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Edifício e estrutura Edifício Cultural e recreativo Casa de espetáculos Teatro
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Descrição
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Implantado num terreno de traçado irregular, acentuado a E. e mais ligeiro a S., a planta do edifício reflecte esta condicionante. Desenvolve-se segundo o eixo N.-S. e resulta da articulação de dois volumes correspondentes, respectivamente, ao espaço do auditório (incluindo espaços de estar e de apoio para o público) e caixa de palco. Estes apresentam configurações distintas, sendo o volume da caixa de palco, de planta rectangular, mais estreito do que aquele onde se inscreve o auditório - de planta trapezoidal - , cujo traçado oblíquo a nascente cria espaços adicionais que contrariam a simetria do risco do teatro: junto à plateia e às duas ordens de camarotes, áreas para gabinetes e arrumos; junto à caixa de palco, um pátio (posteriormente coberto). A cobertura é homogénea e realiza-se por telhado de duas águas. Fachada principal (a N.) de composição simétrica, com eixo central assinalado por frontão curvo a elevar-se sobre a empena rematada por cornija e platibanda rendilhada. No tímpano do frontão, entre a estatueta que o coroa, representando uma figura feminina em alusão à Arte, e o vão central do 2.º piso, maior que os laterais, encontra-se a inscrição "Theatro da Trindade", seguida das iniciais do seu proprietário e promotor F[ernando] A[ugusto] S[oares]. De pano único, rebocado e pintado de cor amarela, abrem-se na frontaria vãos a ritmo regular - três portas no piso térreo e três janelas de sacada no piso superior - todos em arco de volta inteira e ornamentados por molduras em cantaria de inspiração neomanuelina. INTERIOR: Espaço do AUDITÓRIO - sala de planta em ferradura, constituída por dois espaços independentes ligados pela boca de cena rectangular e contando com uma lotação de 234 lugares distribuídos por plateia (138), 7 camarotes de primeira ordem (30) - incluindo tribuna de honra -, balcão de primeira ordem (18), 5 camarotes de segunda ordem (22) e balcão de segunda ordem (26). Plateia sem pendente composta por cadeiras soltas com espaldar e assento forrados de tecido vermelho escuro; pavimento de madeira e paredes estucadas e pintadas de cor azul e branca nas zonas da plateia e dos balcões, sendo as dos camarotes em madeira, pintada em tom de rosa. O tecto, também em madeira, recebe decoração de composição geométrica gerada a partir da localização central do lustre, marcada pela abertura funcional, e enquadrada pelo friso de madeira que desenha o perímetro do tecto: a moldura saliente que descreve o hexagono ao centro é duplicada por nervura entalhada e dourada, partindo da cada ângulo oito nervuras de desenho igual que se alongam pelo tecto, recebendo na extremidade um medalhão envolto em ornamentações florais, resultante da técnica de entalhe com tratamento policromo. A guarda dos balcões e dos camarotes é em ferro, resultando num entrelaçado a formar losangos. A iluminação da sala é incandescente e de intensidade regulável, com a possibilidade de se desligar por sectores (plateia, balcão, lustre). Espaços técnicos e de cena: PALCO - dispõe de coxias laterais, pendente, paredes brancas, soalho de madeira disposto paralelamente à boca de cena e acesso de carga directo à rua (com escadas no caminho). Tem proscénio. Dispõe de subpalco de estrutura fixa em madeira, dotado de quarteladas mas inoperacionais. A caixa de palco tem teia de estrutura e piso em madeira, uma varanda lateral esquerda por baixo da qual se rasga vão de acesso ao corpo que comunica com a rua. A regie de direcção de cena situa-se no palco, num espaço independente. Para as operações de som e luz não existem regies, realizando-se aquelas na plateia. |
Acessos
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Rua dos Redondos, nº 23-27 |
Protecção
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Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 740-EL/2012, DR, 2.ª série, n.º 252, de 31 dezembro 2012 |
Enquadramento
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Urbano, integrado no núcleo antigo de Buarcos. Ocupa um terreno de gaveto constituinte de um extenso quarteirão de forma irregular e implantado em terreno desnivelado, registando-se a cota mais elevada na frente N., onde se localiza o teatro. A fachada E. do edifício acompanha o traçado de uma travessa secundária, estreita e íngreme, que desemboca na Rua do Castelo, enquanto que a frontaria, adossada a O. a uma habitação, volta-se ao edifício da Escola Primária. Construída posteriormente, e beneficiada de terreno envolvente de recreio, a escola introduz um elemento de descontinuidade na malha antiga de Buarcos. A fachada do teatro, por sua vez, destaca-se por uma presença arquitectónica heterógenea e singular, assinalada pela utilização de elementos eruditos entre construções de feição vernacular e edifícios de habitação descaracterizados e recentes. |
Descrição Complementar
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Equipamento cénico: cortina de boca em veludo vermelho de abrir para os lados, com mecanismo de abertura manual. |
Utilização Inicial
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Cultural e recreativa: teatro |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: teatro |
Propriedade
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Privada: associação |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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CONSTRUTORES: Luís Augusto Cardoso de Oliveira e Francisco Jorge Cação Pereira |
Cronologia
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Séc.20, início - Fernando Augusto Soares, abastado proprietário enriquecido nas colónias e republicano convicto, decide mandar construir um teatro na vila, empresa que se conjuga com outras iniciativas suas de natureza educativa e assistencial características da intervenção dos núcleos republicanos, e muito em particular maçónicos, organização de que fazia parte: entre aquelas destacam-se a criação da Escola Noturna, a fundação da Associação da Classe Marítima e a participação na associação Instrução Popular da Figueira; 1910 - a construção do edifício que haveria de albergar o teatro, batizado com o nome da sua mulher - Maria da Trindade - já se teria iniciado: supõe-se que exigiu a demolição de um celeiro, antes pertencente a Frades Crúzios, e no qual terá funcionado um teatro; para a execução da obra são chamados dois mestres locais, Luís Augusto Cardoso de Oliveira e Francisco Jorge Cação Pereira (ver BENTO: f. 3); 1910, 3 Dezembro - o teatro é inaugurado já depois da revolução de 5 Outubro, que implantou a República em Portugal, tendo sido primeiro oferecida uma récita particular: do programa constavam a opereta o "Moleiro de Alcalá" e, decerto em sinal dos novos tempos, o episódio em dois quadros "A Pátria"; os cenários foram concebidos por Rogério Machado, cenógrafo de Lisboa, mas a orquestra era local e havia sido ensaiada por um professor do concelho, Filipe Cruz (ver BENTO: f. 4); 1911 - o Grupo Dramático União de Buarcos representa o "Moleiro de Alcalá" em seis récitas no espaço de dois meses, tendo o produto dos espetáculos destino assistencial (ver Diário de Coimbra, 1993 e TARRAJA: 1998); 1912 - recebe visita de Manuel de Arriaga, primeiro Presidente da República; 1910 / 1920, décadas de - o grupo Caras Direitas, associação de instrução, recreio e beneficência de Buarcos fundada em 1907, utiliza frequentemente o Teatro da Trindade para a organização de espetáculos; 1921, 25 Dezembro - é fundada a associação União Foot-Ball de Buarcos que arrenda o Teatro para estabelecer a sua sede, tendo existido uma secção cénica; 1979, 21 Junho - o União Foot-ball adquire o edifício a Fernanda Virgolino, passando a deter a propriedade do imóvel; 1990, década de - iniciam-se esforços constantes para recuperação da sala e do edifício, bastante degradados: entre os diversos melhoramentos constam um "novo palco", intervenção possibilitada pela "oferta de madeira, cedida pelos Serviços Florestais" (MAIA: 1993), tendo-se depois seguido a campanha para aquisição de fundos destinados à renovação do telhado; séc. 20, final - as sucessivas direções empenham-se na revitalização cultural e recreativa do espaço, tentando manter com regularidade diversas atividades quer dirigidas para a comunidade piscatória onde está tradicionalmente inserida, quer colaborando com associações e organismos de cariz assistencial ou ligadas à divulgação cultural num círculo social e geograficamente mais alargado; 2000, 19 de dezembro - deliberação camarária da Câmara Municipal da Figueira da Foz a determinar a classificação como IM; 2001 - dentro destas tentativas conta-se a iniciativa de um intercâmbio de espetáculos entre o teatro de Buarcos e o Teatro da Trindade de Lisboa, tendo no verão deste ano visitado o teatro o diretor daquela sala de espetáculos de Lisboa, acompanhado de uma equipa técnica; 2002, 28 de janeiro - proposta da DRCoimbra para abertura de procedimento de classificação de âmbito nacional; 23 Fev. - é assinado um protocolo de colaboração entre as direções dos teatros Trindade de Lisboa e Buarcos; 2002 - do plano de obras necessárias consta a recuperação da tela do teto, remodelação do quadro elétrico (com mais de 50 anos), bem como reparações no pavimento do palco e na teia. Num balanço anual às atividades desenvolvidas apontam-se noites de fado, bailes, exposições, encontros ou colóquios. A registar o interesse que este teatro vem recebendo assinalem-se a gravação, ocorrida nesta sala, dos programas Acontece e Regiões da RTP (13 Fev.), ou as filmagens de "Esquece tudo o que te disse", do realizador António Ferreira; 20 de maio - despacho de abertura do Vice-Presidente do IPPAR; 2004, 19 de março - proposta da DRCoimbra para a classificação como IIP; 2006, 30 de março - despacho da Vice-Presidente do IPPAR a devolver o processo à DRCoimbra para juntar proposta de ZEP; 2008, 21 de julho - nova proposta da DRCCentro; 2011, 26 de outubro - parecer favorável da SPAA do Conselho Nacional de Cultura, relativamente à classificação como MIP. |
Dados Técnicos
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Materiais
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Bibliografia
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MAIA, A., Telhas ...P'ró União, Figueirense, 14 Maio 1993; Obras no Teatro da Trindade são necessárias e urgentes, Diário de Coimbra, 28 Dez. 1993; TARRAJA, Fátima, E assim se fez Teatro na Figueira, A Linha do Oeste, n.º 66, 8-21 Abr.1998; NOBRE JÚNIOR, Ronda de Buarcos, O Comércio do Porto, 11 Jul. 1999; VAZ, Anabela, Geminação cultural à vista, Diário das Beiras, 18 Jun. 2001; CARNEIRO, Luís Soares, Teatros Portugueses de Raiz Italiana, Porto, 2002 (Dissertação de Doutoramento em Arquitectura, apresentada na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, policopiado); BENTO, Anabela, Teatro Trindade, s.d. (policopiado). |
Documentação Gráfica
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União Foot-Ball de Buarcos: Arquivo da associação (Teatro da Trindade); CARNEIRO: 2002, pp.735-736 (insere levantamento do edifico: redesenho do autor a partir de documentação cedida pela Biblioteca Municipal da Figueira da Foz) |
Documentação Fotográfica
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União Foot-Ball de Buarcos: Arquivo da associação (Teatro da Trindade); IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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União Foot-Ball de Buarcos: Arquivo da associação (Teatro da Trindade); |
Intervenção Realizada
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Proprietário: 1998 / 2000 - obras de reparação na cobertura, sendo reposto um novo telhado, e de remodelação de espaços interiores (sala da Direcção e cozinha); 2002 - continuação das obras no interior com substituição do piso da plateia e instalação de um novo bar no espaço do subpalco; no exterior procedeu-se ao arranjo e pintura das fachadas. |
Observações
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* 1 - No subpalco mantêm-se as portas de acesso ao espaço da orquestra. Antes da substituição do piso da plateia havia ainda "vestígios, [embora] tapados, de um rebaixo para a orquestra, contornado por uma grade", tendo na altura as respectivas fixações (CARNEIRO: p. 730). |
Autor e Data
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Sandra Lopes 2002 / Filomena Bandeira 2003 |
Actualização
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