Palacete Iglésias / Edifício no Largo da Academia Nacional de Belas Artes, n.º 2

IPA.00007743
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Palacete neoclássico de planta composta por L e corpo rectangular desenvolvido. Fachadas, com número de andares diferenciado, rebocadas e pintadas com embasamento, remates, pilastras, frisos e balaustrada em cantaria. Fachada principal e fachada esquerda voltadas á rua e fachada posterior aberta para pátio rodeado por muro onde originalmente se encontrava um jardim de recreio. Tratamento simétrico das fachadas, com grande contenção decorativa, limitando-se ao tratamento dos portais, á utilização de balaustrada sobre a cornija e á marcação do piso nobre através de vãos de sacada rematados com cornija e introdução de varandas. Tudo características da produção do arquitecto Giuseppe Cinatti nos finais da década de 1850, exceptuando as concessões a uma linguagem arquitectónica de genealogia lisboeta no que toca á importância consagrada ao portal principal e á extrema contenção decorativa de parco recurso ás ordens clássicas. Resultando numa solução arquitectónica de compromisso entre o peso da tradição construtiva nacional e a formação mais actualizada, segundo parâmetros europeus, do arquitecto, situação comum no nosso panorama construtivo.
Número IPA Antigo: PT031106200471
 
Registo visualizado 494 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

Palácio de planta irregular composta de L e corpo rectangular desenvolvido anexado em parte da fachada posterior, massa rectangular cujo desenvolvimento acompanha o forte declive do terreno. Apresenta cobertura diferenciada de telhados, de telha de canudo, de perfil recto de 2 e 3 águas, abrindo-se duas clarabóias rectangulares, e terraço. Com pátio fechado por muro de perímetro rectangular anexo á fachada posterior, com abertura para passagem de serviço que liga a fachada principal a dependências traseiras. As fachadas, de pisos diferenciados, são rebocadas e pintadas, com embasamento, frisos, remates e pilastras em cantaria simples de calcário. O rasgamento de vãos é regular, com molduras rectas de cantaria, e correspondente entre pisos. Dominam as janelas de peitoril, exceptuando no piso nobre onde se rasgam janelas de sacada rematadas por cornija ligeiramente sobrelevada e guarda de ferro forjado. A fachada principal voltada a E. desenvolve-se em sentido descendente acompanhando o terreno, o que dita a existência de três pisos na metade N. e de quatro da metade S., desequilíbrio contrabalançado pela simetria de conjunto e pela inserção de friso corrido ao nível do segundo piso, que também marca a localização do andar nobre. Organiza-se em cinco panos, divididos por pilastras adoçadas, e rematados por friso e cornija saliente, a qual avança ao nível dos panos central e exteriores, e sobrepujada por balaustrada em pedra com urnas e fogaréus nos prumos. No pano central o revestimento a cantaria ocupa todo o primeiro piso onde se rasga o portal principal emoldurado por pilastras simples de capitel saliente, sobre as quais arranca arco pleno, com pedra de fecho marcada, rematado por cornija recta sobrelevada. O portal é ladeado por duas janelas de peitoril de verga recta e duas tabelas com grinaldas e botões ao nível do remate. Ao nível do segundo piso, abre-se varanda de pedra, de desenho côncavo ao centro, suportada por modilhões e com guarda em ferro, abarcando o conjunto das três janelas de sacada centrais. No terceiro piso rasgam-se apenas três janelas de peitoril de perfil recto. Os panos intermédios são simétricos, com excepção das quatro pequenas janelas de peitoril, de moldura recta e guarda de ferro, que se abrem ao nível do embasamento apenas no pano esquerdo e não no direito por imperativos do terreno. O restante rasgamento de vãos é idêntico com quatro janelas de peitoril no primeiro e terceiro pisos e quatro janelas de sacada no piso nobre. Os panos exteriores apresentam revestimento em cantaria até ao nível do friso corrido que acompanha toda a fachada, cuja diferente altura impôs tratamento distinto, mas apenas até esse nível. Desta forma no pano exterior esquerdo abre-se vão cego, de segmento recto, com duas mísulas decorativas no remate superior, sobre o qual se rasga em arco pleno com fecho marcado, assente em pilastras simples de capitel saliente, vão de sacada com remate ligeiramente abatido e guarda de ferro forjado. Ao nível do andar nobre rasga-se janela de varandim em ferro forjado, suportada por modilhões, com moldura recta e rematada por cornija sobrelevada, enquanto que no último piso se abre janela de peitoril. No pano exterior direito rasga-se portão em ferro forjado com moldura em cantaria composta por pilastras simples de cornija saliente, e arco de volta plena com fecho marcado, que funciona como entrada de serviço e dá acesso ao pátio e dependências traseiras. O restante esquema é simétrico ao pano exterior esquerdo. A fachada lateral esquerda, voltada a S. divide-se em quatro pisos, sendo o embasamento e o primeiro piso revestidos a cantaria simples e os restantes caiados e pintados, apresentando friso corrido em cantaria ao nível do terceiro piso, pilastras ligeiramente salientes nos cunhais e remate composto por friso e cornija, sobrepujada por balaustrada. Ao centro do primeiro piso abre-se portal, que segue o esquema do portal principal, ladeado de janelas de peitoril de moldura recta e tabelas com grinaldas e botões. De ambos os lados do portal abrem-se duas portas elevadas, de moldura recta, ás quais se sobrepõem sobrelojas de remate levemente abatido e guarda de ferro. O segundo e o quarto pisos são desprovidos de decoração, rasgando-se apenas sete janelas de peitoril correspondentes, de moldura recta. O terceiro piso, correspondente ao piso nobre, conta com os mesmos sete vãos, mas desta feita de sacada, com moldura recta e remate com cornija sobrelevada, dispondo de varanda corrida, de desenho idêntico á da fachada principal, abarcando os três vãos centrais. A fachada lateral direita do L que compõe a planta é completamente cega, sem remates laterais ou superiores. A fachada lateral direita do corpo rectangular, que se anexa na sequência do segundo pano murário da fachada principal, é rasgada regularmente por cinco vãos de peitoril, de moldura recta correspondentes ao longo dos três pisos, apesar de desprovida de remates laterais, apresenta remate superior com cornija e platibanda. Na fachada posterior do corpo em L é apenas visível um pano murário, o qual ao nível do primeiro piso é atravessado por passagem de serviço com cobertura em arco de volta perfeita, com motivos decorativos geométricos e florais em estuque, e embasamento em cantaria, cuja passagem posterior é feita por vão emoldurado por pilastras simples, nas quais assenta arco pleno com marcação á face do fecho. Ao centro da passagem abrem-se igualmente dois vãos, de acesso ao palácio, de moldura recta. Seguem-se dois andares, onde se rasgam duas janelas de peitoril correspondentes. Acima do nível da cornija há continuação do muro, onde se abre janelão dissonante do restante conjunto, não dispondo de remate superior. A fachada posterior, ao nível do corpo rectangular desenvolvido, divide-se em três pisos, com pilastras de cantaria nos extremos e remate composto por cornija e platibanda alta. No primeiro piso abrem-se quatro janelas de peitoril de moldura recta. O segundo piso, correspondente ao piso nobre, conta com uma série de sete portas de moldura recta que abrem para varandim corrido de pedra, suportado por modilhões, e com guarda de ferro forjado, o qual dá acesso ao pátio através de escada colocada do lado direito, enquanto que do lado esquerdo o varandim continua acompanhando todo o perímetro do largo muro que define o espaço do pátio. No terceiro piso rasgam-se sete portas correspondentes, que abrem também para varandim corrido, de desenho semelhante ao anterior.

Acessos

Largo da Academia Nacional de Belas Artes, n.º 2; Rua Vitor Cordon n.º 2 a 6

Protecção

Incluído na classificação da Lisboa Pombalina (v. IPA.00005966) / Parcialmente incluído na Zona de Proteção do Convento de São Francisco da Cidade (v. IPA.00004020)

Enquadramento

Urbano. Inserido na malha urbana, em zona de forte declive. Fachadas principal e lateral esquerda voltadas para Lg. da Academia Nacional e R. Vítor Cordon, respectivamente. Fachada lateral N. ladeada pela Faculdade de Belas Artes, com divisão por saguão. Fachada posterior aberta para pátio quadrangular, ocupado por parque de estacionamento dos utentes do palacete*1, definido por muro largo, sobrepujado por guarda em ferro forjado, onde se rasgam irregularmente portas e janelas de peitoril. Por detrás do pátio define-se a área de logradouro, que se estende até á R. Serpa Pinto, onde se articulam uma série de anexos e dependências de apoio e serviço. Fronteiro ao antigo convento de S. Francisco da Cidade (v. PT031106200163), ao palacete Bessone (v. PT031106200279) e ao palacete Pereira Costa (v. PT031106200595

Descrição Complementar

"É hoje quase impossível conhecer o modo como se articulava a distribuição destes espaços [do interior do palacete], já que não chegaram quaisquer plantas do projecto aos nossos dias e o edifício se encontre actualmente bastante adulterado, pela adaptação total dos interiores para instalação de um serviço público. Mantiveram-se contudo duas escadarias de acesso aos pisos superiores. A que corresponde às entradas da rua Victor Cordon, por onde se fazia o acesso ás cocheiras e cavalariças, tem um aspecto modesto, que condiz com a sua utilização para serviços. A escadaria principal sobressai pela boa iluminação que lhe é proporcionada através de uma clarabóia e, também, pela qualidade das madeiras da decoração. A ela se acede depois de passar um vestíbulo fechado, de pé direito muito elevado, e onde se podem observar alguns pormenores decorativos originais, como a pintura em trompe l'oeil do tecto sugerindo o relevo do estuque, solução ornamental adequada a quem não podia suportar os elevados gastos que a luxuosa aplicação dos estuques envolvia." (LEAL, 1996, pág. 173/4).

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Política e administrativa: ministério / Política e administrativa: direção-geral

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Giuseppe Luigi Cinatti (1859-1862). CONSTRUTOR: Francisco Martins Ruas (1956-1959), J. Andrade Raposo Lda. (1980-1981). ELECTRICISTA: Orlando e Almeida Lda. (1979-1982).

Cronologia

1857, Outubro - José e Manuel Iglésias herdam, de seu tio o negociante João Iglésias, larga fortuna e bens, entre os quais uma propriedade nos limites da cerca do extinto convento de S. Francisco da Cidade; 1858 - demolição dos restos da fachada da igreja do extinto Convento de São Francisco*3 no terreno da família Iglésias, os quais num primeiro plano integrariam o palacete a construir; 1858, Maio - o Ministro dos Negócios do Reino determina que sejam demarcados correcta e definitivamente os limites dos terrenos da família Iglésias, de forma a evitar conflitos com a propriedade vizinha da Academia Nacional de Belas-Artes; 1859 - aprovação do risco do palácio Iglésias, da autoria do arquitecto Giuseppe Luigi Cinatti (1808-1879), e início de construção; 1862, Setembro - aprovado risco de ampliação do palácio em construção; 1936 - a Direcção-Geral de Serviços Pecuários arrenda o terceiro andar para instalação da sua sede; 1969, Março - na sequência de tremor de terra são apeados faulhéus ornamentais da platibanda, pelos serviços técnicos do Batalhão de Sapadores dos Bombeiros; 1970, 3 Junho - vistoria declara o edifício em mau estado; 1971, 11 Janeiro - é realizada a escritura da venda do imóvel ao Ministério da Economia por D. Maria da Graça Iglésias Viana Roquete e D. Maria Helena Iglesias Viana; 1971, 29 Junho - é transmitido pela Direcção-Geral dos Serviços Pecuários á Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais parecer da vistoria realizada pelos serviços camarários a fim de se proceder às reparações necessárias; 1973 - projecto para obras de beneficiação e adaptação do palacete; 1976, Fevereiro - foram encontradas, na sequência de escavações, ossadas e sepulturas que devem relacionar-se com a necrópole da antiga Igreja dos Mártires, situação que atrasou o curso das obras; 1977, Setembro - obras no corpos do edifício voltado á R. Victor Cordon encontram-se em fase de acabamentos; 1978, 10 Agosto - segunda fase do projecto de remodelação e conservação do palacete; 1999, 13 Setembro - elaboração da Carta de Risco do imóvel pela DGEMN.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante

Materiais

Estrutura de alvenaria mista rebocada e pintada; embasamento, remates, pilastras, molduras de vãos e balcões em cantaria de calcário; guardas e varandins em ferro forjado; estuque relevado no interior da passagem de serviço da fachada principal.

Bibliografia

FRANÇA, José-Augusto, A Arte em Portugal no século XIX, Lisboa, Bertrand, 1981; LEAL, Joana da Cunha, Giuseppe Cinatti (1808-1879), Percurso e Obra (dissertação de mestrado), Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, 1996.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DREL, DGEMN/DREL/DIE, DGEMN/DREL/DRC

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco, DGEMN/DESA

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco, DGEMN/DREL; CML: Arquivo intermédio

Intervenção Realizada

DGEMN: 1936 - alterações para instalação da sede da Direcção-Geral de Serviços Pecuários no terceiro andar; 1971 - pequenas reparações na cobertura; 1973, Maio - reparação geral do telhado; reparação e estuque de tectos; 1973, Outubro - reparação de tectos e estuques, beneficiação da instalação eléctrica; 1976 - benefeciação e reparações interiores, trabalhos de impermeabilização; 1978 - início da 2ª fase de obras, que contemplava consolidação de fundações e estrutura, demolição de paredes, tectos e chaminé, beneficiação de coberturas, construção de paredes e tectos, colocação e/ou beneficiação de pavimentos, revestimentos de paredes e tectos, reparação e restauro de estuques e cantarias, reparação de portas interiores e exteriores, reparação de guardas, sacadas, varandas e portões em ferro forjado, renovação de rede de águas e esgotos, beneficiação e restauro da balaustrada, guarnecimento e reparação do revestimento das fachadas; 1979 - segunda fase das obras de instalações eléctricas, com instalação de posto de transformação; 1981, Maio - alterações ao projecto nas divisórias do último piso; 1982 - terceira fase das obras de instalação eléctrica; beneficiação dos muros e fachadas dos anexos situados no logradouro; 1983 - medidas contra incêndios; 1984, Novembro - montagem de dois elevadores; 1991, Maio - remodelação de quadros eléctricos; Proprietários: 1936 - limpeza e reparações interiores e exteriores, reparação de canos de esgoto; 1938 - obras de alteração de interiores: transformação de uma janela no segundo piso e forragem a azulejo da cozinha e casa de banho; arranjo de tectos e soalhos; pintura de protões, portas e alisares; 1939 - reparações e pinturas interiores em paredes, portas, tetos e pavimentos; 1940 - obras de limpeza exteriores; 1946, Setembro - obras de limpeza, caiação e pintura de paredes e tecto no interior do R/C dos nº 6 e 6ª; 1949, Março - obras de limpeza e beneficiação exterior; 1957, Julho - pintura de portas da entrada; 1967, Julho - reparação no ascensor; 1969, Março - são apeados faulhéus ornamentais da platibanda.

Observações

*1 - onde originalmente fora o jardim de recreio do palacete, permanecendo apenas uma palmeira.*2 - no entanto tinha já sido retirado o conjunto monumental de seis colunas jónicas, para ser reintegrado no peristilo do Teatro D. Maria II.

Autor e Data

Inês Pais 2006

Actualização

 
 
 
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