Quarteirão Eiffel

IPA.00007051
Portugal, Lisboa, Lisboa, Avenidas Novas
 
Componente urbano. Quarteirão fechado. Arquitectura civil residencial do Estado Novo: conjunto de 9 edifícios projectado para um quarteirão das Avenidas Novas segundo um programa camário de construção habitacional de rendas acessíveis para as classes médias. Dentro da arquitectura que reconhecemos como pertença do gosto oficialmente definido pelo Estado Novo, em oposição ao modernismo e em nome de uma arquitectura nacional, estes edifícios resultam de um compromisso arquitectónico, estético e até económico, onde se conjuga uma concepção urbana, e neste sentido moderna, do espaço edificado e habitado com uma decoração inspirada em elementos rústicos e históricos. Atenda-se, por exemplo, ao beiral saliente dos corpos mais altos, ao alpendre sobre o terraço, ao revestimento em tijolo das chaminés, às floreiras sob as janelas, à grelhagem das varandas, ao desenho torneado das gárgulas e biqueiras ou às guardas de ferro.
Número IPA Antigo: PT031106230505
 
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Registo

 
Conjunto urbano  Elemento urbano  Quarteirão      

Descrição

QUARTEIRÃO - Conjunto de 9 edifícios projectados segundo três modelos diferenciados: um para os prédios de gaveto (2); outro para os edifícios geminados (2+2+2)), cujo eixo marca o centro das respectivas frentes urbanas; e por fim, um desenhado para o edifício de gaveto com a R. Eiffel, distinto devido às limitações criadas pelo traçado oblíquo do terreno a S., e pelas contruções preexistentes na frente E.. Numa apreciação global ao projecto de urbanização, observe-se ser a simetria da sua concepção contrariada por aquele traçado irregular, que flecte de O. para E., traduzido essencialmente no desenho e áreas diferenciados dos logradouros privados e na planta do espaço público interior, aliás idêntica à do quarteirão. Anote-se também a unidade do conjunto, para a qual concorre a uniformização compositiva dos distintos corpos, embora a percepção que daquele se tenha da rua ou do interior do quarteirão seja diferente: nas frentes urbanas (três), desoprimidas, domina a disposição horizontal dos volumes, enquanto na zona posterior se afirmam as massas verticais e compactas. Este efeito decorre da decomposição volumétrica criada pela articulação entre os corpos centrais posteriores, recuados e comuns a dois edifícios, e os mais avançados e baixos, contínuos e relativos a 4 prédios (incluindo aqui os de gaveto). Semelhante solução origina abatimento da cércea na frente urbana e criação de um espaço reentrante em forma de "U", ajardinado e separado da rua por um muro gradeado, enquanto a tardoz afirmam-se as fachadas altas, dominantes, quase ocultando os logradouros formados pelo desencontro dos corpos posteriores e avançados. As entradas lateralizadas, pouco evidenciadas, e abertas mesmo no alçado interior no caso dos prédios geminados, a fenestração simétrica, com módulos de sacadas, e as coberturas acordadas à disposição dos corpos e não ao lote considerado como uma unidade, parecem contrariar a pluralidade intrínseca ao conjunto. Esta no entanto é relevada por alguns pormenores, como sejam: a cor utilizada nas fachadas, alternando entre o rosa e o branco; os separadores das sacadas comuns, de desenho volutado, em cantaria e pouco discretos; o muro divisório da zona ajardinada da frontaria; e o par de esculturas ornamentais (figura de mulher em tamanho natural), apostas na frontaria dos edifícios geminados, lado a lado, ao centro e ao nível do 2º piso. EDIFÍCIOS GEMINADOS - Reagrupamento de dois corpos, um de planta em "L", unido a outro de planta rectangular. O primeiro, mais alto, dispõe de sete pisos, encontra-se recuado, e apresenta cobertura em telhado de duas e três águas; o de planta rectangular, mais baixo, avança até ao alinhamento da rua, estrutura-se em cinco pisos e tem cobertura em terraço, além do alpendre na parte onde se unem os dois corpos. Os pavimentos são desencontrados e o andar térreo do corpo mais alto está a um nível inferior do primeiro piso do corpo avançado. Estes edifícios têm cada um e no total 23 fogos, 4 por piso (com excepção do primeiro e últimos pisos do corpo recuado), 12 de seis divisões e 11 de três divisões, além da casa da porteira e de um estúdio no r/c, e de um outro estúdio no último piso. Quanto à organização interna do espaço, os fogos dividem-se igualmente pelos dois corpos (6+3 assoalhadas em cada um): os de maior área desenvolvem-se ao longo de um corredor longitudinal e abrem-se para as fachadas principal e posterior; nos de menor área as divisões agrupam-se em "L", maioritariamente constituintes dos alçados laterais virados ao logradouro ou à zona ajardinada da frontaria. A escada localiza-se na união dos dois corpos, dispõe de dois acessos, traçados nas fachadas laterais, além da saída para o terraço. A fenestração, apesar de não fugir às linhas rectas, diferencia-se em função do espaço interior: nas fachadas principal e posterior, um par de janelas, distinto na dimensão e molduramento, para os quartos e casas de banho, enquanto a sala comum se abre para uma varanda com grelhagens em cantaria e os panos entre os vãos do escritório recebem uma mísula decorativa em pedra; nos alçados distingue-se em particular a fenestração gradeada a ferro da escada. EDIFÍCIO DE GAVETO (R. Eiffel) - Planta adaptada à forma quadrangular do lote para um edifício adossado, de corpo único, com cinco pisos e dispondo a tardoz de exíguo logradouro. Tem cobertura em telhado. Conta com 10 fogos, 9 de três divisões e um apartamento com duas. As fachadas voltam-se à Av. Visconde Valmor e R. Eiffel, estando a entrada no prédio localizada nesta última. Os vão abertos no alinhamento da porta, descentrada, correspondem às janelas da escada, constituindo o único elemento de diferenciação das duas frentes, em tudo mais iguais: soco de cantaria, fenestração simples (3 vãos) das habitações, limitada a dois terços do pano único da fachada, seguida por parede cega ou pela fenestração da escada.

Acessos

Avenida Defensores de Chaves, Avenida Visconde Valmor, Rua Eiffel e Avenida Elias Garcia.

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Quarteirão integrado na malha urbana das Avenidas Novas, no limite E. deste desenho, ou seja na linha de quarteirões (N. / S.) consolidados por construções nos anos trinta e quarenta do séc. 20, entre a Av. Defensores de Chaves (O.) e o Bairro Social do Arco Cego / envolvente do Instituto Superior Técnico (E.) ( v. PT031106430303 e PT031106430168 ). O conjunto edificado ocupa um terreno de configuração rectangular, com traçado oblíquo a S.. A homogeneidade das frentes urbanas, resultante de um projecto concebido para o quarteirão, é quebrada na R. Eiffel por quatro edifícios de construção mais recente a ligar os blocos das avenidas Elias Garcia e Visconde Valmor (este a tornejar para a R. Eiffel). Nesta frente urbana, que sucede às construções preexistentes respeitadas e integradas no projecto inicial do "quarteirão Eiffel", abre-se uma entrada, em túnel, de acesso ao interior do quarteirão.

Descrição Complementar

Conjunto habitacional projectado e construído segundo normas definidas pela Câmara Municipal de Lisboa e ao abrigo de um plano que visava a edificação de habitações de rendas acessíveis para as classes médias. Terá sido das primeiras experiências do género e foi concretizada na zona das Avenidas Novas.

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Privada: Pessoa Colectiva / Privada: Pessoa Singular

Afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: António Maria Veloso dos Reis Camelo (1985). ARQUITETO PAISAGISTA: Manuel Sousa da Camara (1991).

Cronologia

A expansão urbana desencadeada para nascente das Avenidas Novas a partir do fim dos anos 20, constituindo iniciativa propulsora nesta zona a edificação do Instituto Superior Técnico (v. 1106430168), é acompanhada por planos de construção habitacional, alguns deles envolventes de edifícios emblemáticos da política de Obras Públicas do Estado Novo, como o I.S.T., o I.N.E. e a Casa da Moeda (v. 1106230446 ). Por estes planos são então abrangidos os terrenos mediados entre o traçado das Avenidas Novas, aquém da Av. Defensores Chaves, e aqueles onde se implantam o Bairro do Arco Cego (v. 1106430303 ) e as novas edificações até ao alto da Alameda. A consolidação dos actuais quarteirões e abertura de novos arruamentos, iniciados com a construção da Casa da Moeda, faz-se durante os anos 40, obedecendo já ao gosto arquitectónico oficial afeiçoado pelo Estado Novo, sendo disso exemplo o "quarteirão Eiffel". O conjunto de prédios que dão forma a este quarteirão resulta da execução parcial de um projecto elaborado segundo normas estabelecidas pela Câmara para um terreno municipal dividido em 12 lotes. Tinha aquele organismo por objectivo promover a construção de "habitações de rendas acessíveis às classes médias", orientando os projectos "por forma a conseguir a máxima limitação do custo de construção, sem para tal se sacrificarem as condições de higiene e conforto ou de segurança, nem as de estética, atendendo à sua localização, mas pela criteriosa arrumação dos compartimentos e estrita limitação dos espaços mortos - tendo no entanto em vista a classe dos moradores a que se destinam - e bem assim pela adopção dos materiais e processos de construção (...) os mais económicos entre nós" (Memória descritiva do projecto). Com este programa, Veloso Reis Camelo desenha o projecto definitivo em 1945, para um plano de urbanização que abarca os terrenos compreendidos pelas avenidas Defensores de Chaves (O.), Elias Garcia (N.) e Visconde Valmor (S.), com o limite E. fixado na R. Dona Filipa de Vilhena (antiga Dona Estefânia). Na impossibilidade da construção se estender a um quarteirão único, à semelhança do realizado para a Av. António José de Almeida/Av. Visconde Valmor, e pesem as demolições sobre as quais se riscou o loteamento, nomeadamente a Vila Catarino (E.), as parcelas restariam divididas pela R. Eiffel, pequena artéria a ligar as avenidas Elias Garcia e Visconde Valmor, bem como se integravam as suas frentes preexistentes: para O. definiram-se 9 lotes e para E. mais 3 lotes. Deste projecto assim concebido só se concretiza o designado "quarteirão Eiffel" (correspondente aos 9 lotes), abandonando-se com os anos sessenta a oportunidade e o tempo de ele se completar a nascente da R. Eiffel (ver 1106230503 ). Entre, sensivelmente, a primavera de 1946 e o verão de 1947 são edificados em simultâneo os 9 edifícios, após venda em hasta pública dos lotes, adquiridos por distintos proprietários. SÍNTESE CRONOLÓGICA POR EDIFÍCIO - LOTE 1 (Av. Elias Garcia, nº15) - 1946 (Abril) / 1947 (Maio): construção do prédio, propriedade da Sociedade de Madeiras do Braçal; 1963: obras por intimação; 1970 (década de): conflito dos inquilinos com a proprietária, Celeste Pombo, devido à degradação e mau estado do imóvel; 1989: vistoria para constituir propriedade horizontal. LOTE 5 (Av. Defensores de Chaves, nº40): 1946 (Abr.) / 1947 (Jul.) - construção do edifício, pertença de Vaz & Verissimo Lda, tendo sido feitas alterações ao projecto consumadas na rede de esgotos e na substituição dos pavimentos de madeira por placas de betão; 1957 - surge como proprietário o Montepio Geral, ano em que se promovem obras de beneficiação periódicas, obedecendo a pintura das fachadas às seguintes cores: rosa velho claro nas superfícies rebocadas, com as cantarias lavadas, as portas de madeira natural envernizada, usando-se o verde para os aros, grades e portas de ferro e o branco para os caixilhos. LOTE 4 (Av. Def. de Chaves, nº42): 1946 (Abr.) / 1947 (Jun.): construção do imóvel, propriedade de Albertino, Freitas e Ribeiro, Ldª; 1950 - o prédio pertence à Companhia de Seguros L'Urbaine-Vie, depois Union des Assurances Paris-Vie. LOTE 9 (R. Eiffel, nº12-12A): 1946, setembro - 1947, agosto - edificação do prédio, propriedade da Aliança Comercial Americana Ldª. PROJECTO DE REMODELAÇÃO DO INTERIOR DO QUARTEIRÃO: 1990 - para um concurso de ideias lançado pela Câmara, os arquitetos Manuel Graça Dias e Egas José Vieira concebem um projecto para uma intervenção de arranjo do espaço interior deste quarteirão, baseado na construção de um edifício de estacionamento - pensado como "um objecto simultaneamente escultórico e pictórico" -, na criação de uma zona verde envolvente, e não descurando mesmo a entrada no quarteirão - "túnel de acesso" tratado "como peça urbana especial, intimista", com quatro esculturas a figurar a onomástica do quarteirão (in A Estratégia e a Prática, ..., pp. 204-205): este projecto viria a ganhar o primeiro prémio, todavia não foi executado; 1991 - execução do jardim do interior do quarteirão, pelo arquiteto paisagista Manuel Sousa da Camara.

Dados Técnicos

Materiais

Alvenarias de calcário, hidraúlica e de tijolo furado e maciço (paredes); massame de betão, betão armado e vigamento de pinho (pavimentos); telha, madeira de pinho e betão armado (coberturas); grés vidrado (canalizações); pedra (socos, molduras, capeamentos, grelhagens das sacadas); ferro (grades); madeira (caixilharia e portas); tijolo de revestimento (chaminés).

Bibliografia

AA.VV. - Guia Urbanístico e Arquitetónico de Lisboa. Lisboa: Associação dos Arquitectos Portugueses, 1987; A Estratégia e a Prática do Planeamento Urbanístico em Lisboa (1990-1995), Lisboa, 1995.

Documentação Gráfica

CML: Arquivo de Obras - Proc. nº14116 (R. Eiffel, 12-12 A); Proc. nº11638 (Av. Visconde Valmor nº 12-14)*; Proc. nº11781 (Av. V. Valmor c/ Av. Def. de Chaves)*; Proc. nº11953 (Av. Def. Chaves, nº40); Proc. nº11943 (Av. Def. Chaves, nº42); Proc. nº11959 (Av. Elias Garcia, nº15); Proc. nº11562 (Av. Elias Garcia, nº17); Proc. nº 11761 (Av. Elias Garcia, nº19)*

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Proc. nºs 14116, 11638, 11781, 11953, 11943, 11959, 11562 e 11761

Intervenção Realizada

Proprietário: AV. ELIAS GARCIA, nº15: 1963 - obras de beneficiação por intimação. AV. DEFENSORES DE CHAVES, nº40: 1957 - obras de beneficiação; 1965 - obras de beneficiação; 1975 - obras de beneficiação **.

Observações

* Estes processos não foram consultados por se encontrarem requisitados por outro serviço da Câmara. Aguarda-se que fiquem disponíveis para posterior consulta. ** O processo só contém documentação até 1976.

Autor e Data

Filomena Bandeira 1999

Actualização

 
 
 
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