Casa do Arcebispo / Casa da Quinta da Memória / Câmara Municipal de Odivelas

IPA.00006813
Portugal, Lisboa, Odivelas, Odivelas
 
Arquitectura agrícola e arquitectura residencial, setecentista. Quinta muito descaracterizada, de que se mantém o núcleo edificado, implantada na zona mais elevada do conjunto. É de planta rectangular composta por vários corpos adossados e articulados, com várias funções, destacando-se o do lado E., evoluindo em dois pisos e marcado por amplo salão nobre, iluminado por janelas rectilíneas com molduras recortadas e flanqueado por cunhais em silharia fendida. Desenvolve-se em torno de um pátio interno em U invertido, fechado pelo muro que une os corpos na fachada principal, para onde abrem portas e janelas rectilíneas com molduras simples em cantaria. A fachada posterior integra um tanque de rega, cujo água era distribuída pela quinta através de um pequeno aqueduto.
Número IPA Antigo: PT031116030010
 
Registo visualizado 251 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Paço eclesiástico    

Descrição

Planta rectangular composta por quatro corpos adossados e articulados, de volumes escalonados e coberturas diferenciadas em telhados de quatro e dez águas, com remates em beirada simples. Estrutura em alvenaria de pedra, interiormente rebocada e pintada de amarelo, evoluindo em um, dois e três pisos, adaptando-se ao declive do terreno. Fachada principal virada a N., composta por quatro panos, o do extremo esquerdo com alto soco de cantaria, seccionado em duas ordens por friso saliente, e flanqueado por cunhais em silharia fendida, rematando em friso de cantaria. O soco é rasgado por duas janelas rectilíneas, com os ângulos superiores contracurvos, com moldura em cantaria recortada. A flanquear os vãos, duas mísulas sobre as quais surgem duas janelas de sacada, com pequena bacia em cantaria e guarda em ferro, para onde abrem amplos vãos rectilíneos, com molduras duplas, a interior sobre plintos paralelepipédicos e a exterior recortada e sobrepujada por cornija, saliente na zona central, de onde pendem três lacrimais. Na sacada do lado esquerdo, três mastros, com bandeiras. Os panos imediatos são flanqueados por cunhais simples, sendo o segundo de piso único, percorrido por um friso de cantaria e rasgado por dois vãos rectilíneos com moldura simples em cantaria. O pano imediato constitui um muro que fecha o pátio interno, rematando em friso e cornija, rasgado por amplo portão central rectilíneo, com moldura simples e remate em friso e cornija, protegido por duas folhas de ferro e vazadas, sobre o qual evolui uma tabela com pedra de armas, flanqueada por pilastras e rematada por friso e frontão interrompido, flanqueado por aletas volutadas e por dois amplos pináculos em pêra, sobre amplos plintos paralelepipédicos. O conjunto encontra-se pintado de castanho, com decoração fitomórfica pintada de branco, que, no intradorso da tabela ostenta uma esfera armilar envolvida por "ferronerie" e balaústres. O pano do extremo direito remata em cornija e é rasgado regularmente por seis janelas rectilíneas com molduras simples em cantaria. Fachada lateral esquerda flanqueada por cunhais em silharia fendida e remate em friso de cantaria, evoluindo em dois pisos, o inferior rasgado por três janelas jacentes, de arejamento, protegidas por grades de ferro, e o superior com três amplas portas-janelas, a do extremo esquerdo com dupla moldura de cantaria, a interior recortada e ornada por pingentes, que abrem para ampla sacada metálica, com piso de madeira, assente em seis pilares de ferro, formando um alpendre na zona inferior, que alberga várias cantarias lavradas. Fachada lateral direita rectilínea e cega, prolongada por alto muro de alvenaria rebocada e pintada de amarelo, que fecha um pátio interior. Fachada posterior composta por quatro panos escalonados, o do extremo esquerdo de piso único e formado por murete, encimado por gradeamento metálico pleno, que fecha um pátio interno, tendo, no lado direito, pano de muro cego. O imediato divide-se em três panos, o do lado esquerdo ligeiramente reentrante e rasgado ao nível do segundo piso por janela rectilínea e por sacada com bacia em cantaria e guarda vazada, em ferro, para onde abre vão rectilíneo com moldura simples em cantaria. O segundo pano possui friso vertical de cantaria com aparelho isódomo no lado direito, tem vão em arco abatido, protegido por grade de ferro, que dá acesso a escadaria de cantaria de nove degraus, que liga a um acesso rectilíneo. No piso superior, duas janelas de peitoril rectilíneas e com molduras simples. O pano imediato possui cunhal, parcialmente em cantaria, com duas janelas de peitoril intermédias, e porta de verga recta com molduras simples, no lado direito, que acede a uma loja seccionada por pilar toscano e por arcos em asa de cesto, com pavimento em calçada. O terceiro pano evolui em três pisos, o superior rasgado por duas janelas de varandim com guardas vazadas, em ferro, surgindo, no segundo duas portas-janelas rectilíneas e com molduras simples em cantaria, que abrem para ampla varanda com guarda em ferro e sustentada por cinco pilares de cantaria e arcatura cega, que forma um alpendre onde surge um tanque de rega, adossado ao muro, com bica de cantaria no lado direito. O tanque alimenta uma caleira que descarregava numa estrutura que se mantém no Jardim da Música. No piso inferior, três pequenas frestas. O pano do extremo direito possui cunhais em silharia fendida e remate em friso de cantaria, com vãos semelhantes aos do primeiro pano da fachada principal. INTERIOR com amplo pátio rectangular e com pavimento em calçada, delimitado por três corpos rematados em beirada dupla, o frontal rasgado por três portas de verga recta e molduras simples, a do lado esquerdo com acesso por rampa, e por janela rectilínea, protegida por grades de ferro forjado. Superiormente, fresta de arejamento jacente e duas janelas de peitoril rectilíneas com molduras simples. No lado esquerdo, duas portas rectilíneas, de acesso a um amplo salão. No lado direito, quatro portas de verga recta e molduras simples, a do lado esquerdo com acesso por rampa e a do lado direito por escadas de madeira, e duas janelas de peitoril. No piso superior, três janelas de peitoril rectilíneas e com molduras simples. O interior encontra-se rebocado e pintado de branco, com tectos planos e pavimentos em ladrilho cerâmico ou madeira. A porta principal acede a um estreito corredor, onde se situa balcão corrido para recepção, que estabelece a ligação entre os dois corpos. O do lado esquerdo é formado por amplo vestíbulo e pelas portas de acesso ao Salão Nobre, bem como escadas que levam a um auditório situado no piso inferior. No lado direito do corredor, acesso a gabinetes e a escadas que ligam aos gabinetes do piso superior, ficando fronteiro um bar e o acesso ao pátio interno, com pavimento em calçada, para onde abrem várias portas e janelas de peitoril rectilíneas, com molduras simples em cantaria.

Acessos

Rua Guilherme Gomes Fernandes. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,790305, long.: -9,179739

Protecção

Incluído na Zona Especial de Proteção do Memorial de Odivelas (v. PT031116030004)

Enquadramento

Urbano, isolado, destacado, marcando uma zona elevada do centro histórico de Odivelas, sobranceiro sobre o vale, sobre o actual Jardim da Música (v. PT031116030043) e antigos terrenos da Quinta e sobre o Centro Cultural de Odivelas, implantado em zona em declive, a que se adapta. A fachada principal abre para a principal via que atravessa a cidade, a Rua Guilherme Gomes Fernandes, bastante movimentada e dela separado por estreita faixa de passeio público, pavimentado a calçada. No lado direito, situa-se a Casa da Juventude (v. PT031116030027) e o Memorial de Odivelas (v. PT031116030004).

Descrição Complementar

A pedra de armas é dos Moura, "(...) de vermelho, com sete castelos de ouro, postos 1, 2, 21, e 1" (Armorial Lusitano, p. 382), encimado pela coroa condal e pelo chapéu de arcebispo.

Utilização Inicial

Residencial: paço episcopal

Utilização Actual

Política e administrativa: câmara municipal

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETOS: Alexandra Duarte Arquitetos, Lda. (2000-2001); Isabel Domingos (2000-2001); João Appleton (2000-2001).CONSTRUTOR: Victor Batista Santos (2000). EMPRESAS: A2P Consult (2000-2001); HCI, Construtores, SA. (2000-2001); Quanti, Estudos e Realizações de Engenharia, Lda. (2000-2001). ENGENHEIROS: Abel Jorge São Miguel Alves (2000); José Manuel Caeiro Pulido (2000); Luís dos Reis Vaz Pinto (2000); Margarida Maria Rodrigues de Sousa (2000).

Cronologia

Séc. 14 - a zona da Quinta da Memória integrava-se no couto régio, tendo sido doado à Ordem de Cister; séc. 18 - fundação da quinta e construção do palácio, por D. Rodrigo de Moura Teles *2; a freguesia de Odivelas tinha dois juízes eleitos pela população e confirmados pela Câmara de Lisboa, estando sujeita ao Corregedor do Bairro Alto; 1755, 01 novembro - na sequência do terramoto, a quinta fica bastante arruinada, tendo sido abandonada; 1852 - Odivelas passa a integrar o concelho de Belém criado nesta data; 1875 - a Quinta tinha uma vasta extensão, até à Ribeira, composta por pomares de laranjeiras e parreiras; 1886, 28 Julho - extinção do concelho de Belém sendo Odivelas integrada na freguesia de Póvoa de Santo Adrião, do concelhos dos Olivais; séc. 19 (?) - extinção do concelho dos Olivais e integração de Odivelas no concelho de Loures; colocação de reixas nas janelas da fachada posterior; séc. 20, década 60 - construção de uma zona desportiva nos terrenos da Quinta e urbanização de uma parte; morte da proprietária que habitou o edifício; 1964, 03 Abril - Odivelas é elevada a vila; 1987 - o portal principal ameaça ruína; 1997 - a zona desportiva encontra-se abandonada; num levantamento planimétrico surgem representados um pátio com colunata no lado esquerdo, com três colunas e duas embebidas que acede a espaço de vestíbulo, com porta, que ainda subsiste e duas janelas; no lado esquerdo, uma porta acede a uma dependência, único acesso a duas dependências do lado direito e a uma disposta frontalmente; esta acede a amplo salão, actual Sala das Sessões; o vestíbulo acede a escadas no lado esquerdo, que ligavam às lojas; 1990, agosto - Odivelas é elevada a cidade; 1997 - 1998 - aquisição do edifício pela Câmara Municipal de Loures a D. Maria Leopoldina Rego Lima; 1999 - constituição do município de Odivelas; 1999, 14 dezembro - aprovada pela Comissão Instaladora, as obras de consolidação do edifício pela firma HCI, Construtores, SA, conforme projeto da firma Alexandre Duarte, Arquitetos, Lda., por João Appleton e Isabel Domingos, estando o edifício em ruínas, apenas se mantendo as paredes exteriores na capela e na sala do bispo; 20 dezembro - proposta de ajuste direto da primeira fase de intervenção, à firma HCI; 23 dezembro - a obra foi consignada à empresa; 2000, junho - início das obras, sendo responsáveis pela obra os engenheiros José Manuel Caeiro Pulido, Luís dos Reis Vaz Pinto, Abel Jorge São Miguel Alves, Margarida Maria Rodrigues de Sousa, seno o construtor Victor Batista Santos; setembro - caderno de encargos para a segunda fase das obras, para reforma do edifício, conforme projeto de recuperação da firma Alexandra Duarte Arquitetos, Lda.; 07 dezembro - concurso por convite para a recuperação do portal, que viria a ser ganho pela HCI - Construções, SA; 2001, maio - projeto de instalação elétrica, iluminação e iluminação de emergência, pela empresa Quanti, Estudos e Realizações de Engenharia, Lda.; projeto de estruturas e fundações por A2P Consult; 28 maio - versão final do projeto de recuperação e ajuste direto com a firma HCI; 30 maio - aprovação final do projeto; 2002 - a Câmara Municipal de Odivelas passa a funcionar no local, após recuperação do imóvel; 2006, 01 setembro - ligação do edifício à rede pública de esgotos; 2007, 16 fevereiro - receção definitiva da obra; 2009 - recuperação de parte da Quinta, ocupada pelo Jardim da Música; 2011 - a reabilitação do edifício ganha o Prémio Municipal de Arquitetura e Espaço Público.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria mista, rebocada e pintada; paredes de forro em betão; modinaturas, pilares, cornijas em cantaria; lajes, pavimentos em cantaria de calcário moleanoso; pavimentos em betonilha e soalho afagado; tetos de madeira; escadas em betão armado; duas escadas metálicas, em consola;portas e vergas em madeira de mogno maciço pintado; portadas interiores em MDF; portas e guardas em ferro; guardas e corrimãos em aço inox; caixilharias de latão; janelas com vidros duplos, simples ou temperados, protegidos por estores; cobertura em telha; portal em ferro; pedra de armas em cantaria; estuques relevados e cimalha em argamassa no portal; pinturas murais no portal.

Bibliografia

Armorial Lusitano, Lisboa, Editorial Enciclopédia, Lda., 1961; FERREIRA, Manuela, Toponímia da Freguesia de Odivelas, Odivelas, Junta de Freguesia de Odivelas, 2005; Odivelas - um Concelho a descobrir, Odivelas, Câmara Municipal de Odivelas, 2005; LIXA, Florinda, Núcleo Histórico de Odivelas - caracterização e bases para uma proposta de salvaguarda, 2 vols., [dissertação de Mestrado em Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico], Évora, Universidade de Évora, 1997; Prémio Municipal de Arquitectura e Espaço Público 2011 - Odivelas, Odivelas, Câmara Municipal de Odivelas, 2011; VAZ, Maria Máxima, A Casa do Arcebispo, Odivelas, 1985; Património Cultural Construído, Loures, 1988.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, CMOdivelas

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, SIPA; CMOdivelas

Documentação Administrativa

CMOdivelas: DPUP (Processo 157/OD, Processo 665/OD-DOM, 8 vols., Processo 399/OD-DOM, 4 vols.)

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 2000 - obras para drenagem das águas e impermeabilização; 2001 / 2002 - transformação do imóvel em paços do concelho, com redimensionamento interno, construção de um bar, um pequeno pátio, o salão nobre e um auditório, com ampla zona de acesso, mantendo, na ala E., uma cércea semelhante à anterior, com simetria da fachada, mas com construção mais simples, para se distinguir do que é original; no corpo O., houve a limpeza das paredes divisórias e pavimentos, manutenção das paredes mestras e colocação de nova cobertura; demolição da chaminé; transformação da capela, criando a receção, com construção de um simples telhado; construção de uma varanda metálica, revestida a madeira, a E., no local onde existiam vestígios do arranque de uma abóbada; reconstrução da varanda do piso inferior, com reforço da ligação das colunas de pedra às fundações e colocação da laje existente e de novas lajes de pedra, ligadas por aço inoxidável; reassentamento de peças de cantaria antiga no tanque, prumos e varanda; impermeabilização do tanque; restauro das cantarias a manter; colocação de rampas, escadas de betão e metálicas; feitura de um balcão de atendimento e outro para o bar; limpeza do frontão do portal e pedra de armas; fornecimento de serralharias; escoramento do muro e remoção de rebocos; consolidação das fundações do muro e reforço com betão armado.

Observações

*1 - este volume constituía a primitiva capela, com um pé-direito de dois pisos, mas, na altura da reconstrução, completamente descaracterizado e destituído do património integrado. A fachada posterior possuía janelas de guilhotina, algumas protegidas por reixas de madeira. As fachadas rematavam em beirada dupla. Existência de vestígios do antigo lagar. *2 - D. Rodrigo de Moura Teles nasceu a 26 janeiro 1644, em Vale de Reis, falecendo a 04 Setembro 1728; filho do 2.º conde de Vale de Reis, Nuno de Mendonça, e de D. Luísa de Castro, filha e herdeira do alcaide-mor de Moura, brasão que o arcebispo passou a utilizar; doutorou-se na Universidade de Coimbra, em cânones e foi tesoureiro-mor da Sé de Évora; deputado da Mesa de Consciência e Ordens desde 1677, simulher da cortina de D. Pedro II (desde 1678), sendo, no ano seguinte, encarregue do resgate dos cativos de Mequinez; foi reitor da Universidade de Coimbra (1690), bispo da Guarda (1694) e arcebispo de Braga (1703).

Autor e Data

Teresa Vale e Maria Ferreira 1999 / Paula Figueiredo (IHRU) 2010 (no âmbito da parceria IHRU / CMOdivelas)

Actualização

 
 
 
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