Igreja Paroquial de Ourém / Igreja de Nossa Senhora das Misericórdias

IPA.00006323
Portugal, Santarém, Ourém, Nossa Senhora das Misericórdias
 
Arquitectura religiosa, gótica, manuelina, pombalina. A cabeceira e a cripta são os únicos elementos sobreviventes da construção quatrocentista: a cripta evidencia prováveis influências orientalizantes na ornamentação dos capitéis e mísulas; apresenta afinidades espaciais com a Sinagoga de Tomar (v. PT031418120011), com idêntico tratamento do espaço interno e semelhante sistema acústico (com bilhas dispostas com o bocal para baixo, nos cantos da abóbada); estas características levaram Santos Simões (1949) a atribuir a obra gótica da cripta assim como a da Sinagoga de Tomar e a do Paço dos Condes de Ourém (v. PT031421110001), a artistas do N. de África a trabalhar em Ourém e Tomar. A arca tumular integra-se na corrente do gótico final, dentro do renascimento da escultura Coimbrã que marcou o panorama escultórico português do final do séc. 15, já com influências do estilo manuelino; após a sua atribuição à mão do escultor Diogo Pires o Velho, por Reinaldo dos Santos (1948) a crítica em geral liga-a à oficina do escultor conimbricense ou à oficinas mondeguinas (SEQUEIRA, 1949; ALMEIDA, 1980; DIAS, 1986); apresenta semelhanças com o túmulo de Fernão Teles de Meneses da Igreja de São Marcos de Coimbra (v. PT02060324010), decorado com o mesmo friso de folhagens e flores, e com o túmulo de Leça da Palmeira no modo de preguear as mangas da opa. A igreja evidencia a tipologia pombalina de fachada ladeada por torres sineiras, de pequeno volume, galilé e 3 arcos e frontão triangular.
Número IPA Antigo: PT031421110003
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal composta por nave rectangular, galilé, torres sineiras, corpos anexos e cabeceira facetada, pentagonal; volumes escalonados com cobertura diferenciada. Fachada principal orientada, de frontão angular, galilé de 3 arcos e torres sineiras sobre corpos laterais recuados. Fachadas laterais de vários panos definidos por arcobotantes. Cabeceira reforçada por esbarros escalonados. INTERIOR: nave e capela-mor abobadadas; sob a cabeceira a cripta de planta quadrangular de 3 naves e de 3 tramos definidas por 6 colunas que suportam a cobertura em abóbada de aresta que nos muros descarrega através de mísulas decoradas de volutas e óvulos; as colunas são de fuste monolítico liso com bases de grandes dimensões constituídas por plinto e escócia quadrangulares sobrepostos de plintos com os ângulos chanfrados e de várias molduras octogonais de perfil vário; os capitéis são quadrangulares em forma de piramide troncada invertida com diferente decoração no coxim e no ábaco, de tipo vegetalista e geométrico. Na nave central, ocupando todo o tramo do meio, sobre soco de 2 degraus, o túmulo de D. Afonso: arca rectangular lavrada, apoiada em 3 sapatas, tendo na tampa a figura do jacente*. No muro fundeiro, defronte para a arca tumular, sobre soco de 2 degraus, uma mesa de altar e uma pintura sobre tela. No 1º tramo da nave direita rasga-se a porta, em arco de volta perfeita, de acesso à escada que conduz à capela-mor " *2.

Acessos

Largo da Igreja. WGS84: 39º38'36.11''N.; 8º35'29.64''O.

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 35 532, DG, 1.ª série, n.º 55 de 15 março 1946 (Cripta e Túmulo do Marquês de Valença) *1

Enquadramento

Urbano, destacado, adossado à Porta da Vila na fachada lateral esquerda, apresentando, ainda, um pequeno pano de muralha na cabeceira da capela-mor. Implantado em plataforma, no início da antiga vila de Ourém (v. PT031421110004), rodeado por largo desafogado, enquadrado a S. pela Fonte Medieval (v. PT031421110013), a Casa Paroquial (v. PT031421110033) e a Pousada Conde de Ourém (v. PT031421110019), e a O. pela Antiga Casa do Alcaide (v.PT031421110050). A Cripta localiza-se sob o pavimento da capela-mor da Igreja Matriz com acesso por escada à sua esquerda.

Descrição Complementar

Arca tumular do Marquês de Valença: em pedra de ançã, mede aproximadamente 2,48 X 1m. Nos frontais, decorados de ornatos vegetalistas finamente lavrados, ao centro os escudos de armas do Marquês; na testeira fundeira a sua divisa (2 guindastes com rodas, unidos na parte superior por uma corda da qual pende uma cartela) entre duas tabelas decoradas de motivos vegetalistas. No remate da arca, sob a tampa, o túmulo é corrido por uma inscrição tumular em caracteres góticos invocativa do defunto: AQUI JAZ O ILLUSTRE PRINCÍPE D. AFFONSO, MARQUEZ DE VALLENÇA, CONDE D'OURÉM, PRIMOGÉNITO DE D. AFFONSO, DUQUE DE BRAGANÇA E CONDE DE BARCELLOS E NETO D'EL-REI D. JOÃO DE GLORIOSA MEMÓRIA, E DO GLORIOSO DE GRANDES VIRTUDES D. NUNO ÁLVARES PEREIRA, CONDESTÁVEL DE PORTUGAL, QUE FALLECEU EM VIDA DE SEU PADRE, ANTES DE LHE VIR A DITA HERANÇA DE QUE ERA HERDEIRO, O QUAL FOI FONDADOR D'ESTA EGREJA, EM QUE JAZ, CUJA FAMA E FEITOS HOJE ESTE DIA FLORESCEM. FINOU SE AOS 29 DIAS D'AGOSTO DO ANNO DO NASCIMENTO DE NOSSO SENHOR JESUS CHRISTO DE 1460 (ELISEU, 1868). A tampa apresenta a "cinta" lavrada de rosetas, decoração que alastra para a sua parte superior na qual se esculpe o jacente de mãos postas, com a cabeça sobre duas almofadas sobrepostas, rendadas e com borlas, os pés assentes numa mísula pentagonal. A figura do Marquês veste túnica comprida pregueada e tem a cabeça coberta por barrete deixando ver madeixas de cabelo.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 15 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

CANTEIRO: Oficina de Diogo Pires o Velho (atr.).

Cronologia

1445 - o Arcebispo de Lisboa autoriza D. Afonso, Conde de Ourém a transformar a Igreja Matriz em Colegiada, unindo a ela as outras 4 igrejas paroquiais de Ourém: a de Santiago, a de São Pedro, a de São João e a de Freixianda, fora da Vila; 1451 - D. Afonso nomeado para acompanhar a Infanta D. Leonor a Itália, para o casamento com Frederico III; é-lhe concedido o título de Marquês de Valença; 1453 - início da construção da Colegiada; 1458 - D. Afonso toma parte na expedição a Alcácer Ceguer; 1460, 29 de agosto - D. Afonso morre em Tomar sendo sepultado na Igreja de Santa Maria do Olival (v. PT031418110003); a cripta já se encontra concluída; 1487, 08 Junho - os restos mortais do Marquês de Valença são trasladados para a cripta e colocados na arca tumular; a cerimónia foi dirigida por seu filho natural, D. Afonso constrangido pelo rei a tomar ordens; 1537 - 1538 - feitura das pinturas de São Pedro e São Paulo para uma estrutura retabular, atribuíveis a Gaspar Vaz, hoje na Igreja Paroquial de Unhos (AZEVEDO, p. 6); 1574 - a igreja pertence ao padroado real e integra a Diocese de Lisboa; 1705 - 12 mil cruzados dos rendimentos da Colegiada revertiam para o padroado da Companhia de Jesus, do Colégio de Santo Antão de Lisboa; 1755 - a igreja é quase completamente destruída pelo terramoto tendo subsistido apenas a cripta e ábside; 1758 - 1770 - reconstrução pombalina sendo a traça original do templo totalmente alterada; elevação da cabeceira; 1810 - vítima das invasões francesas que profanaram o túmulo; 1812 - tinha Colegiada com 11 cónegos; 1815 - o túmulo é reparado por Joaquim Honório H. de Oliveira, cónego decano da Colegiada da Igreja; Segundo Sequeira (1949) reparos feitos no séc. 19 na Igreja, em particular na cripta, terão alterado os vestígios até aí sobreviventes da feição primitiva; 1834 - extinção da Colegiada; 1949, c. - fractura na cinta lateral esquerda do tampo da arca.

Dados Técnicos

Estrutura mista

Materiais

Estruturas: pedra calcária da região, tijolo; Pavimentos: tijoleira de pedra; coberturas: abóbada de tijolo; Revestimentos: estuque caiado.

Bibliografia

ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1980; AZEVEDO, Carlos A. Moreira - «São Paulo na Arte Portuguesa». INVENIRE - Revista dos Bens Culturais da Igreja. Lisboa: Bens Culturais da Igreja, julho - dezembro 2010, n.º 1, pp. 6-13; CORREIA, Virgílio, Três Túmulos, Lisboa, 1924; CORTESÃO, Jaime, Ourém in Guia de Portugal, Lisboa, 1927; CRISTINO, Luciano Coelho, A Colegiada de Ourém - das origens ao século 18 in Ourém - Estudos e Documentos, Vol. 1, Vila Nova de Ourém, 1982; DIAS, Pedro, História da Arte em Portugal. O Gótico, Vol. 4, Lisboa, 1986; ELYSEU, José das Neves Gomes, Esboço Histórico do Concelho de Vila Nova de Ourém in Ourém - Estudos e Documentos, vol.3, Vila Nova de Ourém, 1988 (1ª ed. 1868); FLORES, José Eduardo de Oliveira, Album da Vila de Ourém in Ourém - Estudos e Documentos, vol.3, Vila Nova de Ourém, 1988 (1ª ed. 1894); LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, vol.6, Lisboa, 1875; MENDONÇA, Emíla Isabel Mayer Godinho, Ourém Medieval (texto policopiado, FLL - IHA), Lisboa, 1993; O Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria, Braga, 1868; SANTOS, Reinaldo dos, A Escultura em Portugal, vol. 1, Lisboa, 1948; SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Santarém, Vol. 3, Lisboa, 1949; SERRÃO, Joaquim Veríssimo - Livro das Igrejas e Capelas do Padroado dos Reis de Portugal - 1574. Paris: Fundação Calouste Gulbenkian Centro Cultural Português, 1971; SIMÕES, J. M. dos Santos, Tomar e a sua Judiaria, Lisboa, 1949; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74281 [consultado em 28 dezembro 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

DGEMN: 1959 - obras na cripta - colocação de testemunhas nas fendas do tecto, limpeza de telhados e algerozes, substituição de telhas; 1961 - reparação da cobertura da Igreja Matriz na zona da cripta, capela-mor e nave; 1974 / 1976 - obras de conservação; 1980 - reparação da instalação eléctrica e instalação de iluminação na zona da cripta, picagem de rebocos e novo reboco, limpeza e pintura do estuque das abóbadas refechando as fendas existentes; construção de um tecto falso em abóbada na caixa da escada de acesso à cripta; 1997 - limpeza e renovação geral das coberturas com substituição da estrutura dos telhados dos anexos da igreja; reparação geral das fachadas, limpeza de cantarias e pintura geral

Observações

*1 - DOF:... Cripta e Túmulo do Marquês de Valença, na Igreja de Vila Velha de Ourém; *2 - do tesouro da igreja fazem parte duas peças de ourivesaria de grande devoção na Vila e arredores: a relíquia do casco da cabeça de Santa Teresa de Ourém, oriunda da povoação, e o relicário com as armas apostas do Marquês de Valença, D. Afonso que o ofereceu à Colegiada.

Autor e Data

Rosário Gordalina 1991 / Isabel Mendonça 1997

Actualização

Cecília Matias 2005
 
 
 
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