Convento da Madre de Deus da Verderena

IPA.00006641
Portugal, Setúbal, Barreiro, União das freguesias de Alto do Seixalinho, Santo André e Verderena
 
Arquitectura religiosa, maneirista de estilo chão, barroca, pombalino, rococó, neoclássico, vernacular. Convento de raiz vernacular, manerista, de tendência nacional para os valores de austeridade, clareza, ordem, proporção e simplicidade; com fachadas de vãos rectangulares, rematadas à face por empenas simples; espaço cultual composto por nártex, nave única, e capela-mor rectangular, abobadadas. Barroco no interior pela articulação das várias artes: talha dourada, azulejaria e escultura. Azulejaria barroca em azul e branco: no vestíbulo, azulejos joaninos, seriados de repetição, com padrão composto por cesta com flores sobre peanha, envolvidos por ornatos barrocos e pares de golfinhos, separados por albarradas com palmitos, sobressaindo ainda as cabeças de anjos, aladas, sendo o conjunto contornado por barra de caracóis de folhagem estilizados; 2 painéis de planta semicircular, de azulejos figurativos, padres franciscanos, com contenção ao nível das molduras; painel figurativo (São Pedro de Alcântara) com moldura onde se misturam figuras míticas e religiosas. Pombalino na capela, na talha retabular, dourada e com estuque de cor, verde e castanho, com conjunção de elementos da talha joanina e rococó, de estruturação arquitectónica parietal, com imitação da policromia e textura dos mármores; no registo pombalino de uma primeira fase rococó, policromático, com motivos movimentados e frágeis, com elementos vegetais e concheados. Neoclassicismo em manifestação tardia, de tratamento linear e gráfico, em registo (Nossa Senhora do Rosário do Barreiro) de azulejos policromos, com marmoreado. Insere-se no contexto das edificações de Franciscanos Arrábidos, privilegiando fórmulas de simplicidade e austeridade, procurando conciliá-las com soluções utilitárias e económicas, com despojamento de decoração e ausência de riqueza.
Número IPA Antigo: PT031504050018
 
Registo visualizado 1069 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos Capuchos (Província da Arrábida)

Descrição

Planta irregular, composta por vários corpos de plantas quadrangulares, quadradas e longitudinais, regulares, simples ou compostas. Do claustro irradiam os acessos aos outros corpos: igreja, sacristia, Sala do Capítulo, Casa de Profundis (sala de meditação), uma capela, antigos refeitório cozinha, despensa, dormitório, casa da livraria, casa das Barbas e outros compartimentos de uso diversificado, com corredores e escadas de ligação entre si; existe coincidência exterior / interior. Massa irregular de volumes articulados com disposição horizontalista. Cobertura em telhados 1, 2, 3 e 4 águas e terraço: 4 telhados de 1 água no claustro, de 2 águas na igreja, de 3 águas em anexos adossados a esta e sobre o alpendre, de 4 águas na capela, na antiga ala conventual. Fachada principal voltada a S., com pano delimitado por cunhais, de dois registos; no primeiro, rasga-se o pórtico principal, com galilé de 4 colunas toscanas, arquitravadas, sendo as 2 exteriores embebidas no pé direito do vão, que é o vestíbulo, sendo espaço intermédio entre a igreja conventual e a capela do Senhor dos Passos; no piso superior há a janela do coro-alto, sobrepujada por pequeno nicho; o remate é em platibanda, com cornija de coroamento; à esquerda, recuado, o pano da torre sineira com arco com mainel. As fachadas restantes articulam-se em vários panos, correspondendo cada um, à fachada de um volume em adossamento, com um alpendre da banda O.; as fachadas são chãs e parcas em número de vãos; são cegas ou têm uma janela, ou janela e porta, com excepção da fachada do corpo conventual de 2 pisos, onde existem duas séries de janelas; os vãos de portas e janelas são rectangulares, dispostas vertical ou horizontalmente, moldurados em cantaria; rematam em friso, beiral e subeira, ou em empena recta com friso de coroamento; existem em algumas fachadas gigantes de apoio; destaque para um arco conopial adossado a duas aletas, no topo de um murete do terraço. IGREJA - Portal de arco pleno, modinatura toscana, com pedra de fecho; interior com capela-mor de cobertura em abóbada de berço, arco triunfal de modinatura toscana, com pedra de fecho decorada com pedra de armas; templo de nave única, com marcação de vãos laterais, em cantarias, cobertura em abóbada de berço, coro - alto em madeira, iluminação feita através de janelão; a porta de acesso ao coro-alto e outra para o exterior ambas com umbrais e verga de meia coluna. Alpendre murado, com porta moldurada em cantaria, sobrepujada por pequeno óculo, com cobertura de tecto em planos que acompanham a inclinação das 3 águas do telhado; no pano murário, está colocado um painel figurativo de São Pedro de Alcântara enquadrado em moldura onde se misturam figuras míticas e religiosas. Destaque para um relógio de sol aposto numa fachada a O.. Troços do muro da cerca, com vãos de janelas e portas molduradas. CLAUSTRO - de planta quadrangular, formado por colunas e pilastras arquitravadas, sustentando abóbadas de berço, com quadra calcetada, com canteiros, e poço ao centro. AZULEJARIA - No interior, dois painéis de azulejos, rectangulares, dispostos na vertical, azuis e brancos, com figuração de 2 padres franciscanos descalços, com o hábito de burel, em nichos de planta semicircular, enquadrados numa moldura: o da direita sugere o convite ao silêncio; sob a sua figura dois anjos sustentam uma cartela com o texto DOMUS MEA DOMUS ORASIONIS VOCABIUR; o da esquerda que sugere a mesma tipologia, tem sob o frade as figuras de anjos que sustentam uma cartela onde se lê VIGILATE ET ORATE NE INTRESIS IN TENTATIONAM. CAPELA DE NOSSO SENHOR DOS PASSOS: portal rectilíneo de cantaria com verga sobrepujada por frontão aberto, com volutas, assente em soleira de degrau. Frontaria da capela com uma lápide que pertenceu ao convento dos frades arrábidos de Palhais, a qual indicava o sítio da cela onde viveu São Pedro de Alcântara, seu primeiro Guardião. Interior de nave única, com altar de talha dourada e estuque de cor, verde e castanho, de estruturação parietal, com imitação da policromia e textura dos mármores; com conjunto de azulejos seriados, azuis e brancos; cobertura em tecto de três planos em madeira, pavimento cerâmico. Na sala De Profundis, destaque para uma escultura em terra-cota representando um frade franciscano sem a zona da cabeça, em nicho com abóbada de concha.

Acessos

R. do Convento da Madre de Deus da Verderena, Pctª Gonçalo Mendo da Maia, localizado no termo do Lavradio, na periferia do Barreiro a dois quilómetros do seu centro antigo

Protecção

Categoria: IM - Interesse Municipal, Aviso n.º 18 805/2007, DR, 1.ª série, n.º 190 de 02 outubro 2007

Enquadramento

Urbano, num cabeço, isolado, em destaque numa praceta, com adro em forma de esplanada ampla, integrado em pequeno jardim público, com porções de muro da antiga cerca como divisória.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Cultural e recreativa: auditório / Cultural e recreativa: biblioteca / Cultural e recreativa: museu / Política e administrativa: departamento municipal

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

Séc. 16 - fundação do convento financiada por Dona Francisca de Azambuja, descendente de uma das mais ilustres famílias barreirenses, numa propriedade dispondo de poço, horta e pomar, pertencente a duas senhoras do Barreiro, Luiza de Faria e Brites de Faria que ofereceram este terreno para aí ser construído o convento; 1591, 18 de Dezembro - início da construção do que foi o 17º convento da Província de Santa Maria da Arrábida; 1609 - ano da conclusão da edificação; séc. 17, início - são desta época o pórtico da fachada S., algumas cantarias (porta de acesso ao coro-alto e outra para o exterior da cerca) e um conjunto variado de fragmentos azulejísticos; 1658 - as abóbadas do claustro do convento que se encontravam em grande degradação foram reconstruídas, ainda à custa dos rendimentos deixados pela sua fundadora, sendo provincial Frei António da Purificação; 1707 / 1708 - remodelação quase total do edifício conventual, com excepção da igreja que é ainda a primitiva, por arquitectos da própria Ordem, a custas de D. João António de La Concha, Contratador Geral do Tabaco; construção da Capela do Senhor dos Passos ou Capela Pequena, para acolher o jazigo daquele, nas casas que estavam no alpendre da igreja, sendo Guardião Frei António das Chagas; séc. 18, 2º quartel - produção em Linhó, dos 2 painéis de azulejos figurativos de 2 padres franciscanos descalços com o hábito de burel; 1819 - tomada de posse administrativa do vínculo, pela Misericórdia do Barreiro, por falecimento dos legítimos sucessores da fundadora, que não deixaram descendência; tomadas a cargo da Misericórdia, as obras de reparação do convento; 1834 - encerramento do convento e, a Quinta do convento com o antigo edifício foi adaptado a vivenda de campo; séc. 19 - o Convento foi integrado nos Bens Nacionais, foi à praça por três vezes; 1843 - foi rematado em hasta pública pelo Conselheiro Joaquim José de Araújo, por 965$000, os elementos do formulário decorativo religioso são transformados, sendo o convento adaptado a palacete, atendendo às novas funções de residência de veraneio; 1866 - a cerca e o convento ainda bem conservados, com excepção da igreja que primeiro se fundara, que foi transformada em adega, sendo transladados para a outra capela as ossadas da fundadora; 1882 - herda o edifício e as propriedades o filho de D. Henriqueta Leonor Gomes de Araújo, o Conselheiro Augusto Gomes de Araújo (1842-1915), permanecendo por muitos anos na posse desta família; 1886 - o convento é ainda propriedade do Sr. Augusto Gomes de Araújo; séc. 20 - o convento e a Quinta sai da posse da família Araújo, transitando para Guilherme Nicola Covacich, industrial têxtil barreirense; 1969 - o convento é adquirido por uma firma de construção e depois passa para o Município do Barreiro, já em estado de degradação; 1974, 25 Abril - depois desta data, o Convento é utilizado para actividades de índole cultural; 1995 - a Câmara Municipal do Barreiro decide aprovar as obras de remodelação do Convento, (procurando manter os valores arquitectónicos originais que seguiam as determinações ditadas pelos estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida), e integração paisagística dos terrenos circundantes, para aí ser instalado um espaço de múltiplas valências culturais.

Dados Técnicos

Paredes e estruturas autoportantes / Estruturas autónomas.

Materiais

Alvenaria caiada, cantaria, pedra calcária, tijolo burro, azulejos, madeira, talha dourada, ferro, telha de canudo de barro vermelho.

Bibliografia

PIMENTA, José Augusto, Memória Histórica e Descritiva da Vila do Barreiro, Lisboa, 1886; PEREIRA, Esteves, RODRIGUES, Guilherme, Dicionário Histórico, Biográfico, Corográfico, Lisboa, 1906; PAIS, Armando da Silva, O Barreiro Antigo e Moderno, As Outras Terras do Concelho, Barreiro, 1963; IDEM, O Barreiro Contemporâneo, A Grande e Progressiva Vila Industrial, Vol. I, Barreiro, 1966.

Documentação Gráfica

DGEMN: DSID; CMB

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID; CMB

Documentação Administrativa

ANTT: Arquivo do Ministério das Finanças, Convento da Verderena, Doc. 408, caixas 2259, 2289; CMB

Intervenção Realizada

CMB: 1995 - restauro geral

Observações

Autor e Data

Albertina Belo 1999

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login