Igreja Paroquial de São Pedro

IPA.00008229
Portugal, Ilha de São Miguel (Açores), Ponta Delgada, Ponta Delgada (São Pedro)
 
Igreja paroquial reconstruída na segunda metade do séc. 18, sobre uma mais antiga, com planta poligonal, composta por nave centralizada, retangular e de ângulos em chanfro, com eixo longitudinal, e cabeceira tripartida, na tradição da primitiva igreja de Quinhentos, que tinha três naves, possuindo ainda vários anexos e torre sineira, no lado esquerdo. A discrepância entre a cabeceira e a solução da nave levou à necessidade de criar um transepto, que é pouco desenvolvido e volumetricamente desproporcionado, e dois arcos de acesso ao mesmo e às capelas colaterais na zona de chanfro. No interior tem coberturas diferenciadas em falsas abóbadas de berço, formando quartos de esfera no topo da nave, e iluminação uniforme e intensa por janelas rasgadas axial e bilateralmente. Apresenta uma interessante fachada facetada, definida por cunhais de cantaria, encimados por pináculos, tendo cada uma das faces rasgadas por eixo de vãos retilíneos, composto por portal e janela, os portais entre pilastras e as janelas entre colunas e com aletas inferiores, sustentando frisos e cornijas. Destaca-se o eixo axial, onde o portal tem planta convexa entre duplas pilastras e colunas, assentes em consolas e coroadas por pináculos, surgindo ainda sobre a janela, brasão com as armas de Portugal. Cada uma das faces remata em espaldar recortado e decorado com elementos barrocos, a central tendo ainda imagem do orago num nicho. As fachadas têm cunhais em cantaria, firmados por pináculos, e rematam em frisos e cornijas. A torre tem dois registos, o primeiro com pequenos vãos retangulares e o segundo com dupla ventana, de arco peraltado sobre pilastras, com pano de peito rebocado e pintado, rematando em friso, cornija e guarda balaustrada. Quer a sua planimetria, quer a sua fachada, serviu de modelo à Igreja Paroquial de Fajã de Baixo, construída nos arredores de Ponta Delgada, por volta de 1791 (v. IPA.00008223). No interior as paredes são decoradas com estuques pintados de produção oitocentista, formando apainelados de motivos vegetalistas, acantos e florões, incluindo os atributos do orago sobre o arco triunfal, de volta perfeita. Lateralmente, as paredes tês dois registos, tendo no superior tribunas e no inferior uma capela profunda e três à face, com retábulos de linguagem barroca, executados no séc. 19 / 20, e dois púlpitos confrontantes, oitocentistas, de talha em branco, com guarda em balaustrada e elemento plano com atributos do orago, acedidos por porta. Referência para o retábulo de Nossa Senhora das Dores, joanino, o de Pentecostes, de transição do séc. 18 / 19, com tela de Pedro Alexandrino, e o de Santo António, de transição do nacional para o joanino, ainda que revele alterações posteriores. O coro-alto é também oitocentista, de perfil contracurvo sobre colunas, tendo sido executado após a queda do anterior, em 1855. O retábulo-mor, de talha dourada, possui corpo côncavo e um eixo, conservando elementos e a primitiva estrutura em barroco nacional, ainda que revele alterações posteriores, sobretudo nas colunas. Os absidíolos, acedidos pelo transepto, o do Evangelho dedicado ao Santíssimo, com o arco revestido a talha pintada e dourada e com porta de talha em branco, oitocentista, têm retábulos dos séc. 19 / 20, de linguagem barroca. No absidíolo da Epístola existe lavabo barroco, de urna e taça circular gomada, sobre pé galbado.
Número IPA Antigo: PT072103170029
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta poligonal composta por nave com os topos em chanfro, transepto e cabeceira tripartida, com ábside e absidíolos laterais, tendo vários anexos retangulares adossados às fachadas laterais, prolongando-se para a posterior, e torre sineira quadrangular no lado esquerdo. Volumes escalonados com coberturas diferenciadas em telhados de uma, duas ou três, rematadas em beirada dupla. As fachadas são rebocadas e pintadas de branco, percorridas por socos de cantaria, com pilastras nos cunhais, coroadas por pináculos, tipo pera, assentes em plintos paralelepipédicos, rasgadas por vãos retilíneos moldurados e terminadas em friso e cornija ou apenas cornija. A fachada principal surge virada a poente, facetada, rematada por espaldares recortados e volutados, o central contendo nicho, em arco de volta perfeita sobre pilastras estriadas, envolvido por aletas e concheados, contendo imagem do orago sobre mísula, e coroado por cruz latina vazada, em ferro; os laterais são volutados com cartela central, coroada por pináculo tipo pera. O pano central é rasgado por portal de planta convexa, com moldura em almofadas com motivos vegetalistas e concheado, entre pilastras almofadadas e quatro colunas de fuste estriado e terço inferior marcado, sobre consolas e coroadas por pináculos tipo pera. Superiormente abre-se janela entre colunas, de fuste estriado e marcado a meio por anel, sustentando múltiplos frisos e cornijas, coroadas por pináculos, sendo sobreposta por brasão com as armas de Portugal. Nos panos laterais abre-se eixo de vãos, formado por portal entre pilastras sustentando frisos e cornijas, e por janela entre colunas de fuste estriado e marcado por anel central, sobre mísulas, suportando frisos e cornijas coroadas por pináculos; ao centro tem elemento volutado central criando pequeno espaldar; sob as mísulas existem aletas delimitando pano de peito de cantaria. À esquerda, sensivelmente recuada, dispõe-se torre sineira, de dois registos marcados por friso e cornija, o primeiro rasgado por dois pequenos vãos retilíneos desiguais, e o segundo, em cada uma das faces, por duas ventanas, em arco peraltado, sobre pilastras, albergando sino e com pano de peito rebocado e pintado. A estrutura remata em friso, cornija e guarda balaustrada, com acrotérios a meio e nos cunhais, coroados por pináculos piramidais com bola. Na fachada lateral esquerda possui corpo de dois pisos, rasgados por eixo de janelas de peitoril, a inferior de moldura simples e gradeada, e a superior com moldura terminada em cornija e pano de peito de cantaria. No outro corpo abre-se porta com moldura terminada em cornija e janela. A fachada lateral direita tem a nave e capela-mor rasgada por janelas retilíneas e a cornija da primeira ritmada por gárgulas de canhão. O corpo adossado é rasgado por vãos de molduras simples e gradeados. O transepto termina em empena reta e tem janela retilínea. Fachada posterior com a capela-mor e corpo em eixo terminado em empena, e o anexo rasgado por fresta e janela de peitoril, gradeadas, tendo no cunhal cruz latina, decorada com cartela, sobre caveira. INTERIOR com pavimento de madeira e cobertura em falsa abóbada de berço, de topos em quarto de esfera, sobre friso e cornija, ritmada por falsas mísulas com acantos. As paredes e a cobertura são decoradas com estuques pintados a grisaille, rosa e bege, formando apainelados com acantos, encanastrados e elementos fitomórficos, a cobertura tendo lateralmente alto friso, rematado em cornija contracurva, com cartelas, concheados, açafates e acantos; sobre o arco triunfal tem representado os atributos do orago sobre resplendor. Coro-alto de perfil contracurvo, sobre colunas facetadas, de capitéis coríntios, tendo ao centro órgão positivo. No sub-coro, com as paredes pintadas de bege, o portal axial tem guarda-vento envidraçado, e junto aos laterais surgem pias de água benta, em mármore rosa e branco, de taça hemisférica, encimado por nicho, sobreposto por aletas. As paredes laterais possuem dois registos marcados por friso e cornija, o inferior com uma capela profunda inicial e três à face, contendo retábulos de talha pintada e dourada, e o superior com tribunas, de moldura encimada por friso com florão e cornija e guarda em balaustrada. As capelas profundas têm acesso por arco, de volta perfeita, sobre pilastras, de fecho saliente, integrando um outro semelhante, encimado por florão em estuque pintado. A do lado do Evangelho, a Capela Penitencial, contém retábulo de talha e a da Epístola foi interligada com o anexo, formando espaço amplo, fechado por portão em ferro. As capelas à face são dedicadas, no lado do Evangelho, ao Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora de Lourdes, e ao Pentecostes e, no lado da Epístola, a uma Virgem Mártir, a Santo António e a Nossa Senhora de Fátima. Entre as capelas do topo surgem dois púlpitos, confrontantes, de talha em branco, de bacia retangular sobre mísula, com guarda em balaustrada, centrada por elemento plano com os atributos do orago; os púlpitos são acedidos por porta de verga reta, a partir de escada no intradorso dos muros, encimada por espaldar, definido por pilastras com elementos vegetalistas, coroadas por urnas, ornada com pomba do Espírito Santo sobre resplendor, inserida em tondo, envolvido por motivos vegetalistas e volutados, rematando em cornija contracurva. A nave é marcada por teia em U, delimitando as capelas e o cruzeiro. O transepto possui acesso por arco, de volta perfeita, sobre pilastras, de intradorso decorado com friso vegetalista e florões, e as paredes e cobertura em grisaille, formando apainelados, alguns com acantos, de molduras beges; na cobertura existem amplas cartelas formando quadrícula, tendo ao centro resplendor com um Agnus Dei (Evangelho) ou coração inflamado (Epístola). Nos topos possui porta de verga reta, encimada por pequeno espaldar em estuque pintado, e janela, a do lado do Evangelho fingida. Para o transepto comunicam os absidíolos, o do Evangelho, dedicado ao Santíssimo, e o da Epístola a Nossa Senhora do Pranto. Arco triunfal de volta perfeita, sobre pilastras, decorado por elementos vegetalistas e almofadados de acantos, encimado por escudo com as armas de Portugal, em talha dourada. A capela-mor tem cornija dividindo as paredes em dois registos, o inferior com marmoreados fingidos e o superior com apainelados de acantos e outros motivos vegetalistas. À parede encosta-se cadeiral, de talha em branco, com alto espaldar, seccionado por colunas torsas, individualizando os assentos, coroados por urnas sobre o remate, formado por frisos almofadados, cornija e platibanda vazada de elemetnos vegetalistas. Sobre friso com acantos relevados, e cornija, desenvolve-se a cobertura, em falsa abóbada de berço, com largos frisos de acantos a enquadrar falsos caixotões com florões. Sobre supedâneo com acesso central dispõe-se o retábulo-mor, em talha dourada, de corpo côncavo e um eixo, definido por quatro pilastras, e quatro colunas torsas, decoradas de pâmpanos e aves, assentes em consolas e de capitéis coríntios, as quais se prolongam no remate em igual número de arquivoltas, unidas por aduelas no sentido do raio e tendo no fecho cartela com os atributos do orago, envolvida por volutas. Ao centro abre-se tribuna, em arco de volta perfeita, de boca rendilhada, interiormente revestida a apainelados de acantos, separados por cabos, albergando trono, com acantos e volutados. No sotobanco possui apainelados de acantos, o central com resplendor. Altar paralelepipédico com frontal decorado por símbolos eucarísticos tendo ao centro cartela polilobada com resplendor.

Acessos

São Pedro, Rua de São Pedro. WGS84 (graus decimais) lat.: 37,740481; long.: -25,662702

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Resolução do Presidente do Governo Regional n.º 64/1984, JORAA, 1.ª série, n.º 14 de 30 abril 1984

Enquadramento

Urbano, isolado, integrado no Núcleo urbano da cidade de Ponta Delgada (v. IPA.00027985), na zona nascente do mesmo, inserido numa plataforma sobranceira ao mar, adaptada ao declive do terreno e formando adro, que é delimitado por muro, rebocado e pintado de branco e capeado a cantaria. Junto à fachada principal possui escadaria de dois lanços divergentes, que comunicam com transversal até à marginal. A Igreja é enquadrada por várias unidades hoteleiras.

Descrição Complementar

No coro-alto, o órgão positivo tem um castelo central e dois nichos, separados por estípites, sobre mísulas e coroadas por urnas, sendo os nichos simples, em forma de harpa, com os tubos em disposição cromática e com gelosias vazadas, e o castelo com os tubos em disposição diatónica em teto e as gelosias em cortina. O castelo remata em cornija angular, sobreposta por espaldar e atributos do orago entre coroa de louros. Os tubos de palheta dispõem-se em leque e a consola em janela, ladeada pelos botões de registo. No lado do Evangelho, a Capela Penitencial tem falsa abóbada de berço, de estuque, pintada com apainelados, sobre friso e cornija, e alberga retábulo de talha pintada de branco, rosa, azul e dourado, de corpo côncavo e três eixos, definidos por quatro pilastras decoradas com motivos vegetalistas, sobre plintos com florões, as quais se prolongam no remate da estrutura em igual número de arquivoltas, também decoradas com elementos vegetalistas bastante relevadas, sobrepostas por cartela com âncora e seta, envolvida por elementos vegetalistas e concheados. No eixo central, abre-se nicho em arco de volta perfeita, com moldura de flores e boca rendilhada, interiormente percorrido por frisos e contendo imaginária. Nos eixos laterais surgem apainelados com elementos vegetalistas revelados. Sotobanco com almofada contendo motivos vegetalistas e concheados envolvendo cartela. Altar tipo urna tendo no frontal festão, concheados e acantos. A capela do Sagrado Coração de Jesus, em talha pintada de rosa e dourado, possui corpo côncavo e três eixos, definidos por quatro pilastras decoradas com motivos vegetalistas escalonados e concheado no topo, sobre plintos paralelepipédicos com florões, as exteriores sobre dupla ordem de plintos, as quais se prolongam no remate, em igual número de arquivoltas, com elementos vegetalistas, sobrepostas por cartela concheada com coração inflamado. No eixo central abre-se nicho, em arco de volta perfeita, interiormente seccionado por frisos criando finos apainelados com elementos vegetalistas e albergando imaginária sobre banqueta. Nos eixos laterais existem apainelados de motivos vegetalistas encimados por concheados. Sotobanco com apainelado de motivos vegetalistas. Altar tipo urna de frontal decorado. A capela de Nossa Senhora de Lourdes, em talha pintada de azul e dourado, possui arco de volta sobre pilastras, decoradas com acantos, e alberga retábulo de corpo côncavo e um eixo, definido por quatro colunas torsas, decoradas de flores e com o terço inferior espiralado, sobre mísulas, e duas pilastras, dispostas de ângulo, ornadas de acantos sobre plintos de igual decoração. A estrutura remata em frontão de volutas interrompido por ampla cartela com o monograma "ST", envolvida de volutados, e por vieiras. Ao centro abre-se nicho em arco, interiormente pintado de vermelho e albergando imaginária, sobre apainelado de acantos e vieira; sotobanco com apainelado contendo cartela com o monograma "AM" envolvida de acantos. Altar tipo urna com cartela no frontal. A capela de Pentecostes tem arco de volta perfeita sobre pilastras, revestidas a talha pintada de azul e dourado, decorado com acantos e concheados, tendo cartela no fecho. Alberga painel pintado, de perfil curvo, representando o Pentecostes, sobre quatro mísulas e envolvido por friso de acantos. No sotobanco surgem apainelados de acantos, concheados e laçarias, integrando ao centro sacrário com porta de perfil curvo, envidraçada, contendo coroa do Espírito Santo. Altar tipo urna tendo no frontal festões de rosas e cartela central. A primeira capela da Epístola, dedicada a uma Virgem Mártir, em talha pintada de rosa e dourado, possui corpo côncavo e três eixos, definidos por quatro pilastras decoradas com florões e motivos vegetalistas, que no topo têm associados concheados, sobre plintos paralelepipédicos com florões, as exteriores sobre dupla ordem de plintos, as quais se prolongam no remate em igual número de arquivoltas, com elementos vegetalistas e concheados, sobrepostas por cartela concheada com livro e palma. No eixo central abre-se nicho, em arco de volta perfeita, interiormente seccionado por frisos criando finos apainelados e albergando imaginária sobre banqueta. Nos eixos laterais existem apainelados sobrepostos por mísulas sustentando imaginária encimada por baldaquino e florão. No sotobanco têm apainelados de motivos vegetalistas. Altar tipo urna de frontal decorado. A capela de Santo António tem corpo contracurvo e um eixo, definido por seis pilastras, decoradas de acantos, e duas colunas, com aves e pâmpanos, e dois colunelos, sobre consolas, e de capitéis coríntios, que se prolongam no remate da estrutura, em igual número de arquivoltas, unidas por aduelas no sentido do raio, tendo no raio cartela com os atributos do orago. Ao centro abre-se nicho, em arco, interiormente pintado de azul e contendo imaginária, que surge sobre painel com acantos e vieira. Sotobanco contracurvo, rematado em cornija sobreposta de acantos vazados, contendo o monograma "SA" em cartela e acantos laterais. Altar tipo urna tendo cartela no frontal. A capela de Nossa Senhora de Fátima é revestida a talha pintada de azul e e dourado, com arco de volta perfeita sobre pilastras ornadas de acantos e concheados, tendo no fecho cartela concheada com coroa. Interiormente, igualmente revestida a talha, tem nicho em arco de volta perfeita, de duas arquivoltas sobre pilastras decoradas com diferentes motivos vegetalistas e boca rendilhada, contendo imaginária. O nicho assenta em sotobanco, bastante alto, com apainelados de acantos e motivos vegetalistas, e é enquadrado por pilastras decoradas de acantos e concheados, e duas colunas, com espira vegetalista, sobre quartelões, que se prolongam numa arquivolta semelhante. Altar tipo urna com festões e cartela no frontal. O absidíolo do Evangelho tem acesso em arco de volta perfeita sobre pilastras, revestido a talha pintada de branco e dourado, com motivos vegetalistas, encimada por espaldar com motivos fitomórficos e concheados, tendo ao centro cartela com cálice e resplendor, rematando em cornija contracurva sobreposta de acantos. O arco integra portal, de talha em branco, de verga reta, superiormente com friso de acantos vazados, sobre colunas estriadas, de terço inferior marcado e ornado de festões, assentes em plintos paralelepipédicos, com a bandeira vazada, ornada de encanastrados, motivos vegetalistas, aletas e, ao centro, cartela polilobada com cruz e serpente. No interior tem as paredes revestidas a apainelados de talha, pintados a imitar brocado, de molduras pintadas de branco, sobre lambril, apainelados que se repetem na cobertura. Sobre supedâneo, dispõe-se retábulo em talha pintada de rosa, verde, bege e dourado, de corpo contracurvo e três eixos, definidos por quatro colunas, de fuste dividido por anel central, inferiormente estriado e superiormente com perlados, assentes em dupla ordem de plintos paralelepipédicos, ornados de florões e de capitéis coríntios. No eixo central abre-se nicho em arco, interiormente pintado de vermelho e albergando imagem do Crucificado, encimado por parras e cartela inscrita. Nos eixos laterais, surgem apainelados com motivos vegetalistas relevados. Sotobanco contracurvo, integrando sacrário com porta de prata, envolvido por cartelas e acantos. A estrutura remata em frontão interrompido por Agnus Dei sobre glória enquadrados por resplendor, envolvido por arquivolta vegetalista e apainelados côncavos de motivos fitomórficos. As colunas exteriores são coroadas por urnas. Altar paralelepipédico com frontal de tecido. O absidíolo da Epístola possui acesso por arco de volta perfeita sobre pilastras, com intradorso em estuques pintados, a rosa e grisaille, formando padrão fitomórfico com losangos contendo símbolos da Paixão. No interior tem dois amplos nichos laterais, em arco, albergando imaginária. Na parede testeira tem retábulo de talha dourada de corpo reto e três eixos, definidos por quatro colunas torsas, decoradas por pâmpanos e parras, e terço inferior espiralado, assentes em mísulas, exteriormente de dupla ordem, e de capitéis coríntios, as quais se prolongam no remate, em igual número de arquivoltas, unidas por aduelas no sentido do raio. No eixo central possui painel pintado, tendo frontalmente imaginária. No sotobanco tem painéis vegetalistas e, ao centro, maquineta envidraçada. Altar tipo urna com com cartela no frontal. Ao centro do absidíolo existe lavabo em mármore, em forma de urna, gomada, coroada por pináculo e com duas bicas que vertem para taça circular, igualmente gomada, sobre pé galbado assente em base facetada e almofadada.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Angra)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 16 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

CARPINTEIRO: António Martins (1743). ENTALHADOR: Francisco Martins Cortes (1748); Manuel André de Fontes (1766 / 1778); Manuel José de Pontes (1766 / 1778); Manuel Machado (1724-1726); Nicolau Domingues (1659). ORGANEIRO: João Nicolau Ferreira (1858). OURIVES: Nicolau Joaquim Costa (1792). PEDREIRO: André José (1766 / 1778); Custódio João 1766 / 1778); Egídio de Medeiros (1766 / 1778); Gil de Medeiros (1766 / 1778); Inácio de Faria (1766 / 1778); Manuel d'Almeida (1736-1743). Manuel João Pereira (1766 / 1778). PINTORES: Pedro Alexandrino de Carvalho (séc. 18); Roberto Gul ou Gould (1734-1748). PINTOR-DOURADOR: Francisco Álvares (1659); Manuel da Costa de Oliveira (1732). RESTAURADOR: Luís Bernardo Leite de Athaíde (1932).

Cronologia

Séc. 15 - provável edificação de um primitivo templo com invocação de São Pedro; 1521, 21 maio - venda do chão de um granel junto ao adro de São Pedro ao mercador Afonso Anes, o que comprova a existência de um templo; 1523 - Gaspar Frutuoso refere que nesta data terá iniciado a peste em casa de um João Afonso Seco, de alcunha, que morava junto à igreja de São Pedro, e dali se ateou na vila; 1544, 09 julho - testamento do escudeiro Francisco Fernandes e de sua mulher Maria Fernandes, indicando querer ser sepultados no jazigo que possuíam "junto ao cruzeiro de S. Pedro"; 1580, década - está em construção uma nova igreja de São Pedro no local da anterior, "melhor e de naves"; 1592, 03 outubro - alvará de D. Filipe I autoriza finta de 200$000 anuais, por três anos, para se acabarem as obras; pelo documento percebe-se que ainda não estava pronta a capela-mor e essa não tinha retábulo; séc. 17, início - arrematação da obra da capela-mor, que deveria terminar um ano depois; 1601, 17 outubro - ainda não está concluída a capela-mor, apesar dos empreiteiros terem recebido quase todo o dinheiro do seu custo; aliás, a capela-mor nunca foi concluída e a igreja foi-se deteriorando; 1610 - Francisco Teixeira começa a fazer o retábulo, mas acaba por falecer; Nicolau Domingues forra o frontispício da igreja e o seu corpo; 1636, antes - a igreja está em grande ruína, ameaçando cair, e incapaz para o culto, quando o licenciado Pe. António de Morais, Ouvidor Eclesiástico e Juiz dos Resíduos de São Miguel, é nomeado vigário pelo bispo D. António da Ressurreição; 1642, abril - 1645, junho - procede-se à reconstrução da igreja por iniciativa daquele vigário, com finta dos paroquianos autorizada por D. João IV a pedido do padre; a Câmara dá 50$000 para as obras; a paróquia funciona no Convento da Graça; 1643 - data gravada no sino, o qual ainda recentemente existia na sua torre, oferta do rei João IV de Portugal tendo também contribuído para os trabalhos com importantes donativos; 1645, 25 junho - concluída a obra, procede-se à bênção da igreja e adro, que de novo se demarca pelo lado norte, ficando maior do que o anterior; traz-se o Santíssimo da Igreja da Graça, onde esteve depositado durante alguns meses, sendo colocado na capela-mor, visto que ainda não estava terminada a capela própria, construída a expensas de Manuel da Costa e seus herdeiros, que a dotaram de "ornamentos muito ricos", nomeadamente um grande lampadário de prata, com a condição de nela terem sepultura; além desta capela e da capela-mor, a igreja tem também a capela de Nossa Senhora do Pranto, feita à custa do vigário e de alguns bens da igreja, de madeira e pedra, com imagem de vulto e retábulo de talha com painéis, ainda por dourar em 1649; tal como no templo anterior, a igreja continua a ter os altares de Santa Catarina, mas com retábulo novo e ainda não dourado, e o de São Tiago, com retábulo novo já pronto, feito à custa da respetiva Irmandade; 1659, antes - estava concluída a torre, a qual tinha três sinos, dois dos quais adquiridos de novo; aquisição de novos paramentos e alfaias, incluindo objetos de prata e prata dourada; 1659 - o retábulo-mor ainda não está dourado; o trabalho foi inicialmente dado ao imaginário Francisco Teixeira, mas é executado por Nicolau Domingues, e dourado por Francisco Álvares, a quem são pagos 140$000; segundo os documentos, o retábulo tinha um nicho com imagem de São Pedro, por cima da qual se distribuíam painéis com representações dos quatro Evangelistas e de São Paulo; 1681 - parte da igreja e a torre estão arruinadas; 1707 - reparação da abóbada da capela-mor e telhado da sacristia, pagando-se $450 aos oficiais e serventes; 1710 - 1716, entre - despesa de 8$740 com os pedreiros em cobrir a capela-mor de telha e em fazer as paredes, e 9$440 por 89 dias dos serventes que andaram na obra; 1712, 08 junho - adjudicação do douramento do retábulo-mor por Pedro de Oliveira, por 128$000; 1716 - gasta-se na capela-mor em obra de talha 1.172$000; 1724, 12 junho - pagamento de 183$333 ao entalhador Manuel Machado com que se acertou a importância do segundo quartel do retábulo-mor; 1726, 9 outubro - pagamento ao mesmo do último quartel do retábulo-mor, 483$333, com quitação do mestre; 1732 - douramento da obra de talha da capela-mor, por 2.400$000; 22 dezembro - pagamento a Manuel da Costa de Oliveira, dourador, do primeiro quartel do douramento para a igreja; 1734 - pagamento de 139$000 pelo cadeirado da capela-mor e 244$000 com os carpinteiros; pagamento de 51$350 a João de Cimar Camelo de metade da arrematação que fez do azulejo; 05 julho - pagamento a Roberto Gul ou Gould da pintura da capela-mor e sacristia; 1736 - pagamento de 12$000 ao pedreiro Manuel d'Almeida por tapar o arco da capela-mor; 1737, maio - demolição de parte da igreja para reconstrução e construção de um amplo salão a Sul e o prolongamento da sacristia-mor; pagamento de 1$000 ao pedreiro Manuel d'Almeida no conserto da capela-mor e outras despesas com materiais e mestres; 1738 - colocação da imagem de São Pedro na capela-mor; as obras do corpo da igreja prolongam-se por vários anos; 1739, 30 junho - pagamento ao dourador Manuel da Costa de Oliveira de 600$000 relativo ao último quartel do douramento do retábulo-mor; 1739 - 1742 - pela fábrica maior da igreja o vigário gasta com mestres e materiais diversos mais de 50$000; 1743 - pagamento do último quartel dos trabalhos de pedreiros e carpinteiros do corpo da igreja, respetivamente 1.266$000 e 210$266; o primeiro oficial de pedreiro tinha apelido Almeida e o carpinteiro era António Martins; 1748, 18 julho - pagamento de 100$000 a Francisco Martins Cortes do primeiro quartel da obra do entalhador que arrematou o arco e frontispício da capela-mor; no mesmo mês paga-se ainda 200$00 do segundo e terceiro quartel; 12 agosto - pagamento de 129$333 a Roberto Gul do último quartel da obra de pintura do teto da capela-mor e sacristia; 1750, cerca - provável conclusão das obras da igreja; 1766 / 1778, entre - colocação de um órgão novo adquirido com dinheiro da Fazenda Real no total de 100$000; no novo órgão trabalham como entalhadores seis dias Manuel André de Fontes (9$600) e Manuel José de Pontes (11$400); 1773, 13 março - ordena-se nova reconstrução da igreja, por estar totalmente arruinada, por ser muito antiga e ter as paredes de pedra e barro que, por estarem todas abertas, se achavam também as madeiras do teto fora do seu lugar; também porque "ser o corpo della muito disforme, com a capella-mór, que se achava boa, muito pequena"; o vigário João de Sousa Vasconcelos comunica ao Conselho da Fazenda Real a ameaça da "total ruína" e solicita a D. João V autorização para "mandar-lhe fazer o corpo de sua igreja..." à custa daquela Fazenda; o Marquês do Alegrete, em nome do rei, responde ordenando ao Procurador da Fazenda das Ilhas dos Açores que acudisse "prontamente à re-edificação do corpo da ditta igreja fazendo-se com proporção a capella mór e sanchristia para ficar tudo servido"; ordena também que se proceda de imediato aos estudos necessários para a obra de pedra e carpintaria, que deveria ser posta em arrematação com a maior economia possível, obrigando-se os mestres a utilizarem na reconstrução "todos os materiais da igreja velha que poderem ainda ter serventia", o que lhes seria descontado; as despesas das obras correriam pelas sobras da Feitoria e Alfândega da ilha de São Miguel; séc. 18, final - pintura de um Pentecostes por Pedro Alexandrino de Carvalho; 1792 - encomenda ao ourives Nicolau Joaquim Costa de um cálice de preta, mandado posteriormente dourar em Lisboa pelo vigário João Bento Pacheco d'Andrade; 1832 - o Duque de Bragança, D. Pedro IV, ali assistiu a várias missas; 1855, 17 julho - ruiu o coro, por ser velho e não suportar o peso das pessoas; 1858 - execução do órgão por João Nicolau Ferreira, o seu n.º 2; 1895, 15 março - Igreja passa a categoria de Capela Real; 1901, 7 julho - o Rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia assistiram a uma missa.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura rebocada e pintada; socos, frisos, cornijas, pilastras, colunas, elementos decorativos no exterior, molduras dos vãos e pináculos em cantaria de basalto aparente; portas e caixilharias em madeira pintada; grades e cruz da frontaria em ferro; vidros simples; decoração em estuques pintados ou relevados; retábulos de talha pintada e dourada; guarda do coro-alto, púlpitos, teia e porta do Santíssimo de talha em branco; pias de água benta e lavabo em mármore; pavimento de madeira; cobertura de telha.

Bibliografia

ATAÍDE, Luís Bernardo Leite de - Etnografia Arte e Vida Antiga dos Açores. S.l.: Presidência do Governo; Direcção Regional da Cultura, 2011, vol. 2; ATAÍDE, Luis Bernardo Leite de - Revista Insulana. Ponta Delgada: Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1950, vol. 4; MENDES, Hélder Fonseca (dir.) - Igrejas paroquiais dos Açores. Angra do Heroísmo: Boletim Eclesiástico dos Açores, 2011; ROSA, Teresa Maria Rodrigues da Fonseca - O Convento de São Gonçalo em Angra do Heroísmo. Contributos para o Estudo da Arte Religiosa Açoriana. Dissertação de Tese de Mestrado em História da Arte na Universidade Lusíada, 1998; SOUSA, Nestor - A Arquitectura Religiosa de Ponta Delgada nos séculos XVI a XVII. Ponta Delgada: Universidade dos Açores, 1986; VALENÇA, Manuel - A Arte Organística em Portugal. Braga: 1990, vol. 2.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1754 / 1755 / 1756 - conserto das cadeiras do coro, e despesa com madeiras e feitio por $370; 1764 - vigário gasta $300 em cal para um losango de azulejos que caíram na capela; 1780 / 1785, entre - despesa de $150 para fixar uns tijolos na capela-mor para acabar o azulejo, $640 de rebocar as cimalhas da capela-mor que deixavam meter água no retábulo e de retelhar a sacristia, onde andou um pedreiro, pago a $200, e dois serventes; 1799 / 1801, entre - pagamento de $380 para tintas e pintor que reformou os frisos e degraus do altar-mor; 1766 / 1778 - trabalham na igreja os pedreiros Manuel João Pereira, três dias, por $720, André José, quatro dias, por $560, Gil de Medeiros, dois dias, por $320, Custódio João, quatro dias, por $360, Inácio de Faria, seis dias, por $840, e Egídio de Medeiros, um dia, por $160; séc. 20 - alteração da escada do adro; 1909 - restauro do quadro do Pentecostes por Constâncio Gabriel da Silva; 1932 - restauro de algumas peças do retábulo por Luís Bernardo Leite De Athaíde.

Observações

Autor e Data

Paula Noé 2013 / Paula Noé 2016

Actualização

João Faria 2014 (no âmbito da parceria IHRU / Diocese de Angra)
 
 
 
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