Jardim do Palácio das Laranjeiras / Jardim do Palácio Farrobo

IPA.00007005
Portugal, Lisboa, Lisboa, São Domingos de Benfica
 
Espaço verde de recreio. Jardim de caracterização estilística barroca e romântica. Espaço murado constituído por vegetação ornamental disposta no sentido de criar ambientes agradáveis e acompanhada de elementos construídos, como bancos, canteiros, estátuas ou peças de água. Caracterização barroca patente na disposição geométrica de canteiros de buxo pontuados com estatuária barroca, e onde lagos ornamentados centram o espaço. Caracterização romântica patente no desenho orgânico que estabelece efeito-surpresa, na densidade da vegetação, no contraste de luz e sombra e na selecção da espécies vegetais, de predominância exótica. "Construída nos anos 80 do séc. XVIII, a Quinta das Laranjeiras é dos poucos traçados a estruturar-se a partir de um grande eixo gerador de todo o programa. Este traçado que valorizava um certo efeito de grandeza perde-se contudo no local, quando o jardim de buxo se fecha por altos gradeamentos com colunas" (CARITA, 1990, p.232). O jardim do Conde de Farrobo encerra em si um valor único na história da arte do jardins de Lisboa, por um lado, pela qualidade da sua composição elaborada que reflecte ainda uma harmonia pomposa e deixa transparecer a sua riqueza histórica e artística nos elementos de água, na estatuária e na casa de fresco nele inseridos. Por outro lado, pela história que conta, relembrando os tempos áureos do Conde de Farrobo, numa época que maravilhou os seus contemporâneos pelas manifestações artísticas que ali tiveram lugar, pelo ambiente de repouso, pela festividade que ali se viveu. O jardim mantém estrutura inicial e elementos de composição, com qualidade. As diferentes zonas do jardim apresentam complementam-se numa unidade, tornando-se indissociáveis na sua diferença. Toda a área que envolve o Palácio e o Teatro é representativa de uma tipologia das quintas de Lisboa que têm vindo a desaparecer.
Número IPA Antigo: PT031106390436
 
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Registo

 
Espaço verde  Jardim  Jardim  Barroco    

Descrição

Propriedade murada incluindo o Palácio (v.IPA.00003183), o edifício do Teatro Tália (v.IPA.00003183) e antigas dependências agrícolas. Principal acesso a NE. por portão de ferro gradeado e ladeado por dois Eucaliptos. Pátio em calçada enquadra o Palácio, à esquerda, e edifício do teatro Tália, à direita. Este pátio inicia um eixo que se prolonga até ao limite SO. do jardim e que limita duas zonas distintas: uma romântica a O. e outra formal, a E.. A primeira apresenta linhas sinuosas e labirínticas gerando efeito de surpresa e contém alguns exemplares de árvores exóticas bem conformadas, como as palmeiras yuca ou o pitosporos (Pittosporum tobira). Paralelamente ao Teatro, alameda de freixos de grande porte termina em pequeno átrio com composição de árvores-do-Incenso (Pittosporum undulatum). A zona formal sujeita o seu traçado a um eixo perpendicular ao palácio e centralizado na sua faxada e cuja expressão é diminuida pelo muro com vedação de ferro que envolvem o jardim. Esta zona desenvolve-se em dois patamares planos com composição geométrica irregular de traçado italiano e francês. Patamares são divididos por balaustrada em mármore acompanhada de gradeamento que separa a área explorada, por prazo limitado, pelo Jardim Zoológico. O primeiro desenvolve-se em função do lago central, elíptico, em mármore branco, formando espelho de água que reflecte o palácio e vegetação. Repuxo do lago segue o mesmo desenho das floreiras em mármore que pontuam e referenciam o jardim e dão continuidade à linguagem usada na varanda do palácio de onde se tem vista geral sobre os jardins e toda a restante propriedade. A partir do centro desenvolve-se estrutura quadripartida de canteiros desenhados a buxo topiado onde se inscrevem herbáceas variadas de flores coloridas. Segundo patamar, de parterre definido com o mesmo traçado é desenhado com Buxo alto e aparentemente de origem. Ao centro, existe lago circular, de dimensões mais reduzida que o do patamar superior mas enquadrado por uma quadripartição mais volumosa de canteiro de buxo. No alinhamento das duas peças de água e iniciado no palácio, está definido o eixo central do jardim que culmina num obelisco com inscrições latinas, referenciador de uma visita régia ao Palácio. A NO. do patamar inferior existe casa de fresco neoclássica que se inicia numa pérgola suportada por colunas de mármore. Passando o muro com painéis de azulejo surge um tanque quadrangular ladeado por colunata de mármore que se reflecte no espelho de água. Tanque limitado por muro onde nicho alberga estátua mitológica complementada inferiormente por bica também em mármore. A SE. dos dois patamares encontra-se zona, igualmente formal, com canteiros de buxo onde se insere vegetação hortícula e árvores de fruto a cota inferior também delimitada por balaustrada.

Acessos

Estrada de Benfica; Estrada das Laranjeiras, n.º 195 - 199; Praça General Humberto Delgado; Travessa das Águas Boas

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 735/74, DG, 1.ª série, n.º 297 de 21 dezembro 1974 *1

Enquadramento

Zona plana em solo fértil de aluvião - Formações aluvionares do Holocénico. A situação fisiográfica e a envolvência edificada limita o sistema de vistas da propriedade. Adjacente a SE. e a NO. à rede de caminhos da malha urbana. Tem a SO o Jardim Zoológico de Lisboa (v. IPA.00007007).

Descrição Complementar

"O jardim é uma coisa plana, morta e arenosa, tão cheia de urnas imensas e de obeliscos atarracados que parece um cemitério..." (Beckford, 1787); "(...) foi ensaiado o esquema de desenvolvimento do traçado paisagístico a partir de um grande eixo. Nos jardins dos Biscaínhos é evidente esta tentativa que se une aos casos do Palácio de Queluz e Quinta das Laranjeiras em Sete Rios. Em todos os casos o eixo só é perceptível em planta, como se o projecto tivesse sido mal interpretado ou desvirtuado. Nos três casos o primeiro jardim junto à casa fecha-se espacialmente por balaustradas, estátuas e portais, criando uma forte descontinuidade entre este espaço e os restantes terraços. O tratamento particular do primeiro jardim destrói o efeito de continuidade e desmultiplicação espacial, duma natureza submetida globalmente a uma vontade ordenadora de todo o traçado, como acontecia nos grandes traçados europeus." (CARITA, 1990, p.250)

Utilização Inicial

Recreativa: jardim

Utilização Actual

Recreativa: jardim

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros (auto de cessão de 2 de Novembro de 2000); Protocolo de cedência da zona SO. do Jardim ao Jardim Zoológico de Lisboa por um prazo de 20 anos

Época Construção

Séc. 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

Séc. 17, finais - a Quinta de Santo António pertence a Manuel da Silva Colaço; 1760 - A quinta pertence a Luís Garcia Bívar; 1760 / 1779 - passa para Francisco Azevedo Coutinho; 1779 - adquirida pelo Desembargador Luís Rebelo Quintela, por 24 contos; 1802 - herdada pelo sobrinho de Luís Rebelo Quintela, Joaquim Pedro Quintela (feito 1º Barão de Quintela 4 anos mais tarde), e é edificado o Palácio segundo o projecto de Bartolomeu Quintela, padre oratoriano e tio do proprietário; 1820 - Construção do teatro de Tália; Séc. 19, 1ª metade - O 2º Barão de Quintela, 1º Conde de Farrobo promove melhoramentos e embelezamentos no Palácio; 1874 - vendida em hasta pública e adquirida pelo Duque de Abrantes e Linares, que a manda restaurar; 1877, 11 Abril - comprada pelo Comendador José Pereira Soares acrescentando à propriedade a Mata das Águas Boas e a Quinta dos Barnacenas formando no seu conjunto a Quinta das Laranjeiras; 1903 - adquirida pelo Conde de Burnay; 1905 - Grande parte da mata e dos jardins é cedida ao Jardim Zoológico de Lisboa; 1940 - Os restantes espaços da propriedade são vendidos por motivo de partilhas sendo adquiridos pelo Ministério das Colónias para do Museu da Marinha; 1942 / 1943 - reconstrução dos jardins com a sua actual configuração; Séc 20 - década de 80 - Instalação no Palácio de serviços da Secretaria de Estado da Juventude; 1993 - Instalação de vários serviços do governo (Ministro Adjunto para os Assuntos Parlamentares, Secretaria de Estado da Juventude, Comissão inter Ministerial Projecto Vida e Gabinete dos Assuntos Europeus; 2000 - instalação no Palácio do Gabinete do Ministro da Reforma e da Administração Pública; 2002 - Instalação no Palácio do Gabinete do Ministro da Ciência, Inovação e Ensino Superior.

Dados Técnicos

Plataformas planas divididas por muro de suporte com escadaria. Inexistência de rede de drenagem, a água utilizada para rega e ornamentação é fornecida pela EPAL.

Materiais

INERTES: azulejo, tijoleira, terra batida, calcário, alvenaria, mármore branco, ferro, bronze.VEGETAL árvores - árvore-da-borracha (Ficus elastica), acácia-bastarda (Robinia pseudacacia), cameleira (Camelia japonica), budleia (Buddleia davidii), casuarina (Casuarina stricta), cedro (Cupressus lusitanica), eucalipto (Eucalyptus globullus), grevilea (Grevillea robusta) laranjeira (Citrus sinensis),magnolia (Magnolia grandiflora), nespereira (Eriobotrya japonica), olaia (Cercis siliquastrum) palmeira-das-canárias (Phoenix canariensis), palmeira-das-vassouras (Chamaerops humilis), pimenteira-bastarda (Schinus mollis), plátano (Platanus hybrida), teixo (Taxus baccata), tipuana (Tipuana tipu), Zimbro (Juniperus occidentalis); arbustos - ave-do-paraíso (Strelitzia nicolai), árvore-do-incenso (Pittosporum undulatum),berberis (Berberis vulgaris), evónio-dos-jardins (Euonymus fortuneii), buxo (Buxus sempervirens), hibisco (Hibiscus rosa-sinensis), loendro (Nerium oleander), pitosporo-da-china (Pittosporum tobira); herbáceas - Balsamia (Impatiens sp), Cana-da-índia (Canna indica), clorofito (Clorofitum capensis), couves-de-nossa-senhora (Bergenia crassifolia) lírio-roxo (Iris germanica), malva-de-cheiro (Pelargonium sp), dente-de-leão (Taraxacum officinale), salvia-vermelha-dos-jardins (Salvia splendens): trepadeiras - hera (Hedera helix).

Bibliografia

ARAÚJO, Norberto. Inventário de Lisboa, Fasc 4, Lisboa, 1946; ARAÚJO, Ilídio, Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal, volume I, Lisboa, 1962; BECKFORD, William, Diário de Beckford em Espanha e Portugal, Tradução e prefácio de João Gaspar Simões, Lisboa, 1983. CARITA, Hélder e CARDOSO, Homem, Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal, Circulo de Leitores, 1990; EMYDGIO DA SILVA, Fernando, História do Jardim Zoológico de Lisboa, Lisboa, 1971; FERREIRA, Jorge Rodrigues, São Domingos de Benfica, Roteiro, Lisboa, 1991; Palácio do Farrobo: Uma História Romântica que acaba em ruína, in O Diário, 06. 04. 1981; PROENÇA, Raul, Guia de Portugal, Vol I, Lisboa , 1924; PROENÇA, Pe. Álvaro, Benfica através dos tempos, Lisboa 1964; RIBEIRO, Luís Paulo, Quintas do Concelho de Lisboa - Inventário, Caracterização e Salvaguarda, Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa 1992.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/Arquivo pessoal de Ilídio de Araújo

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

Séc 20, anos 90 - construção do gradeamento que separa a zona do jardim cedida para utilização do Jardim do Zoológico da zona reservada ao Ministério.

Observações

*1 DOF: *1 - DOF: "Palácio dos Condes de Farrobo, incluíndo os jardins e o chafariz localizado na Estrada de Benfica junto à Azinhaga que limite a Norte o Jardim Zoológico". Com o Decreto nº 5 de 19 de Fevereiro de 2002 foi determinada a alteração da designação passando a ter a seguinte redacção: " Palácio e Jardins do Conde de Farrobo (conjunto intramuros), no qual se encontra instalado o Jardim Zoológico, delimitado nomeadamente pela Estrada de Benfica, pela Praça do Marechal Humberto Delgado, pela Estrada das Laranjeiras, pela Travessa das Águas Boas e pela Rua de Xavier de Oliveira". O Jardim é a parte da antiga Quinta das Laranjeiras / Quinta de Santo António, que não foi cedida ao Jardim Zoológico; A vivência sumptuosa e festiva associada ao Conde de Farrobo deu origem à expressão popular "farrobodó"; Pierre Marrier foi contratado pelo Conde de Farrobo para reformar os jardins da Quinta das Laranjeiras e nela foi jardineiro-mor até morrer, ficando conhecido por Pedro das Laranjeiras; A propriedade foi visitada por William Beckford.

Autor e Data

Paula Simões 1998 / Pereira de Lima e Luísa Estadão 2004

Actualização

 
 
 
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