Quinta de Nossa Senhora da Piedade

IPA.00006399
Portugal, Lisboa, Vila Franca de Xira, União das freguesias de Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa
 
Arquitectura residencial, barroca e rococó e arquitectura religiosa, manuelina e barroca. Quinta rural, ligada a um morgadio de produção de vinho, sal e azeite, além de vários frutos e produtos hortícolas, onde se implantou um palácio senhorial, o actual de construção barroca, de planta em U pouco desenvolvido, com as fachadas simétricas, a partir de um eixo central, flanqueado por gigantes de silharia fendida, onde se situa um passadiço que liga as fachadas principal e posterior e acede ao interior do imóvel, encimados por amplas janelas, que iluminam o salão nobre. As alas são simples, rasgadas por janelas rectilíneas, de peitoril ou de varadim. O interior foi algo alterado para adaptação às novas funções, sendo composto por um vestíbulo amplo, que dá acesso a uma escadaria acanhada, em cantaria, por onde se sobe para o andar nobre; neste, o patamar acede a uma antecâmara do salão nobre e a corredores centrais, que permitem o acesso às várias dependências, todas intercomunicantes. Este edifício, considerado uma casa de campo para estadias curtas, sofre influência directa dos tratados de Blondel (1737-1738) e Briseux (1743). A maior parte destes espaços do piso superior, encontram-se decorados com silhares de azulejo, em monocromia, azul sobre fundo branco, com elementos decorativos ou figurativos, com cenas galantes, marinhas, de caçadas e orientais, de produção barroca joanina. Surgem, ainda, alguns azulejos de padronagem vegetalista, azul e branca, do mesmo período. Numa das alas, surge a Capela, de planta longitudinal de espaço único, totalmente revestida a azulejo policromo figurativo, rococó, alusivo a passagens do "Cântico dos cânticos". O edifício abre para um pátio, fechado por muro e protegido por baluartes quinhentistas, onde estão instalados os anexos agrícolas e a casa do feitor, de características vernaculares. Nesta zona, mantém-se uma faixa de jardim. No lado oposto, aparecem capelas e oratórios, como a Ermida de Nossa Senhora da Piedade, de feitura manuelina, com planta longitudinal composta por nave e capela-mor, apresentando portal trilobado e moldura rectilínea, com o interior marcado pela cobertura em cúpula da capela-mor, com acesso por arco triunfal assente em pilastras com os capitéis decorados por elementos fitomórficos, Do mesmo período, o Oratório de São Jerónimo, de planta longitudinal composta por nave e capela-mor, com coberturas diferenciadas em abóbada de aranhiço na nave e em cúpula na capela-mor, apresentando um alpendre com acesso laterais, tendo um portal mainelado, com arcos de volta perfeita, assentes em pilastras e em colunelo com as armas do proprietário. Surge, ainda, o Oratório de Cristo morto, com as paredes exteriores revestidas a azulejo figurativo de produção barroca joanina. O jardim tinha duas linhas perpendiculares, com alas vastas, onde surgiam os buxos, um espaço de murtas, o pomar, o bosque, vários tanques e fontes, incluindo uma cascata, revestida, exteriomente, a azulejo e com embrechados, remate em cornija e a pedra de armas do proprietário. Quinta agrícola, ligada, desde o séc. 14 a um morgadio, que se foi expandindo com favores régios, que nobilitaram o proprietário, tendo pertencido a famílias importantes do reino, que determinaram, com o seu poder económico, a construção, ao longo dos tempos, elementos ímpares de vários estilos, destacando-se a arquitectura religiosa, que se mantém no seu interior e o equipamento de lazer. O palácio é simples, em termos arquitectónicos, destacando-se a solução do eixo central, flanqueado por gigantes em silharia fendida e formando um jogo de formas, sendo os vãos rectilíneos, mas envolvidos por molduras muito salientes em arco abatido. A maior importância do edifício, adaptado a biblioteca, galeria de exposiçoes e zona de formação, reside no seu revestimento a azulejo, encomendado ao mesmo pintor, Valentim de Almeida, fazendo parte de um programa preciso, onde a padronagem e o figurativo se aliam, demarcando a função das várias salas; assim, a padronagem surge nas salas públicas, enquanto o figurativo aparece nos corredores ou nas ambiências privadas. Destacam-se os azulejos decorativos, com uma profusão de gramática pronunciadora do rococó, já visível nos azulejos policromos que decoram o espaço da capela privada do palácio, actualmente despida de significado religioso, decorados com passagens do "Cântico dos cânticos", que o pintor Valentim de Almeida também aplicou no claustro da Sé do Porto (v. PT011312140001), embora em monocromia, azul sobre fundo branco. Os azulejos figurativos não seguem rigorosamente nenhuma gravura, aproveitando figuras de gravuras várias, denotando a mestria do pintor, surgindo elementos das gravuras de Jean Lepautre, Jacques Stella, Etienne Picard, Claude Duflos, Aubert, Cochin; os azulejos decorativos denotam influências dos desenhos para grades de ferro de Jacques François Blondel. Junto à casa e rodeando um pátio, os anexos agrícolas, protegidos por dois baluartes, construídos no final do séc. 16, denotando a importância económica da quinta, necessitando que fosse protegida em tempo de crise económica e de fomes. No interior, que teria, desde o séc. 17, um interessante jardim, para o qual foram chamados especialistas franceses no 18, criando alamedas, canteiros de buxo, zonas de fresco, tudo adulterado ou desaparecido, surgem três edifícios de carácter religioso, como a Ermida de Nossa Senhora da Piedade, que dá nome à Quinta, adulterada pela construção de um pátio, adossado à casa do ermitão, também ela bastante descaracterizada, na qual se destacam a solução da cobertura da capela-mor, em cúpula, rematada por coruchéu, apresentando alguns elementos manuelinos, no perfil do portal e na decoração dos capitéis, que evoluem entre o classicismo e as decorações vegetalistas medievias, também visível no portal mainelado e armoriado do Oratório de São Jerónimo. Este, com cobertura em cúpula concheada na capela-mor e com cúpula e tambor cego no alpendre, foi transformado, no séc. 18, numa casa de fresco, tendo recebido painéis de azulejo policromos, entretanto desaparecidos, um banco e uma cascata de embrechados, existindo, no meio do jardim, uma segunda cascata, mas de decoração mais exuberante, tardo-barroca, comemorativa do casamento da primogénita com um ramo dos Távora. Os vários lagos e fontes desapareceram, mantendo-se um nicho em alvenaria de tijolo e um fontanário já tardio, de espaldar, com bica em forma de florão que verte para um tanque semicircular, o lago dos patos, alterado pela construção de uma casa para os mesmos. De destacar o carácter didático que a Quinta assumiu, com o paroveitamento da zona dos gamos para edificar uma série de construções de madeira, onde vivem vários animais, permitindo o contacto directo das escolas com a pecuária e as actividades agrícolas.
Número IPA Antigo: PT031114060011
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Quinta  Casa nobre  Tipo planta em U

Descrição

A Quinta é de planta rctangular irregular, implantada em terreno de forte pendor inclinado, comprendendo, ao centro, uma zona plana, organizando-se em dois eixos perpendiculares, pavimentados a terra batida, o NE. / SO., que liga os acessos à Quinta, e passa pelo centro do Palácio, com amplo pátio na fachada posterior, onde se implantam a antiga Casa do Feitor, anexos agrícolas, um baluarte, e vestígios de um jardim; e o eixo NO. / SE., onde surgem os edifícios religiosos, a Ermida de Nossa Senhora da Piedade, o Oratório de São Jerónimo e o Oratório do Senhor morto, três lagos e uma cascata; no interior da quinta, surgem, ainda, um nicho, um fontanário, a zona dos gamos e algumas manchas de bosque, vestígios da primitiva mata, jardim e zonas de cultivo. Este núcleo edificado é composto, actualmente, por uma fracção do que era a Quinta da Póvoa *2, tendo todo o perímetro rodeado por muros em alvenaria de calcário ou de tijolo, de dimensões distintas e parcialmente rebocados e pintados de branco, com dois acessos em lados opostos, o primeiro, de feitura recente, virado a SO., composto por portal metálico, que liga ao jardim que envolve a Igreja de Nossa Senhora da Piedade, e o segundo, e mais antigo, virado a NE., junto ao pátio do Palácio e do baluarte; este é em arco de volta perfeita, com moldura, mais larga na zona inferior, marcada por algumas aduelas salientes e rústicas, rematado por elementos contracurvados e volutados, onde surge plinto com a inscrição "D 1772", que sustentaria uma desaparecida cruz. No lado direito, vestígios do antigo BALUARTE. O PALÁCIO situa-se no extremo NE. da Quinta, no seu interior e separada do muro divisório da propriedade por uma amplo pátio; de planta em U e volumetria simples, tem um corpo adossado no lado direito, sobre um dos antigos baluartes que protegiam a Quinta, com cobertura homogénea a dez águas no palácio e em terraço no anexo. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, evoluindo em dois pisos, definidos por friso de cantaria, rematadas em friso, cornija e beirada simples, rasgadas, essencialmente, por vãos rectilíneos, as janelas com caixilharias de madeira, pintadas de branco, com duas folhas e bandeira, sendo as portas de madeira pintada de verde. As fachadas principal, virada a NE., e posterior, virada a SO., são simétricas, compostas a partir de um eixo central, em cantaria de calcário, onde se rasga o passadiço que liga ambas as zonas do antigo jardim; tem acesso por vãos de verga recta, envolvidos por moduras muito relevadas e côncavas, de perfil em arco abatido, com o interior em abóbada de berço, também abatido, onde surgem as portas de acesso às alas e ao vestíbulo que acede ao piso nobre. As alas laterais são semelhantes, com portas e janelas de peitoril no primeiro piso e, no segundo, com janelas de varandim na fachada principal e de peitoril na posterior; esta possui duas ilhargas, correspondendo aos braços do U, com o mesmo tipo de fenestrações. No lado direito, surge um corpo anexo, de um piso, com a fachada principal seccionada por pilar de alvenaria calcária, tendo duas portas e duas janelas protegidas por grades metálicas. Na fachada NO. deste anexo, surgem vestígios do primitivo baluarte, com a base em talude e um cordão em cantaria, onde se rasga janela rectilínea, protegida por grades, encimada pela pedra de armas dos Castelo Branco e as iniciais "I" e "B" *3. INTERIOR com paredes rebocadas e pintadas de branco, tendo rodapés em cantaria, com pavimentos em madeira ou lajeado de calcário e tectos rebocados e pintados, no primeiro piso e, no segundo, de madeira pintada de branco, uns planos, outros em gamela; tem, no piso térreo, várias zonas de arrumos e, no primitivo vestíbulo, a recepção, uma sala de exposições temporárias e o patamar de acesso à escadaria do piso nobre, com pavimento em lajeado, formando losangos, o qual liga, por porta em arco abatido e moldura recortada ao exterior. No lado direito, a escada, em cantaria e de um único lanço, iluminada por janela, a que corresponde uma outra cega, que ilumina o corredor. O topo da escadaria acede ao salão nobre e a dois corredores internos, um em cada ala, que abrem para dependências, todas elas intercomunicantes, exceptuando algumas com divisórias recentes, em tabique, rasgadas por portas de verga recta, com molduras de madeira, duas folhas do mesmo material e bandeiras, tudo pintado de branco. No lado esquerdo, desenvolvem-se salas de reunião e a biblioteca, surgindo, no lado oposto, salas de formação, gabinetes de trabalho e a Capela do palácio. Várias salas possuem painéis de azulejo, em monocromia, azul sobre fundo branco, formando silhar, com motivos ornamentais ou figurativos. A Capela privada é de planta longitudinal simples, com a zona onde surgia o altar-mor, elevada por supedâneo, com cobertura de madeira pintada de branco, em caixotões rectangulares e com os ângulos côncavos, assente em friso e cornija de madeira e pavimento em soalho; as paredes têm os ângulos côncavos e possuem pilastras toscanas de madeira, pintadas de branco, tendo as paredes totalmente revestidas a azulejo figurativo e decorativo policromo. Surgem dois painéis decorativos, alusivos ao "Cântico dos Cânticos", sendo os restantes panos murários revestidos com azulejo decorativo de enchimento, formando simples elementos geométricos, nas janelas, ou, sob estas, cartelas em monocromia, azul sobre fundo branco, com motivos fitomórficos, envolvidos por molduras de concheados, enrolamentos e pedra fingida; a porta possui um revestimento em "trompe l'oeil", formando quadraturas, com falsos marmoreados, que sustentam encanastrados, rodeados por flores, surgindo, uma falsa cornija sobre a verga, encimada por cartela, querubim e falsos caixotões perspectivados. A CASA DO FEITOR desenvolve-se no topo do pátio, adossada ao muro divisor da propriedade, de planta rectangular simples, composta por dois corpos escalonados, o da esquerda de dois pisos e o da direita de um, com coberturas diferenciadas em telhados de três e duas águas, respectivamente, e fachadas rebocadas e pintadas de branco. Possui, no piso térreo, portas de verga recta e molduras simples, surgindo, no corpo do lado esquerdo, escadas adossadas que ligam ao segundo piso, onde surge uma porta de verga recta e uma janela de peitoril rectilínea. Fachada posterior com duas portas de verga recta. A envolver o pátio, surgem vários ANEXOS AGRÍCOLAS, um deles adossado à casa do feitor, em ângulo oblíquo, destinado a arrumações, com porta de verga recta. Perpendicular a este, um edifício, provavelmente o antigo lagar, adossado ao muro, adaptando-se ao declive do terreno, de planta rectangular simples e cobertura a duas águas, com as fachadas rebocadas e pintadas de branco. A principal tem porta de verga recta e duas janelas de peitoril, todas com molduras de cantaria, sendo a lateral direita rematada em empena, e rasgada por janela gradeada no topo. Fachada posterior com janelas jacentes de arejamento, junto ao remate. Surgem, ainda, mais três corpos, ligados à actividade agrícola, um deles bastante arruinado, de um piso e rasgados regularmente por vãos rectilíneos com molduras de cantaria. Afastada do Palácio, com acesso por caminho de terra batida, situa-se a ERMIDA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE, de planta rectangular simples, composta pela capela propriamente dita, com nave e capela-mor, um pátio e uma anexo adossados ao lado esquerdo, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas e em domo na capela-mor, com remate em coruchéu tronco-piramidal escalonado, profusamente decorado. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, rematadas na ermida em cornija e nos anexos em beirada dupla. Fachada principal com o corpo da capela em empena, apresentando o cunhal esquerdo com alguns silhares aparentes; é rasgada por portal trilobado, envolvido por moldura rectilínea saliente, apresentando na verga, duas flores relevadas e, ao centro, um Sol, rematando em cornija. No corpo adossado, porta de verga recta de acesso ao pátio e, no remate, sineira em arco de volta perfeita, com pilastras e volutas nas ilhargas, rematando em cornija e plinto curvo; possui uma lápide com inscrição. Fachada lateral esquerda cega, sendo a oposta rasgada por três janelas de verga recta. Fachada posterior cega, com uma janela de verga recta no anexo. INTERIOR com paredes rebocadas e pintadas de branco, com cobertura de madeira em masseira na nave e em cúpula com pintura, a imitar uma concha, na capela-mor. Possui portal axial com verga lobulada. Arco triunfal de volta perfeita dobrado, com dupla arquivolta boleada, a interior assente em colunelos, com o capitel ornado por elementos vegetalistas, encimado por ábaco ornado por carrancas. No lado da Epístola, acesso a uma dependência com lareira. O pátio é simples, possuindo uma palmeira. Junto à Ermida, surgem dois lagos, de perfis sinuosos. Nas proximidades, o ORATÓRIO DO SENHOR MORTO, de planta rectangular simples, antecedido por alpendre aberto, com coberturas diferenciadas em telhados de três e quatro águas, respectivamente, estando vedado por uma rede, com acesso pelo lado esquerdo. O alpendre é mais elevado, assente em quatro colunas de fuste liso e capitéis coríntios, suportadas por dados, que sustentam a cobertura de betão, com cruz latina no vértice; apresenta pavimento em lajeado de calcário, formando losango de várias tonalidades. O oratório tem cunhais apilastrados e remates em friso e cornija, com as paredes exteriores revestidas a azulejo figurativo, em monocromia, azul sobre fundo branco, com amplo silhar composto por cartelas, elementos fitomórficos, quadraturas, concheados e querubins, sobre os quais surgem os painéis, envolvidos por friso de folhagem, com os ângulos recortados e com maior ornamentação, representando, na fachada principal, os "Fiéis em adoração", os quais rodeiam um amplo óculo elíptico, com moldura de cantaria, junto ao qual surge um genuflexório, também de cantaria; nas restantes fachadas, vários milagres da Virgem: na fachada lateral esquerda "Cura de uma entrevada", na oposta "Resgate de um barco de pescadores" e, na posterior, "Salvamento de uma criança de um poço"; na lateral esquerda, uma porta de acesso ao INTERIOR, constituído por rochedos, criando uma falsa lapa. No enfiamento deste, o ORATÓRIO DE SÃO JERÓNIMO, que se encontra protegido por uma estrutura metálica, de planta rectangular simples, composta por nave, antecedida por alpendre e capela-mor, com coberturas diferenciadas, em telhado de duas águas na nave, em domo no alpendre e na capela-mor, este concheado. Fachadas do oratório rebocadas e rematadas em friso e cornija, sendo o alpendre em cantaria de calcário, com acessos laterais, o do lado esquerdo formando um portal mainelado, composto por dois arcos de volta perfeita, assentes em pilastras laterais e em coluna toscana central, com o capitel ostentando elementos fitomórficos e surgindo, no rim dos arcos, uma pedra de armas esquartelada dos Valente, Castelo Branco e Castro. A estrutura remata em tambor cego oitavado, decorado com pinturas murais, formando florões. Tem pavimento em mosaico de cantaria de tonalidades distintas, formando axadrezado, com cobertura em cúpula cega, em tijolo, possuindo uma cascata de embrechados, com taça concheada, em cantaria. O portal axial é de verga recta e moldura saliente, encimado por concha. Fachada lateral esquerda cega, tendo, na oposta, uma janela no corpo da nave. Fachada posterior em empena recta, cega. INTERIOR com as paredes denotando vestígios de terem possuído azulejos, com cobertura em abóbada de aranhiço na nave e cúpula gomeada na capela-mor; Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas e fecho saliente, com vestígios de policromia. O JARDIM encontra-se muito adulterado, possuindo, na zona do pátio, uma amplo relvado, com álgumas árvores e um poço circular, tendo, no lado direito, um outro canteiro com algumas árvores. A zona frontal ao Palácio apresenta vários vestígios dos canteiros primitivos, com alguns apontamentos de buxo e várias árvores de grande porte, sobretudo na zona junto às capelas. Neste, integra-se uma CASCATA, de planta rectangular, com as faces laterais revestidas a azulejo em roxo manganês, do tipo "pedra torta", tendo a face principal rasgada por arco de volta perfeita, em silharia fendida, rematado por cornija curva e com a pedra de armas dos Lencastre e Távora, rodeado por concheados e encimado por coroa, com o lema "FINDIT QUAS CUNQUE"; possui interior de embrechados e dupla taça em cantaria. Junto ao palácio, um NICHO em tijolo, em arco de volta perfeita e, no enfiamento deste, um FONTANÁRIO adossado a um muro de suporte de terras e divisor de um canteiro, com espaldar rectilíneo e emoldurado, rematando em friso e cornija, com bica em florão, que vertia para tanque de perfil semicircular. Junto ao Palácio, o TANQUE dos patos, estando rodeado por muro de várias dmensões, adaptando-se ao declive do terreno, rebocado e pintado de branco, pontuado por meias colunas, assentes em dados e tendo, ao centro, uma plataforma com uma casa de planta rectangular e cobertura a quatro águas, tendo, numa das faces, dez vãos em arcos de volta perfeita, para a entrada dos patos. A ZONA DOS GAMOS é um conjunto de construções em madeira, envolvidas por cerca do mesmo material, que tem um carácter didático, onde surgem vários animais, como gamos, cabras e ovelhas. Superiormente, uma estrutura murada, onde funciona um pequeno viveiro de plantas, municipal.

Acessos

Quinta da Piedade, Póvoa de Santa Iria. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,862518; long.: -9,070068

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 29/84, DR, 1.ª série, n.º 145 de 25 junho 1984 *1

Enquadramento

Urbano, isolado e destacado, rodeado por vários bairros recentes da povoação da Póvoa de Santa Iria, compostos por prédios de rendimento bastante elevados, implantado em zona de encosta, com declive pronunciado. Um dos acessos à Quinta fica junto à Igreja de Nossa Senhora da Piedade (v. PT031114060092). Nas imediações situam-se várias escolas.

Descrição Complementar

O PALÁCIO tem a fachada principal virada a NE., flanqueada por cunhais apilastrados toscanos, da ordem colossal, de disposição praticamente simétrica a partir de eixo central, que forma um passadiço, de acesso ao imóvel e ao pátio. Este é mais elevado e rematado em frontão triangular sem retorno, flanqueado por dois gigantes em silharia fendida, possuindo almofadados geométricos, rebocados e pintados de branco; o piso inferior é rasgado por portal de verga recta, com moldura boleada, recortada e formando arco abatido com fecho saliente, que sustenta a janela do piso superior, em arco de volta perfeita, com fecho saliente, moldura recortada e remate em cornija contracurvada. Os eixos laterais são semelhantes, tendo, o do lado esquerdo, no primeiro piso, duas portas, uma de maiores dimensões, e quatro janelas de peitoril, a do extremo esquerdo, com vestígios de ter sido uma porta, parcialmente entaipada, todas protegidas por grades metálicas pintadas de verde; no piso superior, seis janelas de varandim, com guardas em ferro forjado, pintadas de verde e formando enrolamentos vazados. O pano do lado direito tem uma porta e cinco janelas no primeiro piso, protegidas por grades metálicas pintadas de verde, surgindo, no piso superior, seis janelas de varandim, idênticas às da ala anterior. Fachada lateral esquerda, virada a NO., cega, tendo, na oposta, virada a SE. no segundo piso, três portas e duas janelas que abrem para o terraço do corpo anexo, onde se ergue um corpo de planta rectangular, de dois pisos e cobertura a quatro águas, com duas portas na face NE., duas janelas sobrepostas na face SE. e uma porta e uma janela na face NO.. Fachada posterior com acesso pelo passadiço central, pavimentado a calçada à portuguesa e rasgado por portas de verga recta laterais, de acesso a cada uma das alas do palácio; tem saída pelo eixo central da fachada, marcado por dois gigantes em cantaria, com almofadados recortados, rebocados e pintados de branco, que flanqueiam arco abatido, assente em impostas e com moldura saliente, sobre o qual surge uma janela de sacada, com bacia em cantaria e guarda metálica ostentando elementos entrelaçados vazados, tendo o vão de perfil curvo e moldura recortada, rematado por almofadado, rosetão e cornija angular, sobre a qual surge uma mísula, que sustenta o alteamento da cornija do remate da fachada. As alas laterais são semelhantes, possuindo três portas, uma de maiores dimensões, em arco abatido e moldura recortada, com pingente na zona superior, e por duas janelas de peitoril, protegidas por grades metálicas; no piso superior, cinco janelas de peitoril. O braço do U tem, no lado esquerdo, uma porta e duas janelas protegidas por grades, no primeiro piso, e quatro janelas no segundo, com caixilharias de guilhotina, surgindo, no braço oposto, de menores dimensões, uma porta no piso inferior e duas janelas com caxilharia de guilhotina no superior. O INTERIOR tem, no segundo piso, revestimento de azulejos em várias salas, surgindo, no patamar das escadarias, azulejos em monocromia, azul sobre fundo branco, formando silhar, com motivos ornamentais, com jarras de flores, pássaros, motivos vegetalistas e "ferronerie", envolvidos por friso de concheados, onde se vêem algumas asas de morcego. Estes motivos repetem-se na ante-câmara do salão nobre, actualmente uma sala de reuniões, e no gabinete da directora da biblioteca. O salão nobre e antecâmaras possuem azulejo da mesma tipologia, mas de padrão, surgindo dois tipos, um de grinaldas e outro com motivos florais, todos envolvidos por cercaduras fitomórficas semelhantes; o salão nobre possui chaminé em cantaria de calcário vermelho, com o interior forrado a ladrilho bege, formada por duas pilastras e remate em friso e cornija. Os azulejo figurativos desenvolvem-se no corredor e salas da ala SE., envolvidos por molduras recortadas interiormente, formando concheados, com asas de morcego, e acantos, aparecendo, no corredor, sete painéis com cenas ribeirinhas, com temática quotidiana. Na sala anexa à antecâmara do Salão nobre, surgem seis painéis com temas orientais, com várias cenas do quotidiano, introduzidas em ambientes e arquitecturas orientais. Na sala imediata, de pequenas dimensões, surgem painéis com exercícios de equitação, a que se sucede uma sala com vários painéis de festas galantes e, na sala de topo, caçadas. Uma das salas junto à biblioteca, apresenta azulejos figurativos com cartela central, representando bustos de imperadores, envolvido por festões de drapeados, aves e concheados. Na ala oposta, duas salas de formação possuem painéis de azulejo,com cercaduras mais simples, compostas por acantos, onde surgem paisagens campestres e cenas galantes; numa delas, aparece uma padronagem policroma, com trama diagonal e florão central. Os azulejos da Capela representam cenas do "Cântico dos Cânticos", identificadas, inferiormente, por inscrições latinas, inseridas em cartela: no lado do Evangelho, uma figura feminina sentada, com frutos no regaço, rodeada por três anjos e uma serviçal, possuindo a inscrição "Canti Corum 2.3. FRUTIS EIUS DULCIS GUTURI MEO" - "o seu fruto é doce ao meu paladar"; no lado oposto, uma figura feminina a tocar uma harpa, rodeada por anjos, tendo a inscrição "Cant. 2.14 SONET VOX TUA IN AURIBUS MEIS VOX ENIM TUA DULCIS" - "faze-me ouvir a tua voz porque a tua voz é doce". No ORATÓRIO DE SÃO JERÓNIMO, a inscrição: "ESTE ORATORIO DE NOSSA SENHORA DA PIADADE COM TODO O MAIS EDIFICIO DESTA QUNTA MANDOU FAZER DOM FRANCOSQUO DE CASTEL BRANCO VALEMTE, CAMAREIRO MOR DEL REI D. JOAM O TERCEIRO E SENHOR DE VILA NOVA DE PORTIMÃO, NA ERA DE 1531". É flanqueada por dois selvagens a espezinhar uma caveira, alegando o triunfo sobre a morte, e, sobre a lápide, a pedra de armas, em escudo esquartelado, com o leão rompante dos Castelo Branco e as aduelas dos Castros, da sua segunda esposa, D. Maria de Castro.

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: quinta

Utilização Actual

Cultural e recreativa: biblioteca / Cultural e recreativa: galeria / Assistencial: associação de beneficência

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Fábrica da Igreja Paroquial da Póvoa de Santa Iria (o oratório do Senhor Morto foi cedido pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, em direito de superfície, por 70 anos)

Época Construção

Séc. 15 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: António Flores Ribeiro (1984-85). CABOUQUEIRO: António dos Santos (1733). CANTEIRO: António Pereira (1779); Marcos Pereira (1779). CARPINTEIRO: André Pereira (1751). ESCULTOR: João Rodrigues (1726). FERREIRO: Domingos Francisco (1779). JARDINEIRO: Alexandre Lasala (1717); José Antunes (1779). LADRILHADORES: Fernando Cruz (1750-52);Francisco Martins(1750-52); João dos Santos (1750-52); José dos Santos (1750-52); Valentim Borges (1750-52). OLEIRO: Cláudio Gonçalves (1752); Francisco de Sales (1744-49). PEDREIRO: António dos Santos (1724); Domingos Martins (1739); Manuel Mateus (1739-54). PINTOR: Francisco Pais (1750-83). PINTORES de AZULEJO: Sebastião de Almeida (1749); Valentim de Almeida (1749). INDEFENIDO: Joaquim de Oliveira (1751); José de Oliveira (1751); Manuel Antunes (1726).

Cronologia

1348 - instituição do Morgado da Póvoa por testamento de Vicente Afonso Valente, cónego da Sé da Lisboa, em benefício de D. Lourenço Afonso, seu irmão, que assim se torna o seu primeiro senhor; o morgadio visava garantir os bens para uma missa perpétua, na desaparecida Igreja de São Jorge, em Lisboa; 1364 - a Quinta da Piedade, uma das parcelas que constituía o morgadio, estava arrendada a Álvaro Pires Anes, constituída por olivais e vinha; 1378 - Martim Afonso Valente, 3º senhor do morgadio, adquiriu umas vinhas na Azóia, ampliando a propriedade; 1391, Agosto - o rendeiro João Esteves foi autorizado pelo morgado a vender algumas propriedades, nomeadamente uns armazéns, ficando explícito que já existia um núcleo construído no local; 1461 - o rei D. Afonso V doa os salgados da Póvoa de Martim Afonso a Gonçalo de Castelo Branco, que, entretanto, casara com a neta de Aires Afonso Valente, Brites Valente; 1476 - o mesmo monarca dá-lhe o senhorio de Vila Nova de Portimão; 1485 - D. Gonçalo passa a poder usar o título de Dom e usufruir dos rendimentos de Conde; 1504, Maio - o seu sucessor D. Martinho, após um período de declínio junto da Corte, recebe uma carta de D. Manuel, afiançando que, no prazo de quatro anos, seria nobilitado, como recompensa pela sua bravura na Batalha de Toro, em que fora aprisionado pelos castelhanos; 1514 - D. Manuel nobilita D. Martinho de Castelo Branco como 1.º Conde de Vila Nova de Portimão; 1530 - 1540 - construção do oratório de São Jerónimo e feitura do grupo escultórico; 1531 - com D. Francisco de Castelo Branco Valente, o qual nobilitou, ao acrescentar este apelido, o ramo da família da sua avó, D. Beatriz Valente, foi construído na Quinta, um paço, composto por uma sala central, uma "loggia" e no extremo oriental, uma varanda com vista sobre o Tejo (MANGUCCI, p. 58), o horto, a Ermida de Nossa Senhora da Piedade e a Lapa do Senhor Morto, já estavam concluídos nesta data; a última foi construída no bosque, numa zona de recato, junto a várias nascentes, permitindo a construção de um tanque no local; 1532 - edificação de um jardim no local do primitivo bosque; 1545, 20 Outubro - testamento de D. Francisco de Castelo Branco Valente a instituir missa quotidiana na Ermida de Nossa Senhora da Piedade, por sua alma e pela da primeira mulher, D. Francisca, e da segunda, D. Maria de Castro, para o que deixou 2 mil cruzados, para sustento do religioso, companheiro e velas; 1565 - 1578 - provável edificação da ala oriental do palácio e dos baluartes do pátio, que integravam os lagares do morgadio *4; 1578 - com o falecimento de D. Martinho de Castelo Branco Valente, em Alcácer Quibir, a propriedade passou para D. Branca de Vilhena, sua sobrinha; 1580 - esta casa com D. Manuel de Castelo Branco; séc. 17 - execução de um jardim de buxo e canteiros de murta, em parte do bosque que rodeava a casa; inícios - adaptação do Oratório de São Jerónimo para celebrações eucarísticas e colocação de azulejo de ponta de diamante no interior; 1616 - D. Manuel recebe o título de 2.º Conde de Vila Nova de Portimão; 1620 - o proprietário colocou a hipótese de construir uma ermida no pátio do palácio e transferir para o local a missa instituída na Ermida de Nossa Senhora da Piedade; séc. 17, meados - feitura de um tanque de peixes, com uma bica em forma de leão, símbolo dos Valente e dos Castelo Branco; a Quinta possuía uma mata, um pomar e horta; reedificação do Oratório do Senhor morto, criando uma construção em torno da lapa primitiva; 1662 - falecimento de D. Gregório Taumaturgo de Castelo Branco, sem descendência, passando o morgado para o filho da sua sobrinha, D. José Luís de Lencastre, 3.º Conde de Figueiró; 1707 - Frei Agostinho de Santa Maria descreve parcialmente o jardim, como tendo vários tanques e nichos com imaginária; descreve a Ermida de Nossa Senhora da Piedade, com um retábulo, onde figurava um quadro com a "Descida da cruz"; o cronista refere, ainda, que as imagens do Oratório do Senhor morto tinham acabado de ser restauradas; 1717 - destruição do baluarte ocidental, junto ao palácio, para facilitar a comunicação entre o palácio e os jardins; colocação de ladrilho na "loggia", na casa do meio e na varanda; 1724 - o jardineiro francês Alexandre Lasala foi incumbido de unificar e regularizar os jardins e os pomares, criando-se duas alamedas perpendiculares; construção dos terraços da frontaria do palácio e feitura de ruas novas, pagando-se ao pedreiro António dos Santos a sua regularização (3$600); o pomar foi organizado em quarteirões de citrinos e pereiras, afastados da fachada principal, exigindo a abertura de um poço para a sua irrigação; construção dos jardins que envolviam a Capela de Nossa Senhora da Piedade e o oratório do Senhor morto e o que envolvia a Capela de São Jerónimo, que se desenvolvia em torno de um tanque de peixes; 1726 - feitura de um leão de pedra para o tanque, executado por João Rodrigues (45$000); feitura da nora para o poço novo, por Manuel Antunes (50$000); 1733 - o cabouqueiro António dos Santos fornece pedra para a obra do Oratório; 1739 - D. Pedro de Lencastre Silveira Valente Castelo Branco Vasconcelos Barreto e Meneses, 5.º Conde de Vila Nova de Portimão contrata o pedreiro Manuel Mateus para a construção de um jardim junto à ermida de Nossa Senhora da Piedade, com bancos e floreiras, ajudado pelos mestres pedreiros Manuel Mateus e Domingos Martins (550$000); sucede-se a colocação de azulejos neste jardim, encomendados à olaria da Rua da Madragoa *5; 1744 - encomenda de 600 azulejos de brutesco e 600 normais ao oleiro Francisco de Sales; 1745 - 1754 - obras no palácio, patrocinadas por D. Pedro de Lencastre, com o alargamento do jardim para nascente, com construção de um tanque de pedra, alimentado por um novo poço; existência de um sistema hidráulico que distribuía a água por pequenos tanques e terminava no existente junto ao Oratório de São Jerónimo; construção de uma fonte junto à Ermida da Piedade com as armas dos Lencastres e Távoras (comemorando o casamento da primogénita com um membro daquela família, D. Manuel Rafael de Távora); adaptação do Oratório de São Jerónimo a casa de fresco, com a construção de bancos azulejados, adossados à fachada principal, com cenas de caçadas, de Valentim de Almeida; revestimento do interior com azulejos figurativos, a narrar a vida de São Jerónimo; feitura de nova cobertura do nártex; ampliação das frestas da nave; obras feitas pelo pedreiro Manuel Mateus; feitura de um sepulcro em mármore para o Cristo morto e construção do alpendre do Oratório; decoração do interior do palácio, com azulejos de Valentim de Almeida, fabricados pelo oleiro Francisco de Sales, encimados por pinturas murais e marmoreados; 1749 - feitura dos azulejos do Oratório de Cristo morto, atribuíveis a Valentim e Sebastião de Almeida, feitos pelo oleiro Francisco de Sales; 1750 - o pedreiro Manuel Mateus forneceu a pedraria para a escadaria; renovação da louça da cozinha; 1750 - 1752 - assentamento dos azulejos do Palácio pelos ladrilhadores Francisco Martins, João dos Santos, Fernando Cruz, Valentim Borges e José dos Santos, além de um aprendiz; 1751 - pagamento a André Pereira para pregar os ex-votos na Ermida de Nossa Senhora da Piedade ($051); feitura da fonte de embrechados do Oratório de São Jerónimo por José de Oliveira e Joaquim de Oliveira; forro do oratório do Palácio e pintura das portas, janelas e ombreiras de verde e pardo, por Francisco Pais; chegada da pedraria para o frontispício; 1752 - chegada dos azulejos para o oratório do Palácio, fabricados, provavelmente, por Cláudio Gonçalves; o baluarte NE. estava transformado em pombal; 1755 - compra de árvores de fruto para o pomar e aquisição de árvores silvestres em França (13$320); 1 Novembro - o terramoto não afectou o palácio da família, em Santos-o-Velho, mas, por questões de segurança, a família instala-se na Quinta, onde mandaram construir, nos jardins, uma casa de madeira (138$415); 1757 - feitura de um novo tanque e poço (122$220); 1778 - era ermitão da Ermida de Nossa Senhora da Piedade Frei José de São Joaquim; 1779 - o jardineiro José Antunes é encarregue do arranjo da "casa da murta", onde se colocaram bancos de pedra, proveniente de Pêro Pinheiro (53$800); execução de novos embrechados por Marcos Pereira e o filho António Pereira; execução das grades para as janelas do palácio, pelo mestre Domingos Francisco; 1780 - 1781 - reabilitação do bosque com feitura de uma rede de caminhos, por ordem do feitor, Diogo do Porto (92$060); ampliação da alameda para E.; construção de um fontanário junto ao palácio e feitura de um poço para serventia dos lagares; aquisição de 58 laranjeiras, 13 limoeiros doces, 23 azedos, 6 bergamotas, 7 cidreiras e 4 laranjeiras azedas para o pomar; 1783 - renovação das pinturas dos tectos e alizares do Palácio, por Francisco Pais; 1784 - as praias e salinas da Póvoa foram demarcadas com 22 marcos de pedra; 1789 - D. Pedro de Lencastre, 7.º Conde de vila Nova de Portimão assume, também, o título de Marquês de Abrantes; 1803 - obras de reedificação do lagar, conforme data na verga da porta; 1829 - inventário dos bens da quinta, vendidos em hasta pública, mas adquiridos pela Casa de Abrantes; 1855 - obras de renovação da quinta, com readaptação do jardim ao gosto do séc. 19 e feitura de um lago para os patos; remodelação da Ermida de Nossa Senhora da Piedade, com a feitura de um pátio interno; transferência da inscrição do Oratório do Senhor morto para a Ermida de Nossa Senhora da Piedade; 1856 - a área do morgadio é cortada pela linha entre Lisboa e o Carregado, recebendo a família uma indemnização; 1863, 19 Maio - as leis que regiam o regime de morgadio foram extintas; 1868 - está instalada nas lezírias do morgadio a Fábrica de Produtos Químicos; séc. 20, início - o tanque do jardim de São Jerónimo foi soterrado; 1916 - os Marqueses de Abrantes vendem a Quinta; séc. 20, 2.ª década - venda da propriedade, destruindo-se os jardins para a produção de cereais; 13 Abril - criação da freguesia da Póvoa de Santa Iria; 1979 - transferência da Quinta para a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, na sequência do plano de urbanização da área envolvente; 1983 - furto dos azulejos do Oratório de São Jerónimo, os quais foram recuperados e depositados no Museu Municipal; 1988 - a Ermida de Nossa Senhora da Piedade e a Lapa do Senhor Morto foram cedidos com o direito de superfície à Paróquia da Póvoa de Santa Iria; 1996 - furto do elemento concheado que encimava o brasão da porta; 2002 / 2003 - a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira recuperou o palácio, parte dos jardins, da zona dos gamos, de alguns anexos agrícolas, para instalação da biblioteca municipal, uma galeria de exposições e zonas de formação de vários grupos etários.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Estrutura em alvenaria mista, alvenaria de tijolo, alvenaria de calcário, rebocada e pintada; pavimentos, cúpulas, cruzes, gigantes, cunhais, modinaturas, escadas, arcos, cornijas, frisos, lápides, pedras de armas em cantaria de calcário; guardas e grades das janelas em ferro forjado; portas, caxilharias, tectos em madeira; silhares e revstimentos de azulejos; cascatas com embrechados; janelas com vidro simples; terraço com pavimento em ladrilho; coberturas exteriores em telha.

Bibliografia

PEIXOTO, Jorge, Tesouro em Azulejo da Quinta da Piedade Espera Recuperação e Abertura ao Público, in Diário de Notícias, Lisboa, 09.02.1987; Um Relance de Olhos Pelo Nosso Património - A Quinta da Piedade: Apenas Um Exemplo, in Vida Ribatejana, 27.01.1989; LOPES, Flávio, (coord. de), Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado. Distrito de Lisboa, Lisboa, 1993; MANGUCCI, Celso, Quinta de Nossa Senhora da Piedade - história do seu palácio, jardins e azulejo, Vila Franca de Xira, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, 1998.

Documentação Gráfica

CMVFX

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CMVFX

Documentação Administrativa

CMVFX

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1716 - limpeza das ruas da quinta, conserto do tanque do leão e arranjo dos telhados, por 69$790; 1750 - pintura do tecto da Ermida de Nossa Senhora da Piedade por Francisco Pais (9$000); restauro do grupo escultórico do Oratório do Senhor morto; 1756 - reparação das latadas dos loureiros; 1776 - encarnação e pintura das imagens do Oratório do Senhor morto (24$000); 1984 / 1985 - restauro do oratório de Nossa Senhora da Piedade, por iniciativa da paróquia e sob a orientação do arquitecto António Flores Ribeiro, para apoio à catequese.

Observações

*1 - DOF: Quinta e Palácio de Nossa Senhora da Piedade, incluindo todos os elementos que se encontram intramuros e a igreja (v. PT031114060092), na freguesia de Póvoa de Santa Iria. *2 - a propriedade tinha várias parcelas agrícolas, que se estendiam até ao Rio Tejo, onde surgiam vinhas, oliveiras e cultivo de cereais, a par da exploração de salinas, cultura de citrinos e produção de lã. *3 - as iniciais "IB" seriam uma alusão ao facto de D. Martinho Castelo Branco ter comandado a magnífica comitiva nupcial que conduziu a Infanta Beatriz, para o seu casamento com o Duque de Sabóia (1521). *4 - os Baluartes terão nascido numa época em que se sucederam ciclos de fome, de peste, pela vinda de pessoas do campo para a cidade, aumentando o número de indigentes, e a queda do poder militar no Norte de África, obrigndo ao regresso de inúmeras pessoas - levou à necessidade de reforçar as quintas de cultivo. *5 - alguns destes azulejos encontram-se no Museu Municipal de Vila Franca de Xira.

Autor e Data

Paula Noé 1991 / Teresa Vale e Carlos Gomes 1995 / Paula Figueiredo 2007

Actualização

 
 
 
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