Casa do Redondo / Solar dos Sampaio e Melo / Solar do Morgado do Rabaçal

IPA.00007694
Portugal, Guarda, Mêda, Rabaçal
 
Arquitectura residencial, tardo-barroca. Solar com características estilísticas que apontam para uma edificação na última metade do séc. 18, sobretudo no último quartel, evidenciando-se um certo gosto pombalino, tanto no despojamento da decoração, como nas tecnologias de tabique utilizadas. Planta regular em U e em L no segundo piso, dando origem a um grande pátio, evoluindo em dois pisos, ao qual se adossam outros volumes incaracterísticos. Implantado no contexto da malha urbana, mas integrado ao extremo de um extenso lote irregular que se projecta para O., integrando capela na sua estrutura. Áreas hierarquizadas de uso interno no piso inferior, para apoios agrícolas, e piso nobre para habitação, sendo que neste as dependências públicas estão viradas para a fachada principal. Fachadas marcadas por cunhais apilastrados, panos divididos por pilastras toscanas colossais, rasgada regularmente por vãos rectilíneos guarnecidos a cantaria, e por óculos de iluminação ao nível do piso térreo. Portal principal sobrepujado pela pedra de armas. Capela de planta longitudinal, composta por nave e capela-mor, com púlpito no lado do Evangelho, tribuna e sacristia adossada ao lado esquerdo. Relaciona-se com as tipologias construtivas de outros solares da região, eventualmente do mesmo risco ou dos mesmos pedreiros, como o Solar da Cogula, concelho de Trancoso, o Solar dos Viscondes da Coriscada, concelho de Meda (v. PT020909050031), a Câmara Municipal de São João da Pesqueira (v. PT011815080071), datáveis de 1794 e a Casa do Adro em Espinhosa, datável de 1799, ambas no Concelho de São João da Pesqueira. Poderá ter sido edificada no local de outra casa mais antiga, sendo que o muro que define a E. o logradouro aparenta um tratamento nas cantarias de um vão de janela emparedado semelhante ao que se usou durante todo o séc. 17, podendo ainda cruzar-se informação indutora com o registo epigráfico datável desse mesmo séc. e existente no forno comunal. O volume do imóvel não foi concluído, quer nas divisões desordenadas da parte posterior, quer na fachada, sendo possível que o projecto original contemplasse a construção de um outro corpo, a N., sequenciando o alçado E. e centralizando o pórtico principal. A implantação e articulação com a restante envolvente urbanística ainda está razoavelmente preservada ou passível de requalificação. O portal ostenta uma pedra de armas ricamente lavrada. As caixilharias dos vão de sacada têm pendor romântico, com bandeiras repartidas em arcos ogivais sobrepostos.
Número IPA Antigo: PT020909140060
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo planta em U

Descrição

Edifício assente em ligeiro declive de N. para S. e de O. para E., com planta regular em U, desenvolvendo pátio rectangular na fachada posterior, formando, no piso superior, planta em L, integrando capela de planta longitudinal, composta por nave e capela-mor. O conjunto é de massa simples, com volumetria de sentido horizontal, evoluindo em dois pisos, com coberturas diferenciadas, em telhados de cinco águas no corpo residencial e de dois na capela, em telha lusa. Fachadas em cantaria e alvenaria de granito, rebocadas a cal hidráulica e caiadas de branco, excepto na fachada voltada a N. com aparelho aparente, percorridas por faixa de placas de cantaria, constituindo falso embasamento, circunscritas por cunhais apilastrados e rematadas em friso, cornija e beirada, excepto na fachada posterior, em beirada simples. A fachada principal, virada E., é composta por dois panos, definidos por pilastra toscana da ordem colossal, o da esquerda rasgado por cinco óculos ovais com molduras salientes em cantaria, sobre os quais se alinham outras tantas janelas de sacada, rectilíneas, com molduras recortadas e sobrepujadas por frontão curvo, tendo sacada de cantaria, resguardada por guarda vazada, em ferro forjado, ornada por elementos geométricos e enrolamentos. O pano do lado direito é mais estreito, dividido em dois registos por friso de cantaria, surgindo, no inferior, o portal, de verga recta, com moldura recortada e brincos laterais, encimado por frontão, que extravasa para o segundo registo, onde se inscreve a pedra de armas da família titular. O portal encontra-se ladeado por dois óculos ovalados, com moldura saliente, em cantaria. No registo superior, duas janelas de peitoril, rectilíneas, com molduras de cantaria, formando aventais curvos e rematadas por frontão curvo. A fachada é continuada por um muro alto, em alvenaria granítica irregular e aparente, onde se desenha um vão de janela entaipado e um largo portão de verga recta, com moldura de cantaria, rematado por friso e cornija, encimados por uma cruz pétrea de secção quadrada, faces lisas, apoiada em plinto quadrangular e ladeada por dois pináculos piramidais. Fachada lateral esquerda, virada a S., dividida em três panos, por pilastras toscanas colossais, tendo, no do lado esquerdo, porta de verga recta, encimado por janela de peitoril, ambas com moldura saliente, em cantaria, com acesso por lanço de escada em leque. O corpo do lado direito, possui, no extremo direito, um óculo ovalado com moldura saliente, surgindo, no segundo piso, duas janelas de peitoril e uma de verga recta, com modinatura e decoração semelhantes às da fachada principal. Ao centro, o pano correspondente à capela, com acesso por escadaria em leque, de degraus desiguais, adaptando-se ao declive do terreno. O pano remata em frontão sem retorno, com o tímpano vazado por óculo quadrilobado, guarnecido a cantaria lisa, rematado por dois fogaréus e, no vértice, uma cruz pétrea danificada (sem braços), sob a qual surge uma cartela com aplicação de dígitos árabes em latão, com a data "1759". É rasgada por portal de verga recta e moldura recortada, ladeada por brincos, encimada por frontão curvo, ostentando cartela recortada, com os três cravos de Cristo, ladeada por dois elementos almofadados. A fachada lateral direita, virada a N., abre para o pátio e apresenta um vão no piso nobre, e, na parte mais recuada, outros dois vãos, rasgados num muro alto, sendo visível, acima deste, a empena da capela. No lado direito, corpo alpendrado, assente em pilares de alvenaria, com portão sobrelevado, de verga recta, de acesso à zona de cultivo. Dispõe, à volta do pátio, de um conjunto de dependências, outrora apoios agrícolas e cavalariças, adaptadas para uso diverso, nomeadamente para receber a comissão instaladora do Centro de Dia. Fachada posterior incaracterística, parcialmente absorvida no desnível da cota do solo, sendo, na parte mais recuada, rasgada por um vão de acesso à escadaria interior da casa. INTERIOR com vestíbulo de paredes rebocadas a cal hidráulica e caiadas a branco, pavimento em lajeado de granito e tecto em madeira de castanho aparelhada com vigamento exposto. O acesso ao piso superior processa-se por escadaria em cantaria de granito, distribuindo-se em dois lanços articulados por um patim, com guarda corpo em balaustrada e corrimão em cantaria. Na caixa da escada, surge uma pequena dependência de arrumos, acedida por porta de verga recta. No lado direito, rasga-se uma porta, guarnecida a cantaria lisa aparelhada, formando acesso a uma grande loja de arrecadação, subdividida, criando uma tulha de cereais. A partir desta dependência, acede-se a três outras lojas, contíguas à fachada S., acedidas por portas guarnecidas a cantaria rusticada, as duas últimas em ruína. Todas as lojas do piso térreo têm paredes em alvenaria de granito aparente e pavimento de terra batida. Acede-se ao piso nobre por uma escadaria interior, a qual forma um corredor com tecto abobadado, forrado a madeira de castanho pintada a azul. Neste piso, as paredes mestras são em alvenaria granítica e as compartimentações secundárias em tabique, sendo os pavimentos em tábua larga de castanho. A primeira sala, sobre o vestíbulo, é rectangular, com tecto de madeira de castanho, em masseira, levemente abaulado e guarnecido por frisos. Sucede-se o salão nobre, rectangular, com tecto semelhante ao anterior, pintado a creme e decorado com quatro molduras irregulares centralizadas numa moldura oval, com frisos dourados a ouro. Do salão nobre acede-se a uma pequena divisão rectangular, sobrecomprida, com tecto liso em forro de madeira. Sucede-se uma sala de jantar, no ângulo da casa, com tecto de madeira, em masseira e guarnecido com frisos de decoração policroma. Ladeia a janela, virada a S., um armário embutido com quatro portas. Desta sala passa-se a uma divisão compartimentada a tabique e a um corredor que liga a escadaria de madeira, de acesso ao sótão, formando dois quartos, uma divisão interior de distribuição, onde se conservam dois armários embutidos na parede e guarnecidos com portas de madeira, e outras divisões arruinadas. A CAPELA, dedicada a Santa Ana, tem as paredes rebocadas e pintadas a tinta de água, de cor branca, com pavimento em lajeado de granito e tectos em falsas abóbadas de berço de madeira, assentes em cornijas do mesmo material. O portal axial é flanqueado por pias de água benta hemisféricas e concheadas. No lado do Evangelho, a base do púlpito, em cantaria, de perfil contracurvado, com acesso por porta de verga recta e moldura de cantaria. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras almofadadas, com falsa pedra de fecho volutada. Capela-mor com alto supedâneo, com degraus centrais e tendo, no soco, as faces almofadadas, em losango. No lado do Evangelho, porta de verga recta, de acesso à sacristia, a que se sucede um vão rectangular, guarnecido a cantaria, que outrora servia para assistir aos ofícios *1. A sacristia tem comunicação para o exterior, a S., para o corredor descoberto na parte posterior do imóvel, a N., e um acesso ao primeiro andar sobre a sacristia, actualmente formando uma dependência ampla. O FORNO comunal encontra-se adossado ao edifício principal, a O., com paredes em alvenaria granítica aparente. Ao nível do solo descobre-se a presença de uma porta entaipada que ligaria à via pública, onde se vêem duas inscrições com datas inscritas: "1676" e "1833" *2. bem como outra que ligaria a uma divisão contígua que, por sua vez, comunica com a cozinha (exterior à habitação), na qual existe uma grande chaminé em cantaria centrada na parede O.. O INTERIOR é composto por uma divisão parcialmente coberta a telha vã mourisca, dispondo de um forno de grandes dimensões (3 alqueires), uma mesa de apoio em pedra e uma escadaria de dois lanços que acede a uma porta entaipada ao nível de um piso superior, a O.. A O., estende-se a propriedade afecta ao solar no qual ainda subsiste um pombal cilíndrico característico da região.

Acessos

Rabaçal, Quinta da Bacelada, Rua de São Sebastião e Rua do Castelo

Protecção

Categoria: MIM - Monumento de Interesse Municipal / ZEP, Edital n.º 366/2017, DR, 2.ª série, n.º 106, de 01 junho 2017

Enquadramento

Urbano, isolado, implantado no limite da zona urbana com a zona rústica, na parte mais alta do aglomerado habitacional que se dispõe a meia-encosta. Confina a N. com logradouro, palheiros e habitações; a S. e E. com via pública; e O. com prédios rústicos de solos pobres e afloramentos de fragas de granito com vinha e pomar. O logradouro separa-se da via pública por muros altos. Encontra-se rodeado por edifícios residenciais, de índole agrícola, como os palheiros, e terras de cultivo.

Descrição Complementar

Numa verga de cantaria apeada lê-se a inscrição latina MDCCXXC, cuja interpretação, embora não siga a regra corrente da numeração romana, poderá indicar a data de 1780.. Pedra de Armas: armas dos Sampaio e Melo *3 - escudo francês barroco esquartelado, assente sobre paquife decorativo com elementos vegetalistas e volutas, coroado com elmo de viseira fechada rematado com o timbre dos Sampaio, uma águia de asas abertas.

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Devoluto

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1759 - data na fachada da capela, pode corresponde à eventual construção do imóvel; 1780, década - possíveis obras de edificação ou ampliação do solar; 1853, 19 e 20 Agosto - estada de Alexandre Herculano em casa do Bacharel António Maria Homem de Sampaio e Melo, durante um périplo realizado pela região, (referidos em Apontamentos de Viagem) *4; 1970, década - construção da cobertura actual; 2000-2005 - recuperação da capela, das antigas cocheiras e construção de outras dependências no terreiro da casa; 2018, 01 fevereiro - publicação do Edital n.º 128/2018, clarificando que os elementos classificados são a Casa Senhorial e Casa dos Caseiros, alterando a deliberação de 22 de fevereiro de 2017, DR, 2.ª série, n.º 23/2018.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante com paredes-mestras em cantaria e alvenaria granítica, sobre o qual se apoia o vigamento de madeira da cobertura.

Materiais

Paredes-mestras em cantaria e alvenaria granítica, elementos estruturais, como cunhais, pilastras, embasamento, cornija, molduras dos vãos (peitoris, aduelas, vergas e sacadas), degraus, corrimão e balaústres da escadaria principal em cantaria de granito; divisão dos pisos com soalhos de castanho e carvalho apoiados em vigas mestras de madeira (castanho e carvalho); pavimentos de madeira de castanho e lajes de granito; paredes da área habitacional rebocadas a argamassa hidráulica e caiada de branco; capela e anexo rebocado a argamassa de cimento e pintada com tinta de água branca; divisões interiores em tabique com estrutura de madeira em gaiola; tectos de madeira de castanho, simples e pintados, alguns com frisos policromos e dourados a ouro; janelas com vidros simples, sendo as de peitoril em guilhotina e as de sacada de duas folhas, e portadas interiores em madeira pintadas; portas e caixilharias de madeira; cobertura exterior de telha lusa. Sacadas guarnecidas com ferros forjados. Nas dependências novas uso de lajes pré-esforçadas, tijolos de barro, pavimentos em tijoleira industrial, e outros materiais contemporâneos.

Bibliografia

GONÇALVES, António Nogueira e CORREIA, Virgílio, Inventário Artístico de Portugal, Lisboa, 1952; AZEVEDO, José Correia, Monografia Turística das Beiras, 1967; RODRIGUES, Adriano Vasco, Terras da Mêda. Natureza e Cultura, Mêda, 1983; RODRIGUES, Adriano Vasco, Monografia artística da Guarda, 3.ª ed., Guarda, 1979; SARAIVA, Jorge António Lima, O Concelho de Mêda - 1838-1999, Coimbra, 1999 (pp.181-182); RODRIGUES, Adriano Vasco, Terras da Mêda - Natureza, Cultura e Património, 2.ª ed., Coimbra, 2002; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/21924298 [consultado em 11 janeiro 2017].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Proprietário: 2000 / 2001/ 2002 - obras na capela, terreiro e anexos; obras em projecto.

Observações

*1 - esta janela era guarnecida com uma reixa e servia para que os empregados da casa pudessem assistir aos ofícios sem estarem em contacto com os Senhores. *2 - a data reporta para o período de guerra civil generalizado no país e que teve uma forte incidência na região da Beira-Alta. *3 - a mesma família Sampaio e Melo é proprietária de outro solar na mesma localidade: a Casa do Redondo ou Quinta da Bacelada. *4 - "Agosto 19 (...) Partida para a aldeia do Rabaçal. Panorama magnífico parta o Nascente diante das janelas do bacharel António Maria Homem de Sampaio e Melo, em cuja casa dormimos. Em frente um território levemente ondulado até às margens do Côa, que corre num vale profundo. Além do rio, a três léguas do Rabaçal, Castelo Rodrigo, meio desmoronado, e sito num dos cabeços de uma pequena cordilheira isolada. Mais ao Sul Pinhel escondida, quase toda numa ladeira para o Oriente, e descobrindo-se apenas a antiga cerca determinada pelo triangulo que formam â vista duas torres antigas ao Norte, e a moderna torre do relógio ao Sul. Ao longe, enxergando-se mal, para a direita a praça de Almeida, e as serras de Gata como sombras no horizonte. (...) Agosto 20 - partida do Rabaçal às seis da manhã, para Moreira (...)" (RODRIGUES, 2002). *5 - de acordo com a Comissão de Instalação do Centro de Dia, irá sofrer obras de adaptação para albergar a referida obra assistencial (Centro de Dia ou funções clínicas).

Autor e Data

Sérgio Gorjão 2006

Actualização

 
 
 
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