Igreja do Mosteiro das Chagas / Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Lamego

IPA.00007194
Portugal, Viseu, Lamego, Lamego (Almacave e Sé)
 
Mosteiro feminino de freiras clarissas, maneirista e barroco, composto por igreja, coros, sacristia, mirante, claustros, roda, refeitório, cozinhas, celas, sala do Capítulo, e zona agrícola para autosuficiência. Igreja de nave única, capela-mor e sacristia. Pórtico de arco a pleno centro, com entablamento, ladeado por colunas clássicas. Falsas abóbadas de berço em madeira, com efeito de trompe l'oeil na nave. Azulejos do séc. 17, de motivos geométricos em círculos encadeados e quadrilobos entrelaçados, e de enxaquetados. Retábulos de talha dourada do estilo nacional, com colunas salomónicas, concheados. Retábulo revivalista neogótico. Mirante num dos ângulos da igreja.
Número IPA Antigo: PT011805010027
 
Registo visualizado 832 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Mosteiro feminino  Ordem de Santa Clara - Clarissas (jurisdição do ordinário)

Descrição

Planta rectangular com eixo longitudinal interno, composta por nave, capela-mor e sacristia adossada, de volumes articulados, com disposição horizontalista das massas e coberturas diferenciadas de telhados de duas águas. Fachadas em cantaria aparente, excepto o corpo da sacristia e a fachada lateral direita, rematadas em cornija. Fachada principal virada a SE., com embasamento marcado, rasgada por portal em arco de volta perfeita, ladeado por duas colunas com capitéis jónicos e encimado por entablamento epigrafado e armoriado, rematado por frontão triangular com pináculos no enfiamento das colunas e cruz no vértice. Junto ao corpo saliente da sacristia, porta rectangular e, em plano superior, três janelões rectangulares em capialço. O corpo da sacristia, em plano mais avançado e com cunhais em cantaria, firmados por pináculos piramidais, é rasgado por duas janelas rectangulares, com chanfros nos ângulos e molduras de cantaria; o corpo da capela-mor tem janelão semelhante aos da nave. Fachada lateral esquerda, virada a NO., cega e com campanário no remate da empena, sobreposto por um outro de menores dimensões, com acesso por escada de metal e a marcação de pilastras do antigo janelão do coro-alto. Fachada lateral direira, virada a NO., marcado pelo corpo da capela-mor, com janelão rectangular. Fachada posterior marcado por fenestração rectangular, a que se segue perpendicularmente resto de muro do antigo convento, sendo os corpos da igreja cegos. INTERIOR com as paredes da nave integralmente forradas por azulejos de padrão policromo, o inferior formando círculos encadeados e quadrilobos enlaçados (P 462) e depois de um friso (F 10) surge um padrão de enxadrezados com motivos decorativos vegetalistas (P 999). Tem pavimento em lajeado de granito e cobertura em falsa abóbada de berço de madeira pintada em "trompe l'oeil", criando uma cúpula central, sustentada por uma profusão de colunas, entablamentos e anjos, e vasos floridos, sustentada por cornija de cantaria. Na parede fundeira, dividida em dois registos, são visíveis as marcações do coro-alto, com as pilastras a dividir os antigos vãos, agora entaipados, e, na zona inferior, três portas de verga recta, flanqueadas por pilastras toscanas que sustentam entablamento. No lado do Evangelho, dois retábulos de talha dourada, dedicados a Santo António e a São João Evangelista. No lado da Epístola, o portal principal encontra-se protegido por guarda-vento de madeira, a que se sucede púlpito do mesmo material, quadrangular, com bacia de cantaria e guarda torneada, com acesso por escadas no lado esquerdo; sucede-se retábulo de talha policroma. Arco triunfal de volta perfeita, encimado pelo emblema da Misericórdia de talha, estando ladeado por dois retábulos colaterais de talha dourada. Capela-mor com as paredes rebocadas e pintadas de branco, percorrida por azulejos de padrão formando silhar, com cobertura em falsa abóbada de berço de madeira, assente em cornija com vestígios de policromia, com pintura de motivos vegetalistas aos topos e em posição central a simbologia franciscana e a coroa real. No lado do Evangelho, porta de verga recta que ligava à antiga sacristia, actualmente entaipada; no lado oposto, porta de acesso à sacristia. Retábulo-mor de talha dourada com trono. Sacristia com 2 janelões rectangulares a ladear um lavabo, no pano fronteiro ao da porta para a capela-mor. Tecto de madeira policromada com caixotões com imagens de santos *1.

Acessos

Avenida Padre Alfredo Pinto Teixeira, no antigo campo do Tablado. WGS84 (graus decimais) lat.: 41,101646, long.: -7,810830

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 740-FQ/2012, DR, 2.ª série, n.º 252 de 31 dezembro 2012

Enquadramento

Urbano, a meia encosta, isolado, nas imediações de estabelecimento de ensino secundário, com a fachada virada para zona ajardinada em espaço nobre da cidade, em zona de interesse paisagístico. Junto à fachada principal, um Calvário e um Cruzeiro. Pórtico com acesso por três degraus.

Descrição Complementar

O brasão heráldico no entablamento do pórtico representa as armas do bispo fundador. Escudo esquartelado, tendo no primeiro e no quarto, de prata, leão de púrpura dos Silvas e no segundo e terceiro de ouro liso, dos Menezes. A legenda epigráfica do entablamento é a seguinte: DÕ ANTONIO TELLEZ DE MENESES BPO DE LAMEGO ERIGIO. / EDIFICOV E DOTOV ESTE MOSTEIRO DA ORDEM DE S. CLARA / EM LOVVOR DAS CINCO CHAGAS. ANNO M.D.LXXX.VIII. Capela-mor forrada com silhares de azulejos monócromos, dispostos em enxaquetado. Retábulo com estrutura do estilo nacional, mas com gramática decorativa posterior, revelando duas épocas de intervenção. No lado do Evangelho, desponta outro retábulo. Junto ao cruzeiro, o túmulo do bispo fundador, com escudo e a seguinte inscrição "SEPVLTVRA DE DOM ANT. TELLES DE MENEZES BPO QVE FOI DE LAMEGO. HO QUAL FVNDOV E EDIFICOV HE DOTOV ESTE MOSTEIRO DAS CHAGVAS. FALLECEO A 22 DIAS DO MES DE IVLHO DE 1598. ANNOS". No lado direito do órgão, a inscrição "Martinho Joze de Fontoura porfessor de Organeiro Reformou este Orgam de vozes antigas e modernas aos 28 de Agôsto de 1819 - Sendo Abbadesa a Il.ma Ex.ma Senhora Izabel Igrasia da Vezitação Sequeira".

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro feminino

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ENTALHADORES: João Correia Lopes (atr. séc. 18). Manuel de Sousa Rebelo (1768). IMAGINÁRIO: Teixeira (1645). ORGANEIRO: Martinho José de Fontoura (1819). OURIVES: Simão Ferreira (séc. 16). PEDREIROS: Pêro Gonçalves (1599-1600), Manuel Soares (1685), João Fernandes (séc. 18), António Ferreira da Silva (1708), Francisco Cardoso de Nazes e Timóteo Calheiros (1734); António Mendes Coutinho e Bernardo de Macedo (1765). PINTOR: Gonçalo Guedes (1580-1596). PINTOR - DOURADOR: Soror Maria da Cruz (séc. 16).

Cronologia

1588, 25 de Novembro - lançamento da 1ª pedra e edificação do mosteiro, dedicado a Santa Clara, a mando do Bispo de Lamego, D. António Teles de Meneses; inicialmente, esteve instalado na Capela de São Sebastião, no Lg. do Tablado; as primeiras religiosas do mosteiro, em número de 6, eram freiras do mosteiro de Monchique no Porto e todas irmãs do Bispo fundador; séc. 16, final - execução de um cálice de prata por Simão Ferreira; Soror Maria da Cruz (falecida em 1619) dourou a Capela do Desterro, instituída por ela no claustro, e pintou um quadro para a mesma; 1580-1596 - pintura de um Calvário, actualmente no Museu de Lamego, pelo pintor Gonçalo Guedes, enquanto esteve a trabalhar para o bispo D. António Teles de Meneses; 1599, 20 Novembro - contrato com Pêro Gonçalves para ladrilhar o corpo da igreja, de pedra grande, por 50$000, mais toda a pedra que fora quebrada para esse fim; o túmulo do fundador estava ainda por colocar; séc. 17 - feitura dos retábulos de talha e colocação do azulejo; possuía os altares do Santíssimo, São João Baptista, São João Evangelista, Chagas, Virgem de ao Pé da Cruz e Senhora da Conceição; 1621, 13 Abril - aprovados os estatutos da Irmandade de São João Evangelista, recentemente criada; 1645 - feitura do retábulo de São João Baptista numa capela do claustro, cujos planos se encontram assinados "Teixeira"; 1685 - Catarina da Costa deixou, em testamento, um legado à Capela de Nossa Senhora da Conceição; 12 Novembro - contrato com o pedreiro Manuel Soares para a feitura da Capela da Via Sacra, por 66$000; séc. 18 - pintura da falsa abóbada de madeira; obra de pedraria de João Fernandes; feitura do retábulo de São Sebastião, atribuível a João Correia Lopes; 1705 - datação da sacristia; 1708, 15 Março - demolição do antigo e feitura do novo mirante pelo pedreiro António Ferreira da Silva, por 140$000; 1709, 3 Janeiro - autorização para a benção das 25 imagens da Capela de São João; 1721 - instituição da Capela de Nossa Senhora da Penha de França, no claustro; 1730 - no retábulo-mor surgiam as imagens de Nossa Senhora da Conceição, São Francisco e Santa Clara; 1734, 10 Dezembro - obra de pedraria do coro-baixo, por Francisco Cardoso e Timóteo Calheiros, por 70$000, compreendendo duas portas, fresta e remate em cornija em papo de rola; 1757 - no convento, havia 50 freiras, 18 moças de serviço, criada e porteira; 1765 - construção da noviciado por António Mendes Coutinho e Bernardo de Macedo; 1768, 16 Julho - o entalhador Manuel de Sousa Rebelo faz o retábulo e capela da noviciaria, por 80$000; 1819, 28 Agosto - arranjo do órgão por Martinho José de Fontoura, por ordem da abadessa Isabel Engrácia da Visitação Sequeira; 1834 - extinção das ordens religiosas; 1910 - a Câmara pede ao Governo o edifício e cerca do mosteiro para ali se instalarem as Escolas Primárias ou quaisquer outros edifícios de utilidade pública, optando-se pelo funcionamento como Escola Primária, arrecadação da cantina escolar, campo de jogos e recinto da Feira; 1913 - após um incêndio na R. de Almacave que destruíu a antiga Igreja da Misericórdia em 1911 *2, e após várias deligências com a edilidade, esta aceitou doar a Igreja das Chagas a essa instituição; 1928, 22 Janeiro - doação ao Museu de Lamego das capelas do claustro dedicadas a Nossa Senhora da Penha de França, São João Baptista, São João Evangelista e Capela do Desterro, bem como a pintura de "Cristo no Horto", duas lâmpadas e um cálice de prata e paramentaria; 1929 - a Câmara cede os terrenos para a construção do Liceu; 1938 - a Misercórdia decide ceder uma parte da antiga sacristia para um melhor alinhamento do muro do Liceu; 1941 - o órgão foi desmantelada e a canaria vendida; 1996, 28 setembro - despacho de abertura do processo de classificação pelo vice-presidente do IPPAR; 2002, 26 março - proposta da DRPorto para classificação como Imóvel de Interesse Público; 2011, 18 abril - proposta da DRCNorte de classificação do edifício como Monumento de Interesse Público e fixação da respetiva Zona Especial de Proteção; 07 novembro - parecer favorável do Conselho Nacional de Cultura; 2012, 11 outubro - Anúncio n.º 13547/2012, DR, 2.ª série, n.º 197, com Projeto de Decisão relativo à classificação como Monumento de Interesse Público (MIP) da Igreja do Mosteiro das Chagas e à fixação da respetiva Zona Especial de Proteção.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Granito, rebocos, madeiras e azulejos.

Bibliografia

AZEVEDO, D. Joaquim de História da Cidade e Bispado de Lamego, Porto, 1877; LEAL, Augusto Soares D´Azevedo Barbosa de Pinho, Portugal Antigo e Moderno, vol. IV, Lisboa, 1874; CORREIA, Vergílio, Artistas de Lamego, Coimbra, 1923; AZEVEDO, Correia de, Arte Monumental Portuguesa, vol. IV, Porto, 1975; ALVES, Alexandre, Artísticas e Artífices, in Beira Alta, vol. XXXVII, nº 1, Viseu, 1978; COSTA, M. Gonçalves da, História do Bispado e Cidade de Lamego, vols. III, IV, V e VI, Lamego, 1982, 1984, 1986, 1992; LARANJO, F. J. Cordeiro, Cidade de Lamego - Igreja do Mosteiro das Chagas, Lamego, 1988; VALENÇA, Manuel, A Arte Organística em Portugal, vol. II, Braga, 1990; LARANJO, F. J., Cidade de Lamego - Museu de Lamego, Lamego, 1991; SILVA, José Sidónio Meneses da, O Mosteiro das Chagas de Lamego. Vivências, espaços e espólio litúrgico, 1588 - 1906, 2 vols., Porto, Faculdade de Letras do Porto, 1998; ALVES, Alexandre, Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e Viseu, 3 vols., Viseu, 2001; SERRÃO, Vítor, A Arte da Pintura na Diocese de Lamego (séculos XVI-XVIII), in O Compassao da Terra - a arte enquanto caminho para Deus, vol. I, Lamego, Diocese de Lamego, 2006.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

ADViseu: Livros de notas do tabelião de Lamego (l. 377/11, 418/77 e 528/47), Convento das Chagas de Lamego (l. 03/19); DGA/TT: Ministério dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça (Descrição do Convento das Chagas da Cidade de Lamego, mç. 224 e 280); BNP: Convento das Chagas (Cod. 8835 a 8838), Livro de Visitações (Cod. 8963)

Intervenção Realizada

1819 - restauro do órgão.

Observações

*1 - as pedras das arcarias dos claustros foram utilizadas para os portais da garagem da autarquia e para as bancadas do Estádio dos Remédios; existia um mirante no topo NE. da fachada principal, de que resta apenas a base do muro; grande parte do espólio do Museu de Lamego é proveniente deste convento. *2 - Cronologia da Misericórdia: 1519 - Ordem ao regente da Comarca de Lamego para se fundarem Misericórdias na sua circunscrição; o corregedor convoca uma reunião na Câmara com os oficiais, nobreza e povo para instuituição da Irmandade, comprometendo-se cada pessoa presente a contribuir com a quantia de 100 rs e 4 varas de estopa ou seu valor; inicialmente a Misericórdia funcionou na Igreja de São Francisco; tomou conta do Hospital Velho, junto à Ponte da Olaria; 1560 - 1561 - feitura das grades da porta pelo torneiro André Gonçalves, por 1$000; 1561, 29 Junho - ampliação da igreja pelo pedreiro João do Rego; 1563 - 1567 - várias obras pelo mesmo pedreiro; 1565 - obras do carpinteiro João Fernandes; 11 Janeiro - António Leitão pintou e dorou o retábulo da Quitação; 1567 - 1568 - João António executou 4 imagens para os altares da igreja; 1570 - 1571 - pintura de 7 varas por António Leitão, que pintou o crucifixo da bandeira, a cruz e crucifixo grande, imagens dos altares, bandeirinha das Almas e douramento do sacrário; 1573 - várias obras do mestre pedreiro Manuel de Carvalho, de Arneirós; 1573 - 1574 - grades de ferro para o altar-mor, feitas por João Fernandes; 1597, 17 Dezembro - Filipa Rodrigues do Amaral faz a doação dos seus bens à Misericórdia, dotando a Capela de Nossa Senhora da Conceição; 1636 - trabalhava na Misericórdia o pintor António Vieira; 1680 - contrato com João Cardoso, mestre canteiro de Nazes, para elevar as paredes da igreja da Misericórdia seis palmos, por 45$000; contrato com o carpinteiro Domingos Monteiro para levantar o forro da igreja; 1688 - Francisco Monteiro de Souto Covo e Domingos Gomes de Vila Real edificam a tribuna, fazem o arco da igreja e colocam ladrilho na frontaria da primitiva igreja da Misericórdia; 1708, 15 Dezembro - feitura de uma varanda de cantaria sobre o pátio, por 200$000; 1790 - pintura de uma "Visitação" para a primitiva Igreja da Misericórdia, por Pedro Alexandrino de Carvalho. A igreja da Misericórdia encontrava-se afastada do Hospital, na rua do Bom Despacho (Almacave) entre as igrejas de Almacave e São Francisco, tendo como orago Santa Marinha; tinha dois altares laterais com imagens de vulto de Jesus; o retábulo-mor era de talha dourada, onde surgia uma "Visitação", que sobreviveu ao incêndio e encontra-se no Museu de Lamego; no adro, fazia-se anualmente uma feira, mas, em meados do séc. 19 o recinto foi fechado, dando lugar ao edifício da Caixa Geral de Depósitos, actualmente ocupado pela Biblioteca/Arquivo Municipal.

Autor e Data

João Carvalho 1999 / Paula Figueiredo 2002

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login