Teatro Éden

IPA.00006228
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Arquitectura cultural e recreativa. Teatro e cinema cujos planos evidenciam uma concepção moderna árt deco, dada pelo jogo dinâmico dos seus acessos em que grandiosas escadarias suspensas se cruzam em forma de "passerelle", promovendo uma animada circulação; e pela própria escala e complexidade de relações dos espaços internos. A sua fachada desenvolve-se a partir das grandes janelas, tipo "bow-windows", que a trissectam.
Número IPA Antigo: PT031106310129
 
Registo visualizado 3368 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Cultural e recreativo  Casa de espetáculos  Cine-teatro  

Descrição

Planta rectangular. Acentuada horizontalidade, cobertura em terraço. Fachada principal: amplas entradas revestidas a mármore, encimadas por 1 conjunto horizontal de janelas abertas num pano de parede em ressalto. Fenestração disposta sobretudo na vertical. A fachada desenvolve-se de forma simétrica dividida por 3 altas janelas, de vão rectangular, que a seccionam, sendo as laterais mais altas que a central. São janelas trifacetadas com os vãos preenchidos por uma quadrícula de ferro e vidro. A ladeá-las, pilastras coroadas por máscaras. Os espaços entre as janelas são preenchidos por 2 grandes panos sensivelmente quadrados e recuados, onde são afixados os cartazes de cinema. Na prumada da janela central, o pano de parede projecta-se, de forma escalonada, acima da cimalha, quebrando-a. Neste, e a coroar o painel esculpido, o nome do cinema em letras estilizadas. O seu interior, com 3 salas de cinema, apresenta uma certa complexidade em termos de relações espaciais, destacando-se sobretudo, os vários e sinuosos lanços de escadas do átrio.

Acessos

Praça dos Restauradores

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 8/83, DR, 1.ª série, n.º 19 de 24 janeiro 1983 / ZEP, Portaria n.º 529/96, DR, 1.ª série-B, n.º 228 de 01 outubro 1996 *1 / Incluído na classificação da Avenida da Liberdade (v. IPA.00005972) e na Zona de Proteção do Ascensor da Glória (IPA.00003986)

Enquadramento

Urbano. Situa-se no lado O. da praça, adossado. Destaca-se dos edifícios contíguos.

Descrição Complementar

"não era apenas no Éden Teatro que os espaços de circulação ou de reunião traduziam o interesse de Cassiano pelo movimento. Em muitas outras das suas obras, o modo como trabalhava o espaço era a qualidade que o distanciava de todos os outros arquitetos da sua geração". (ACCIAIUOLI)

Utilização Inicial

Cultural e recreativa: cine-teatro

Utilização Actual

Comercial e turística: hotel

Propriedade

Privada: pessoa colectiva / Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Carlos Florêncio Dias e Cassiano Viriato Branco (1933), Frederico Valssassina e George Pancreach (1995); ENGENHEIROS: Mariano Fernandes; Tavares Cardoso e Venceslau Casais; ESCULTOR: Leopoldo de Almeida; TÉCNICO ACÚSTICA: Gustave Pleyel.

Cronologia

1906 - o edifício é inaugurado pelo comerciante Albert Beauvalet, para garagem de automóveis; anteriormente estavam aqui as cavalariças e cocheiras dos Castelo Melhor; 1909 - Albert Beauvalet (ou Angèle Beauvalet, possível nome artístico para um documentário que filmou, "Visita Ao Porto dos Heroicos Aviadores Gago Coutinho e Comandante Sacadura Cabral") muda a sua garagem para junto do Avenida Palace onde se manterá até aos anos vinte, o edifício é adaptado a teatro de variedades durante quatro anos; 1913, julho - começa a construir-se um edifício sob planos de Augusto Pina (cenógrafo) e Guilherme Gomes, obra promovida por uma empresa a que estavam ligados os nomes de Luis Galhardo, Leopoldo O'Donnell e Domingos Teixeira Marques; a obra foi embargada pelo Governo Civil, por não ter sido comunicada e autorizada; setembro - o projeto é apresentado à Comissão Oficial de Vistoria aos Teatros de Lisboa e reprovado por não cumprir normas de segurança; as alterações introduzidas no final do ano permitem prosseguir as obras: 1914 - abertura do Éden Teatro com especial importância do programa de revistas e operetas; 25 de Setembro - instala-se numa loja do piso térreo o Salão Chantecler, a funcionar desde o dia 28 de outubro de 1911 na Praça dos Restauradores n.º 23; 1918, 31 de maio - a empresa, coincidindo uma ausência de Luís Galhardo do país por motivos políticos decide terminar a sua atividade de exploração do teatro e iniciar a exploração de um salão cinematográfico; 1922, junho - pedido de licença da empresa para retomar a sua atividade de exploração cinematográfica; 1928 - a Inspeção Geral dos Espetáculos promulga legislação mais apertada para minimizar os riscos de incêndio; 1929, janeiro - entra na Câmara um projeto de arquitetura de Cassiano Branco, uns dias depois o proprietário do edifício, José de Sucena (conde à altura da monarquia) faz uma exposição à Câmara dizendo que não pretende renovar o contrato de exploração à empresa , indemniza os arrendatários e trata ele próprio de promover a obra com a ajuda do mesmo arquiteto, a câmara no entanto não transfere a licença de reconstrução; 30 de maio - o proprietário, que detinha todos os edifícios do quarteirão, incluindo o Hotel Avenida Palace, manda demolir e edifício e apresenta um projeto de construção de raiz, especificando que se destinava quer a teatro quer a cinema; durante a preparação e apresentação dos planos o arquiteto abandona o projeto, ficando este facto dever-se ou às permanentes críticas ao projeto (Conselho de Arte e Arquitetura da câmara municipal) ou a desentendimentos do autor com o promotor; 1932 - o projeto é retomado pelo arquiteto Carlos Florêncio Dias, antigo colaborador de Cassiano que apresentara três versões para a fachada, "na sua proposta recuperam-se algumas ideias por ele avançadas, mas retiram-se a transparência e o ritmo que antes de imprimia à fachada, embora se tivessem mantido o janelão central e os lanternins em vidro que encimavam o edifício" (ACCIAIUOLI); a fábrica Portugal fornece as cadeiras dos balcões; a Casa Olaio fornece as cadeiras da plateia e o pano de boca do palco; 1933, 20 de dezembro o Salão Chanteler transforma-se no Cinema Restauradores que funcionará até 1968 (exibindo essencialmente filmes de cow-boys); 1937, 1 de abril - inauguração do Teatro com a presença do presidente da República e membros do governo numa sessão que incluiu a entrega da condecoração do Grande Oficialato da Ordem de Cristo a José de Sucena; 1938 - funciona como cinema servindo a sua fachada para a exibição de telões pintados anunciando os filmes em exibição; 1968, 15 de setembro - encerramento do Cinema Restauradores passando a funcionar no mesmo espaço uma loja de têxteis CUF; 1974 - a Lusomundo passa a explorar o cinema; 1983 - classificação do imóvel como de interesse público; 1989 - o Éden é adquirido pelo grupo económico Amorim; 31 de dezembro - encerramento do cinema; 1990, novembro - inaugura uma exposição intitulada "Cassiano Branco e o Éden-Lisboa 91"que decorre, acompanhada de conferências, até janeiro de 1991, numa altura em que se questiona o futuro do edifício (conceção gráfica de Henrique Cayatte e coordenação de Maria do Rosário Bonneville e Elísio Summavielle); a Câmara Municipal declara ser necessário reservar a componente essencialmente cultural do velho edifício numa mesma reunião em que manifesta vontade de compra do edifício; 1995 - obras de remodelação e reconversão em hotel, sob projeto de Frederico Valssassina e George Pancreach (manutenção da imagem base da fachada, alterando-se o seu interior, deixando apenas a presença do átrio principal e escadarias originais de acesso às salas do cineteatro, tendo sido permitida a demolição quase integral do interior, "o novo programa acima da cota do grande átrio e com uma volumetria em forma de semicírculo, aproveitando a profundidade existente e desmaterializando os antigos grandes planos para afixação da publicidade dos espetáculos em vazios, que permitem a revelação do novo programa em plano recuado" (PINTO/GODINHO); 2001 - encerramento da Virgin Megastore; 2003 - abertura da Loja do Cidadão, instalada no piso térreo e cave; 2006, 22 agosto - parecer da DRCLisboa para definição de Zona Especial de Proteção conjunta do castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa, Baixa Pombalina e imóveis classificados na sua área envolvente; 2011, 10 outubro - o Conselho Nacional de Cultura propõe o arquivamento de definição de Zona Especial de Proteção; 18 outubro - Despacho do diretor do IGESPAR a concordar com o parecer e a pedir novas definições de Zona Especial de Proteção; 2013, 30 dezembro - por ordem do Governo é encerrada a Loja do Cidadão.

Dados Técnicos

Sistemas estruturais - paredes autoportantes.

Materiais

Alvenaria, betão, alumínio, vidro, mármore, ferro.

Bibliografia

SILVA, Fernando Gomes da, Cassiano Branco e a sua Arquitectura, Catálogo da Exposição Promovida pela Associação dos Arquitectos Portugueses, Lisboa, 1986. PEREIRA, Nuno Teotónio, "A Arquitectura do Estado Novo, de 1926 a 1959", in O Estado Novo, das Origens ao Fim da Autarcia, 1926 - 1959, 2º Vol., Lisboa, 1986. FRANÇA, José Augusto, A Arte em Portugal no Séc XX, 1911 - 1961, Lisboa, 1984. Revista de o Jornal - O Expresso, 9 Nov. 1991. ARAUJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Vol.III, Livro XIV, Lisboa, s.d. Jornal o Semanário, 4 Outubro 1991. Revista do jornal Expresso, 9 de Novembro de 1991; PEDREIRINHO, José Manuel, Dicionário de arquitectos activos em Portugal do Séc. I à actualidade, Porto, Edições Afrontamento, 1994; ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa - Um fenómeno urbano do século XX, 2.ª edição, Bizâncio, 2013, pp.134-154; RIBEIRO, M. Félix, Os Mais Antigos Cinemas de Lisboa, 1896-1939, Instituto Português de Cinema /Cinemateca Nacional, 1978; PINTO, Pedro Luz, GODINHO, Sérgio, “Retenção de fachada na cidade de Lisboa -Origens, história e tipologias”, Revista Cidades, comunidades, territórios, n.º46, 2023.

Documentação Gráfica

CML

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CML

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID-001/011-1506/A/1, p. 19; CML

Intervenção Realizada

1947- pedido de autorização de execução de obvras de alteração da fachada por parte da Companhia Animotagráfica dos Restauradores, sediada no edifício; 1995 - obras de recuperação e adaptação para instalação do hotel Orion-Eden

Observações

*1 - Zona Especial de Proteção Conjunta da Avenida da Liberdade e imóveis classificados na área envolvente. As janelas, bem como os espaços intermédios, são encimados por painéis esculpidos em relevo com figuras alusivas à 7ª arte, de distribuição simétrica: 1-3-1-3-1.

Autor e Data

João Silva 1992

Actualização

Josina Almeida 2025
 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login