Convento de São Francisco / Fábrica de Cortiça Robinson

IPA.00006564
Portugal, Portalegre, Portalegre, União das freguesias da Sé e São Lourenço
 
Convento masculino, mendicante, de fundação ducentista, com intervenções renascentistas (sarcófago e retábulo), maneiristas (retábulo da capela de Gaspar Fragoso e em pinturas murais das capelas da nave) e barrocas (altar-mor e painéis de azulejos barrocos na capela-mor). No séc. 19 as alas conventuais foram alteradas e ampliadas para a instalação de unidade fabril ligada à indústria cortiçeira, a Fábrica Robinson, a mais antiga e uma das maiores fábricas de transformação de cortiça do mundo; as suas duas chaminés são o ex-libris da cidade, sendo a chaminé de fumo branco de desenfumagem de vapor de gases da caldeira de aquecimento de água e a chaminé de fumo preto de desenfumagem de geradores de vapor; para além do Edifício Fronteiro e das chaminés existem ainda os edifícios de Armazéns e Quadra, que serviam de anexos à estrutura principal do convento, Oficina da Prancha, Armazém da Prancha, ambos armazenavam e tratavam as pranchas de cortiça em bruto e o Edifício das rolhas, do final do séc. 19.
Número IPA Antigo: PT041214090011
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos (Província dos Algarves)

Descrição

Planta longitudinal, em cruz latina, composta por galilé, anrecedido por escadaria, transepto saliente e cabeceira orientada a sudeste. Volumes articulados. Fachadas sudoeste e nordeste adossadas. Cobertura diferenciada em telhado de duas águas em cada corpo, em telha mourisca. Entrada por galilé com arco redondo, dois tramos com duas abóbadas de arestas seguidas, portal da igreja com moldura granítica de verga e sobreverga rectas; franqueada a porta, encontramo-nos num plano mais baixo do que o da nave, sob o coro, com abóbada de berço redondo; após curto lanço de escadas e saindo debaixo do coro, entramos na nave, única, com tecto em abóbada de berço redondo, possuindo, na parede nordeste e de noroeste para sudeste: capela lateral à face com restos de pintura mural ( motivos arquitectónicos ) e nicho central; porta para o claustro do convento; nicho em arco abaulado. Na parede sudoeste da nave encontramos, de noroeste para sudeste: capela lateral que se abre em dois arcos redondos seguidos, restos de altar de alvenaria com pintura mural na parede fundeira, janelão na parede noroeste, passagem emparedada na parede sudeste, tecto de abóbada de cruzaria de ogivas, formando estrela de quatro pontas; capela lateral que se abre em arcos idênticos aos anteriores, quatro nichos redondos em cada parede lateral e abóbada de berço abaulado; capela lateral que se abre em arco quebrado, de granito, antecedido por arco redondo igual ao das capelas anteriores, porta na parede noroeste a dar para arrecadações paralelas à nave, casas de banho e um quintal, no exterior do topo sudoeste do transepto. Arco cruzeiro redondo com vestígios do primitivo arco quebrado e de um púlpito, do lado do Evangelho; pavimento do cruzeiro e braços do transepto com inúmeras campas; tecto do cruzeiro em abóbada de cruzaria de nervuras, rebaixada, com combados; restos de altar de talha dourada no topo sudoeste, com janelão por cima, e vestígios de janela no topo nordeste. Capela colateral, na cabeceira, do lado do Evangelho, que abre em arco quebrado de cantaria granítica assente em feixe de colunas com capitéis decorados com motivos vegetalistas; porta emparedada, em arco quebrado, na parede nordeste, janelão em arco quebrado na parede fundeira, tecto em abóbada de cruzaria simples de ogivas ( abóbada de arestas de ogivas ); capela-mor forrada com painéis de azulejos historiados com temas franciscanos, azul e branco, nas paredes laterais; altar-mor de mármore branco e preto com alguma decoração em mármore vermelho, possuindo ao centro a abertura para o camarim, com trono, ladeada por colunas e encimado por frontão interrompido; dois anjos ladeiam o frontão, apresentando, o do lado da Epístola, o emblema dos franciscanos; sobre a banqueta, um sacrário; a capela tem tecto de abóbada de berço redondo. Capela colateral, na cabeceira, do lado da Epístola, aberta com arco quebrado de cantaria de granito sobre feixe de colunas com capitéis de decoração vegetalista; na parede do fundo um retábulo em alvenaria, com sete edículas com altos relevos, predela e altar; túmulo de Gaspar Fragoso em edícula de arco redondo com sarcófago - apresentando dois meninos segurando a cartela com o epitáfio, e estátua jacente; dois arcosólios com arco quebrado na parede sudoeste, tendo por cima uma pequena janela emparedada; abóbada de cruzaria simples de ogivas (abóbada de arestas de ogivas).

Acessos

Praça da República. WGS84 (graus decimais) lat.: 39,288837; long.: -7,428403

Protecção

Categoria: CIP - Conjunto de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 740-DX/2012, DR, 2.ª série, n.º 248 de 24 dezembro 2012 *1

Enquadramento

Urbano, adossado às antigas instalações do convento, a nordeste, e a um antigo lagar, a sudoeste, dando a entrada para a Praça da República

Descrição Complementar

Representações dos altos relevos do retábulo da Capela de Gaspar Fragoso, de cima para baixo e da esquerda para a direita (segundo Luís Keil): dois anjos triunfais, músicos, descansando sobre volutas, ladeiam uma edícula - onde se abre o topo do primitivo janelão de arco quebrado -, encimada por Deus em Majestade; Virgem Anunciada, Nossa Senhora da Piedade e o Anjo Anunciador; São Bento, edícula com mascarão, Santo Agostinho; São Pedro e São Jerónimo nos ressaltos da predela.

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Cultural e recreativa: museu

Propriedade

Pública: estatal / Privada: pessoa colectiva

Afectação

DRCAlentejo, Portaria n.º 829/2009, DR, 2.ª série, n.º 163 de 24 agosto 2009 (a igreja)

Época Construção

Séc. 13 / 16 / 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETOS: Cândido Chuva Gomes (2007-2009); Eduardo Souto de Moura (2003); Graça Correia (2003).

Cronologia

1275 - fundação do Convento; 1541 - instituição da Capela de Nossa Senhora da Piedade por André de Sousa Tavares, na capela colateral do Evangelho; 1567 - renovação da Capela de Nossa Senhora da Piedade por André de Sousa Tavares, da Capela de Nossa Senhora da Piedade, estando hoje o altar no Mosteiro de São Bernardo de Portalegre e os leões com escudos de armas da campa de Nuno Vaz no Museu Municipal; 1542 - expulsão dos Frades Claustrais franciscanos e entrega do convento aos Frades Observantes da mesma ordem; 1571 - reparação da capela-mor, construção da abóbada do cruzeiro e do túmulo de Gaspar Fragoso, com o retábulo na capela colateral do lado da Epístola; séc. 16, final - pinturas murais das capelas laterais da nave; 1711 ou 1719 - remodelação da nave da qual resta o portal e o corpo da nave; 1835 - a família inglesa Reynolds explora uma pequena fábrica de cortiça ocupando uma das alas do convento abandonado; 1840, cerca de - George Robinson, já detentor de fábricas de transformação de cortiça, em Halifax, Doncaster e Manchester, em Inglaterra, de nome Robinson Brothers, Cork Growers an Manufacturers, compra a fábrica à família Reynolds introduzindo novos conceitos de industrialização; ampliação da fábrica para novas alas do convento, fazendo várias construções e raiz; 1900 - "Fábrica de rolha" tinha aproximadamente 2000 operários; é criado o primeiro sindicato operário da indústria corticeira assim como uma creche para os filhos dos operários e a cooperativa de abastecimento operária; construção das chaminés; séc. 20 - George W. Robinson introduz profundas alterações tecnológicas, com o desenho de novas máquinas patenteadas por si, em diversos países da Europa, expandindo o negócio para Espanha adquirindo outras fábricas em San Vicente de Alcântara, Forest of Casillas Membrio; 1903 - é fundada na fábrica a própria Corporação de Bombeiros Privativos; 1910 - ampliação da fábrica para o espaço que se supõe ter sido o logradouro do antigo convento; encerramento da igreja ao culto e sua entrega ao quartel que ocupava parte do convento; 1941 - a fábrica Robinson é comprada por portugueses mas mantém o nome Fábrica de Cortiça Robinson; séc. 20, meados - é realizada a maior obra de ampliação da fábrica Robinson com o acrescento de mais um piso, à ala já ampliada em comprimento, que redesenha os vãos exteriores conferindo à fachada, uma estrutura fabril, perdendo os vestígios do antigo desenho de fachada com marcas conventuais *2; 1967, 24 janeiro - a igreja é classificada como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 47 508, DG, 1.ª série, n.º 20; séc. 20, década 70 - a fábrica das tolhas deixa de as produzir, dedicando-se ao fabrico de aglomerado branco e negro; 1992, 01 junho - o imóvel é afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126; 2001, 03 julho - proposta do IPPAR de classificação da Fábrica; Despacho de abertura do processo de classificação pelo vice-presidente do IPPAR; 2003 - requalificação Urbana do Espaço da Antiga Fábrica Robinson, sendo elaborado um projeto de Arquitetura, Plano Robinson (em construção), pelos arquitetos Eduardo Souto de Moura e Graça Correia, tendo sido construído até à data a escola de Hotelaria e Turismo, o estacionamento *3, localizado numa estrutura pré-existente, Armazém da Prancha, os dois únicos edifícios do Plano Robinson já em funcionamento, um auditório e um centro de realidade virtual para empresas internacionais; 2004, 26 dezembro - é constituída a Fundação Robinson com registo no Cartório Notarial da Guarda; 2005 - instalação da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre no antigo lagar, reabilitado, do convento; 23 maio - proposta de ampliação da classificação da Igreja, de forma a abranger o convento e a antiga fábrica; 2007 - 2009 - elaboração de um novo projeto de arquitetura, por Cândido Chuva Gomes, para a Igreja do convento de São Francisco, que propõe a recuperação da estrutura do edificado, o restauro de elementos de revestimento e escultóricos e a ampliação da Igreja através da construção de um pequeno volume, tendo em vista a constituição de um pequeno núcleo museológico de arte sacra pertencente à Fundação Robinson, o qual alberga a coleção Sequeira; 2008, 05 dezembro - proposta da DRCAlentejo de fixação da Zona Especial de Proteção; 2009 - a fábrica Robinson deixa de funcionar deixando desempregados 114 operários; 2009, 16 fevereiro - Despacho de abertura do processo de classificação pelo diretor do IGESPAR e Despacho de encerramento do processo de classificação da fábrica; 2011, 19 agosto - nova proposta da DRCAlentejo de classificação como Conjunto de Interesse Público e fixação de Zona Especial de Proteção; 2012, 09 maio - nova proposta da DRCAletenjo de classificação do conjunto arquitetónico; parecer favorável do Conselho Nacional de Cultura; 17 outubro - publicação do projeto de decisão de classificação do edifício como Conjunto de Interesse Público e fixação da respetiva Zona Especial de Proteção, em Anúncio n.º 13581/2012, DR, 2.ª série, n.º 201; 2016, março - lançada petição pública, apoiada pelo partido político, Os Verdes, " Salvem a Robinson - Património Industrial Corticeiro", alertando para o seu risco de ruína; 2016, novembro - projecto de resolução do Grupo Parlamentar do PS propõe a inclusão do imóvel no projecto Revive, visando a sua requalificação para valência de hotel da Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre; 2017, 08 junho - publicação da Resolução da Assembleia da República n.º 116/2017, em DR, 1.ª série, n.º 111/2017, recomendando ao Governo a inclusão do convento de São Francisco na lista de imóveis que integram o projeto "Revive", considerando a possibilidade, no concurso a ser lançado, dessa unidade poder desenvolver, nomeadamente através de protocolo, a valência de "Hotel de Aplicação" da Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, contribuindo para o incremento da respetiva oferta formativa; 2019, 13 fevereiro - publicação do Despacho n.º 1597/2019, DR, 2.ª série, n.º 31/2019, determinando autorizar a rentabilização, através do regime de concessão, no âmbito do Programa REVIVE, do M 1/Portalegre - Quartel de São Francisco para efeitos de reconstrução, reabilitação, manutenção, requalificação e outras obras e, subsequentemente, para exploração de empreendimentos turísticos ou estabelecimento de alojamento local, sendo essa afetação da receita gerada com a rentabilização efetuada nos termos do disposto no artigo 15.º da Lei Orgânica n.º 6/2015, de 18 de maio; 2019, 18 janeiro - demolição do antigo edifício que servia de armazém da cortiça, sem qualquer autorização.

Dados Técnicos

Estrutura mista; paredes de alvenaria de pedra e tijolo com argamassa; cantaria em arcos e colunas; escultura em mármore no sarcófago de Gaspar Fragoso e no altar-mor; rebocos caiados; paredes forradas a azulejo; pavimentos de tijoleira; tectos de abóbada de berço redondo ou de cruzaria de ogivas; coberturas telhadas

Materiais

Mármore, granito, pedra, tijolo, argamassa de cal e de cimento, tijoleira, madeira, azulejos, telhas

Bibliografia

ALBERTO, Jorge Maroco - O Convento de São Francisco de Portalegre. Portalegre: Fundação Robinson, 2008, nº 5; BELÉM, Fr. Jerónimo de, Crónica - Seráfica da Santa Província dos Algarves da Regular Observância do nosso Seráfico Padre São Francisco. Lisboa, 1753 - 1755, 2 vols.; CÁCERES, José Fernando - Descobrir a Colecção Sequeira. Portalegre, Fundação Robinson, 2008, nº 9; KEIL, Luís - Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Portalegre. Lisboa, 1943; MAIOR, Diogo Pereira Sotto - Tratado da Cidade de Portalegre. Lisboa, 1984; RODRIGUES, Jorge e PEREIRA, Paulo - Portalegre. Lisboa, 1988; CÂMARA MUNICIPAL DE PORTALEGRE, 2014.01.09, http://www.cm-portalegre.pt/resources/2080/zoom/robinson.pdf; Requalificação Urbana do Espaço da Antiga Fábrica Robinson, 2014.01.09, http://www.gop.pt/projecto-detalhe.php?projecto=269&catProj=6&ordem=4; Plano Robinson, 2014.01.09 http://www.correiaragazzi.com/Selec_plano.swf; esep jornal digital, 2014.01.09, http://www.esep.pt/esepjd/index.php?q=article/esepjornal-10-anos-robinson-que-chegou-revestir-os-foguet-es-da-nasa-acabou; CCG ARQUITECTOS, 2014,01,09, http://www.ccg-arquitectos.pt/index.php/seleccionados/equipamentos-e-servicos/igrejasfrancisco.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMS

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMS

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN/DSID, DGEMN/DSARH, DGEMN/DREMS

Intervenção Realizada

DGEMN: 1973 - programa de trabalhos; 1974 / 1975 / 1976 / 1977 - reconstrução de coberturas; 1978 / 1979 - restauro das capelas colaterais, levantamento e reassentamento de campas; 1980 / 1981 / 1982 - restauro de capelas laterais e coro; 1983 - recuperação de coberturas dos anexos e do nártice; 1984 - recuperação de anexos e construção de sanitários, beneficiação da instalação eléctrica; 1986 - reconstrução do telhado do coro e de rebocos exteriores.

Observações

*1 - DOF: Conjunto constituído pela Igreja e antigo Convento de São Francisco e Fábrica Robinson; *2 - neste edifício existem alguns equipamentos que permanecem como peças de arqueologia industrial, tais como: caldeira de vapor, tanque de cozimento de cortiça, conjuntos de trituração, linha de 12 autoclaves conjunto de campânulas de rega de blocos, para além do arquivo, acervo documental e fotográfico, pertencente à Fundação Robinson; *3 - a obra obra é distinguida com o prémio Europeu de Arquitetura Philippe Rotthier, em 2011 e o Prémio de Reabilitação atribuído pela Fundación Pymecon, em ex-aequo, na sua III edição.

Autor e Data

Domingos Bucho 1999

Actualização

Joana Vilhena (Contribuinte externo) 2014
 
 
 
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