Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal / Associação Sociedade Cultural e Recreativa Capricho Setubalense / Cruz Vermelha Portuguesa de Setúbal

IPA.00007402
Portugal, Setúbal, Setúbal, União das freguesias de Setúbal (São Julião, Nossa Senhora da Anunciada e Santa Maria da Graça)
 
Arquitectura civil barroca, pombalina, rococó, neoclássica. Fachadas planas com ornamentação barroca nos frontões de vãos de molduramento de composição pombalina. Escadaria barroca de grande monumentalidade de lanços opostos. Pintura dos tectos setecentista. Silhar de azulejaria em composição neoclássica com motivos discretos, ave de plumagem exótica, como motivo ornamental centralizante, envolto em combinações livres de ramagens e motivos florais variados, enquadrados por fitas, com grande leveza e dinamismo de traço, intimamente ligado à pintura dos panos murários sobre os silhares. Edifício de monumentalidade compacta, bem integrado no conjunto urbano, inserindo-se num dos pólos de organização urbanístico de Setúbal, destaca-se pela sua traça erudita de fachadas de tradição pombalina, com relevo para a ornamentação forte dos vãos de janelas e portas que ressaltam do branco dos panos murários. Interiores de grande qualidade decorativa, com tectos de madeira pintados, com motivos alusivos à instituição que os acolheu, numa decoração de explosão cromática, e paredes pintadas com requinte, onde aos elementos geométricos se contrapõem a temas florais de carácter rectilíneo e gráfico.
Número IPA Antigo: PT031512030009
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Saúde  Hospital  Hospital de Confraria / Irmandade  Misericórdia

Descrição

Planta longitudinal, composta por dois corpos, regular, volumes articulados por justaposição, com disposição das massa com horizontalidade. Cobertura exterior em telhados de 4 águas . Fachada principal orientada a O., com embasamento revestido com painéis de cantaria, delimitada lateralmente cunhal e friso gigantes, apilastrados; de dois panos divididos por pilastra gigante. Pano principal, com simetria, de 3 registos, diferenciados pela marcação de frisos em ressalto entre os pisos, onde assentam as molduras dos vãos abertos; no primeiro registo rasgam-se um portal (acesso para a Associação Recreativa) aberto no cimo de degraus escalonados e, lateralmente, 2 janelas de molduras ornamentais, com saia; as vergas são em arco abatido com sobreposição de frontões ondulados; no segundo e terceiro pisos abrem-se 3 janelas de sacada com molduramento idêntico às anteriores, com guarda-corpo de ferraria ornamental; o remate é em cornija de coroamento e duplo beiral. Pano da direita (espaço ocupado primitivamente por arrecadações) com quatro registos: no primeiro abrem-se 3 portas; no 2º uma janela de sacada com resguardo de ferraria; no 3º uma janela e um postigo e no último duas janelas todas rectangulares e molduradas; o remate é em cornija de coroamento e beiral. Fachada a N. de dois panos. Pano principal, com embasamento revestido a painéis de cantaria, delimitado por cunhal e friso gigantes, apilastrados e dividido em 3 registos marcados por frisos em ressalto onde assentam os vãos abertos: no 1ºregisto, no cimo de uma escadaria escalonada, um portal (entrada para as instalações da Cruz Vermelha) com moldura ornamentada e frontão ondulado com implante de pedra de armas e uma janela rectangular; no 2ºe 3º2 janelas de sacada com resguardo de ferraria ornamentada, molduradas com frontão ondulado; remate em cornija de coroamento e beiral. O pano à esquerda é cego e como único ornamento tem um painel moderno figurativo com a representação de São Francisco Xavier. Fachada a E. com vários panos decorre do corte da igreja a que pertenciam; nele se marcam 3 registos apontados, no térreo por aberturas modernas de porta e janelas, o 2ºincorpora um postigo antigo e o último uma janela de sacada; destaca-se a meio dos panos uma janela com moldura ornamental, sobrepujada por óculo, ambos pertencendo ao pano murário interior primitivo. Articulação exterior / interior desnivelada pelo que se acede aos interiores por escadaria. SOCIEDADE RECREATIVA: INTERIOR de espaço diferenciado: vestíbulo com escadaria integrada em casa de escada prismática, separado do átrio principal por muro divisório, com arco de comunicação descentrado; dois lanços opostos, com iluminação dada pela abertura de dois óculos circulares, o 1ºlanço de 7 degraus, o 2ºde 6, com um patamar intermédio; 2º patamar antes da porta da entrada no 2ºpiso, de acesso a uma sala de comunicação com o 3ºpiso e com as salas da irmandade, onde se destaca um tecto em madeira pintado, privilegiando o centro com medalhão circular onde se destacam as insígnias da Santa Casa de Misericórdia (símbolos da Protectora, do poder terreno e do celestial) num cromatismo forte; no 2ºpiso, sala de passagem, coberto por tecto de madeira, pintado com os mesmos símbolos da instituição como elemento centralizador de todo uma decoração que preenche o espaço rectangular da cobertura ornamento de traços delicados em grande cromatismo; salão de paredes pintadas com elementos delicados, sobre lambril de azulejaria, com cobertura em tecto rebocado com pintura e estuques decorativos; dois lances de escadas em continuidade, divididos por arco de volta inteira, com marmoreados um, o outro em madeira, continuam em dois lances de escada opostos, com guarda-corpo e corrimão em madeira, estabelecendo a ligação do 2ºpiso para o 3ºonde se abre um vasto salão de festas com palco elevado, coberto por tecto de 3 planos, e outras dependências pequenas de apoio àquele. A iluminação é feita através dos vãos descritos. O pé-direito das divisórias dos diversos pisos são de paredes planas. CRUZ VERMELHA: espaço diferenciado com divisórias feitas que desvirtuaram o espaço antigo, onde se vê vãos meios tapados por paredes elevadas recentemente; destacam-se as modinaturas toscanas de paredes e de cunhais apilastrados, e os molduramentos eruditos de parte de vãos e de portas; coberturas lajeadas e pavimentos primitivos de placas de cantaria; na antiga sacristia vê-se um lavatório em cantaria adossado a pano murário rebocado com decoração de frontão em ressalto e no vão largo de janela aberto na espessura murária dois bancos de conversadeiras, de cantaria.

Acessos

Largo da Misericórdia n.º 5, Travessa da Alfândega e Rua da Sociedade Musical Capricho Setubalense. WGS84 (graus decimais): lat. 38,523847, long. -8.889943

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 23 008, DG, 1.ª série, n.º 196 de 30 agosto 1933 (escadaria que da entrada da Misericórdia dá acesso ao respectivo átrio superior) *1

Enquadramento

Urbano, situado na parte histórica da cidade, com duas fachadas abertas para um largo pedonal, tornado rossio, em planície. Fachada O. adossada a edifício com a mesma altura e fachada a S. a edifício moderno (2).

Descrição Complementar

Silhar de azulejos policromo com decoração delicada, formado por padronagem neoclássica. Imagem de vulto, estufada, com grande cromatismo, representando Santa Cecília com uma lira na mão, atributo da Santa padroeira da Música.

Utilização Inicial

Saúde: hospital de confraria / irmandade

Utilização Actual

Cultural e recreativa: associação cultural e recreativa / Assistencial: associação de beneficência

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

1500, 5 de Fevereiro - Rodrigo Afonso do Conselho do Rei D. Manuel I e vedor da fazenda da Senhora Infanta, doou para ajuda da criação da Misericórdia de Setúbal uma ermida que possuía num grande rocio, da invocação de Santa Maria dos Anjos (desaparecida hoje) vizinha do mosteiro de Jesus, e as terras anexas ao mesmo templo, onde permaneceu por meio século, e se estruturou como instituição a irmandade da Misericórdia (Abreu, 1999); 1501 - Instituição da Irmandade da Misericórdia de Setúbal por D. Manuel I, a pedido dos setubalenses, unindo com esse compromisso os pequenos hospitais existentes em Setúbal; 1505 - construção da igreja da Santa Casa de Misericórdia de Setúbal (hoje desaparecida); 1512 - por provisão de D. Manuel I é ordenado que os bens de pessoas falecidas nas vilas e lugares do almoxarifado de Setúbal sem testamento ou, tendo-o, nele deixem bens á Misericórdia, e se entenda que ficam pertencendo à de Setúbal, e a nenhuma outra; 1521 - no último ano do reinado de D. Manuel I, concedeu o rei que houvesse doze mamposteiros, destinados a pedirem esmola para a Misericórdia de Setúbal, nos lugares do mestrado da ordem de Santiago; - 1566, 24 de Setembro - data do alvará pelo qual o Estado cede para sempre à Santa Casa da Misericórdia de Setúbal, para aí instalar o seu hospital (Hospital do Espírito Santo) num novo espaço, contíguo à igreja, onde permaneceu (Largo da Misericórdia) até ao séc. 19; 1569, 16 de Novembro - sendo provedor Diogo Botelho Calado, foi vendido às religiosas do Mosteiro de Jesus por 115$000 réis, tudo quanto havia sido doado por Rodrigo Afonso, sítio e padroado respectivos; 1610-1670 - décadas fulcrais da estruturação económica da Misericórdia de Setúbal (Abreu, 1999); 1755 - a Instituição encontrava-se numa situação deplorável do ponto de vista económico; 1755, 1 de Novembro - o edifício fica completamente arruinado pelo Terramoto; séc. 18, 1.ºs anos da década de 70 - após os estragos provocados pelo Terramoto, época de reconstrução da igreja e do resto do edifício do hospital que passara a chamar-se Hospital do Espírito Santo; séc. 19, inícios - decoração da Sala do Despacho; 1888 - transferência de algumas enfermarias do Hospital do Largo da Misericórdia para o entretanto extinto Convento de Jesus, cedido a tempo precário para esse efeito; 1892, 28 de Janeiro - Decreto Régio pelo qual o Estado Português cede definitivamente à Santa Casa de Misericórdia de Setúbal, o conjunto formado pelo Convento de Jesus e seus pertences para nele instalar o seu hospital; 1893, 19 de Março - concluída a mudança integral do Hospital do Espírito Santo para as novas instalações no Mosteiro de Jesus (Abreu, 1999), onde se manteve até à sua transferência em 1959 para um edifício construído e apetrechado pelo Estado, Hospital de São Bernardo; 1895 - no 2.ºandar, esteve instalado até esta data, a enfermaria de convalescentes; 1895, 5 de Junho - arrendamento do 2.ºandar a João José Ferreira Silva Santarém, pela renda anual de 36 000 reis, pagos em semestres, onde se instalou a Sociedade Musical Capricho Setubalense, que em 1938 ainda pagava a mesma renda; 1902, 18 de Setembro - parte do edifício do hospital e igreja é vendido em praça pública, recebendo a Santa Casa a respectiva importância em inscrições; 1910 - é feito novo arrendamento à sociedade, 3 010 reis mensais; 1917, 1 de Agosto - uma loja arrendada à delegação de Setúbal da Cruz Vermelha Portuguesa por 8$00 mensais; utilização do edifício pela Associação Cultural e Recreativa, a mais antiga de Setúbal; 1921 - a igreja que for a construída em 1505, com exclusão da parte onde se encontrava o trono, foi vendida directamente à Caixa Geral dos Depósitos por 7 000$00, autorizada por lei votada no Congresso da República; 1943, Fevereiro - 1.ºandar, instalação da Provedoria, Secretaria e Tesouraria da Santa Casa da Misericórdia, juntamente com a Farmácia e suas dependências; 1945, Julho - arrendamento do 1.ºandar à Junta de Província da Estremadura para instalação do Instituto Nacional do Trabalho; 1968, 7 de Fevereiro - arrendamento de uma loja para venda de géneros alimentares, e sobreloja para habitação (n.ºs 30 e 32), com entrada pela R. Sociedade Musical Capricho Setubalense; 1971 - assinalada a existência da igreja; séc. 20, 3ºquartel, (3) - amputação do edifício, com destruição da capela privativa (4) que havia sido incendiada, neste século, para ampliação de arruamento que, passando frente ao antigo portal, conduz à Av. Luísa Todi, dando, ainda, origem ao aparecimento do edifício da Caixa Geral de Depósitos, construído em parte, em terreno pertencente à Misericórdia; conservam-se do tempo da Misericórdia além da fachada e da escadaria classificada, diversos tectos pintados e a Sala do Despacho.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria de pedra e tijolo, cantaria de pedra calcária e brecha da Arrábida ferro, madeira, telhas cerâmicas

Bibliografia

PINHO LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa, Portugal Antigo e Moderno, vol. IX, Lisboa, 1880; SILVA, José Custódio Vieira, Setúbal, Cidades e Vilas de Portugal, Lisboa, 1990; Roteiro Cultural da Cidade de Setúbal - Setúbal Cultural, Setúbal, 1994; AA. VV., Caza da Sancta Mizericordia de Setubal - História e Arte, Setúbal, 1999.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; Sede da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal

Documentação Fotográfica

IHRU:DGEMN/DSID; Sede da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal

Documentação Administrativa

Sede da Santa Casa da Misericórdia e Setúbal; Arquivo do Museu da Cidade de Setúbal: Livros de actas e de despesas e Livros de Termos da Santa Casa.

Intervenção Realizada

Observações

*1 - Incluindo Escadaria que da entrada da Misericórdia dá acesso ao respectivo átrio superior. *2 - Em parte do terreno onde for a construída a igreja da Santa Casa da Misericórdia. *3 - A grande explosão urbanística de Setúbal deu-se a partir dos finais da década de sessenta, sem que fosse levado em conta qualquer plano director que o ordenasse. *4 - O Museu da Cidade de Setúbal (Convento de Jesus) guarda a planta e maqueta do interior da igreja; do exterior não se conhecem sequer fotografias (PEREIRA, 1999).

Autor e Data

Isabel Mendonça 1992 / Albertina Belo 2000

Actualização

 
 
 
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