Leal Senado de Macau / Instituto dos Assuntos Cívico e Municipais

IPA.00007712
China, Macau RAE, Macau, Macau
 
Câmara municipal neoclássica. Edifício que não se inscreve num tipo de arquitectura de simbiose, antes na mais clara arquitectura neoclássica portuguesa, ao contrário do que acontecia na arquitectura de habitação, que foi um dos campos primordiais da aculturação entre tipologias arquitectónicas chinesas e europeias. Edifícios públicos e religiosos foram os únicos que não reflectiram essa assimilação arquitectónica, vendo-se os exemplos próximos dos edifícios do Banco Nacional Ultramarino e o dos Correios (1931). Biblioteca numa aproximação ao tipo de biblioteca do Convento de Mafra. Jardim interior segue a linha dos antigos jardins pátio de Macau, claramente filiáveis numa tradição chinesa, mas que inclui também elementos trazidos pelos portugueses tanto do Reino, como de Goa.
Número IPA Antigo: CN931901000001
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Político e administrativo regional e local  Câmara municipal    

Descrição

Planta poligonal, de volumes articulados, com disposição horizontal da massas. Fachada principal orientada a NE., de embasamento proeminente, de 2 pisos, dividida em 3 panos, separados entre si por pilastras, terminadas por pináculos, e delimitada por cunhais em cantaria, também estes encimados por pináculos; o corpo principal avançado, com porta de almofadas e bandeira rectas, ladeada por meias colunas que suportam uma arquitrave, por sua vez flanqueadas por 2 janelas de peito, de verga recta, sobrepujada por uma varanda que corre a toda a largura do corpo principal, para onde dão 3 janelas de sacada; entablamento a todo o edifício, terminando, no corpo central, num frontão triangular, e tímpano onde se inscre o símbolo da RAEM *1, e no restante em platibanda; em todo o piso térreo existem 10 janelas de peito, de verga recta, e no andar nobre 10 janelas de sacada, também de verga recta, encimadas por frontões triangulares, e todas elas com gradeamento em ferro forjado. Fachada lateral esquerda composta por 2 andares, sem embasamento, com acentuada pendente da rua em sentido descendente; corpo principal delimitado por cunhais, com janelas de peito no andar inferior, e de sacada, com frontão interrompido, no 1º andar, encimadas por entablamento e rematado em platibanda; a restante fachada é composta por janelas de peito, intercaladas por portas de almofadas rectangulares, e no andar superior por janelas de sacada de frontão interrompido, algumas delas agrupadas em pares, e outra ladeada por janelas mais estreitas. INTERIOR composto por entrada nobre de planta quadrangular, com uma sala de exposições à direita; dessa entrada sai escadaria que dá acesso ao jardim interior, e que se divide em 2 lanços paralelos no arranque para o 2º andar; aqui encontra-se o Salão Nobre do Senado e a sala de Sessões, à esquerda, e a Biblioteca, na ala direita. Biblioteca*3 de planta quadrangular com estantes de 2 andares, que ocupam toda a sala, em madeira, de varandim no andar superior, apoiado em cachorros trabalhados; tecto pintado com o mesmo motivo floral que foi aplicado na parte inferior do referido varandim. Sala de Sessões de planta rectangular, com tecto em caixotões de madeira e friso de folhagem barroca. Existe ainda uma pequena capela dedicada à padroeira de Macau, Santa Catarina de Sena.

Acessos

Avenida Almeida Ribeiro; Beco do Senado; Rua Dr. Soares

Protecção

Incluido no Conjunto dos Monumentos Históricos de Macau *4

Enquadramento

Urbano, destacado. Implantado na malha urbana, tem a sua fachada principal numa das mais importantes praças da cidade, o Largo do Senado, que resulta de um alargamento da rua proveniente do Largo de São Domingos, onde está a implantada de forma destacada a respectiva Igreja de São Domingos. As frentes urbanas envolventes são constituídas por edifícios de serviços, como os Correios a NE., e o edifício Ritz (Direcção Geral do Turismo) a NO.. Encontra-se ainda o edifício da Santa Casa da Misericórdia, a NE. No meio do largo existe um fontanário circular *2 e uma pequena zona ajardinada junto à fachada dos Correios. O Leal Senado está separado do restante largo pela Avenida Almeida Ribeiro.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Política e administrativa: câmara municipal

Utilização Actual

Política e administrativa: departamento municipal

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Época Construção

Séc. 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

P. Frei Patrício de São José (1784); Gastão Marques (1939)

Cronologia

1583 - foi constituído o Senado de Macau; 1585 - elevação de Macau a cidade, recebendo foral com regalias semelhantes às de Cochim e de Évora; 1620 - conclusão das obras de construção do primitivo edifício do Senado; 1654 - D. João IV concede o título de "cidade do Nome de Deus, não há outra mais leal" a Macau pela sua lealdade aquando da União Ibérica; 1783 - autoridades portuguesas compram o terreno do Senado e as casas na parte posterior; 1784 - reconstrução do edifício; 1792 - um dos membros da embaixada de Lord Macartney relatou que era construído em granito, com 2 andares, e apresentava várias colunas do mesmo material, com caracteres chineses gravados; 1810 - concedido o título de "leal" ao Senado; 1834 - Leal Senado vê as suas tarefas reduzidas às de simples Câmara Municipal; 1836 - Andrew Ljungstedt contestou a existência de caracteres chineses, mas confirmou a descrição de 2 andares, com base em granito, sendo o resto de tijolo e cal, assim como as colunas; o entablamento assentava em colunas e a cornija era ornamentada com vasos verdes de louça vidrada; refere ainda a existência de uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, onde os membros do Senado assistiriam à missa antes das sessões de trabalho; 1874 - um tufão danificou grande parte do património construído da cidade, em particular o edifício do Senado, provocando estragos no telhado, paredes, portas e janelas; 1876 - na sequência do tufão, houve uma remodelação apenas na fachada, mantendo-se por completo a volumetria; janelas do andar superior ficaram com arcos de volat perfeita e as restantes eram rectas, terminando em frontões; 1887 - edifício atingia um dos seus pontos máximos de degradação, com a derrocada da cobertura; serviços foram temporariamente transferidos para um edifício na Gruta do Camões; 1915 - abertura da Av. Almeida Ribeiro, mesmo junto ao Senado, cortando a direito sobre um velho bairro chinês; 1931 - os Correios, que ocupavam o rés do chão do Senado, foram transferidos para edifício próprio, no mesmo largo; 1936 - edifício sofreu novos danos na sequência de mais um violento tufão, agravando o já então precário estado de conservação, levando à sua urgente evacuação; 1938 - só nesta data conseguiu o governador Artur Tamagnini Barbosa desbloquear as verbas necessárias para as obras de recuperação do Senado; 1940 - inauguração do novo edifício; 1966 - durante as perturbações consequentes da Revolução Cultural, foram causados alguns estragos; 1990/94 - obras de remodelação da praça, tendo sido retirado o tráfego automóvel, alterada a forma do fontanário e repavimentada com calçada portuguesa; 1999, 20 Dez. - com a passagem da soberania do território para a República Popular da China, o edifício abandonou a designação de Leal Senado para a de Instituto dos Assuntos Cívicos, embora mantendo quase as mesmas atribuições.

Dados Técnicos

Estrutura auto-portante

Materiais

Granito, tijolo, ferro, vidro, madeira

Bibliografia

HENRIQUES, Acácio Cabreira, Monumentos Nacionais na Província de Macau, Macau, 1956; TOMÉ, Eduardo e MURINELLO, João, A Herança Arquitectónica de Macau, (1983); Macau, Cidade Memória no Estuário do Rio das Pérolas, Lisboa, 1985; Historic Centre of Macau, Macau, 1986; Património Arquitectónico de Macau, Macau, 1988; Macaensis Momemtum. A fragment of architecture: A moment in the history of the development of Macau, Macau/Hong Kong, 1993; COELHO, Rogério Beltrão, Leal Senado de Macau, Macau, 1995; COSTA, Maria de Lurdes Rodrigues, História da Arquitectura em Macau, 1997; INFANTE, Sérgio, COELHO, Rogério Beltrão, ALVES, Paula e JORGE, Cecília, Cem anos que mudaram Macau, 1997; GOMES, Luís Gonzaga, Macau um Município com História, Macau, 1997; AMARO, Ana Maria, Das cabanas de palha às torres de betão, assim cresceu Macau, Lisboa, 1998; MATTOSO, José (dir.), Ásia, Oceania, Património de origem portuguesa no mundo, arquitectura e urbanismo, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2010, pp. 514-515.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; GM/DST; CCCM

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

Do anterior edifício do senado pouco se sabe, além de uma gravura que consta num livro chinês, Ou-Mun-Kei-Leok, uma monografia de Macau do séc. 18, que foi editado pela 1ª vez em 1751 (e editado em português em 1950, por iniciativa de Luís Gonzaga Gomes), onde nos aparece representado o Senado numa arquitectura claramente chinesa, com 2 pavilhões e um pequeno pátio, circundados por um muro. A única gravura conhecida do edifício do Senado, ainda com o risco de 1784, é um desenho de George Chinnery (1830), pertencente à colecção do Victoria and Albert Museum. *1 - as armas da cidade foram retiradas aquando da passagem do território para a alçada da República Popular da China. * 2 - a praça sofreu um remodelação no início dos anos 90, alterando-se a forma do fontanário de rectangular para circular, e a restante praça foi repavimentada com calçada portuguesa, e consequentemente cortada ao tráfego automóvel, circulando-se apenas na Av. Almeida Ribeiro. *3 - Biblioteca com espólio riquíssimo, com cerca de 30.000 volumes, com edições ocidentais publicadas antes de 1950. *4 - Património Mundial - UNESCO, 2005

Autor e Data

Sofia Diniz 2000

Actualização

 
 
 
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