Edifício e Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Moncorvo

IPA.00000700
Portugal, Bragança, Torre de Moncorvo, Torre de Moncorvo
 
Arquitectura religiosa, maneirista, barroca e oitocentista. Igreja de Misericórdia, de planta longitudinal, composta por nave única, capela-mor mais estreita, sacristia, sala do despacho, edifício da antiga cadeia e anexo, adossados a ambos os lados. A igreja tem coberturas interiores diferenciadas, em falsas abóbadas de berço, pintada na nave, e em caixotões de madeira de produção barroca, na capela-mor, escassamente iluminada por dois pequenos óculos, rasgados na fachada principal. Esta remata em frontão triangular, rasgada por portal de arco de volta perfeita, com a moldura formada pelas aduelas, de arestas estriadas, a que se sobrepôs um segundo portal maneirista, flanqueado por dois óculos e com duas gárgulas de canhão no topo. No lado esquerdo, a casa do despacho, com a janela de ângulo, a "Janela de Pilatos", de feição classicista. Interior com tribunas confrontantes, a do Evangelho ligando à Casa do Despacho, e púlpito no mesmo lado. Arco triunfal amplo, de volta perfeita, assente em pilastras toscanas. Retábulo-mor de talha dourada do estilo barroco nacional, de planta côncava e um eixo. Igreja sucessivamente alterada, de fundação quinhentista, como se depreende pela manutenção do primitivo portal, com a moldura formada pelas aduelas, a que se sobrepôs um portal maneirista, composto por colunas toscanas, assentes em altos plintos, que sustentam friso, dupla cornija e frontão triangular, rasgado por nicho em arco de volta perfeita e abóbada de concha, sobrepujado por pináculos, contendo dois medalhões com São Pedro e São Paulo. O remate do imóvel foi, também alterado neste período, com a feitura de um frontão triangular, rasgado no séc. 18 por uma sineira, flanqueada por pilastras e com remate contracurvado. Destaca-se o anexo com a Casa do Despacho, com uma janela de ângulo e as armas da Misericórdia, na fachada principal, a que se segue a antiga cadeia feminina, rasgada por vãos simples, rectilíneos, dintelados. No interior, destacam-se as tribunas confrontantes e, especialmente, o púlpito renascentista de cantaria que se encontra actualmente na nave, esteve durante muitos anos no exterior da igreja, no lado esquerdo do portal principal. Devido à sua qualidade, é considerado um dos mais notáveis a nível nacional, podendo estabelecer-se comparação entre ele e o que se encontra no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra (v. PT020603170004). Os caixotões da capela-mor possuem a particularidade de serem almofadados, sendo as molduras formadas por elementos fitomórficos, com florão no nó.
Número IPA Antigo: PT010409160007
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Edifício de Confraria / Irmandade  Edifício, igreja e hospital  Misericórdia

Descrição

Núcleo edificado composto pela igreja e o edifício da misericórdia e antiga cadeia, adossados ao lado esquerdo, de planta rectangular irregular. IGREJA de planta longitudinal composta por nave única, capela-mor ligeiramente mais estreita, sacristia e sala do despacho adossados à fachada lateral esquerda, surgindo, adossado ao lado oposto, um corpo que constitui um corredor de acesso a zonas litúrgicas, de volumes articulados e disposição horizontalista das massas, com coberturas diferenciadas em telhados de duas e três águas. Fachadas em cantaria de granito aparente, em aparelho isódomo, exceptuando parte da fachada principal da casa do despacho, rebocada e pintada de branco, rematadas em cornija e beirada simples, excepto as laterais da igreja, com fenestrações protegidas por vidro simples. Fachada principal virada a O., com a igreja rematada em frontão triangular, rasgado por sineira de volta perfeita, assente em pilastras toscanas com fustes almofadados, com moldura superior recortada e volutada, contendo a data "1864"; sob esta, situam-se duas gárgulas de canhão espiraladas; a igreja é percorrida, inferiormente, por bailéu de cantaria e é rasgada por arco de volta perfeita, com a moldura formada pelas aduelas, de aresta estriada, flanqueado por pilastras toscanas, assentes em plintos paralelepipédicos, de faces almofadadas, que sustentam um remate em friso, dupla cornija e frontão triangular interrompido por nicho em arco de volta perfeita, com o interior pintado de branco e com abóbada de concha, protegido por vidraça, contendo uma imagem da Virgem com o Menino; o frontão possui, em cada ângulo, pináculos bojudos, assentes em pequenos cubos de faces almofadadas e está encimado por dois óculos circulares, em capialço; sobre o portal, dois medalhões com bustos masculinos, em relevo, representando do lado esquerdo São Pedro e do lado direito São Paulo; é protegido por porta de duas folhas de madeira almofadadas. No lado direito, corpo bastante estreito, de acesso a várias zonas litúrgicas, rasgado por porta de verga recta, com moldura simples e lintel, encimado por janela de peitoril dintelada e com pano de peito em cantaria, protegido por caixilharia de guilhotina. No lado esquerdo, surge um corpo avançado, de dois pisos, com o cunhal esquerdo perpianho, correspondendo à sacristia, no primeiro piso, e à sala do despacho, no segundo. Na face O., é rasgado por janela de peitoril, com moldura e pano de peito em cantaria e caixilharia de guilhotina; no lado direito, uma pedra de armas, em cantaria, representando o escudo português, envolvido por elementos vegetalistas e encimado por coroa fechada, assente em pequena mísula gomada. A face virada a S., que forma ângulo com a igreja, remata em meia empena e possui, no piso inferior, porta de verga recta, dintelada e encimada por pequeno respirador, protegido por duas folhas de madeira pintadas de verde. O corpo tem, ao nível do segundo piso, janela de ângulo, com os lados capialçados e tendo uma coluna toscana, com guardas metálicas pintadas de verde e caixilharia de madeira pintada de branco e com vidro simples. INTERIOR da igreja com as paredes rebocadas e pintadas de branco, com cobertura em falsa abóbada de berço, rebocada e pintada de branco, assente em cornija de cantaria e tirantes metálicos, tendo pavimento em lajeado de granito. Confrontantes, surgem duas portas de verga recta com molduras simples, em cantaria, a do lado da Epístola ladeada por pia de água benta, em cantaria, com bacia gomada e com nicho em abóbada de concha. Superiormente e também confrontantes, duas tribunas, assentes em cornijas, com três vãos rectilíneos, seccionados por quatro pares de colunas de fuste liso e capitéis jónicos, com guardas balaustradas. A tribuna do lado do Evangelho integra, no último vão do lado direito, púlpito quadrangular, com bacia decorada por motivos vegetalistas, assente em mísula com o mesmo tipo de decoração, apresentando guarda semelhante à que protege a restante tribuna e com acesso por uma das salas anexas. Em frente a este, surge um segundo púlpito, todo em cantaria, com bacia oitavada decorada por querubins e guarda plena, decorada por altos-relevos representando: São Jerónimo, São Paulo, São Marcos, São Mateus, Santo Agostinho, São Tomás e São João; encontra-se apoiado numa coluna octogonal, tal como a base, a primeira com decoração de "ferronerie" e a segunda com vários motivos vegetalistas, onde se destacam folhas de acanto. Arco triunfal de volta perfeita revestido por falsos marmoreados, assente em pilastras toscanas, tudo com arestas biseladas. Um degrau de cantaria acede à capela-mor, com paredes e pavimento semelhantes aos da nave, tendo cobertura em falsa abóbada de berço de madeira, com caixotões almofadados, decorados por motivos vegetalistas relevados, com molduras de motivos florais e rosetão nos nós, assente em friso de talha. No lado do Evangelho existe uma porta de verga recta moldurada que dá passagem para a sacristia, e frente a esta, no lado da Epistola, uma semelhante dá acesso a uma escada que conduz à tribuna da Epístola. Sobre supedâneo de quatro degraus de cantaria, o retábulo-mor, de talha dourada, de planta côncava e um eixo definido por duas colunas torsas, ornadas por pâmpanos, encimadas por capitéis coríntios e assentes em consolas, e por duas pilastras, decoradas por acantos, assentes em plintos paralelepipédicos, com as faces decoradas por elementos vegetalistas, os quais se prolongam em três arquivoltas, duas torsas, unidas no sentido do raio, criando apainelados de acantos. Ao centro, tribuna de volta perfeita, com boca ornada por moldura de querubins, com o interior revestido por apainelados com folhas de acanto e interior com cobertura em falsa abóbada de berço, com caixotões ornados por acantos, onde de implanta um trono expositivo de três degraus. Na base desta, surge sacrário embutido, com a porta ornada por cálice eucarístico, flanqueado por pilastras decoradas e rematado por cornija, envolvido por vários painéis fitomórficos. Altar paralelepipédico forrado a tecido verde, que reveste todo o sotobanco. SACRISTIA com acesso descendente, por dois degraus, com as paredes rebocadas e pintada de branco, tecto de apainelados de madeira e pavimento em lajeado de granito, rasgada por janela rectilínea com conversadeiras, com vão protegido por portadas de madeira pintadas de verde, perto da qual existe um arcaz de madeira. Partindo da sacristia e da nave, acede-se a uma dependência anexa, rebocada e pintada de branco, de onde partem as escadas de acesso ao segundo piso, com degraus em cantaria e guarda vazada de ferro pintada de verde. No segundo piso, a sala da tribuna, rebocada e pintada de branco, com soalho e tecto plano de madeira, assente em friso do mesmo material; os elementos de iluminação possuem portadas pintadas de verde; a partir desta, surge uma porta de verga recta, com a inscrição, incisa e avivada a preto, "PVLSSATE … APERIETVR VOBIS", de acesso à SALA DO DESPACHO com paredes rebocadas e pintadas de branco, tecto em travejamento de madeira e pavimento em soalho. Os vãos possuem portadas pintadas de verde. O anexo, no lado esquerdo, tem paredes e tecto rebocados e pintados de branco, com pavimento em lajeado em granito, rasgado por duas portas rectilíneas molduradas, com vãos protegidos por uma folha de madeira almofadada pintada de verde. EDIFÍCIO DA ANTIGA CADEIA de planta rectangular e evoluindo em dois pisos, com cunhais perpianhos e remate em beirada simples, rasgado, no primeiro piso, por duas portas de verga recta, a do lado esquerdo com arestas biseladas; no segundo piso, três janelas de peitoril, com molduras simples e duas delas com panos de peito em cantaria, protegidas por caixilharias de guilhotina. Fachada posterior voltada a E. rematada em empena recta, apresentando o corpo lateral direito mais recuado, rasgado por duas janelas de verga recta emolduradas a cantaria. INTERIOR incaracterístico.

Acessos

Torre de Moncorvo, Rua Direita, actual Rua Dr. Campos Monteiro, n.º 24

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977 *1

Enquadramento

Urbano, flanqueado por casas de habitação de dois pisos, sensivelmente à mesma cota do edifício da Misericórdia. Situa-se na rua principal do centro histórico, criado no período medieval, confinando com a via pública, pavimentada a calçada de cubos de granito. Em frente à igreja, surge um pequeno adro, constituído por uma plataforma artificia de cantaria, a que se acede através de três degraus de cantaria. Nas proximidades, situa-se a Casa da Roda dos Expostos e a casa onde nasceu o Dr. Campos Monteiro *2.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: edifício de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade / Cultural e recreativa: museu

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ESCULTOR: Constantino José Marques.

Cronologia

Séc. 16 - construção da igreja e do edifício anexo, como cadeia de mulheres; séc. 17 - provável reforma do portal axial; séc. 18, início - execução do retábulo de talha; 1864 - abertura da sineira no frontão da fachada principal; séc. 20, meados - a fachada posterior, apresentava, ainda, na zona da capela-mor, mísulas de suporte da estrutura que albergava a tribuna do retábulo-mor; a nave, nesta época, apresentava ainda dois altares colaterais, e a tribuna do lado do Evangelho integrava púlpito com guarda plena e vão de acesso moldurado; sobre a porta de entrada ainda se encontrava o coro-alto com guarda vazada em ferro; 1934 - transferência do púlpito de cantaria do exterior para o interior da igreja; séc. 20, década de 80 - transformação da antiga cadeia em núcleo museulógico.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito; frisos, cornijas, bailéu, pilastras, capitéis, pináculos, gárgulas, pavimento, modinaturas, púlpito, conversadeiras, plintos, colunas, brasão, pia de água benta em cantaria de granito; coberturas exteriores em telha; sino em bronze; retábulo em talha; janelas protegidas por vidro simples; pavimento do edifício da antiga cadeia em tijoleira; portas, caixilharias, guarda da tribuna e do púlpito, caixotões, apainelados, portadas, soalho da casa do despacho, armário e arcaz da sacristia, suporte do sino em madeira; guardas e candeeiros em ferro.

Bibliografia

ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Porto, 1988; ALVES, Francisco Manuel, Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Bragança, 1990; ANDRADE, António Júlio, Torre de Moncorvo - Notas Toponímicas, Brigantia, vol. 10, nº 1 / 2, Bragança, 1990, p. 247 - 302; AZEVEDO, José Correia de, Inventário Artístico Ilustrado de Portugal - Trás-Os-Montes e Alto Douro, Algés, 1991;FERNANDES, Ilda, Torre de Moncorvo - Município Tradicional, Torre de Moncorvo, 2001.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSID

Intervenção Realizada

DGEMN: 1981 - abertura e refechamento de juntas; consolidação e fixação dos caixotões do tecto da capela-mor e da sacristia; tratamento e pintura das grades metálicas; reparação de portas e armários; consolidação do pavimento de madeira e substituição dos elementos apodrecidos; feitura de tectos de madeira de castanho; realização de caixilhos de madeira e colocação de vidros; construção de portas de madeira de castanho; aplicação de fasquiado e reboco no tecto da nave; colocação de tijoleira; tratamento de rebocos e pinturas; impermeabilização das coberturas e colocação de telha nacional na cobertura; feitura da estrutura da cobertura em betão; apeamento e feitura de novo guarda-pó; 1983 / 1984 - apeamento do altar-mor; demolição e reconstrução das paredes da capela-mor em cimento armado; consolidação de alicerces; demolição de parte da parede norte; colocação de uma cinta de travamento em betão armado sobre todas as paredes; colocação de telhado novo com telha cerâmica tipo nacional dupla; colocação de pavimentos em betão no salão nobre, tribunas laterais e sacristia, recebendo posteriormente soalho macheado; tratamento de paredes interiores e exteriores; recolocação do altar-mor; beneficiamento da teia protectora dos altares laterais; execução das instalações eléctrica e sonora; 1985 / 1986 - adaptação do edifício anexo a Museu de Arte Sacra: demolição de telhados existentes e parte de paredes; abertura da caixa do piso térreo; execução de lajes da cobertura e parte do segundo piso; beneficiação e realização de paredes; impermeabilização de todos os telhados; instalação eléctrica; fornecimento e colocação de portas almofadadas e pintura das mesmas; execução da rede de esgotos.

Observações

*1 - DOF: Igreja da Misericórdia de Moncorvo com todo o seu recheio, nomeadamente as talhas diversas, mobiliário e imaginária. *2 - escritor nascido a 7 de Março de 1876.

Autor e Data

Ernesto Jana 1994 / Paulo Amaral e Miguel Rodrigues 1997 / Rute Antunes 2007

Actualização

 
 
 
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