Convento de São Francisco do Monte / Igreja Paroquial de Orgens / Igreja de São Francisco

IPA.00007063
Portugal, Viseu, Viseu, Orgens
 
Convento franciscano capucho, de construção medieval pelos observantes, tendo sido um dos primeiros a ser edificado para esta facção franciscana, de que não subsistem vestígios, tendo sido remodelado ao longo dos séculos 17 e 18, alterando significativamente a sua estrutura, a última tentando-o adequar às normas da Província da Conceição. É de planta rectangular composta por igreja de planta retangular e convento desenvolvido no lado esquerdo, com a antiga cerca a desenvolver-se na zona fronteira à fachada principal. A igreja é antecedida por galilé, e tem capela-mor mais estreita, com coberturas diferenciadas em falsas abóbadas de berço assentes em cornijas, iluminada por janelas rectilíneas rasgadas na fachada lateral direita, e pelos vãos da fachada principal. Esta tem remate erudito contracurvo, onde se destacam os dois nichos com imaginária em terracota pintada, semelhantes aos de São Pedro do Sul, podendo ser de uma mesma escola. As modinaturas são recortadas e ostentam vestígios de policromia, destancando-se, ainda, o portal encimado por uma cartela contendo um busto com a imagem de Santo António com o Menino; é marcada pelo vão da galilé, onde surgem as portas de verga reta do portal axial, portaria e Capela do Senhor dos Passos. Torre sineira na fachada posterior semelhante à solução adoptada em São Francisco de Viana e em Vila Cova de Alva. Interior com amplo coro-alto assente em pilastras toscanas, contendo parte do cadeiral e o antigo armário. No lado do Evangelho, o púlpito quadrangular de talha maneirista, com acesso por porta de verga recta, surgindo, ainda, confessionários embutidos no muro; no lado oposto, estrutura retabular de talha. O presbitério é seccionado por grades-confessionários, com madeiras embutidos e composta por balaústres, com afinidades às existents em Viana do Castelo, Ponte de Lima e Pinhel. Arco triunfal de volta perfeita, encimado por Calvário; encontra-se ladeado por retábulos colaterais de talha dourada do estilo tardo-barroco, pintados de branco e dourado, com remates em espaldar recortado. Capela-mor com retábulo de talha maneirista, de planta recta e três eixos, possuindo grande sacrário em forma de templete. O convento desenvolve-se em torno de claustro quadrangular. No lado do Evangelho, o acesso à Via Sacra, sacristia e casa do lavabo, tendo, na ala oposta à igreja, o refeitório, cozinha e despensa, surgindo, virado à fachada posterior, a Casa do Capítulo. No piso superior, subsistem vestígios das celas com corredores centrais, iluminados por janelas regrais. Da Via Sacra partem as Escadas das Matinas, de acesso ao corredor do coro-alto. Na sacristia, conserva-se o tecto de caixotões com temática hagiográfica, o único da Província. As cenas baseiam-se, essencialmente, na Vida Primeira, de Tomás de Celano (séc. XIII), a primeira biografia do Santo, surgindo, algumas cenas baseadas na Vida Segunda, na Legenda Maior, de São Boaventura, a biografia oficial do Santo, e nas Florinhas de São Francisco, composta por vários livros datados do séc. 14 (Fontes Franciscanas, 2005, p. 991). Esta possui o arcaz com vários painéis com vida de santos e alusivos aos Mártires de Marrocos. A cerca é de grandes dimensões, murado a alvenaria, com acesso por porta carral junto à fachada principal, marcada por uma capela e duas fontes, de que subsistem a Capela de São Domingos e duas fontes, a de São Francisco e a Fonte de Ouro. O acesso mantém a primitiva calçada em lajeado, com acesso por um amplo vão, onde se integra uma imagem de São Francisco, pontuada por dois cruzeiros, um deles datado, e, junto ao terreiro da igreja, uma fonte, hoje desactivada, que resultou do reaproveitamento dum arco manuelino do interior da igreja, a que se acrescentaram vários elementos maneiristas.
Número IPA Antigo: PT021823190031
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos Capuchos (Real Província da Conceição)

Descrição

Complexo conventual composto pela igreja, vestígios da antiga zona conventual, adossada ao lado esquerdo e, separado por muros e fronteira à igreja, a antiga cerca, actualmente zona de quintais particulares. IGREJA de planta longitudinal composta por nave *2, antecedida por galilé, e capela-mor mais estreita, possuindo uma torre adossada ao lado esquerdo *3, de volumes articulados, com disposição horizontalista das massas, com coberturas diferenciadas em telhados de duas e quatro águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, rematadas em cornija e em beirada simples. Fachada principal virada a S., em empena recortada, encimada por fragmentos de cornija, telhadas, e com cruz latina sobre plinto em forma de fogaréu, de hastes galbadas e com a representação de coração inflamado; a fachada é flanqueada por cunhais apilastrados de silharia almofadada, dando um aspecto rústico, firmados por fogaréus. Acesso à galilé por arco de volta perfeita com moldura de cantaria e protegido por grade em ferro, encimada pelo janelão do coro, de moldura recortada e ladeado por dois nichos em arco de volta perfeita, com molduras de cantaria e pingentes laterais, rematados por frontões triangulares, contendo as imagens de São Domingos (lado esquerdo) e São Francisco (lado direito), em terracota pintada; sobre o janelão, um óculo circular com moldura simples. A galilé rebocada e pintada de branco, percorrida por silhar de azulejo de padrão monocromo azul sobre fundo branco, tem cobertura em falsa abóbada de aresta, com portal de verga recta e moldura recortada, encimado por uma cartela volutada, contendo o busto de Santo António com o Menino sobre livro no braço esquerdo e ladeado por albarradas. Confrontantes, duas portas de verga recta e moldura simples, a do lado esquerdo de acesso à antiga portaria e a oposta correspondendo à antiga Capela do Senhor dos Passos. Fachada lateral esquerda parcialmente adossada à zona conventual, com uma janela na zona da capela-mor, sendo a oposta, virada a E., rasgada por quatro janelas rectilíneas em capialço, duas na nave e as demais na capela-mor. Fachada posterior em empena cega. No lado esquerdo da fachada principal, a torre sineira de três registos, os superiores de menores dimensões, separados por frisos de cantaria, com cunhais almofadados e remate em cornija e beirada simples; o registo inferior possui janela rectilínea e com moldura simples, surgindo no segundo quatro ventanas em arco de volta perfeita e moldura simples. INTERIOR rebocado e pintado de branco, percorrido por silhar de azulejo de figura avulsa, com pavimento em lajeado de granito, protegido por estrados de madeira, com cobertura em falsas abóbadas de berço, rebocadas e pintadas de branco, assentes em cornija de granito. Coro-alto sobre arco abatido, assente em pilastras toscanas, com guarda em ripado de madeira, encimada por elementos entalhados, formando um rendilhado, tendo, ao centro, uma maquineta composta por baldaquino de madeira, assente em quatro colunas de fuste torso e percorridas por espira fitomórfica, assentes em plintos galbados e que sustentam um friso, cornija e cinco fogaréus, Possui cadeiral de madeira com uma ordem de cadeiras com um total de 16, havendo, anteriormente uma segunda ordem, totalizando 28; fronteiro à porta de acesso, rasgada no lado do Evangelho, o armário do coro, embutido na parede, com portas almofadadas em madeira de castanho, encimada por sanefa de lambrequins. No lado do Evangelho, quatro confessionário de verga recta, que abrem simultaneamente para o corredor dos confessionários. No mesmo lado, o púlpito quadrangular com bacia de cantaria ostentando vestígios de policromia, com guarda de madeira em branco torneada, para onde abre uma porta de verga recta e moldura simples, protegida por guarda-voz de talha, ornado por lambrequins e encimado por uma águia sobre um livro aberto. A separar a zona dos fiéis, as grades-confessionários formadas por colunelos torneados em bolacha, interrompidos por acrotérios na forma de balaústres e, nos topos, os confessionários fixos, com remate e friso, flanqueados por duas ordens de balaústres; o painel inferior é liso e decorado por falsa almofada desenhada, criando um quadrado com os ângulos salientes, envolvido por sequência de finos enrolamentos. O painel superior, almofadado em ponta de diamante, é decorado por acantos estilizados e, sobre o ralo, uma cruz latina. Este é ornado por motivos vazados fitomórficos e por uma segunda cruz latina. Têm a particularidade de manter os elementos superiores, que rebatiam, permitindo aos fiéis a visualização dos actos litúrgicos, e onde encaixavam confessionários portáteis. No lado da Epístola, uma capela lateral dedicada a Santo António, com acesso por arco de volta perfeita, tendo no fecho a pedra de armas esquartelada dos Gouveia, reaproveitada da primitiva capela medieval. Arco triunfal de volta perfeita e assente em pilastras toscanas, decorado por elementos vegetalistas pintados, e encimado pela pedra de armas da família Ferreira *4. Está encimado por três mísulas, com imaginária formando um Calvário, e ladeado por duas estruturas retabulares de talha pintada de branco, dedicados aos Sagrados Corações de Jesus e Maria (Evangelho) e Nossa Senhora de Fátima (Epístola) *5. A capela-mor tem, sobre supedâneo de cantaria com degraus centrais, a estrutura retabular, de talha dourada e policroma, de planta recta e três eixos definidos por quatro colunas espiraladas, com o terço inferior ornado por cartela com imagens de frades franciscanos. No eixo central, tribuna em arco de volta perfeita, onde se integra trono expositivo. Na predela, quatro painéis relevados, os dois que flanqueiam o sacrário com frades capuchos em oração, surgindo, no lado do Evangelho, Santa Clara acompanhada por uma clarissa que lhe segura o báculo, e, no oposto, Santa Isabel representada no episódio do Milagre das Rosas. Nos eixos laterais, dois nichos em arcos de volta perfeita, tendo querubins nos seguintes, contendo imaginária. A estrutura remata, ao centro, por uma tabela flanqueada por quarteirões, onde surge um emblema com as armas seráficas, rodeadas de seis asas, alusão ao Serafim chagado, o próprio São Francisco, sobrepujada por frontão semicircular, sendo ladeada por dois painéis a representar São Boaventura e São Luís Bispo. Assenta em sotobanco moderno, composto por apainelados e com altar do mesmo estilo. Ao centro, o sacrário facetado e com cobertura em cúpula, com a porta ornada por um Cristo Redentor, surgindo, nas ilhargas, monges franciscanos em oração. No lado do Evangelho, porta de verga recta de acesso ao antigo CONVENTO *6, de planta em L invertido, com ambos os braços rectangulares, evoluindo em dois pisos. Fachada principal virada a S. em cantaria de granito e alvenaria rebocada, rematando em cornija, rasgada por duas portas no piso inferior, a do lado esquerdo rectilínea e com moldura simples e a do lado direito em arco abatido com moldura recortada. No piso superior, janela de peitoril rectilínea. A face O. é em alvenaria de tijolo, com ampla porta de verga recta. Fachada posterior com cinco janelas de peitoril, duas rectilíneas e três em arco abatido, todas com molduras simples e cantaria e protegidas por grades de ferro. No piso superior, quatro janelas de peitoril rectilíneas, duas delas formando uma bífora, com molduras simples de cantaria. INTERIOR rebocado e pintado de branco, com acesso pela antiga portaria que acede ao corredor dos confessionários, tudo com pavimento em lajeado, formando sepulturas, e com tecto de betão; na portaria, um nicho em arco de volta perfeita, com moldura recortada por enrolamentos e remate em cornija angular, com nítidos vestígios de policromia. Dá acesso à Via Sacra, de onde evolui a escada das matinas com coluna de arranque volutada e guarda plena, e por onde se acede à sacristia, através de porta de verga recta com moldura recortada e com fragmentos de cornija, ornada por marmoreados fingidos pintados. A sacristia, com pavimento em lajeado de granito, tem tecto de caixotões pintados com cenas da vida de São Francisco e molduras marmoreadas com florões dourados nas intercessões, possuindo arcaz, composto por quinze gavetas, com ferragens metálicas recortadas, sobre o qual surge um espaldar em talha dourada. No lado direito, o armário dos cálices e amitos, em madeira de castanho, com nove gavetas amplas, duas portadas e várias pequenas gavetas. O segundo piso serve de casa de habitação, tendo, sobre a sacristia, umas instalações sanitárias. A CERCA *7 de planta rectangular e bastante alterada tem, no meio, vestígios da primitiva Capela que deu origem à comunidade, a Capela de São Domingos, dimensões razoáveis, de planta longitudinal, já sem cobertura, mas que seria de duas águas, com as paredes parcialmente rebocadas e pintadas de branco, tendo a fachada principal em empena, rasgada por portal em arco de volta perfeita, encimado por fresta (Fig. 660). O interior encontra-se em péssimo estado de conservação, preenchido por vegetação, não permitindo avaliar se mantém algum elemento de interesse. Na fachada, surgem pedras salientes que testemunham a existência de um alpendre *8. o sistema hidráulico do Convento. Este possuía duas nascentes, existindo uma num terreiro amplo, situado no lado direito da igreja, e que seria denominada, primitivamente, Fonte de São Francisco, porque possuía um nicho com a imagem do Santo (Doc. 192). O que resta desta fonte, da tipologia de mergulho, é um amplo arco de volta perfeita, de acesso ao tanque interior, tendo, na parede fundeira, vestígios de um nicho em abóbada de concha, onde estaria a imagem, entretanto desaparecida (Fig. 655). Desta, evoluíam vários canos em pedra (Fig. 656), que descarregavam num amplo tanque em cantaria, que funciona actualmente como depósito de água (Fig. 657). No interior da cerca, existe outra mina, cuja água é canalizada através de uma fonte, a denominada Fonte do Ouro, para um amplo tanque, também ele em funcionamento, servindo de depósito para rega dos terrenos envolventes. Sobre a fonte surge um sarcófago, certamente proveniente da igreja medieval e que pertenceria a um frade, pois possui uma inscrição "Domine Deus meus in te speravi, Jesu; e no meio estão gravadas as Chagas, como em escudo de armas seraficas (...)".

Acessos

Rua do Convento

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 191/2013, DR, 2.ª série, n.º 69, de 09 abril 2013

Enquadramento

Rural, isolado, situado junto a zona florestal e a vários terrenos de cultivo e a uma zona recentemente urbanizada, onde despontam algumas residências unifamiliares dissonantes. O acesso descendente até ao Convento, antecedido por um cruzeiro assente em plataforma quadrangular de dois degraus, um parcialmente embutido no pavimento, adaptando-se ao declive do terreno, onde surge plinto galbado que sustenta uma coluna toscana em entasis, com remate em tabuleiro, onde se implanta uma cruz latina de hastes floreadas. O acesso processa-se por um muro rebocado e pintado de branco, onde se rasga um arco de volta perfeita, sustentado por pilastras toscanas e encimado por cornija e pináculos piramidais, tendo, ao centro, um nicho assente e rematado por cornija, com plinto galbado sobrepujado por cruz latina, contendo uma imagem de São Francisco, em terracota pintada, datável do séc. 18. A calçada, pavimentada com lajes de granito, é protegida por muros laterais, que levam a um patamar, onde surge o cruzeiro conventual, sobre plinto tronco-piramidal e duas ordens de plintos, o superior galbado, onde assenta cruz latina simples, onde surge a data "1711". A partir deste, desenvolve-se uma escadaria de cantaria que leva ao terreiro do convento, onde surge um muro rasgado por porta, o acesso à antiga zona conventual, actual zona residencial. Em frente à igreja, alguns bancos de cantaria, uma oliveira e a antiga Fonte de São Francisco *1 que recebia água do tanque de rega da cerca, e que se encontra, actualmente, desactivada. Está adossada ao muro que dividia a cerca, sendo em cantaria e parcialmente rebocada e pintada de branco, composta por um nicho pouco profundo, em arco dobrado de volta perfeita, encimado por três canopos, ornados por cogulhos, assente em dois colunelos finos, com capitéis em forma de carranca, sendo o intercolúnio ornado por acantos e alcachofras, tudo sublinhado por alfiz emoldurado a cantaria. A estrutura é flanqueada por pilar fasciculado, com capitéis ornados por elementos fitomórficos, que se prolongam em moldura saliente, rematada por um frontão triangular, com cogulho no vértice. Na base, um pequeno espaldar em cantaria, tendo, ao centro, uma bica boleada e decorada por enrolamentos, que vertem para taça gomada; remata em cornija, sobre a qual surge um nicho em abóbada de concha, flanqueado por decoração volutada. No topo, os seguintes estão ornados por elementos circulares, um com rosetões e outro com contas, que centram as armas seráficas.

Descrição Complementar

Na galilé, uma lápide em granito polido, com inscrição avivada a dourado: "150º ANIVERSÁRIO DA IGREJA DO CONVENTO DE SÃO FRANCISCO DO MONTE COMO MATRIZ DA PARÓQUIA 1841-1991 SENDO PÁROCO A.M. MARTINS". Na capela lateral, dedicada a Santo António, a pedra de armas dos Gouveia são "o primeiro de vermelho com uma dobre cruz de ouro, acompanhada de seis besantes de prata; e um debrum no segundo esmalte (Melo); o segundo de prata, com seis arruelas de azul, 2, 2 e 2 (Castro). Timbre: uma águia de vermelho estendida, besantada de prata" (Armorial Lusitano, pp. 258-259). No interior, retábulo de madeira com sacrário. Sobre o arco triunfal, a pedra de armas dos Ferreira"De vermelho, com quatro faixas de ouro [as armas só possuem, estranhamente, três faixas, sendo possível que o canteiro que as esculpiu, conhecendo, perfeitamente, as tendências decorativas barrocas, não dominava os princípios da heráldica]. Timbre: um abestruz de sua cor, com uma ferradura de ouro no bico." (Armorial Lusitano, p. 214), estando envolvido por paquife recortado e concheado. Os retábulos colaterais são semelhantes, de talha dourada e pintada de branco, de plantas côncavas e um eixo definido por duas colunas de fuste liso e capitéis coríntios e por duas pilastras ornadas por motivos vegetalistas, que sustentam frisos e fragmentos de frontão, rematadas em albarradas, tendo, ao centro, nicho contracurvo. As estruturas rematam em espaldar recortado e projectado para o exterior, sobrepujado por cornija e folhagens recortadas, ornado por profusos elementos vegetalistas, com altares em forma de urna, ostentando o mesmo tipo de decoração. A sacristia possui cobertura em caixotões pintados com cenas da vida de São Francisco, bastante ingénuos, quer do ponto de vista compositivo, quer de tratamento anatómico das figuras. Representam: Despojamento da roupa perante o bispo de Assis (Vida Primeira, cap. VI, 15), Partida de Assis (Vida Primeira, cap. VII, 1), São Francisco trabalha numa leprosaria (Vida Primeira, cap. VII, 17), segue-se a tábua sem pigmento e completamente delida, Aprovação da regra (Vida Primeira, cap. XIII, 32, Tentação feminina (Vida Segunda, cap. V, 9), São Francisco rebola-se nas rosas, na Porciúncula, São Francisco é recebido pelo Cavaleiro de Celano (Legenda Maior, cap. XI, 4), São Rufino prega nu (Florinhas de São Francisco, cap. XXX), São Francisco tentado, rebola na neve (Vida Segunda, cap. LXXXII, 117), Visão da Virgem com o Menino, São Francisco recebe os estigmas (Vida Primeira, cap. III, 94), Bênção do pão (Vida Primeira, cap. XXII, 63), Cristo dá o cordão a São Francisco, São Francisco dialoga com Cristo, São Francisco pede que lhe leiam o Evangelho de São João (Vida Primeira, cap. VIII, 110), Comunhão de São Francisco, São Francisco é cauterizado (Florinhas de São Francisco, cap. CXV), São Francisco escreve, São Francisco abençoa os seus irmãos (Vida Primeira, cap. VII, 106), São Francisco morto (Vida Primeira, cap. IX, 112), São Francisco é deposto no túmulo (Vida Primeira, cap. IX, 118), Cristo dá uma espada a São Francisco, São Francisco decapita um bispo, São Francisco apresenta a alma do bispo a Cristo. Estas três cenas enigmáticas revelarão a luta contra a heresia reformista, sendo possível que represente a dádiva de uma espada, para que São Francisco, tal como lutara contra as heresias medievais, o fizesse contra as modernas, através da decapitação de Martinho Lutero (1483-1546), que, arrependido, se apresenta de joelhos ante Cristo. No arcaz, surge um oratório central com a imagem do Crucificado, com dossel, de onde pendem drapeados pintados com motivos florais coloridos, a abrir em boca de cena; é flanqueado por três painéis de cada lado, um deles formando a ilharga, divididos por quarteirões e sustentados por elementos de talha dourada com motivos fitomórficos. Representam, da esquerda para a direita, São Domingos, os Mártires de Marrocos, São Francisco em oração no deserto, São Boaventura, Santo António a receber o Menino e São Francisco a receber os estigmas, pinturas de qualidade desigual, as do lado direito aparentando melhor qualidade pictórica, revelando que foram fruto do trabalho de várias mãos.

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Viseu) / Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Frei António de Buarcos (1532); Frei Francisco de Jesus Maria (1742-1750). ENTALHADOR: Francisco Lopes de Matos (atr., séc. 17). PEDREIRO: Bartolomeu Álvares (1672); Diogo Fernandes (1644). PINTOR: António Vaz (1574); Vasco Fernandes (1520).

Cronologia

Séc. 15 - fundação do oratório por Frei Pedro de Alamanços, junto à Ermida de São Domingos; fundação da capela de D. Teresa Freire de Andrade, com arcosólio na nave, que nunca ocupou o seu túmulo, por ter falecido em Lisboa; 1407 - doação do terreno para construção do novo edifício por Gonçalo Esteves e Catarina Anes, sua esposa; o padre João da Serra faz doações para a fundação e construção do edifício; 1424, 28 Setembro - Breve de Martinho V autorizando a fundação; 1426, 15 Maio - a Capela de São Domingos muda de orago, passando a ser invocativa de São Luís e São Francisco; 25 Maio - lançamento da primeira pedra pelo bispo D. João Homem e por Frei Aimaro d'Aurilac, da diocese de Ceuta; 1449 - sepultura de Brites de Gouveia num arcosólio, na nave, tendo a sua pedra de armas sobre o mesmo; 1453, 12 Abril - D. Afonso IV doa uma esmola mensal de 400 reais para as obras; 1458, 29 Maio - o monarca privilegiou o sapateiro que servia a comunidade; 1460-1478 - ampliação do convento, com nova igreja, com coro-alto, casa do capítulo, enfermaria, hospedaria e dormitório; a obra foi feita com pedraria cedida por D. Afonso V, existente na zona da Cava do Viriato; para ajuda das despesas, recebeu uma dádiva de 70$000 do rei, em que fora condenado Antão Gomes de Abreu e 40$000 de D. Brites de Gouveia; 1467, 5 Junho - privilégio aos carreteiros e almocreves que serviam a comunidade; 1467, 5 Junho - privilégios a quem fosse buscar peixe ao litoral para alimentar a comunidade; 1476 - o bispo D. João de Abreu doou trigo dos celeiros do bispado para a comunidade; o mesmo paga a feitura da torre sineira; 1482 - sepultura de Rui Gomes da Silva, fidalgo da Casa Real, na capela-mor; 13 Fevereiro - o bispo D. João de Abreu, da família Silva, ordena a colocação da sua pedra de armas no arco triunfal; 24 Julho - D. João II confirma todos os privilégios concedidos pelo pai; séc. 16 - a comunidade é apoiada pela família dos Silva; sepultura na capela-mor de D. Leonor de Castro e D. Joana de Crestelo; 1518-1552 - construção de um dormitório com 17 celas, por ordem do guardião Frei João de São Pedro, que custou 600 cruzados, parte doado pelo bispo D. Gonçalo Pinheiro; construção do alpendre da porta da igreja; 1520, antes - instituição da capela colateral do Evangelho, dedicada ao Espírito Santo, por Henrique Esteves da Veiga, Senhor da Honra de Molelos, que se fez sepultar no local, com o epitáfio "Aqui jaz Henrique Esteves, Senhor de Molellos, que esta Capella ..." (JOSÉ, vol. I, 1760, p. 648); este doou várias peças de prata, que contemplavam um cálice dourado e galhetas; 1520 - pintura de uma Senhora das Dores por Vasco Fernandes; 1532-1563 - reforma do claustro, tornando-o mais pequeno, sendo o dinheiro oferecido por João Afonso, de Fragusela e pelo bispo D. Gonçalo Pinheiro, conforme risco de Frei António de Buarcos; 1551 - fundação da capela lateral da Epístola, dedicada a Nossa Senhora da Conceição por Branca Teixeira, deixando dinheiro para a lâmpada e para missas; 1565 - integrou a Custódia Capucha de Santo António; 1573 - o padroado do Capítulo, dedicado à Santíssima Trindade, foi cedido a D. Jorge de Amaral Tenreiro, que iniciou as obras, continuadas pela sua viúva, D. Isabel Amaral de Vasconcelos, que despendeu mil cruzados e deixou 3 alqueires de azeite para a lâmpada e 10 de trigo para os frades, além de 30 varas de burel, dádivas anexadas a uma casa no Carvalhal; 1574 - fundação da Capela da nave, dedicada a Nossa Senhora da Piedade, por Brites Nunes da Costa, onde se fez sepultar; execução da pintura por António Vaz, actualmente no Museu Grão Vasco; 1593 - instalação de um noviciado no local, por ordem de Frei Francisco do Amparo; 1594 - D. Luís da Cunha e D. Isabel Lourenço, da Casa de Santar pedem o padroado do Convento, sendo feita a doação; verificação de que o padroeiro era D. Rui da Silva, Duque de Pastrana, instalado na Corte filipina; 1597, 10 Setembro - patente definindo que o padroado do convento era da família Silva; séc. 17 - obras profundas na igreja, sendo a Capela do Espírito Santo trasladada para a nave; é colocada no seu lugar a Capela de Nossa Senhora da Conceição, proveniente da nave; colocação da cruz da capela na empena da igreja; o bispo D. João Manuel ofereceu duas celas no Seminário aos frades doentes; 1600 - D. Ana de Lencastre, viúva do duque fez desistência do padroado; 1601, 12 Maio - o padroado é cedido a D. Luís da Cunha e D. Isabel Lourenço; no mesmo ano, Álvaro Freire de Andrade alegou que a capela-mor lhe pertencia, pois estavam sepultados no local ascendentes seus; 1603 - falecimento de D. Isabel Lourenço, deixando em testamento dinheiro para as obras do edifício, que não viriam a ser aplicadas; 1612 - perante a contingência da mudança para Viseu, os herdeiros da Capela da Piedade, Constantino e Bernardo da Costa de Castelo Branco, autorizam a mudança da mesma; colocação de uma lâmpada na Capela da Piedade; 1613, 30 Agosto - perante o pedido de fundação de um convento na vila, o monarca ordena a destruição da casa de Orgens; 1630 - Manuel Botelho Ribeiro Pereira escreve que a Capela de São Domingos foi doada a Henrique Esteves da Veiga, que a dedicou ao Espírito Santo e deixou como administrador o seu filho Henrique da Veiga, com obrigação de 50 missas anuais, sem qualquer fundamento; 1633 - sai o último noviço, Frei João da Visitação; 1635, 6 Maio - decisão de não se demolir o edifício, que passou a ser um oratório, ficando no local 8 religiosos; 1636 - diminuição do número de celas para 8, arranjo do coro e mudança do local da portaria; séc. 17, meados - Frei Gabriel de Santa Clara refez a capela-mor, mandou dourar o retábulo, caiou o conjunto, conserto da torre e parede do dormitório, enfermaria, passadiço das secretas; mandou ainda fazer o armário da sacristia; forro e reboco do corredor que liga a sacristia à portaria; feitura das janelas do refeitório e armário para os cálices e amitos; 1647, 18 Julho - D. João IV doa 26 cântaros de azeite; 1650 - feitura da imagem do orago, por Frei Jorge dos Reis *9; 1672, 22 Setembro - escritura entre o síndico, Manuel Lopes de Barros, e o pedreiro Bartolomeu Álvares, de Ranhados, para fazer o arco cruzeiro e os dois altares colaterais, à semelhança do de Santo António de Viseu, por 45$000; 1693 - perante a falta de pagamento dos bens vinculados à Capela do Espírito Santo e ao declínio do culto, foi transformada em portaria, por Frei Marcos; 1694, 16 Janeiro - decisão de dividir a Província de Santo António em duas; séc. 18 - o papa Bento XIV privilegia o altar de Nossa Senhora da Conceição; execução da Capela da Sagrada Família da cerca, por D. Jerónimo Soares, bispo de Viseu, a instâncias de Frei Manuel de São José; pintura das modinaturas dos vãos com elementos fitomórficos; era administrador da Capela de Nossa Senhora da Conceição Ascenso de Mesquita; feitura do arcaz da sacritia, pago na totalidade pelo vigário da Igreja de Mangualde, José Rebelo de Mesquita; execução de uma Senhora da Conceição para o nicho da escada, por frei Francisco de Jesus Maria, natural de Vila Real; 1705, 24 Abril - nascimento da Real Província da Conceição *10, por Breve de Clemente XI; 1709 - Nuno de Barros de Castelo Branco deixa 3 alqueires de azeite para a lâmpada da Capela da Piedade, por ele administrada; 1713 - reedificação da Capela de São Domingos da cerca; 1742 - construção integral da igreja, que passou de E.-O. a N.-S., conforme projecto de Frei Francisco de Jesus Maria, de Vila Real; transformação do arcosólio de Brites de Gouveia em Capela de Nossa Senhora das Dores, no lado da Epístola, reaproveitando-se a sua pedra de armas; 1743, 27 Abril - doação do padroado da casa a Manuel Ferreira, abade de Povolide, obrigando-se a doar 5 mil cruzados para as obras do edifício e fixando uma renda de 40$000 para a comunidade, para o que deixou, em testamento, 980$000 a juro, nas mãos da Santa Casa da Misericórdia de Viseu; a pedra de armas dos Silva foi apeada, tendo sido substituído pela dos Ferreira; 1744, 25 Outubro - celebração da primeira missa na nova capela, paga pelo abade de Povolide, tendo a Província participado com 3 mil cruzados; 1745, 15 Maio - volta a ser um Convento, apesar de não ter o número de frades necessários, sendo o primeiro guardião Frei Luís de São José; 1750 - terminam as obras na zona conventual; séc. 18, 2.ª metade - feitura das imagens em terracota para os nichos da fachada; execução das grades-confessionário da nave *11; 1751 - as imagens da capela da Sagrada Família da cerca foram enviadas para a casa de São Pedro do Sul, para colocar no nicho das escadas regrais; na capela, foi colocada uma imagem de Cristo coroado de espinhos; 1754, 14 Novembro - morte de Manuel Ferreira, passando o padroado para o sobrinho, Luís José de Cerzedo; 1760 - o padroado do Capítulo pertencia a Francisco de Albuquerque, que doava 30 alqueires de pão, 15 de centeio e 15 de milho; 1763, 27 Setembro - em acta Capitular decide-se que o guardião fizesse 10 braças de muro anuais; 1834 - extinção das Ordens Religiosas e abandono do edifício, avaliado em 4:511$200; inventário dos bens do Convento *12 e referência à Capela da Sagrada Família no claustro, pertencente à Casa de Santo Estêvão; 1836, Janeiro - o órgão foi entregue à Santa Casa da Misericórdia de Mangualde; 17 Fevereiro - pedido do convento pela Câmara de Viseu para instalar o Asilo de Mendicidade; 1837, 8 Fevereiro - a Paróquia pede a cedência da igreja; a Câmara volta a reiterar o pedido do ano anterior; venda do convento em hasta pública a António Rodrigues de Loureiro, que mandou demolir parte do imóvel e vender os materiais; 1841, 15 Setembro - cedência da igreja à Paróquia de Orgens; 1945 - regresso da pintura da Senhora das Dores a Portugal, após ter estado na posse de Sir Herbert Cook, de Richmond; 1991, 05 dezembro - Despacho de abertura do processo de classificação pelo presidente do IPPC; 1997, 07 agosto - proposta da DRCoimbra de classificação como Imóvel de Interesse Público; 2008 - o pároco tenta adquirir o que resta da zona conventual; 2011, 07 setembro - proposta da DRCCentro de classificação da igreja e património integrado como Monumento de Interesse Público e fixação da respetiva Zona Especial de Proteção; 23 novembro - parecer favorável do Conselho Nacional de Cultura à proposta da DRCCentro; 2012, 26 setembro - publicação do projeto de decisão de classificação como Monumento de Interesse Público e fixação da respetiva Zona Especial de Proteção em Anúncio n.º 13470/2012, DR, 2.ª série, n.º 187.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de granito e cantaria de granito, a primeira rebocada e pintada; lajes de betão; modinaturas, cruzes, fontes, pilastras, colunas, pavimentos em cantaria de granito; coberturas, retábulos, púlpito, guarda do coro, cadeiral, armários, estantes, grades, arcaz e portas de madeira; silhares de azulejo tradicional e de azulejo industrial; janelas com grades de ferro; grade da galilé em ferro; janelas com vidro simples; cobertura em telha.

Bibliografia

MARIA, Frei Agostinho de Santa, Santuario Mariano..., vols. IV e V, Lisboa, Officina da Antonio Pedrozo Galram, 1712-1716; JOSÉ, Frei Pedro de Jesus Maria, Chronica da Santa, e Real Provincia da Immaculada Conceição de Portugal da mais estreita e regular Observancia do Serafim Chagado S. Francisco, 2.ª ed., 2 vols., Lisboa, Officina de Miguel Manescal da Costa, MDCCLX (1760); ALMEIDA, Fortunato de, História da Igreja em Portugal, Porto / Lisboa, 1968; O Manuscrito sobre Viseu de Francisco Manuel Correia, Viseu, Edição da Junta Distrital de Viseu, 1974; São Francisco de Assis - Fontes Franciscanas, Braga, Editorial Franciscana, 1982; Guia de Portugal, vol. III - II, Lisboa, 1985; ARAÚJO, António de Sousa (Frei), Antoninhos da Conceição - dicionário de capuchos franciscanos, Braga, Editorial Franciscana, 1996; ALVES, Alexandre, Memórias do extinto Mosteiro de S. Francisco do Monte de Orgens (Viseu), in www.millenium22.pt , 2000; ALVES, Alexandre, Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e Viseu, vols. I e II, Viseu, 2001; Primeiro mecanismo de relojoeiro português encontra.se em Orgens, in Diário Regional de Viseu, Viseu, 2 Fevereiro 2004; CARDOSO, Teresa, Viseu - humidade ameaça igreja, in Jornal de Notícias, 12 Junho 2006. Convento de S. Francisco do monte (Orgens) carece de obras, in Diário da Guarda, 24 Junho 2006; FIGUEIREDO, Ana Paula Valente, Os Conventos Franciscanos da Real Província da Conceição - análise histórica, tipológica, artística e iconográfica, [tese de doutoramento], 3 vols., Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2008; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/71640 [consultado em 2 janeiro 2017].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

DGARQ/TT: AHMF, conventos extintos, Convento de São Francisco do Monte de Viseu, cx. 2265; BPP: Crónica da Provincia da Conceição, 1737, FA - 69

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1996 - construção de novo telhado; 2004 - restauro do relógio quatrocentista.

Observações

*1 - a Fonte é constituída por um arco reaproveitado do interior da nave, onde integrava a Capela de Nossa Senhora da Piedade, correspondente à estrutura central, manuelina, que sofreu um arranjo no séc. 18, altura em que foi transferido para esta zona, com introdução de novos elementos, de gosto epi-maneirista. *2 - a nave primitiva tinha quatro arcosólios confrontantes, de execução medieval, surgindo, no lado da Epístola, os de Brites de Gouveia e D. Teresa Freire de Andrade; no lado oposto, os dos ascendentes de João de Almeida Soares de Melo e Vasconcelos, da Quinta de Santo Estêvão, situada junto ao Convento. Na entrada, uma capela dedicada a Nossa Senhora da Piedade, composta por um arco com uma pintura do orago, representando uma Lamentação de Cristo morto, surgindo, na predela, São Cosme, São Damião e São Boaventura, mandada fazer por Brites Nunes da Costa; no lado da Epístola, no sub-coro, a Capela de Nossa Senhora da Conceição, instituída por D. Branca Teixeira, com uma pintura a representar uma Imaculada, de quatro palmos. *3 - com a inversão da orientação da igreja no séc. 18, a torre, então situada na fachada posterior, passa a integrar a fachada principal. *4 - sobre o arco triunfal, surgia, até ao séc. 18, a pedra de armas do bispo D. João de Abreu, que seria esquartelado com as armas dos Silva, dos Freire e dos Andrade. As armas dos Silva eram "De prata, com um leão de púrpura, armado e lampassado de vermelho ou de azul (…)", sendo as dos Freire "De verde, com banda de vermelho, perfilada de ouro, abocada por duas cabeças de serpe do mesmo (…)" e as dos Andrade são semelhantes às dos Freire, com "(…) banda abocada por duas cabeças de serpe de verde salpicadas de ouro, e acompanhadas de duas caldeiras xadrezadas de vermelho e de prata, com arcos asas serpentíferas de verde" (Armorial Lusitano, pp. 55, 228 e 503). *5 - nos séculos XVIII e XIX, os altares eram dedicados a Nossa Senhora da Conceição (Evangelho) e a Santo António (Epístola). *6 - o Convento maioritariamente desaparecido, desenvolvia-se em torno de um claustro de dois pisos, sustentado por colunas, onde surgia a sepultura de um benfeitor que mandou construir o claustro, surgindo, numa das colunas, uma inscrição alusiva a essa acção: "JOÃO AFFONSO DE FRAGUZELA FERREYRO, DEIXOU SUA FAZENDA A ESTE CONVENTO DE QUE SE FEZ A CLAUSTRA. FREI ANTONIO DE BUARCOS A FEZ 1532"; no piso inferior, na ala S. e ao lado da portaria, a primitiva Casa do Capítulo, surgindo, no lado oposto à igreja, o refeitório, a cozinha, com lugar para 28 frades, e ao lado do "De Profundis", a Capela da Santíssima Trindade; no segundo piso, distribuído pelas alas S. e O., o dormitório com 18 celas, o principal com apenas 9 e, no topo, uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, fundada pelo abade de Povolide, surgindo, ainda, uma segunda capela, junto ao coro, com a invocação de Nossa Senhora das Dores. *7 - tinha uma cerca de grandes dimensões, composta por uma mata com castanheiros e carvalhos, loureiros, medronheiros e mato, pomares e hortas; fora da cerca, castanheiros e carvalhos, mandados plantar por Frei Leonardo de Jesus, com licença de D. Diogo de Sotomaior para obterem a lenha necessária à comunidade, estando demarcada por 2 cruzeiros; no topo da mata, a Capela de Jesus Maria José, que estava rodeada por um roseiral e no meio da cerca, a Capela de São Domingos, onde nasceu o cenóbio, que ainda se mantém arruinada e que possuía as imagens de Cristo atado à coluna, São Francisco e São Domingos; tinha duas nascentes, uma no terreiro amplo junto ao convento e a Fonte do Ouro. *8 - referenciado pelo Cronista da Província da Conceição, como estando suportado por colunas (JOSÉ, 1760). *9 - A imagem era "(…) de excellente escultura de madeyra, & de rara fermosura, obrada por hum Religioso da mesma Provincia, insigne Escultor, & natural de Braga, & o mesmo que obrou a milagrosa Imagem de Nossa Senhora do Amparo da Casa nova, junto a Via Longa, termo de Lisboa (…) Não consta certamente o anno em que foy feyta, mas haverá pouco mais de sessenta annos neste que corre de 1715" (MARIA, liv. II, 1716, tit. XX, p. 220). *10 - fazem parte da Província os seguintes Conventos: Santa Maria de Mosteiró (v. PT011608030013), Santa Maria da Ínsua (v. PT011602120133), São Francisco de Viana (v. PT011609310047), Santo António de Ponte de Lima (v. PT011607350252), Santo António de Caminha (v. PT011602070044), São Bento de Arcos de Valdevez (v. PT011601340059), São Bento e Nossa Senhora da Glória de Monção (v. PT011604170011), Nossa Senhora da Conceição de Melgaço (PT011603180044), Santo António do Porto (v. PT011312120035), São Francisco de Lamego (v. PT011805010074), São Francisco de Orgens, São Francisco de Moncorvo (v. PT010409160053), São Francisco de Vila Real (v. PT011714240091), Santo António de Serém (v. PT020101120131), Santo António de Viseu (v. PT021823240358), Santo António de Viana (v. PT011609310048), Santo António de Vila Cova de Alva (v. PT020601180012), Santo António de Pinhel (v. PT020910170012), São José de São Pedro do Sul (v. PT021816140005), Convento do Senhor da Fraga (v. PT021817040031), Colégio de Santo António de Coimbra (v. PT020603020036 e PT020603020163) e o desaparecido Hospício de Lisboa. *11 - cremos que a atribuição do patrocínio da obra a D. António de Vasconcelos e Sousa constitui uma falha da Crónica (JOSÉ, vol. II, 1760, pp. 274-278), visto o Convento ter uma reconstrução mais tardia à presença do prelado em Lamego (1692-1705), sendo possível que sejam contemporâneas ou pouco anteriores às de Ponte de Lima, com as quais mantêm algumas afinidades, logo de meados do séc. 18. *12 - segundo este inventário, a Capela de Nossa Senhora das Dores tinha, sobre a banqueta, quatro tocheiros, três sacras, uma estante de missal e duas jarras de porcelana, decoradas com ramos; a Capela colateral do Evangelho tinha uma Senhora da Conceição e dois anjos tocheiros, tendo, sobre a banqueta, quatro tocheiros de talha dourada, três sacras, uma estante de missal, duas arandelas de ferro e duas jarras cerâmica; a do lado oposto, tinha a imagem de Santo António e, sobre a banqueta, quatro castiçais de talha em prata dourada, uma estante de missal, três sacras e duas arandelas de ferro; sobre o altar-mor, surgia uma banqueta com seis tocheiros dourados e um Crucificado, três sacras, uma estante de missal e quatro jarras com flores de papel e, na capela, existia um berço do Menino Jesus, mochos de madeira para os celebrantes, referindo-se seis pintados de encarnado e uma credencia; as capelas eram iluminadas por lâmpadas de metal e na igreja surgiam oito painéis pintados; na sacristia existia uma sineta, que servia para a chamada para as missas e para a marcação dos passos litúrgicos, e, sobre o arcaz, tocheiros pintados de azul e acompanhados de três sacras douradas; na sacristia, existiam as seguintes alfaias litúrgicas: uma custódia de prata, com seis marcos e seis onças e um cálice, com dois marcos e vinte e duas oitavas; na Capela da Senhora das Dores do dormitório, a imagem do orago, que substituiu uma outra pintada, que se mantém no Museu Nacional de Arte Antiga, assinada pelo pintor Vasco Fernandes e datável de 1520. O conjunto forma um tríptico, com a figura de Cristo morto, sustentado por São João Evangelista, tendo a Virgem dolorosa no centro da composição, amparada por Santa Maria Madalena, surgindo, num fundo, a cruz. Os volantes representam São Francisco a receber os estigmas e um Santo António em oração; no Capítulo, o altar era dedicado à Santíssima Trindade, com um painel fixo, representando, certamente, um Pentecostes, surgindo, sobre o altar, dois tocheiros de madeira prateada e duas sacras; o painel era acompanhado por imaginária, ladeado por uma Virgem, Santa Ana e São Joaquim, formando uma Sagrada Família, sendo a estrutura retabular era iluminada por uma lâmpada de latão; no refeitório surgia uma sineta de chamada para as refeições, uma pintura a representar a Última Ceia e vários candeeiros de latão, tendo na cozinha duas arcas velhas, duas pias de pedra para o azeite e uma torneira de bronze do lavabo; também na despensa existiam várias arcas e balanças, enquanto a hospedaria possuía seis bancos três tamboretes, uma mesa, um tear e uma arca velha

Autor e Data

João Carvalho 1999 / Paula Figueiredo 2009

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