Casa e Quinta da Companhia
| IPA.00007106 |
Portugal, Porto, Penafiel, Paço de Sousa |
|
Arquitectura civil, residencial, de carácter erudito, de gosto oitocentista (Casa); arquitectura religiosa, proto-barroca (capela). Casa marcada pelo gosto arquitectónico do séc. 19, de aspecto apalaçado, conferido não só pelas suas proporções mas também pelo ritmo dos seus vãos rasgados e verticalizantes, com gradeamentos de interessante lavor. Denso arvoredo a S., com espécies centenárias, onde se situa o portal monumental e a alameda de acesso. Subsiste do núcleo inicial de fundação jesuítica, a capela, com grande parte do seu recheio, a sacristia, com o seu retábulo e arcaz, parte dos alçados da ala NE. da Casa, a denominada Fonte dos Frades, oculta no arvoredo a SE., e provavelmente o celeiro a SO. |
|
Número IPA Antigo: PT011311220033 |
|
Registo visualizado 877 vezes desde 27 Julho de 2011 |
|
|
|
Conjunto arquitetónico Edifício e estrutura Residencial coletiva Residência religiosa
|
Descrição
|
Quinta constituída por casa com capela adossada, celeiros, casa de moinho agrícola com uma roda, jardim arborizado, campos agrícolas e mata. CASA de planta quadrangular, irregular, composta por corpo central articulado a S. com capela de planta rectangular. Volumetria massiça correspondente a três pisos, coberturas em telhado de quatro águas, com chaminé em destaque a N. e relógio a S. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com molduramentos, cunhais, entablamentos e outros elementos, em pedra. Acesso principal a S., através de escadaria exterior dupla, com dois lanços à esquerda e um só à direita (talvez devido a obra projectada e não concluída no séc.19) e acesso de serviço por escada, a N. Nesta fachada, janelas de guilhotina, e nas restantes, vãos rasgados, de proporções verticalizantes e ritmo semelhante, com bandeira e duas folhas, e apresentando caixilharia de madeira, pintada de branco com entalhes de gosto oitocentista e parapeito em grade de ferro rendilhada. A O., os vãos são de sacada e protegidos por grades de ferro salientes e semicirculares. INTERIOR: dois núcleos de escadas em posição centralizada estabelecem ligação vertical entre pisos 1 e 2, prolongando-se um deles ao piso 0. Este piso 0 apresenta três acessos do exterior, o principal a estabelecer ligação à sacristia e capela, através de hall de entrada, um secundário a abrir para espaço circulação que articula os espaços função, e o terceiro de serviço a permitir ligação directa à cozinha. No piso 1, espaços circulação articulam as escadas com as salas de estar, comer e cozinha; pequeno hall junto da entrada permite acesso ao coro da Capela. No piso 2, de carácter mais íntimo, desenvolvem-se essencialmente os espaços de dormir e instalações sanitárias de apoio. CAPELA adossada a S., de planta de nave única rectangular e cobertura em telhado de duas águas. Fachadas com fortes cunhais revestidos a pedra e rematados por pináculos. Fachada principal, orientada, com portal de verga recta, frontão semi-circular interrompido por pinha, e encimada por óculo. Empenas das fachadas principal e posterior, são rematadas por cruzes. A fachada lateral S. apresenta dois vãos, sineira sobre o entablamento, e outra sineira a um nível inferior, junto ao cunhal, sobre o que poderá ser o resto de uma pequena torre sineira. INTERIOR com cobertura em tecto de caixotões de madeira com molduras entalhadas e douradas, policromadas e marmoreadas e pavimento em lajes de pedra. As paredes, com lambris de azulejo de padrão azul amarelo e branco formando tapete, apresentam pinturas de cavalete (algumas sobre tábua). Coro em madeira pintada, condizente estilísticamente com a casa depois de remodelada, com a qual comunica, tapando parcialmente um dos vãos, o qual deixa contudo perceber vestígios de motivos polícromos pintados. O espaço destinado ao altar é sobrelevado separado da nave por grades de madeira exótica com ornatos de metal, com acesso por degraus de pedra. Altar com retábulo em talha dourada profusamente decorada com enrolamentos vegetalistas, anjos e pássaros, com colunas torsas demarcando o espaço destinado às imagens que assentam em mísulas, mas no seu todo de configuração bastante plana, de gosto ainda seiscentista. Sacristia de planta quadrangular, com cobertura em tecto octogonal em caixotões de madeira policromada, sem telas, com brasão da família proprietária, pintado ao centro. Apresenta pequeno retábulo em talha dourada a envolver crucifixo sobre arcaz em madeira exótica e ornatos metálicos. CELEIRO de piso térreo, a S., com cobertura em telhado de duas águas, fachadas em pedra aparelhada ritmadas pelos vãos simples e de verga recta, contornados em parte por trepadeiras. Interiormente apresenta um espaço funcional aberto. A NO. localiza-se a eira e os restantes edifícios agrícolas. Na zona posterior dos celeiros, em socalcos, um JARDIM ocupa uma das plataformas, integrando canteiros com buxo a envolver lago e protegido pela sombra de velhas japoneiras cujas copas se tocam. Os TERRENOS AGRÍCOLAS, planos e em declive formando socalcos desenvolvem-se a N., NO. e E. A MATA, em declive, estende-se a S. e SE., constituindo um denso maciço de árvores que com o seu colorido matizado forma um dos atractivos da quinta, integrando espécies variadas como carvalhos, medronheiros, pinheiros, algumas centenárias e de grande porte, como os 3 carvalhos no limite junto da R. Quercus. A área integra a FONTE DOS FRADES, recinto rectangular com uma bica e bancos corridos. |
Acessos
|
Rua Padre Américo |
Protecção
|
Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria n.º 205/2013, DR, 2.ª série, n.º 71 de 11 abril 2013 |
Enquadramento
|
Periurbano, isolado, implantado em vale, a cerca de 7Km de Penafiel, na margem esquerda do rio Sousa. Situa-se na proximidade do Mosteiro de Paço de Sousa (v. PT01131122003) e da Casa do Gaiato. É delimitada por muro a S., junto do qual se destacam carvalhos centenários, a E. e a O., e vias adjacentes, respectivamente Rua do Padre Américo, Rua dos Monges Beneditinos e Rua Barão Lourenço Martins. A N. é atravessado pela EN 106-3, e delimitado pelo Rio Sousa. O acesso principal faz-se pela Rua Padre Américo, através de grandioso portal constituído por alçado com empena recortada e vértices rematados por pináculos, envolvendo superiormente a pedra de armas, muito trabalhada. Ao portal segue-se uma pequena alameda. O acesso secundário faz-se pela Rua Barão Lourenço Martins. |
Descrição Complementar
|
|
Utilização Inicial
|
Residencial: residência religiosa |
Utilização Actual
|
Residencial: casa |
Propriedade
|
Privada: pessoa singular |
Afectação
|
Sem afetação |
Época Construção
|
Séc. 16 / 17 / 18 / 19 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
|
|
Cronologia
|
1570 - O mosteiro de Paço de Sousa é entregue ao Colégio do Espírito Santo de Évora, da Companhia de Jesus (v. PT040705210023); 1578 - Breve do Papa Gregório XIII limitando os direitos da Companhia de Jesus, anulando a decisão anterior, passando apenas a beneficiar da renda abacial e da administração do Couto do mosteiro; os monges beneditinos ficam na posse do edifício monacal e da renda da mesa conventual; 1579 - primeira troca de bens entre os jesuítas e os monges beneditinos do mosteiro, de mútuo interesse, levando à doação de terras adjacentes ao mosteiro à Companhia (mais tarde Quintas de Pedro Leite); 1581 - os jesuítas constroem residência e respectivos celeiros, hoje Casa da Companhia, por trezentos mil reis, provenientes da renda da mesa abacial; 1759 - o Papa Clemente XIV extingue a Companhia de Jesus; José de Azevedo e Sousa, de Vila Nova de Gaia, negociante em vinhos e detentor de grande fortuna, compra a Casa da Companhia, quinta e foros da Mesa Abacial; institui vínculo de Morgado e deixa todos os bens à segunda filha, Sebastiana Máxima, 1ª Senhora do Morgado de Paço de Sousa, casada com Pedro Leite Pereira de Melo, filho segundo da Casa de Campo Belo em Vila Nova de Gaia (v. PT011317160009), FCCR e Cavaleiro da Ordem de Malta; Pedro Leite aumenta os bens legados pelo sogro; 1814 - José Augusto Leite Pereira de Melo, FCCR, Coronel do Regimento de Milícias do Distrito de Maia, casa com D. Emília de Luna Sousa Teixeira de Magalhães e Lacerda, filha do 1º Visconde de Peso da Régua; recebem na quinta Sir Nicolas Trant, Governador do Porto e sua filha Clarissa *1, com criados e lavradores em redor da escadaria, jantar a rigor e fogo de artifício; 1822, 25 Julho - nasce no Porto na freguesia de Santo Ildefonso, Diogo Leite Pereira de Melo, Fidalgo da Casa Real e Presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia; séc. 19 - Diogo Leite Pereira de Melo, Fidalgo da Casa Real, presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, casado com D. Cândida Peixoto de Melo e Alvim, herda a Casa da Companhia, Casa do Choupelo em Vila Nova de Gaia e a Casa do Pinheiro em Amarante; 1886 - conclusão das obras de profunda reformulação da casa, mandadas fazer por Diogo Leite, não seguindo os grandiosos planos iniciais por falta de meios; Diogo Leite está casado em segundas núpcias com D. Francisca Amélia Mourão Leite (1849-1924); 1906, 22 Dezembro - morre Diogo Leite sendo sepultado em Paço de Sousa; a viúva vende a Casa e os restantes bens; séc. 20 - Joaquim Augusto Leite Pereira de Melo (1893-1966), filho de Diogo Leite, advogado, casa com D. Teresa da Conceição Oliveira, filha de Álvaro Júlio Oliveira advogado e rico proprietário de Moncorvo, adquire a Casa da Companhia e Quintas adjacentes para oferta de casamento; realização de obras de recuperação sobretudo do interior; 1916 - nasce D. Maria Teresa Lucinda Oliveira Leite Pereira de Melo (mãe da actual proprietária), filha de Joaquim Augusto que vem a casar com Francisco Manuel de Melo Pereira de Magalhães (1909-1981), 3º Conde de Alpendurada, Engenheiro civil que também realiza obras na casa; 1943 - parte da cerca do Mosteiro é cedida para construção da Casa do Gaiato, instituição de solidariedade e educação de rapazes; séc. 20, meados - por partilhas antecipadas os actuais proprietários herdam a Casa da Companhia e fazem obras de beneficiação no interior; 1950, 14 Julho - classificação dos 3 Carvalhos junto da R. Quercus como IIP, por Despacho publicado no DG nº162, IIª Série; 2000, 08 junho - proposta de classificação do imóvel apresentado pela proprietária; 09 agosto - proposta de abertura do processo de classificação da DRPorto; 04 setembro - despacho de abertura do processo de classificação do Vice-Presidente do IPPAR; 2003, 30 dezembro - proposta da DRPorto para a classificação como Conjunto de Interesse Público; 2006, 30 março - devolução da proposta de classificação à DRPorto para juntar proposta de Zona Especial de Proteção; posteriormente existiu uma Nova proposta da DRCNorte para a classificação do imóvel como Monumento de Interesse Públcio; 2012, 19 outubro - publicação do Projeto de Decisão relativo à classificação como Monumento de Interesse Público, e fixação da respetiva Zona Especial de Proteção em Anúncio n.º 13605/2012, DR, 2.ª série, n.º 203. |
Dados Técnicos
|
Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
|
Coberturas em telha; alçados rebocados e pintados; molduramentos, cunhais, entablamentos e outros elementos, em pedra; tectos soalhos e portas em madeira; grades em ferro |
Bibliografia
|
TELES, Baltazar, Crónica da Companhia de Jesus da Província de Portugal, IIª Parte, Lisboa, (Livraria de Alcobaça), 1647, Cap.XII; PINHO LEAL, Augusto Soares, Portugal Antigo e Moderno, vol.VI, Lisboa, 1875; Jornal O Penafidelense, Penafiel, 21 Janeiro 1890, p.2; RODRIGUES, Franciso, História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal, Tomo II, vol.1, Porto, 1938; Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Igreja de Paço de Sousa, nº17, Lisboa, 1939; COSTA, Américo, Dicionário Geográfico de Portugal, vol.VIII, Vila do Conde, 1943; Jornal de Notícias, Lisboa, 13 Agosto 1944; VALENTE, Vasco, O Governador Sir Nicolas Trant, Apologista do Vinho, suplemento do Caderno do Instituto do Vinho do Porto, nº119, Porto, Novembro 1949, p.32; MEIRELES, Frei António da Assunção, Memórias do Mosteiro de Paço de Sousa e Index dos Documentos do Arquivo, Lisboa, 1957; SÃO TOMÁS, Fr. Leão de , Beneditina Lusitana, Tomo II, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1974, Cap.XII; SILVA, Jorge Henrique Pais da, Estudos Sobre o Maneirismo, Lisboa, 1986; Visita de Sir Nicolas Trent a Paço de Sousa, in Manuel Mendes, Esboço Histórico da Banda Musical de Paço de Sousa, Paço de Sousa, 1991; CORREIA, José Eduardo Horta, A Arquitectura - maneirismo e estilo chão, in História da Arte em Portugal, vol.7, Lisboa, 1993; PEREIRA, Paulo (Dir.), História da Arte Portuguesa, vols.I e II, s.l., 1995; Dec. Lei nº67/97, in DR nº301, Iª Série, de 31 Dezembro 1997. |
Documentação Gráfica
|
IHRU: DGEMN / DSID |
Documentação Fotográfica
|
IHRU: DGEMN / DSID |
Documentação Administrativa
|
|
Intervenção Realizada
|
Proprietários: Séc.19 - Profundas obras de remodelação; séc. 20, inícios - obras de interior incluindo imponente escadaria de madeira; substituição do telhado; obras de interior; 1940 - obras gerais; séc. 20, final - obras de beneficiação do interior, com inclusão de vários sanitários. |
Observações
|
*1- A filha do Sir Nicolas Trant, Governador do Porto, Clarissa descreve a paisagem (Vasco Valente, 1949) como muito pitoresca e fértil, onde rio serpenteia mansamente no meio dos campos de árvores selvagens, vinhas suspensas em ricos festões, milheirais e o Convento a espreitar do denso arvoredo, tendo como pano de fundo a serra do Marão com neve. |
Autor e Data
|
Jorge de Brito e Abreu 2000 / Patrícia Costa 2005 |
Actualização
|
|
|
|
|
|
| |