grande devoção da procissão dos Terceiros, para que a mesma se continuasse a realizar, propõe que as imagens saíssem da Igreja de Nossa Senhora da Conceição; 2013, 14 fevereiro - data da reabertura da igreja ao público como Museu de Interpretação do Franciscanismo; 26 maio - o Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Ricardo Silva, assina um contrato de cedência de utilização da igreja com a Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, proprietária do imóvel, bem como de apoio financeiro no montante de 55 mil e 600 euros, para continuação das obras de remodelação, restauro e conservação do imóvel e de todo o seu espólio, com vista a criar um Centro de Interpretação do Franciscanismo nos Açores.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria ou alvenaria de pedra, rebocada e pintada; socos, cunhais, cornijas, pilastras, frisos, molduras dos vãos, volutas, pináculos, elementos decorativos bacia do púlpito, pias de água benta e lavabo em cantaria aparente ou pintada; pavimento cerâmico, em lajes de cantaria ou de madeira; retábulos em talha pintada e dourada; púlpito com balaustrada e baldaquino em talha a branco; teto da igreja em madeira envernizada; coberturas em telha cerâmica de meia-cana.

Bibliografia

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Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1949 / 1950 - obras de beneficiação da igreja e altares, incluindo pinturas dos mesmos, e renovação de alfaias e paramentos, durante a presença do padre Edmundo Pacheco; 1953 - obras de beneficiação da igreja pelo enfermeiro José Pereira da Silva, custeadas por esmolas: restauro do pavimento empedrado, feitura de guarda-vento, substituição dos vidros nas janelas laterais, substituição das vidraças do lado nascente por novas, limpeza da cantaria, enceramento do altar-mor e parte da capela em tonalidade escura, restauro do cadeiral da capela-mor, altares laterais e outras; 1998 - restauro do relicário de Santa Úrsula; 2002 - início das obras de restauro e consolidação da igreja; 2013 - conclusão das obras de restauro da igreja e respetivo património integrado e móvel, orçadas em cerca de 400 mil euros; CMRibeira Grande: 2015 / 2016 / 2017 - estauro do órgão, pelo organeiro Dinarte Machado.

Observações

*1 - DOF: Igreja e claustro do antigo convento da Ordem de São Francisco. *2 - Uma das principais atribuições dos irmãos da Ordem Terceira de São Francisco era a realização de várias festividades na época da Quaresma. Para além da procissão dos Penitentes, frequentemente conhecida por procissão dos Terceiros, organizavam a festividade do Enterro do Senhor, da Ressurreição e as celebrações em honra de São Francisco e da Rainha Santa Isabel da Hungria. A Procissão do Terceiros, iniciada talvez desde a criação da Irmandade na vila, é também chamada, na Ribeira Grande, por "Procissão do Senhor da Coluna" ou "Senhor atado à coluna", devido ao culto prestado à imagem com essa invocação existente na capela da nave secundária do convento. Antigamente, a procissão era antecedida e sucedida por uma missa na Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, saindo da igreja, normalmente por volta das 15 horas. Era uma das maiores procissões da Ribeira Grande, tanto em percurso, visto percorrer quase toda a vila, como em comprimento, uma vez que, comportava onze andores, no meio da procissão, vários homens de opas, na frente da procissão, todos os irmãos, sem descriminação social, os religiosos e todos os clérigos da vila, os representantes máximos da vila, no final da procissão, e um número considerável de mulheres, a maioria em cumprimento de promessa. Atualmente a procissão é acompanhada por seis andores, representando a vida de São Francisco de Assis e outros Santos, como Santa Isabel, Santo Ivo, Santa Margarida de Cortona e São Roque. No conjunto processional das imagens de roca, duas são entalhadas: a do Senhor dos Terceiros, e a de São Francisco deitado nas silvas.

Autor e Data

Paula Noé 2015

Actualização

 
 
 
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