Cerca do Mosteiro do Varatojo / Cerca de Santo António

IPA.00006354
Portugal, Lisboa, Torres Vedras, União das freguesias de Torres Vedras (São Pedro, Santiago, Santa Maria do Castelo e São Miguel) e Matacães
 
Cerca conventual, pela dimensão simbólica que o espaço apresenta na sua ligação directa com o convento.
Número IPA Antigo: PT031113150042
 
Registo visualizado 646 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Religioso  Cerca    

Descrição

A cerca do Convento (v.IPA.00006353), delimitada por muro, situa-se numa encosta de declive acentuado, exposta predominantemente a N. e dividida por uma linha de drenagem natural. O edifício localiza-se à direita da referida linha e a meio da propriedade, sobre este desenvolve-se o patamar da horta. À esquerda, a mata, onde o muro de delimitação acompanha a O., o festo do pequeno monte que nessa encosta se eleva. O acesso ao convento, pela portaria e Igreja, faz-se pela fachada S. do edifício, por um escadório, forrado a azulejo, que estabelece a ligação entre o largo e parque de estacionamento e o átrio na igreja. Frente à entrada da Igreja destaca-se a Capela de Nossa Senhora do Sobreiro. No interior do convento encontra-se um claustro tipo gótico de dois pisos com arcada ogival assente sobre colunas chanfradas. No claustro um nicho a Santo António com azulejos policromados que evocam o santo. O claustro apresenta uma cisterna e quatro grandes canteiros, e da sua vegetação destaca-se uma glicínia secular. A mata corresponde a uma parcela do monte murado, aquando da delimitação da cerca conventual e que se desenvolveu à mercê das leis da natureza, essa parcela terá sido convertida em espaço de recreio pelo seu primeiro colono. Predomina uma mata densa de carrasqueiros (Quercus coccifera) com desenvolvimento equivalente ao de um estrato arbóreo. Percorrer a mata, quer pela sua periferia quer pelo interior, obriga-nos a subir e descer por rampas e escadarias que superam os fortes desníveis em que esta se inscreve. Destaca-se a existência de um carvalho (Quercus suber) que se presume anterior a 1470, por já existirem referências à data da fundação monástica. Diz-se que neste carvalho, numa cavidade no interior do seu tronco foi encontrada uma imagem de nossa senhora, após o que foi erguida a capelinha que ainda é venerada na mata. A mata apresenta duas capelinhas com figuras de arte no interior. Uma primeira, a primitiva da Senhora do Sobreiro, é adornada com quatro painéis em que figuram monges em contemplação. O primitivo forno de cal foi ainda convertido em capela, no seu interior foram abertas três grutas, a principal, do Senhor Ecce Homo, à frente de quem entra é forrada a azulejo e que apresentava sobre a porta da gruta o nome do titular; hoje restam alguns embrechados. No topo S. da mata existe uma mina e uma fonte construída pelos noviços, a chamada Fonte do Carneiro, por nela figurar uma peça em pedra com a forma de um carneiro que poderá ter sido uma gárgula de um outro monumento. Junto desta fonte forma-se uma vala a céu aberto que actualmente drena águas provenientes do exterior da propriedade. A horta, ainda em exploração, desenvolve-se em dois patamares nivelados por muros de suporte. O patamar superior deveria inicialmente corresponder ao pomar. No topo do patamar inferior da horta, junto a um dos acessos à mata encontra-se o tanque de rega a que está associado um pequeno aqueduto que alimentava a fonte pública do adro da igreja, onde a população se abastecia até à instalação de água canalizada na aldeia. A meio do extremo S. do patamar inferior da horta está a Fonte do Bispo, mandada edificar pelo Bispo do Funchal. Existe uma relação franca com a envolvente para todos os quadrantes, destaca-se a O. o oceano, a E. o convento e o lugar de Varatojo.

Acessos

Varatojo. Corte à esquerda na estrada Torres Vedras para Santa Cruz a cerca de 4 Km de Torres Vedras.

Protecção

Incluído na Zona de Protecção do Mosteiro do Varatojo

Enquadramento

Isolado. Encosta.

Descrição Complementar

«É obra e empenho (...) de D. Afonso V, que em cumprimento de um voto que fizera a Santo António para auxiliá-lo nas conquistas do Norte de África, o mandou levantar. Veio ele mesmo, com os fidalgos da sua real Câmara e grande acompanhamento de clero, nobreza e povo, desde a vila de Torres, lançar a primeira pedra em Fevereiro de 1470. (...) E para cativar a simpatia dos lavradores e deles conseguir, com facilidade e economia, os carretos dos materiais, aliviou-os do tributo chamado Jugada, uma espécies de contribuição de 40 alqueives por cada jugo, ou junta de bois, que pagavam ao Estado os que fossem proprietários ou mesmo arrendatários de terras. Concedeu-lhes Ter as juntas que desejassem e por todas pagariam apenas 20 alqueives os que fossem proprietários e apenas seis alqueives os que lavrassem as terras alheias. Comprou o monarca fundador a Quinta destinada à fruição dos religiosos - a actual cerca - por 35 mil réis. Encontraram essa imagem, (...) na cavidade de um sobreiro, e seguidamente lhe ergueram a capelinha que ainda se venera no local da mata. Dizem alguns escritores que estivera ali escondida cerca de trezentos anos e que a tradição antiga afirmava ser trazida pelos soldados ingleses, vindos no século doze em auxílio do nosso primeiro rei D. Afonso Henriques, para o assalto de Lisboa, aos mouros, e que naquele sobreiro a esconderam, e depois dos combates militares não puderam voltar a procurá-la. É de pedra ou de massa muito escura e não de madeira (...).»

Utilização Inicial

Religiosa: cerca

Utilização Actual

Religiosa: cerca

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Auto de cedência à Corporação Missionária Província Portuguesa da Ordem Franciscana, Dec. nº 16 036 de 15 Outubro 1928

Época Construção

Séc. 15

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

Séc. 15, finais - início de construção do Convento; 1470 - fundação pela devoção de D. Afonso V à ordem de São Francisco. Em Fevereiro, D. Afonso V, acompanhado desde Torres Vedras por fidalgos da sua real Câmara, clero, nobreza e povo, lança a primeira pedra para a construção do convento. Diogo Gonçalves Lobo fica responsável pelo andamento da obra; 1474, 4 Outubro - inauguração do Convento, entrada da primeira comunidade, constituída por 14 religiosos, vindos do Convento de São Francisco da Vila de Alenquer. É descoberta uma imagem de Nossa Senhora no interior do tronco de um sobreiro, venerada com o título de Nossa Senhora do Sobreiro; 1474 a 1680 - durante este período de 206 anos, o edifício foi convento de estudos da Província Franciscana dos Algarves; 1531 - com o terramoto o convento terá ruído, da construção primitiva resta sómente o pórtico da entrada da igreja; 1680, Mar. - por indicação do Padre Frei António das Chagas o convento foi destinado para colégio dos missionários apostólicos, sujeitos directamente ao Ministro Geral Franciscano, da Ordem dos frades Menores, recebendo a apelidação de Seminário de Varatojo; séc. 17 / 18 - nova ampliação do convento; 1777 - construção da Capela de Nossa Senhora do Sobreiro, fronteira à entrada da Igreja; 1794 - Frei Manuel de Maria Santíssima, conta 60 fogos na povoação de Varatojo; séc. 18, fins - frei Manuel de Maria Santíssima refere que na mata se podia admirar gigantescas árvores, algumas delas de troncos carcomidos, podia-se admirar ainda um sobreiro já carcomido e com fundas cavidades, cujo tronco media 20 palmos de circunferência e ainda um carvalho com 24 palmos de grossura; 1833, 25 Jul. - fuga da comunidade de Varatojo, composta por 21 sacerdotes, 6 irmãos leigos e 6 irmãos donatos; 1834, 28 Maio - D. Pedro assina o decreto de extinção de todas as ordens e congregações religiosas e expropriação de todos os seus bens; 1845 - compra em hasta pública do edifício e da cerca (excepto a igreja) pelo Barão da Torre de Moncorvo, embaixador de Portugal em Londres; 1861 - a cerca volta à posse dos religiosos. Foi comprada ao barão pela Padre frei Joaquim do Espírito Santo, antigo egresso varatojano, pela quantia de três contos e quatrocentos mil réis; 1860, 24 Dez. - assinatura da escritura em Lisboa; 1861, 16 de Fevereiro - realização do auto de posse no convento de Varatojo; 1862, 29 Março - o convento já era habitado por três sacerdotes e dois irmãos leigos; 1891, 19 Novembro - proclamada inauguração da Província dos Santos Mártires de Marrocos em Portugal, à comunidade de Varatojo; 1885 a 1888 - é levantada a capela que liga com a da Senhora das Dores; 1901 - decreto que impõe a dispersão das comunidades religiosas, proibindo a existência das associações religiosas mas respeitando os seus bens; 1902 - reorganização das comunidades consideradas pelo Governo como membros da Associação Missionária Portuguesa; 1903 a 1906 - construção de um novo andar ao edifício; 1910, 4 Outubro - proclamação da República Portuguesa. Decreto de 8 de Outubro a ordenar a extinção de todas as ordens e congregações religiosas e expoliação de todos os seus bens. As autoridades republicanas convertem o convento em asilo de idosos, com o nome de Asilo Latino Coelho; 1919, 21 Maio - a autoridade administrativa civil entrega o templo com suas dependências e objectos à confraria que toma posse a 12 de Junho; 1928, 15 Outubro - o Governo da Nação cede às Missões Franciscanas Portuguesas o «extinto convento de Varatojo e cerca anexa e todas as suas dependências, revertendo para a posse da fazenda pública, quando não tenham a aplicação a que foram destinados».

Dados Técnicos

Muros de suporte e escadas

Materiais

INERTES: tijolo burro, calcário; VEGETAL: arbustoa - carrasco (Quercus coccifera)

Bibliografia

A Hora - jornal ilustrado português republicano independente, ano IV, nº42, Lisboa, 1936; RIBEIRO, Frei Bartolomeu, Convento de Santo António de Varatojo, Braga, 1990; V.A., Portugal Passo a Passo - Estremadura, SAEPA, 1995; V.A., Torres Vedras - Passado e Presente, vol. I, CMTV, 1996; VIEIRA, Júlio, Torres Vedras, Antiga e Moderna, Tipografia da Sociedade Progresso Industrial, 1926.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; UE

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

Observações

Autor e Data

Paula Simões 1998

Actualização

 
 
 
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