Quinta da Francelha de Cima

IPA.00006306
Portugal, Lisboa, Loures, União das freguesias de Sacavém e Prior Velho
 
Arquitectura residencial e arquitectura agrícola, maneirista e neoclássica: Casa nobre de planta em L, com coberturas diferenciadas, com duas alas de construção de épocas distinta, mas de grande harmonia entre dois períodos estilísticos - maneirista e neoclássico - onde a sobriedade e contenção decorativa são a tónica na arquitectura residencial. Fachadas de dois registos, rebocadas e pintadas, com bordaduras pintadas ladeando as molduras dos vãos, rasgados regularmente, remate em friso, cornija e beiral, e pilastras nos cunhais. Fachada principal a E., de grande sobriedade, numa composição neoclássica de grande simetria e planimetria, com o destaque do pano central, enquadrado por pilastras e rematado por frontão triangular e urnas. Interior com acesso pela fachada principal para átrio que conduz a escadaria monumental com acesso ao segundo piso, complementada por escadarias secundárias. Na ala neoclássica a circulação é garantida por corredores circundando a escadaria central e pela intercomunicação das salas, enquanto que na ala maneirista se limita a este último aspecto. Também a nível da decoração se nota esta dicotomia, principalmente a nível dos tectos, que na ala maneirista são essencialmente os típicos tectos de masseira e na ala neoclássica são decorados com pinturas murais que decoram igualmente os alçados de todas as divisões; nos corredores e vestíbulo predominam as escaiolas e nas restantes divisões, motivos de carácter naturalista conjugados com motivos pompeianos ou chinoiseries (mais raras), presentes em particular na obra de Robert Adam e Hepplewhite e ainda motivos alegóricos, recorrendo a elementos da mitologia e linguagem clássica, adaptando-os à função de cada dependência, numa linguagem neo-clássica que encontramos noutras quintas do aro lisboeta, como na Casa da Quinta do Marquês de Alegrete (v. IPA.00003200) e no Palácio dos Marqueses de Angeja (v. IPA.00006223), ou ainda com a Casa Nobre da Rua de Avis, nº 41 - 47, em Évora (v. IPA.00004376). Capela inserida no corpo da habitação, na sequência da fachada lateral esquerda, destacada apenas pelo enquadramento por pilastras e remate em frontão sobrepujada por cruz; interior neoclássico, com remate por cúpula iluminada por lanternim, decorada por motivos em estuque e pinturas decorativas, num conjunto de grande luminosidade e sobriedade. A casa estava inserida em quinta de produção essencialmente de vinha, mantendo-se da época as dependências agrícolas, o jardim de buxo, a mata e os pomares, estes com abastecimento de água garantido por aqueduto próprio. Na ala neoclássica reservou-se o primeiro piso para área dos quartos, e os salões de recepção para o segundo, característica pouco comum, mas explicável pela quinta se destinar a habitação de veraneio e garantir maior frescura à zona de habitação. Grande domínio da pintura mural presente em todas as salas e quartos, ostentando notável diversidade de motivos decorativos e ilustrativa da função primeva das divisões, com alegorias afins; escaiolas de excelente qualidade técnica conferindo superfícies brilhantes e extremamente lisas. Destaca-se a decoração da Sala dos Pássaros, exemplo raro da utilização do papel chinês pintado à mão, aqui muito provávelmente aplicado sobre uma prévia pintura mural; em termos estilísticos e compositivos, a decoração é muito semelhante a um papel de parede, pintado a gouache, pertencente ao Victoria and Albert Museum, de origem chinesa e datável de 1750 - 1800, proveniente de uma casa em Watford, Hertfordshire, a N. de Londres*5. Num dos quartos do 2º piso painel figurativo de pintura mural atribuído a Pilllement; destaque igualmente para a pintura do pavimento de algumas das salas, situação que encontramos por exemplo na casa da Quinta da Fonte do Anjo (v. IPA.00002617). A capela com cúpula não acusada exteriormente, é de construção posterior, mas dentro de uma linguagem neoclássica, tira partido de um espaço relativamente exíguo através da opção pela decoração em estuques, da iluminação por lanternim e pela abertura de largas tribunas. Fazia parte de uma ampla zona de quintas nos arredores de Lisboa, que abrangia a freguesia de Santa Maria dos Oliviais, Portela e Sacavém, sendo um dos poucos exemplos, à semelhança da referida quinta da Fonte do Anjo, que mantém a função inicial de habitação.
Número IPA Antigo: PT031107230018
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Quinta  Palacete  

Descrição

Quinta constituída por casa ao centro, dependências agrícolas e casa de caseiros a SE. e a N., jardins a S. e N., mata a S., pomares a SO. e NO., tanque de rega, aqueduto e moinho de vento a O. CASA com planta em L, de volumetria simples de sentido horizontal, com capela integrada no corpo de habitação, ao centro da fachada lateral esquerda. Cobertura diferenciada em telhados de perfil recto, de uma, duas e três águas, rasgados por pequenas águas furtadas de perfil abatido, clarabóia a E. e lanternim envidraçado a S.. Fachadas de dois registos, rebocadas, rematada por friso, cornija e beiral, com embasamento pouco saliente e pilastras nos cunhais, com bordadura deteriorada, pintada a rosa, acompanhando a modinatura de vãos e frisos, com fenestração a ritmo regular, maioritariamente de janelas de peitoril e guilhotina, com caixilharia de madeira e molduras rectas em cantaria. Fachada principal voltada a E., flanqueada por segmentos de muro em alvenaria, que se desenvolvem paralelamente à mesma, adossados a N. a anexo e a S. a muro delimitador da alameda de acesso à casa, rasgando-se em eixo portões em ferro forjado, definidos por pilastras esquadriadas. Abre-se para terreiro, onde se erguem uma tília e um eucalipto centenários, definido a E. por muro baixo de alvenaria, sobrepujado por gradeamento em ferro forjado, intercalado por pilastras rematadas por plinto e bola, abrindo-se a eixo portão em ferro forjado, e a N. e S. por anexos. De dois registos, separados por friso, com urnas nos ângulos e frontão triangular em eixo, emoldurado, recebendo ornamento no tímpano, e sobrepujado por urnas. Organiza-se em três panos, com o central enquadrado por pilastras de cantaria, onde se rasga o portal, em eixo de moldura rectangular rematado por cornija recta alteada, onde assenta o avental recortado da janela que o sobrepõe. Os panos laterais são rasgados regularmente por duas janelas em casa registo. Fachada lateral esquerda a O., voltada para jardim de buxo, com sequência de conversadeiras em alvenaria, revestidas a azulejo pombalino à direita, e ao centro lago de perfil circular, em cantaria boleada, com vasos cerâmicos em branco, azul e amarelo sob pódios de cantaria nos eixos; na sequência do jardim desenvolve-se a zona da mata, organizado em alamedas, definidas por canteiros de herbáceas e plátanos, com lago circular e mesas com o mesmo perfil em alvenaria, e caramanchão, pontuando a alameda central. A fachada organiza-se em três panos, com o central correspondendo à capela, enquadrado por dupla pilastra saliente, e rematado por frontão triangular de dupla moldura, interrompendo a linda do telhado, com delta luminoso no centro, rematado por cruz em ferro forjado sobre pódio de cantaria ao centro e urnas nos ângulos menores. O portal, de moldura recta recortada, é encimado por tabela, que recebe a inicial M sobrepujada por coroa, ladeada por pequenos pódios estriados, onde assenta tímpano semicircular, com roseta ao centro, sobre o qual se rasga rosácea de perfil circular. O pano lateral esquerdo é rasgado ao nível do primeiro registo por dois respiradouros de perfil rectangular, uma porta e uma janela de perfil recto, e ao nível do segundo por cinco janelas. O pano lateral direito é rasgado no primeiro registo por três janelas e uma porta de perfil recto, e no segundo por quatro janelas. Fachada lateral direita com a face mais saliente do L rasgada por três janelas em cada registo, adossando-se na sequência do cunhal segmento de muro coberto de hera. Face E. rasgada por duas janelas em cada registo. A face mais prolongada do L é seccionada em duas partes, sensivelmente ao centro, por muro, parcialmente coberto de hera, que se prolonga até metade do segundo registo. A parte esquerda abre para pequeno jardim, delimitado por muro baixo de alvenaria, onde se inscrevem conversadeiras, voltado a muro semelhante fronteiro ao pombal e alambique, formando pequena clareira circular ao centro onde se dispõem loendros, e é rasgada por duas janelas e uma porta em ambos os registos, tendo a do segundo registo acesso por escada protegida por guarda de ferro forjado. A parte direita com a escada de acesso ao registo superior, desenvolvida paralelamente ao muro, de um laço recto, com degraus em cantaria e guarda em alvenaria, seguindo-se no primeiro registo duas portas de perfil recto e uma sequência de quatro mísulas de suporte de antiga estrutura, e no segundo registo três janelas. Sobre o telhado, com três chaminés de perfil paralelepipédico, de diferentes tamanhos, desenvolve-se, ao longo de toda a face, pano murário sensivelmente recuado onde se rasgam duas janelas. Fachada posterior abre-se para área pavimentada a calçada portuguesa, onde se encontra o antigo tanque de rega (hoje transformado em piscina), com pequeno anexo de apoio, o aqueduto que arranca no cunhal esquerdo, e o antigo moinho de vento. A fachada é rasgada no primeiro registo por duas portas de perfil recto e dois respiradouros rectangulares, e no segundo por três janelas de sacada, servidas por varanda comum, guarnecida por guarda em ferro forjado e arcos plenos de sustentação, sob a qual se colocam goteiras. Adossado à direita da fachada posterior desenvolve-se pequeno muro, interrompido por portão em ferro forjado, ladeado por pilastras, com acesso por cinco degraus de cantaria, conduzindo aos jardins fronteiros à fachada lateral esquerda. A S., ladeando a fachada principal da casa, desenvolve-se anexo de planta sensivelmente rectangular, de desenvolvimento N.-S., com cobertura a telhados de duas e três águas, culminando em beiral, ocupado pela habitação do caseiro, vacaria, canil e arrecadações, com fachada principal voltada a N., organizada em três panos, com portão em arco abatido no central, porta de perfil recto no esquerdo, e no pano direito, rematado por frontão triangular, uma fonte em eixo, com tanque rectangular e carranca encimada por imagem de Santo António, enquadrada por nicho em volta perfeita recortado em alvenaria, ladeado por porta e janela de perfil rectangular. A N. anexo de planta rectangular, de desenvolvimento E.-O., com coberturas a telhado de três e quatro águas, culminando em beiral, ocupado pela garagem, cocheiras, palheiro, habitação de caseiros, lagares, oficina, pombal e alambique. Com fachada principal voltada a S., seccionada por sucessivos segmentos de muro, abrindo-se quer para o terreiro, quer para a fachada lateral direita da casa. A secção voltada ao terreiro tem três panos, o central rematado por frontão triangular interrompendo o beiral, com fonte em eixo, com tanque rectangular, e carranca inserida em pirâmide rematada por bola, enquadrada por nicho de volta perfeita recortada em alvenaria, é ladeada por duas janelas de perfil recto; panos laterais rasgados por amplos portões de perfil abatido. Na secção seguinte, quase integralmente coberta por hera, rasgam-se dois respiradouros rectangulares. A secção voltada à face interna do L é recuada, composta por dois corpos paralelepipédicos, com porta em eixo, interligados por corpo mais recuado, rematado por frontão, onde de anexa fonte, com tanque rectangular, inserida em nicho de volta perfeita. INTERIOR: De dois pisos, diferenciando-se claramente duas alas - a ala O. e a ala E. - de construção em épocas distintas. Entrada pela fachada principal para vestíbulo de planta rectangular, dividido em dois tramos por arco abatido em cantaria precedido por dois degraus; paredes e tectos decorados com pinturas murais dispostas em rectangulares ou trapezoidais de marmoreados: no 1º tramo, painéis de cor verde-claro com veios azuis e vermelhos delimitados por cercadura de marmoreados a cor vermelho sangue-de-boi com veios amarelos; no segundo tramo painéis de cor amarela com veios vermelhos com cercaduras verdes; entre a cercadura e os painéis, moldura perspectivada a branco e cinza dando ilusão de relevo; o vestíbulo é a única divisão que apresenta lambrim de azulejo; este repete o esquema compositivo dos painéis de marmoreados de pintura mural mas alternados por cachos de flores; pavimento em cantaria de calcário; escadaria principal de três lanços, com degraus, guarda e balaústres em madeira; caixa de escadas integralmente decorada por pinturas murais, de marmoreados nos alçados e na cobertura, iluminada por clarabóia, figurando alegorias das Quatro Estações - Primavera, Verão, Outono e Inverno, inscritas em molduras rodeadas de grinaldas e festões. Na ala E. todas as divisões do piso térreo apresentam tectos e paredes revestidos por pinturas murais; nos corredores (excepto no mais curto), no vestíbulo e na caixa das escadas os marmoreados são a escaiola produzindo superfícies extremamente lisas e brilhantes; nalguns quartos e salas os marmoreados e esponjados dos lambrins foram substituídos por zonas lisas, dadas a seco; as pinturas murais das paredes apresentam composição tripartida de lambrim, friso e painéis. Em torno da caixa de escadas desenvolvem-se três corredores, o da direita dando acesso a quarto principal, inter-comunicando com quartos de vestir e casas de banho, com pavimentos em tijoleira; à esquerda, dois quartos, e salinha de apoio; escadas secundárias de lanços rectos, com paredes forradas a papel de parede. CAPELA: voltada à fachada lateral esquerda, de planta octogonal, precedida por antecâmara, com passagem por vão de perfil recto, de planta rectangular, com paredes decoradas em marmoreados verdes, rosas e beges, onde se adossa pia baptismal em cantaria de calcário, pintura em marmoreado em verdes, rosas e beges, com registos demarcados por dupla cornija, cobertura em cúpula com lanternim, decorada por caixotões de estuque com florões, alternando com friso de elementos fitomórficos, assentando em friso e cornija, que se apoiam em trompas ornadas por troféus com símbolos eclesiásticos, descarregando nos chanfros rematados por dupla cornija saliente; do lado da Epístola e do Evangelho, portas de perfil recto, encimadas por entablamento, com drapeado e florão, rematado por cornija recta, onde assenta tribuna (também sobre a porta de entrada), com arco de volta perfeita emoldurado, decorado por rosetas, lançado sobre pilastras de remate saliente e com guarda em balaustrada. Altar-mor de planta recta de um eixo, enquadrado exteriormente por pilastras de fuste estriado interrompido por florões, e capitel com florões, e interiormente por pilastras com base adornada por acantos, fuste com elemento fitomórfico e capitel com florões, encimados por fogaréus, sobre dupla cornija com acantos; nicho central em volta-perfeita, de dupla arquivolta, a primeira lisa, a segunda com elemento fitomórfico, interiormente pintado, com imagem de Nossa Senhora da Conceição sobre mísula; sobre o nicho almofada, apoiada em falsos brincos, recebendo elemento fitomórfico e inicial M sobrepujada por coronel; o ático em tabela, com delta luminoso e festão, rematado por dupla cornija curva com acantos, acompanhando o desenho do arco da capela. Na antecâmara da Capela o lambrim de pintura mural é simples, constituído por painéis rectangulares a cor vermelho-claro rematados por simples listel duplo de cor vermelha; a restante superfície repete basicamente o esquema do vestíbulo: painéis esponjados, de cor amarela, com cercadura roxa-cinza e moldura de cor parda, perspectivada; é visível uma segunda camada de pintura, a seco, retomando a inferior. Sacristia de planta rectangular, à direita da capela, em cujas paredes restam apenas as cercaduras de esponjados verde-claro; na antecâmara e no quarto que antecede a sacristia, a primitiva pintura mural foi coberta, sendo visível nas zonas onde esta se encontra descamada, vestígios de uma cercadura de esponjado a cor vermelha. Na ala O., voltado a S., o escritório, com pavimento em tijoleira, rodapé em azulejo e tecto em madeira. A restante ala é ocupada por serviços como a casa da lenha (apenas com acesso pelo exterior da fachada lateral direita), a garrafeira, cozinha, copa e quartos de criados, e escada de serviço de ligação ao segundo piso, a maior parte recebendo o mesmo tratamento do escritório. No segundo piso todas as divisões apresentam igualmente revestimento de pintura mural em paredes e tectos, apresentando aqui (de acordo com a sua utilização uma vez que no piso térreo se localizam os quartos de dormir e no superior os salões), uma decoração mais rica e complexa mas seguindo genericamente o esquema compositivo do piso térreo: nos corredores lambrim de esponjado ou marmoreado com cercadura, também de esponjado ou marmoreado, e moldura branca perspectivada nas seguintes combinações cromáticas: rosa (no painel) / verde (na cercadura), azul-claro / amarelo, cinza / rosa ou verde / rosa; painéis superiores idênticos mas com a composição cromática invertida relativamente ao lambrim; nalguns frisos das salas e quartos é visível o recurso a meios mecânicos de reprodução nomeadamente a utilização do spolvero (boneca). As coberturas, em tecto plano, com rodatectos de perfil curvo nos salões principais; apresentam medalhão central circular, oval ou quadrangular, envolvido por várias molduras, de maior ou menor complexidade por vezes alternadas por molduras de estuque; ao centro do medalhão figura sempre um motivo alegórico, relacionado com a utilização original de cada divisão; a restante superfície dos tectos é delimitada por cercadura, preenchida com motivos vegetalistas e fitomórficos; os ângulos dos tectos são sublinhados através de triângulos, quartos de círculo, quadrados, preenchidos com cartelas figurando alegorias ou com motivos vegetalistas; os rodatectos são igualmente profusamente decorados com motivos arquitectónicos estilizados, vegetalistas ou fitomórficos, cartelas figurativas, etc.; nos corredores os tectos são lisos, a cor branca, envolvidos por moldura rosa ou amarela. Tal como no piso inferior todas as divisões possuem rodapé azulejos, de 1x1, de esponjado verde ou roxo-mangânes. A escadaria principal abre para a SALA DOS PÁSSAROS: paredes revestidas a papel chinês pintado à mão *1, figurando avifauna colorida numa paisagem de rochas, lepidópteros, arbustos e flores, de contornos pintados a tinta da China: romãzeiras, peónias, passeriformes, anatídeos, galliformes (entre eles um faisão-eperonier) e psitacídeos; lambrim de pintura mural em trompe l'oeil simulando balaústres, prolongando a verdadeira balaustrada de madeira da escadaria; pavimento em madeira. A Sala dos Pássaros dá acesso a dois salões: à esquerda a Sala das Colunas, com pinturas murais de grande efeito nas paredes e tecto, onde apainelados e frisos de acantos intercalam com colunas envoltas em grinaldas; pavimento em madeira; à direita a Sala Dourada, antigo salão de baile, também com pinturas de grande efeito, destacando-se a bordadura de acantos e o medalhão central do tecto representando Apolo tocando a lira. A Sala das Colunas dá acesso a corredor em L,que contorna a caixa de escadas, e à Sala do Fogão, com pintura decorativa nas paredes e tecto, dominando os motivos de acantos, e um medalhão central com alegoria do Matrimónio; destaque ainda para o pavimento de madeira pintada, formando quadrícula tricolor (amarelo, verde, vermelho) preenchida por rosetas. A Sala Dourada dá acesso à Sala de Jantar, aberta também ao corredor em L, dominando os motivos de acantos e dragões alados nas paredes e no tecto medalhão oval com anjinhos. À direita da Capela duas pequenas salas*2 inter-comunicantes, a primeira, a antiga Sala de Empoar, actualmente designada por Salinha do Telefone, de planta hexagonal, com portas em arco quebrado, pintura decorativa com representação de pilastras e friso com plumas e fiadas de pérolas; a segunda sala, pequena, de planta rectangular, abre para corredor estreito que permite entrada nas tribunas da Capela. Por de trás da Capela, na ala O., a N., nova cozinha, na sequência da qual se encontram quarto de serviços, casa de banho e três quartos, o primeiro com decoração do tecto em estuque e com lareira, o seguinte com tecto em masseira e com painel de pintura mural figurando paisagem, e o último com tecto em masseira. A S. Sala de Estar com tecto em masseira, pavimento em madeira. No extremo da casa, Sala de Jantar, com tecto em masseira, pavimento em parquet, rodapé em azulejo; a ligação entre esta Sala de Jantar e a Sala de Estar, é feita através de dois corredores que flanqueiam corpo de escadas.

Acessos

Estrada da Circunvalação. WGS84 (graus decimais) lat.: 38.784775, long.: -9.127896

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 31/83, DR, 1.ª série, n.º 106 de 09 maio 1983 / ZEP, Portaria n.º 295/96, DR, 2.ª série, n.º 299,de 27 dezembro 1996

Enquadramento

Urbano, originalmente não integrado na malha urbana, mas posteriormente absorvido por esta. Em terreno plano, com casa no centro da propriedade, com acesso por alameda, com pavimento em terra batida e pedra rolada, delimitada por muros de alvenaria cobertos de hera e pinheiros. A quinta é delimitada a S. por muro de alvenaria, desenvolvido na sequência da estrada, onde se rasga, em segmento de muro convexo, portão em ferro forjado, ladeado por pilares rematados por bola. A E., N., e O., os terrenos são circundados por protecção em arame farpado, protegendo a zona de pomares, jardins e traseiras de anexos. Envolvente prejudicada pelos armazéns e dependências dos aeroportos da Portela (v. PT031106330936) e Figo Maduro.

Descrição Complementar

PINTURAS MURAIS: No piso térreo lambrins ocupando toda a largura do alçado, constituindo-se em painéis rectangulares de marmoreados ou esponjados, a cor amarela ou rosa, delimitados por cercadura, também de esponjados ou marmoreados, de cor amarela, verde ou cor-de-rosa, contrastando com a cor do lambrim, segundo as combinações: amarelo / rosa; rosa / verde (ou azul); rosa / amarelo e alternando quase sempre a decoração de esponjado com o marmoreado; nos quartos e salas os painéis dos lambrins apresentam moldura branca, com arestas relevadas a vermelho, frequentemente perspectivadas, dando ilusão de relevo; a restante superfície das paredes é preenchida, por painel de cor uniforme, maioritariamente a cor-de-rosa ou verde-água, delimitado por cercadura lisa, normalmente cor-de-rosa e, tal como nos lambrins, por moldura, branca, com arestas relevadas a vermelho, perspectivadas; a delimitação entre lambrim e restante superfície murária faz-se por faixa de madeira (pintada a cor cinza ou, mais frequentemente, verde-claro) e por friso de motivos florais ou vegetalistas, geometrizados (neste caso bícromos) ou não (neste caso polícromos): fios de rosas, enrolamentos de acantos (alternados ou não por rosetas), cálices de folhas alternados com ramalhetes de rosas, grinaldas de flores; os motivos dos frisos nunca se repetem de uma divisão para outra; nos corredores repete-se o mesmo esquema compositivo das salas e quartos, mas simplificado, sem a presença dos frisos (aqui substituídos por simples barra estreita de cor branca) e sem a presença de molduras perspectivadas nos painéis dos lambrins: estes são de marmoreado rosa com cercadura de marmoreado verde ou azul; os painéis superiores de marmoreado branco (excepto no corredor mais curto em que o painel é liso) com cercadura de marmoreado rosa. As coberturas, em tecto plano, apresentam nos quartos e salas medalhão central oval, em mandorla, circular ou octogonal; o medalhão é envolvido por molduras, simples, duplas ou triplas, de fios ou cordas de flores, enrolamentos, entrelaçados, etc., por vezes alternadas por molduras de estuque; ao centro do medalhão figura-se um simples motivo floral (uma roseta, flores e fitas, etc) ou um motivo alegórico, relacionado com a utilização original de cada divisão: um caduceu entrelaçado com uma cornucópia (no quarto nº 1); a pomba do Espírito Santo (na sacristia); um casal de aves entre um arco e flechas (quarto de vestir nº1); a restante superfície dos tectos é (excepto na salinha, onde forma composição tripartida), delimitada por cercadura, simples ou dupla, preenchida com motivos do mesmo tipo do dos frisos dos alçados, mas sempre diferentes, excepto na salinha e no quarto de vestir nº 2, em que se retomam exactamente os mesmos motivos, mas a diferente escala; os ângulos dos tectos são nalgumas divisões, sublinhados através de quadrados, de leques ou quartos de leques, etc.; nos corredores os tectos são lisos, a cor branca, envolvidos por moldura rosa. No piso superior, na SALA DOURADA predominam os tons ouro e rosa; lambrim: painéis de fundo cor-de-rosa com cercadura branca perspectivada simulando moldura de estuque; painéis decorados por cartelas em borboleta intercaladas por medalhões circulares que nos extremos são em meia laranja; cartelas e medalhões, perspectivadas simulando relevo, são preenchidos por ornatos vegetalistas geometrizados a cor vermelho sangue de boi sob fundo rosa. A restante superfície das paredes é preenchida a cor-de-rosa desmaiado, delimitada por moldura perspectivada preenchida de pequenos acantos simulando estuque; interiormente corre cercadura de arabescos, a ouro, de acantos e folhagem que inferiormente criam friso; a delimitação entre lambrim e restante superfície murária faz-se por faixa de madeira pintada decorada por escamas e filete perlado; a transição para a sanca do tecto faz-se por friso de flores. Rodatecto alto, de perfil curvo, com fundo de cor-de-rosa e decorado por arcos quebrados entrecruzados com lumes preenchidos por acantos gregos de cor branca sob fundo dourado; o rodatecto remata em cercadura dupla, a inferior com ramagem de acantos e rosetas, a superior com pequenos acantos dispostos em escama. Ao centro do tecto grande medalhão circular figurando alegoria da Música (Apolo com a lira, nuvem de anjinhos e putti); o medalhão, com moldura de estuque e circunferência limitada por pequenos acantos irradia em várias molduras concêntricas de arabescos de folhagem destacando-se uma mais larga de arabescos de acantos a ouro, semelhante à cercadura dos alçados; a moldura exterior compõe grinalda de flores idênticas à do friso sob a sanca mas numa escala maior; nos ângulos triângulos preenchidos por enrolamentos de acantos e flores em diversas tonalidades de vermelho e laranja. SALA DAS COLUNAS: predominam os tons verde-água e rosa-violeta; lambrim: painéis, de fundo cor-de-rosa, com cercadura, sob fundo verde-água, simulando relevo, de pêssegos amontoados em grisalha; painéis decorados por festão de panejamentos recortados, presos por rosetas e com borlas pendentes, enquadrando mascarão central em grisalha. A restante superfície das paredes é preenchida a cor verde-água, em composição tripartida definida por 4 colunelos coríntios com torçal de flores no fuste, capitéis e bases em tons de ocre e castanho; cada pano é delimitado por moldura branca sob fundo rosa; interiormente corre cercadura de arabescos a cor ouro-prata oxidada. Entre os painéis e o lambrim corre friso de fundo branco, tripartido pelos colunelos, preenchido ao centro, com motivo de grifos afrontados enquadrando medalhão octogonal no qual figura, em grisalha, sob fundo cinza-violeta, uma alegoria das Artes: arquitectura, literatura, pintura; os grifos possuem membros em ramo de acantos, em tonalidades de rosa e violeta, que se prolongam pelos lados; entre o friso e o lambrim, faixa em tons de ocre e castanho com motivo de entrelaçado centrado por quadrifólios; a transição para a sanca do tecto faz-se por friso branco, com motivo de arquinhos preenchidos alternadamente por folhagem e pilaretes; sobre o vão das portas corre friso de ondas entrelaçadas, em grisalha. Entre todos os salões esta a Sala das Colunas é a que apresenta o tecto com composição mais elaborada, mas sempre seguindo o mesmo esquema compositivo: alto, de perfil curvo, de fundo cor-de-rosa, decorado, por volutas de ramagens de acanto brancas entrelaçadas com ramos de oliveira e videira, e putti; o rodatecto é delimitado por cercadura de raminhos entrelaçados a cor dourado-ocre sob fundo branco; ao centro do rodatecto e nos cantos, entre faixas verticais com motivo de cascata de folhas, medalhões, nos mesmos tons dos medalhões alegóricos dos alçados: nos cantos são ovais, cada com uma alegoria dos 4 elementos - Fogo, Ar, Terra e Água - enquadrados por ramagens, flores, etc.; ao centro rectangulares cada com uma alegoria das 4 estações, enquadrados por cercadura de flores polícromas. Ao centro do tecto grande medalhão circular com a alegoria do Conhecimento, figurando-se outros atributos como o caduceu, a cornucópia e o compasso; o medalhão possui várias molduras de raminhos, fio de flores, pingentes, etc., irradia em moldura quadrada, de ângulos chanfrados, com cercadura interior de acantos a dourado-ocre e exterior de flores em festões; nos ângulos interiores desta moldura composição em taça de ramagens de acantos e flores; nos exteriores, querubim do qual pende composição triangular de acantos e folhas que se liga aos cantos do tecto; estes ostentam motivo de putti lutando com animal fantástico, a cor dourado-ocre, centrado por pirâmide de acantos em tons de violeta e azul; entre este motivo e o canto propriamente dito, festão de flores policromas centrado por quarto de leque; entre o tecto e o rodatecto cercadura de fundo rosa com motivo de fita enrolada em ramo de oliveira estilizado, contida entre molduras lisas, a cor verde-água, e rematada nos cantos por rosetões em grisalha. SALA DE JANTAR principal: predominam os tons cor-de-rosa e ocre; lambrim: painéis de fundo pastel delimitados inferiormente por rodapé de fundo rosa-ocre decorado a sanguínea por olivas entrelaçadas por pequenos losangos cruzados de raminho; o rodapé remata por filete a sanguínea a que se sobrepõe barra branca; superiormente o lambrim remata em barra branca contida por filete vermelho e amarelo; nos extremos laterais é contido por rectângulos verticais de fundo verde, preenchido por cascata de flores pendendo de laço amarelo; nos alçados principais o lambrim é sobreposto por friso duplo, intercalado por faixa de madeira a cor verde, o inferior idêntico ao rodapé, o superior decorado por motivo pêssegos amontoados, idêntico ao da sala das colunas mas aqui em tons de ocre e vermelho; os painéis dos lambrins são preenchidos por grandes acantos gregos alternadamente a cor verde e vermelho-roxo. A restante superfície das paredes é preenchida a cor pastel delimitada por moldura perspectivada sob fundo rosa; nos painéis contidos pela moldura, cercadura de volutas de ramagem entrelaçada, interrompida inferiormente por composição central de arabesco; superiormente esta cercadura constitui-se em guirlanda. Tal como na Sala das Colunas, entre estes painéis e o lambrim corre friso de fundo branco, aqui figuram dragões alados, em vez de grifos; possuem membros em ramo de acantos; entre os dragões taças de frutos com pé de garras e duas argolas das quais partem voluta de flores que se ligam aos membros dianteiros dos animais; nos extremos do friso, entre voluta de acantos, que se liga aos membros posteriores dos dragões, ave exótica de cujo bico e asas pendem grinaldas de flores e folhas; todos os dragões e aves são individualizados não se repetindo entre si. Na transição das paredes para o tecto, friso branco com motivo de acantos intervalados de trifólios a cor amarelo-ocre. Tecto de cor verde-água, sobre sanca branca, moldurada; rodatecto de perfil curvo decorado por friso inferior de pequenos acantos, rematado por cercadura, de arabescos de acantos (semelhantes aos do tecto e alçados da Sala Dourada mas aqui num tom de ouro oxidado) contida entre frisos decorados por cadeias de pequenas mandorlas com roseta. Ao centro do tecto, grande medalhão oval figurando 4 anjinhos segurando frutos e taça de frutos, envolvido por cercadura que repete o mesmo motivo do rodapé dos alçados; o medalhão possui dupla moldura de estuque, fingido, delimitada interiormente por fio de pérolas douradas e exteriormente por pequeno motivo de arabesco a verde-prata e intervalada por cercadura com motivo de arabesco semelhante ao do rodatecto. O rectângulo do tecto é delimitado por moldura de estuque, friso de gregas entrelaçadas, a cor cinza-violeta e branco, e friso branco de raminhos interrompido ao centro e nos ângulos por composições polícromas de ramagens de acantos guirlandas, laçarias e motivos de chinoiserie; nos ângulos o friso de gregas é interrompido por quartos de círculo, nos mesmos tons, preenchidos por acanto volutado. SALA DO FOGÃO: predominam os tons de rosa e verde-água em temática alusiva ao Matrimónio e ao Amor; lambrim: painéis, com moldura rosa, com motivo, sobre fundos verde-água, de arcos quebrados com vãos preenchidos alternadamente por bolbo de acantos e folha de canto em fundo vermiculado. A restante superfície das paredes é preenchida a cor rosa delimitada por moldura branca sob fundo verde; nos painéis contidos pela moldura, cercadura de arabescos a cor ouro oxidado; entre estes painéis e o lambrim corre friso de fundo branco, com motivo, a cor dourado-ocre sob fundo rosa, de ramagens entrelaçadas centradas por pendente de flores, alternado com ramo de três rosas a central aberta as restantes em botão; neste friso é visível a olho nu a utilização de meios mecânicos de reprodução como o uso de cartão perfurado inciso na preparação; a transição entre friso e lambrim é semelhante à da Sala das Colunas: faixa em tons de ocre e castanho com motivo de arquinhos; a transição para o tecto faz-se por friso rosa com motivo de acantos dispostos em lira alternados com flores e cachos de flores. Rodatecto, baixo, de fundo pastel decorado por duas cercaduras, uma de óvulos outra com motivo de três folhinhas dispostas em cálice em tons dourado-ocre; ao centro do tecto medalhão oval com um anjinho portando duas coroas de flores uma de flores a outra de louros, a alegoria do Matrimónio; o medalhão possui cercadura interior de ramo de glicínias e moldura exterior em festão de pano riscado, com borlas pendentes, figurando-se entre os arcos desenhados, cálice de acantos entrelaçados com raminho de glicínias; entre o tecto e o rodatecto, cercadura de fundo rosa com friso de folhagem branca sob fundo verde-água, interrompida nos ângulos por cartelas arredondadas de fundo de pano riscado (em motivo idêntico ao da moldura do medalhão), contendo medalhão octogonal, de fundo azul-cyan, figurando um Cupido adormecido e um anjinho sustendo o seu lençol e apontando para ele; o espaço entre esta cercadura e o medalhão é preenchido por um segunda cercadura com motivo que repete o ramo de glicínia do medalhão, aqui interrompido ao centro por peanha, decorada pelo mesmo tecido riscado, na qual pousa casal de pombas brancas no ninho; nos cantos esta cercadura interrompe-se dando lugar a motivo de pergaminho preenchido por rosas semelhantes às que decoram o friso dos alçados; sobre o pergaminho, ao centro, em tons de dourado-ocre entrelaçam-se duas coroas, uma de flores outra de louros (como no medalhão central) entre duas flechas e facho ou apenas entre uma aljava. SALA DE EMPOAR: predominam os tons cor-de-rosa e verde-água com elementos decorativos e figurativos alusivos à toilette feminina; lambrim: painéis octogonais (em referência à planimetria octogonal da sala) intercalados por bases de pilastras a cor-de-rosa e branco; os octógonos, sob fundos verde-água, são cor-de rosa, com cercadura vermiculada, e decorados por festão de panejamento e borlas que interliga estes painéis com as bases das pilastras. A restante superfície das paredes é decorada por pilastras fingidas, no eixo das bases do lambrim, com fustes e capitéis decorados, respectivamente, por grinalda de folhagem (sendo nestas visível olho nu a utilização de meios mecânicos de reprodução como o uso de boneca / spolvero) e roseta simulando estuques; as pilastras emolduram os vãos das portas, conferindo uma divisão tripartida aos alçados e delimitam igualmente os chanfros da sala octogonal; entre elas correm painéis rectangulares verticais, a cor verde-água, delimitados por cercadura com motivo de espiral nos lados maiores e de motivos florais geometrizados e de arabesco nos menores. Entre os lambrins e os restantes 2/3 da superfície das paredes corre friso de fundo branco, decorado por pares de plumas (uma verde outra violeta) e por festões, um de flores outro de pérolas, presos por roseta ou laço e com borla de acanto pendente; o friso é interrompido e contido pelos fustes das pilastras e apresenta superiormente barra simples e inferiormente barra com motivo de faixa espiralada, ambas a cor-de-rosa; a transição entre friso e lambrim é feita por faixa corrida de madeira pintada a cor verde-água; a transição para a sanca do tecto faz-se por friso branco decorado por corrente de flores polícromas, semelhante às que decoram as cercaduras dos medalhões alegóricos do rodatecto da Sala das Colunas. Acompanhando o arco das portas grinalda de flores a branco, simulando estuques. Sanca moldurada tecto e rodatecto de fundo branco, este muito alto compondo oito painéis trapezoidais, mais estreitos os dos ângulos, sublinhando seu o partido octogonal; os painéis possuem molduras de cor verde-água e entre eles corre faixa de folhagem branca simulando estuque; são decorados inferiormente por cercadura de arabescos de folhagem com taça central de flores e superiormente por cortina disposta em festão com pequenas borlas. O tecto, de fundo cor-de-rosa escuro, é decorado por medalhão oval, branco, figurando um anjinho segurando um chapéu (perspectivado sob o ponto de vista do espectador em baixo) ornado de fitas e duas plumas semelhantes às que decoram o friso das paredes; o medalhão é envolvido por moldura verde água delimitada por cercadura com motivo de espiral semelhante aos das paredes; nos ângulos 4 painéis poligonais, delimitados por cercadura espiralada afim, decorados ao centro por ave exótica empoleirada em ramo de árvore; entre estes painéis, ao centro roseta simulando estuque. Na ala mais antiga, a O., a SALA DE ESTAR apresenta a mesma composição: lambrim, friso e painéis decorando a metade superior dos alçados, predominando as cores amarela e rosa: lambrim amarelo com painéis quadrangulares de fundo rosa decorados por acantos estilizados e com moldura vermiculada; friso branco decorado por acantos de cor violeta enquadrando motivo de folhagem a amarelo ocre coroado por anel entrelaçado por volutas de folhagem; faixa de madeira corrida; restante superfície das paredes em composição tripartida conferida pelos por painéis rectangulares de cor rosa, sobre fundo verde, com cercadura interior de raminhos e espiral; sob a sanca do tecto de masseira, corre friso rosa decorado por corrente de folhagem verde e flores em tons rosa. Na SALA DE JANTAR lambrim de fundo cinza-azulado decorado por losangos de fundo marmoreado de cor rosa com roseta central estilizada cor vermelho sangue-de-boi; entre os losangos arabesco de folhagem a cor cinza prateado, o lambrim possui moldura rosa simulando mármore; ausência de friso sobre o lambrim, sendo a restante superfície dos alçados tripartida por painéis rectangulares marmoreados com faixas de arabescos de folhagem e moldura espiralada de motivo semelhante ao da Sala de Estar. Nos dois QUARTOS DE DORMIR predominam os tons pastel, rosa, azul e verde e seguem a mesma composição das salas: lambrim, friso e grande painel rectangular. No 1º quarto lambrim azul com painel rectangular rosa, envolvido por moldura branca, decorado por festão de folhas verdes; faixa de madeira de cor verde e friso branco decorado por acantos centrando taça de folhagem e ramos de folhinhas entrelaçados; superiormente painel de cor-de-rosa com cercadura de raminhos; sob a sanca friso decorado por cortina em festão com pequenas borlas e pompons pendentes. O 2º quarto apresenta uma decoração um pouco mais complexa: lambrim decorado por cortina lobulada disposta em festão sustido por borlas, delimitado por moldura rosa decorada de raminhos; friso branco decorado por motivos de acantos e folhagem compondo flores de liz alternadas e entrelaçadas com grinaldas de raminhos e coroa de florzinhas envolvendo duas flechas e facho central; entre o friso e o lambrim faixa verde; superiormente painel muito semelhante ao do quarto anterior, sendo o friso decorado por faixa de tecido em festão envolvida aqui por guirlanda de flores e folhagem; o alçado E. deste quarto apresenta de cada lado, uma grande flecha que se cruzam com varão horizontal rematado nas pontas por pinhas; ao centro destaca-se um painel rectangular, com moldura perspectivada, figurando paisagem marítima: entre arvoredo denso que enquadra a composição, um mar calmo pontuado de pequenas embarcações à vela, excepto a do 1º plano, a remos e apinhada de gente; à direita recortam-se ravinas rochosas com algum casario entre arvoredo; horizonte povoado de aves; inferiormente a composição extravasa a moldura pela extensão do arvoredo em ramagens; sob o quadro o lambrim apresenta decoração diversa; medalhão em mandorla de fundo vermiculado decorado por grande rosetão e moldura decorada de pêssegos amontoados em grisalha em motivo idêntico ao do lambrim da Sala das Colunas; superiormente a moldura do quadro é coroada por pedestal com volutas de acanto sobre o qual repousa cesto de flores.

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: quinta

Utilização Actual

Residencial: casa

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Nicolau Nasoni (projecto da ala principal); PINTORES: Pedro Alexandrino (atr. pintura do tecto da Sala Dourada).

Cronologia

Séc. 17 - construção da ala primitiva da casa; séc. 18, finais- construção da ala principal da casa por Félix Martins Costa e plantação de vinhas que viriam a produzir o vinho "Charneco" *3 e as uvas ferrais; séc. 18, 2ª metade - data provável da decoração da sala dos pássaros com papel chinês pintado à mão *4; 1827, 06 Fevereiro - morte de Félix Martins Costa; 1925 - D. Maria Madalena de Trigueiros Martel Patrício e seu marido, são os proprietários; 1935 - São publicadas as memórias de Maria Madalena de Martel Patrício, intituladas "Quando eu era pequenina", com referências diversas à Quinta da Francelha; 1948 - abertura do processo classificação do imóvel sendo então o seu proprietário Francisco José Valdez Trigueiros de Martel Patrício; 1980, 16 abril - despacho de classificação como Imóvel de Interesse Público; 1996 - definição de Zona Especial de Protecção; 2006, Julho - elaboração da Carta de Risco do imóvel pela DGEMN.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante

Materiais

Estrutura de alvenaria mista rebocada; cantaria de calcário em molduras de vãos, pilastras, frisos, cornijas, degraus; madeira nas portas e caixilharia das janelas; ferro forjado em guardas de vãos e varandas; azulejo no revestimento de rodapés e conversadeiras; vidro em janelas, clarabóia de lanternim; pintura mural afresco e meio-fresco e escaiola; pintura sobre papel chinês tendo sido detectados os seguintes pigmentos: branco de chumbo, branco de bário, amarelo ocre, vermelhão, vermelho de cochinilha, malaquite e azurite; identificados três tipos de fibras liberianas: Kozo (Broussonetia papyrifera), Rami (Boehmeria nívea) e Canhâmo (Cannabis Sativa) *4; nalgumas áreas o papel parece ter sido aplicado sobre estracto prévio de papel de jornal ou sobre prévia camada de pintura mural *7.

Bibliografia

AZEVEDO, Carlos de, FERRÂO, Julieta, GUSMÃO, Adriano de, Monumentos e Edifícios Notàveis do Distrito de Lisboa, Lisboa,1963; AZEVEDO, Carlos de, FERRÃO, Julieta, GUSMÃO, Adriano de, Monumentos e Edifícios Notáveis do Concelho de Loures, C.M.Loures, Loures, 1983; Casa Vima, Maio 1979; STOOP, Anne de, Quintas e Palácios nos Arredores de Lisboa, Barcelos, 1886; PATRÍCIO, Maria Madalena de Trigueiros Martel, Quando Eu Era Pequenina, (Dezenas de Alegrias), Escola Tipografia das Oficinas de São José de Lisboa, 1935; BESNARD, Marcel e Pessanha, S., Guilherme, A, Carvalho, M.L., Cabaço, M.I., Bittencourt, K e Bruneel, Jean L., "Study of a XVIII century hand-painted Chinese wallpaper by multianalytical non-destructive techniques", Spectrochimica Acta Part B: Atomic Spectroscopy, Volume 64, nº 6, Junho 2009, pp. 582-586.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco, DGEMN/DRML

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco, DGEMN/ DRML

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco, DGEMN/ DRML

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc 20 - reparações das paredes e restauro de pintura, devido a infiltrações; DGEMN:1948 - levantamento fotográfico, para pedido de classificação do imóvel; 1980 - estudo de zona especial de protecção; DRML / DSID: 2006 - diagnóstico de patologias (CR) e relatório dos trabalhos necessários para a recuperação das coberturas e estimativas de custos.

Observações

*1 - nalgumas zonas parece existir uma prévia decoração de pintura mural posteriormente coberta com a aplicação do papel chinês que repete exactamente, em cores mais vivas, a figuração subjacente; *2- segundo tradição familiar, este vestíbulo e quarto com toucador, era utilizado pelas senhoras, para se empoarem antes de assistir à missa, das tribunas; *3 - Vinho conhecido internacionalmente, tendo vencido prémios em Paris, Londres e Filadélfia, e referido por Byron na sua obra; a produção terminou devido à filoxera que atacou irremediavelmente a vinha; *4 - segundo Anna Wu, conservadora no Asia Department - East Asia Section do Victoria and Albert Museum, a partir da análise de imagens enviadas, as pinturas poderão ser mais tardias, de c. de 1820 - 1850; os pigmentos até agora identificados (amarelo ocre, malaquite, azurite, vermelhão, vermelho de cochinilha e branco de chumbo) são os tradicionalmente utilizados em Pintura desde a Antiguidade, não se tendo detectado a presença de pigmentos modernos; as fibras identificadas são as ancestralmente usadas no fabrico de papel na Ásia de Leste (identificação realizada através de análise espectroscópica: espectrometria de Fluorescência de Raios X de Energia Dispersiva (EDXRF), espectroscopia Raman e microscopia óptica (BESNARD et.alt., 2009)); *5 - o papel encontra-se catalogado com o nº E.3944-1915; *6 - a utilização de papel de jornal pode restringir-se apenas a àreas onde a pintura se encontra danificada, podendo indiciar antigos preenchimentos de lacunas; segundo Anna Wu, em Inglaterra o preenchimento de lacunas, não necessáriamente a papel de jornal, era relativamente frequente em paredes revestidas a papel chinês, em particular nos cantos ou ao nível do rodapé, áreas em que mais se fazia sentir a humidade.

Autor e Data

Paula Noé 1991 / Inês Pais e Rosário Gordalina 2006

Actualização

Helena Rodrigues 2006
 
 
 
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