Igreja de São João do Alfange

IPA.00006544
Portugal, Santarém, Santarém, União de Freguesias da cidade de Santarém
 
Igreja paroquial pré-românica, maneirista e barroca, de nave única e capela-mor, torre sineira adossada à fachada. Pré-românico: capela-mor com abóbada de berço reforçada por arco toral rematada por ábside semicircular, em cantaria, fresta redonda, arco peraltado sobre capitéis com palmas estilizadas esculpidas, de características moçárabes. Maneirismo: espacialidade postridentina da nave salão, linguagem erudita na utilização das ordens clássicas em pilastras, na modinatura do altar lateral, arco do baptistério e edícula da capela lateral. Barroco - forma dinâmica do coruchéu bolboso da torre, recorte do frontão da fachada e do janelão sobre o portal. Assenta num monumental e cenográfico escadório de lanços duplos convergindo em patamares.
Número IPA Antigo: PT031416120039
 
Registo visualizado 302 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal, orientada, composta: à nave rectangular adossa-se a capela-mor rectangular e rematada por ábside semicircular, flanqueada por 2 anexos quadrangulares de diferentes dimensões; sacristia encostada a E.; adossadas à nave, junto à fachada principal, uma capela quadrangular e a torre sineira. Volumes articulados, sem cobertura na nave e anexos do lado S., em abóbada de berço na capela-mor e anexo lateral N., em telhado de 2 águas na sacristia, em coruchéu bolboso oitavado sobre a sineira. Fachada principal de um pano e 2 registos, rematada por frontão contracurvado centrado pela cruz e ladeada por pilastras toscanas; rasgada por portal de vão rectangular e verga arquitravada a que se sobrepõe um janelão de verga em arco abatido e frontão em chaveta, com concha esculpida no fecho; sobre o janelão a pedra de armas portuguesa encimada pela coroa e rodeada por plumas, com a data gravada de 1802; do lado direito o muro mais baixo da capela, do lado oposto a torre sineira, com cunhais jónicos, ventanas para sinos com verga em arco redondo, pináculos sobre acrotérios nos 4 vértices; nas fachadas laterais, marcadas pelos volumes dos corpos adossados, rasga-se, do lado S., a porta travessa, de moldura idêntica ao portal principal, encimada por janela rectangular com grade;, do lado N. uma janela idêntica. INTERIOR: para a nave abre a capela-mor com arco triunfal peraltado assente em colunas adossadas de fuste cilíndrico e capitéis vegetalistas; do lado da nave, junto ao arco triunfal do lado do Evangelho, um plinto com uma base idêntica à do arco triunfal; 2 nichos rasgam as paredes laterais do arco triunfal; capela-mor com abóbada de berço reforçada por arco toral e rematada por ábside semicircular, rasgada por fresta de verga redonda, com fresta rectangular lateral entaipada e nicho do lado do Evangelho; sob a torre, o baptistério coberto por cúpula, com acesso por arco redondo sobre pilastras toscanas. Na nave resta ainda a base de um púlpito em pedra com mascarão na base, adossado do lado N. e um altar em pedra com pilastras toscanas rasgado por edícula de verga em arco a pleno centro; na capela lateral, junto à fachada principal com porta para a rua e encimada por fresta rectangular, rasga-se uma edícula idêntica, de menores proporções. Vestígios de pintura no altar da nave e no arco do baptistério. Sinais de aplicação de azulejos outrora revestindo integralmente os alçados internos da nave, bem como do encosto do telhado e da cobertura de 3 planos sobre a nave e coro-alto *2.

Acessos

Calçada do Alfange

Protecção

Em vias de classificação

Enquadramento

Urbano, meia encosta, destacado. Implantada no monte onde se ergue a povoação de Santarém, abaixo das Portas do Sol, a uma cota de 20m, em posição destacada sobre o rio Tejo, nas imediações do degradado bairro do Alfange. A igreja assenta numa plataforma, destruída do lado S., à qual dá acesso uma monumental escadaria de três lanços duplos convergentes, com patamares intermédios *1.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Santarém)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 09 / 10 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ENGENHEIRO: João de Arriaga Ferreira (1945).

Cronologia

Séc. 09 - 10 - construção inicial da igreja, de que resta apenas a capela-mor; 1147 - doação por D. Afonso Henriques à Ordem do Templo, em recompensa pelo apoio recebido na conquista de Santarém; 1300 - fundação da nova igreja; 1316 - pertencia aos cónegos da Sé de Lisboa, passando mais tarde novamente para o padroado real; 1460 - doada por D. Afonso V ao cabido da igreja de Santa Maria da Alcáçova, em recompensa pelos aniversários rezados todos os sábados pelos seus cónegos, por alma dos reis de Portugal; 1574 - a igreja pertence ao padroado real e à Diocese de Lisboa; 1609 - criada a Irmandade do Santíssimo; 03 Outubro -. o Papa Paulo V concede aos pescadores licença para pescarem em dias santos, desde que dessem um tributo da pescaria à Irmandade do Santíssimo; 1640 - reconstrução do templo, conforme data gravada na porta que fazia o acesso da sacristia para o trono, hoje desaparecida (SEQUEIRA, 1949); 1710 - data no baptistério; 1755, 01 Novembro - gravemente afectado pelo terramoto; 1779 - reconstrução da igreja segundo data sobre a porta principal (MENDES, 1988); 1802 - data no escudo real da empena; séc. 19, finais - apresenta sinais de ruína; 1891, 21 Outubro - o cónego Joaquim Maria Duarte Dias faz a medição da igreja, com 14m de comprimento, 8m de largura e a capela-mor quadrada com 3,40m; existência da sepultura de Custódio Jorge e da mulher e herdeiros; 1909 - afectado pelo sismo; 1936 - os azulejos da nave são retirados e aplicados na Igreja de Marvila (v. PT031416120016); 1945, 27 Maio - projecto de obras de recuperação do imóvel, da autoria do engenheiro João de Arriaga Ferreira, da Direcção-Geral dos Serviços de Melhoramentos Urbanos; 1949, 22 Abril - por falta de verba, as obras não foram levadas a cabo; séc. 20, 2ª metade - o altar-mor e os 2 altares colaterais são retirados; derrocada da cobertura; 1960 - início de derrocadas da igreja; 1990, agosto - Despacho de homologação de classificação como Valor Concelhio; 1998 - 2000 - reconstrução integral da igreja pela DGEMN; 2023, 06 outubro - publicação da abertura do procedimento de classificação da Igreja, adro e escadaria em Anúncio n.º 208/2023, DR, 2.ª série, n.º 194.

Dados Técnicos

Estrutura mista (capela-mor e anexo N.) e paredes autoportantes (nave e restantes anexos)

Materiais

Estrutura em cantaria (capela-mor) e alvenaria de pedra; cantaria em molduras, colunas, altar e púlpito.

Bibliografia

BEIRANTE, Maria Ângela, Santarém Medieval, Lisboa, 1980; BRAZ, José Campos, Santarém raízes e memórias - páginas da minha agenda, Santarém, Santa Casa da Misericórdia de Santarém, 2000; CANAS, José Fernando, O Escadório da Igreja de São João de Alfange: Uma Intervenção de Emergência, Monumentos 3, DGEMN, Lisboa, 1995; CUSTÓDIO, Jorge, Candidatura de Santarém a Património Mundial (texto policopiado), Santarém, 1996; MENDES, Octávio da Silva Paes, Santarém Monumental, Santarém, 1988; Monumentos, n.º 9 a n.º 12 e 24, Lisboa, DGEMN, 1998-2000 e 2006; Santarém quinhentista, Lisboa, 1981; SARMENTO, Zeferino, História e Monumentos de Santarém, Santarém, 1993; SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Inventário Artístico de Portugal-Distrito de Santarém, Vol. 3, Lisboa, 1949; SERRÃO, Joaquim Veríssimo - Livro das Igrejas e Capelas do Padroado dos Reis de Portugal - 1574. Paris: Fundação Calouste Gulbenkian Centro Cultural Português, 1971; SERRÃO, Vítor, Santarém, Lisboa, 1990; VASCONCELOS, Padre Inácio da Piedade e, História de Santarém Edificada (...), Lisboa, 1740.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID; DGARQ/TT: Diccionário Geographico das Cidades, vilas e paróquias de Portugal, vol. 33, n.º 66; BIBLIOTECA ÉVORA: MATOSO, Padre Luís Montez, Santarém Ilustrada (...), 1738, (Ms. CIII 2-4)

Intervenção Realizada

DGEMN: 1936 - são retirados azulejos da nave para serem aplicados na Igreja de Marvila; a DGEMN compromete-se a substitui-los por outros que se guardavam na Igreja de Santa Clara ( v. PT031401110014 ), o que não vem a acontecer; 1990, c. de - restauro de parte da escadaria, do adro envolvente a N. e do anexo desse lado; 1995 - consolidação da escadaria da Igreja incluindo construção de uma caixa em betão no interior do torreão N. e apeamento e reconstrução do pano central da escadaria; IPPAR: 1997 - Prospecções arqueológicas no interior da igreja e zona anexa às fachadas E. e S.; DGEMN: 1997 - contenção das terras onde se implanta a igreja através da reconstrução do torreão S. do escadório e da plataforma envolvente do lado S.; consolidação das paredes e abóbada da igreja; 1998 / 1999 - obras de reabilitação e restauro: apeamento e reconstrução de parte da fachada lateral S., consolidação das estruturas existentes; 2000 / 2001 - execução de uma nova cobertura em camarinha de cobre na nave, capela-mor e anexos; reparação da torre sineira; 2006 - tratamentos das fachadas exteriores e interiores; colocação de novas caixilharias e de vidraças; tratamento do revestimento azulejar da nave; assentamento de novos altares; feitura de nova instalação eléctrica; CMSantarém: 2006 - tratamentos das fachadas exteriores e interiores; colocação de novas caixilharias e de vidraças; tratamento do revestimento azulejar da nave; assentamento de novos altares; feitura de nova instalação eléctrica; CMSantarém: 2006 - regularização, limpeza e calcetamento do adro.

Observações

*1 - O bairro do Alfange constituía uma área periférica importante, com um porto de pesca de grande movimento e um cais de acostagem para os barcos que faziam a travessia do Tejo; a partir do Séc. 16 a sua importância foi decaíndo em proveito do bairro da Ribeira. Foi rodeado por muralhas até essa data; junto à igreja, terminava a vereda íngreme e serpenteante que ligava o Alfange à Porta do Sol. *2 A igreja tinha 4 altares: no altar-mor venerava-se o Santíssimo Sacramento e as imagens de São João Evangelista e de São João Baptista; nos 2 altares colaterais, do lado do Evangelho, Nossa Senhora da Encarnação, com imagem de roca de grande devoção e as imagens de Santa Catarina e de São Vicente mártir, do lado da Epístola, a imagem do Menino Deus; no altar lateral do alçado S., a imagem de São Bartolomeu, ladeada pelas imagens de São Sebastião e Santo António. Na sacristia existia um cofre com uma relíquia: o casco da cabeça de São Saturnino mártir. As naves eram cobertas por tecto apainelado emoldurando pinturas (45 painéis na nave, 3 no baixo coro, 2 na capela-mor) (CARDOSO, 1758); o coro-alto apoiava-se em colunas salomónicas; os 3 altares eram revestidos por talha dourada de finais do Séc. 17; na Sala da Irmandade existia um cadeiral idêntico ao da Sala do Definitório da Misericórdia de Abrantes (141621007), (SARMENTO, 1993). As naves eram revestidas por azulejos de padrão e enxaquetados iguais aos da capela-mor da Igreja de Marvila, tendo alguns sido aí empregues, em 1936. Um cancelo de tipo visigótico, encontrado nos escombros, guarda-se na reserva arqueológica; várias imagens encontradas nos escombros na sacristia (CUSTÓDIO, 1996).

Autor e Data

Isabel Mendonça 1996

Actualização

Manuel Raposo 2002
 
 
 
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