Royal Cine

IPA.00007736
Portugal, Lisboa, Lisboa, São Vicente
 
Arquitectura cultural e recreativa, ecléctica. Cinema de bairro cuja fachada apresenta um desenho de características monumentalizantes, similar à frontaria do edifício de A Voz do Operário (PT031106510272), igualmente da autoria de Norte Júnior, embora o Royal Cine seja de escala muito mais reduzida. Na prática ecléctica caracterizadora do trabalho deste arquitecto, o Royal Cine denota a aplicação de elementos colhidos na linguagem Arte Nova, especialmente visível na decoração. A primeira sala da capital a projectar filmes sonoros.
Número IPA Antigo: PT031106160569
 
Registo visualizado 1582 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Cultural e recreativo  Casa de espetáculos  Cinema  

Descrição

Planta regular, composta por dois rectângulos, correspondentes um - o mais estreito -, ao átrio e escadas de acesso ao piso superior, o outro - mais largo e com construções adossadas ao alçado N.-, à antiga sala de cinema, hoje um espaço comercial. Coberturas diferenciadas em telhados de duas águas. Fachada principal virada a E.: envasamento de pedra, seguido de reboco pintado, recorrendo-se à diferenciação textural e policromática para acentuar a decoração em múltiplos pormenores. No essencial, a frontaria é enquadrada por um grande arco abatido no seio do qual duas colunas estriadas com capitéis decorados sustentam um frontão desenhado e ornamentado com molduras de linhas rectas que se recortam ou ligeiramente se abatem ao centro. Os vãos criados por esta estrutura são preenchidos por uma caixilharia de ferro e vidro colorido: as das portas (3) que franqueiam a entrada, vagamente reentrante, no edifício, e o do vão que preenche o espaço entre o arco e o frontão, aproveitado ainda pelo arquitecto para no prolongamento das colunas utilizar como motivo ornamental duas carrancas figurando a Tragédia e a Comédia. Visto do interior, em contra-luz, semelhante concepção propicia forte efeito estético, acentuado pela simplificação das linhas que definem a fachada, bem como pelo desenho geométrico das caixilharias. O alçado principal exibe por fim um remate concebido a partir de umas "pilastras" com decoração geométrica, nos ângulos do edifício, e uma cornija que as une, com motivos ornamentais idênticos, interrompida para um frontão recortado se elevar acima da empena: nova decoração, agora floral, aqui é adicionada, recebendo ainda sobre ela uma estrela a sobrepujar o conjunto e calculadamente alinhada com o bico do frontão da entrada que mostra no tímpano uma lira. INTERIOR - duas zonas distintas podem ser consideradas: o espaço correlativo à antiga sala de espectáculos, cujo interior foi demolido para dar lugar a uma superfície comercial de média dimensão, recentemente readaptada às exigências e modelo comuns à cadeia de supermercados Pingo Doce; e um outro espaço, concebido como zona de circulação e encontro, correspondente ao átrio, onde se localizam também as escadas que permitem subir ao pavimento superior: esta parte, poupada aquando das obras de conversão do cinema a supermercado, mantém a estrutura e decoração primitivas. O átrio é continuado por uma zona de acesso ao interior do edifício, ao fundo da qual se encontram as escadas, localizadas lateralmente, que permitem aceder ao segundo pavimento. O pé direito do átrio decresce aqui em virtude do piso superior se estender para este corpo do edifício: em consequência desta organização espacial, forma-se uma espécie de corredor, recebendo a superfície aberta ao átrio, e em oposição à entrada, uma fenestração tripartida, com linhas de composição e decoração similares à fachada (se observada do interior) e com ela harmonizadas. A madeira, também utilizada nas escadas, o vidro e as decorações florais nas paredes estucadas, conferem, sobretudo em ambiente nocturno, tom de requinte similar ao inspirado pela arquitectura da fachada. Um relógio esmaltado, contendo dentro da circunferência interior a designação Royal Cine, além da estrela, de modo emblemático aqui aplicada de novo, constituem a memória materialmente residual do antigo cinematógrafo.

Acessos

Rua da Graça, n.º 106

Protecção

Incluído no Bairro Estrela de Ouro (v. IPA.00005965)

Enquadramento

Urbano, adossado. O imóvel insere-se numa área histórica central da cidade (*) e está localizado na artéria que do Lg. de Sapadores desce para o Lg. da Graça, um dos acessos principais ao Bairro com o mesmo nome. A rua é continuada pela da Voz do Operário, que desemboca no Lg. de S. Vicente. Nos quarteirões a O., E. e S. encontram-se as vilas, a testemunhar a vivência operária do bairro a partir do início do séc. 20, tais como: o Bairro Estrela de Ouro ( v. PT031106160223 ), a Vila Berta ( v. PT031106160198 ) e a Vila Sousa ( v. PT031106160308 ). Ainda dentro deste universo cultural e social há a destacar o edifício de A Voz do Operário ( v. PT031106510272 ). Pelo impacto urbanístico necessariamente relacionado com a evolução do tecido urbano da zona, em particular neste século, são de assinalar a Igreja e Convento da Graça ( v. PT031106160053 ) e muito mais a S. a Igreja de São Vicente ( v. PT031106510272 ). O antigo Royal Cine levanta-se numa artéria estreita e de traçado irregular, sobre um lote de configuração rectangular, constituindo, a par dos prédios de arquitectura vernacular e cércea ligeiramente inferior que o flaqueiam, parte da frente urbana do Bairro Estrela de Ouro, desenvolvido nos terrenos a tardoz. O antigo cinema, fruto da reduzida perspectiva visual propiciada pelo traçado da artéria e pela obediência da construção à escala dos edifícios circundantes, quase só se distingue pela sua composição arquitectónica, de características eruditas. Além do mais, do exterior apenas se vislumbra a fachada alinhada com a rua, sumindo-se no interior do quarteirão, sem qualquer outra perspectiva visual, o edifício do antigo cinema.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Cultural e recreativa: cinema

Utilização Actual

Comercial: loja

Propriedade

Afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Manuel Joaquim Norte Júnior (1928).

Cronologia

1908 - o industrial Agapito da Serra Fernandes toma a iniciativa da construção do bairro operário Estrela de Ouro, à Graça, onde vem inclusivamente a fixar residência na vivenda Rosalina, habitação localizada neste mesmo bairro, edificado sob o risco do arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962); 1928 - desenvolvendo actividade no âmbito da indústria da alimentação, Serra Fernandes envolver-se-ia ainda em outros empreendimentos de natureza comercial, de que a constituição da Empresa Royal Cine Lda. é exemplo: aos restaurantes que já possuía, juntará agora um cinema, para tanto entregando ao arquitecto Norte Júnior a tarefa de conceber uma sala a ser construída "no seu bairro"; 1929 - o Cine Royal, exibindo na fachada o "selo" do seu proprietário - a famosa estrela que insistentemente se reproduz nos painéis azulejares e na calçada do bairro Estrela de Ouro - é inaugurado no Natal como cinema de estreia, programa usualmente circunscrito às salas do centro da capital: oferecia ao público uma sala com espaço para orquestra e com capacidade para 900 lugares, contando com 1ª e 2ª plateias e um balcão a descrever um "U", localizando-se os camarotes lateralmente; 1930 - a 5 de Abril é exibido o filme Sombras Brancas nos Mares do Sul, de Van Dyke, apresentado pela Metro-Goldwin-Mayer, deste modo estreando o Cine Royal o seu equipamento sonoro com aparelhos da Western Electric, o primeiro da cidade a dispôr de semelhante inovação, devidamente distinguido e premiado com a presença do Presidente da República que à sessão inaugural assistiu; 1980 (década) - adaptação a supermercado, o que implica demolições, restando hoje do antigo edifício apenas a fachada e o átrio da entrada; 1990 / 1995 - o projecto de "arranjo da envolvente do Largo de Sapadores" (PDM), numa intervenção que se estende para o quarteirão S., propõe e recomenda a reabertura do cinema Royal (ver A Estratégia e a Prática ..., p. 209).

Dados Técnicos

Materiais

Bibliografia

RIBEIRO, Felix, Os Mais Antigos Cinemas de Lisboa (1896-1939), Lisboa, 1978; Guia Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa, Lisboa, 1987; PAIXÃO, Maria da Conceição Ludovice, Norte Júnior, Obra Arquitectónica, Lisboa, 1989; CALADO, Maria e FERREIRA, Vítor Matias, Lisboa. Freguesia da Graça, Lisboa, 1991; JANEIRO, M. Lurdes e FERNANDES, José Manuel, Arquitectura Modernista em Lisboa, 1925-1940, Lisboa, 1991; FERNANDES, José Manuel, Arquitectura Modernista em Portugal, Lisboa, 1993; PELAYO, Jorge, Cinemas, in Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994; FERNANDES, José Manuel, Cinemas de Portugal, Lisboa, 1995; PDM - Plano Director Municipal, Lisboa, 1995; A Estratégia e a Prática do Planeamento Urbanístico em Lisboa 1990-1995, Lisboa, 1995

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CML: Arquivo Fotográfico

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

* Isto, segundo o PDM, no que respeita à "Classificação do Espaço Urbano", porque quanto à definição das "Unidades Operativas de Planeamento" aparece considerada como área histórica habitacional. O perímetro desta mancha urbana define-se a O. da Baixa e Martim Moniz, a NO. da Av. Almirante Reis, tendo a S.-SE. o rio e a E. uma linha de contorno menos preciso que passa pela Rua de Sapadores e Bairro das Colónias. ** Em virtude do Proc. de Obras se encontrar em restauro no Arquivo da CML, ele não pode ser consultado, aguardando-se que fique disponível para ser por nós trabalhado. Assim, na elaboração desta ficha, utilizámos a documentação gráfica inserta na tese de PAIXÃO, 1989, bem como plantas do cinema publicadas em outras obras (RIBEIRO, 1978, entre outras). As diferenças registadas entre os diversos documentos, uma vez que PAIXÃO dá a conhecer o projecto inicial (alçado e plantas do 1º e 2º pavimentos), leva-nos a supor o efifício ter conhecido, até a adaptação a supermercado, uma ou mais intervenções.

Autor e Data

Filomena Bandeira 1999

Actualização

 
 
 
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