Muralha e portas antigas de Viseu / Cerca urbana de Viseu

IPA.00006186
Portugal, Viseu, Viseu, União das freguesias de Viseu
 
Muralha quatrocentista, a meia encosta com planta ovalada de traçado irregular, cujo perímetro é passível de definição pelos vestígios subjacentes na disposição da malha urbana. Rasgada primitivamente por 7 portas, de que subsistem 2. estas são definidas por arco quebrado, abatido no intradorso, contendo nichos, onde se inscrevem os santos tutelares das mesmas. Muralhas desprovidas de merlões e existência de escadas de acesso a caminho de ronda, no troço junto à Porta do Postigo. Aproveitamento de afloramentos graníticos na implementação da muralha. Vestígios da existência de caminho de ronda num dos troços, surgindo noutro algumas gárgulas em forma de canhão. Subsistem duas portas, cada uma com 2 nichos, no exterior e no intradorso, contendo as imagens tutelares das entradas.
Número IPA Antigo: PT021823240004
 
Registo visualizado 2623 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Cerca urbana    

Descrição

Cintura de muralhas de planta poligonal, de traçado irregular, cujo perímetro é passível de definiç¦o pelos vestígios subjacentes na disposiç¦o da malha urbana. Os troços subsistentes aparecem isolados, flanqueados ou encimados por construçöes. Mantêm-se duas portas e vestígios de duas outras. A O., adossada a casa senhorial, situa-se a antiga porta de São Francisco, Porta de Soar ou Arco dos Melos. É de arco apontado e encimado por lápide epigrafada *1 e Armas de Portugal, tendo, no seu alçado posterior, arco abatido e pequeno nicho com imagem. As muralhas prolongam-se para ambos os lados, estendendo-se o pano esquerdo para a Rua Silva Gaio, aproveitando grandes afloramentos graníticos, moldando-se a eles, e o direito para a Rua Almeida Moreira, onde é visível o pequeno troço muralhado com ameias e gárgulas de cano. Segue-se pela referida Rua Almeida Moreira em direcção à Rua Formosa onde inflecte para a Rua Direita *2. Cortava depois em direcção à Rua da Árvore onde são visíveis ainda os arranques dos arcos da Porta do Senhor Crucificado, no terreiro de Santa Cristina e um troço de muralha, sobre o qual se encontra apoiada a Antiga Casa Senhorial (v. PT021823240009). Em seguida, continuava pelo Quintal da Prebenda *3 e Rua do Gonçalinho, seguindo até ao Largo Mouzinho de Albuquerque *4 e à Porta dos Cavaleiros ou do Arco. Esta, de arco apontado, encontra-se sobrepujada por lápide epigráfica de 1646, nicho com a imagem de São Sebastião e, superiormente, no ângulo da cortina com a muralha, outro nicho em forma de baldaquino com a imagem de Nossa Senhora. Sob este ângulo e já no pano da muralha, um arco de volta perfeita aberto na espessura da mesma, que deve ter sido fonte de charco ou chafurda. Do lado interior, arco abatido e pano da muralha que, interrompido pela rua, continua para a Rua dos Loureiros subindo o monte. No cruzamento desta com a Calçada de São Mateus, são visíveis os vestígios da Porta da Senhora do Postigo ou da Senhora das Angústias. Continuava subindo, passando o cimo da Rua do Viriato e continuando pela Rua Silva Gaio, onde são visíveis os maiores troços da muralha, ligando-se de novo à Porta do Soar. Ambas as portas remanescentes são semelhantes, tendo arcos de perfil apontado no exterior e abatido no intradorso. Possuem nicho com a imagem do santo tutelar da mesma. Na Porta de São Sebastião, o nicho tem três lados vazados, formando arcos de volta perfeita, assentes em quatro colunas toscanas sobre alto plinto, possuindo baldaquino em coruchéu, rematado por pináculo. Na zona existem vestígios da muralha romana, com cerca de quatro metros de largura e foram aproveitadas para a construção do solar. Junto, parte da muralha afonsina.

Acessos

Porta do Soar, Rua Almeida Moreira, Porta de Santa Cristina, Rua da Árvore, Porta dos Cavaleiros, Rua dos Loureiros, Rua Silva Gaio, Rua Nunes de Carvalho

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 2 167, DG, 1.ª série, n.º 265 de 31 dezembro 1915

Enquadramento

Ambiente urbano. A muralha encontra-se a meia encosta, destacada ou parcialmente integrada em construções civis. Os vários troços inserem-se em malha urbana ou em zona de cultivo.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: cerca urbana

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Câmara Municipal de Viseu (auto da cessão de 12 de Outubro de 1940)

Época Construção

Séc. 15

Arquitecto / Construtor / Autor

IMAGINÁRIO: António Pereira (1686). PEDREIROS: Diogo Afonso (1481), Pedro de Almeida (1653), António Francisco e Teotónio Francisco (1802).

Cronologia

Época romana - construção de um núcleo fortificado; séc. 01 a.C. - construção de um troço de muralha, na actual Rua Formosa; séc. 12 - data provável da edificação das denominadas muralhas medievais, por ordem do Conde D. Henrique; séc. 15 - os moradores da cidade, perante saques e assaltos sucessivos, pedem ao monarca a feitura de uma muralha; 1412 - os representantes de Viseu nas Cortes pedem a D. João I a construção da muralha; início das obras das novas muralhas; 1439 - os representantes de Viseu pedem em Cortes, durante a regência do Infante D. Pedro, o acabamento das muralhas; 1465 - em Cortes, é levantado o assunto da feitura das muralhas, perante D. Afonso V; 1472 - inscrição epigrafada na Porta do Soar, relatando que D. Afonso V mandou cercar a nobre cidade de Viseu, reunindo as duas antigas muralhas; 1473 - D. Afonso V determina que cessem as obras do Mosteiro (do Couto do Mosteiro de Arouca) e os lavradores, obrigados a elas, se transfiram para Viseu, para a feitura da muralha com meia serventia; 1481 - era "tratador do muro" Diogo Afonso (ALVES, p. 22); as obras das muralhas terão terminado, possuindo sete portas, a do Soar ou de São Francisco, da Senhora das Angústias (Traição), Cavaleiros ou do Arco, São Sebastião, São Miguel, Senhor Crucificado e São José; séc. 16 - demolição de parte das primitivas muralhas romanas, devido a obras no Paço dos Bispos (VALE, A. Lucena, p. 223); 1577, 21 Julho - última vez que as portas da cidade foram fechadas devido a uma peste; 1653, 19 Abril - arrematação de umas armas reais para a porta do Soar, a qual andava a ser reconstruído, pelo mestre Pedro de Almeida, por 6$000; 1686 - abertura de uma janela na muralha pelo imaginário António Pereira, o qual se comprometeu a tapá-la em caso de guerra; 1743 - remoção da imagem de Nossa Senhora dos Remédios do nicho interior do Arco do Soar; 1814, 7 Dezembro - a Câmara manda demolir as diversas portas, sendo 2 pedreiros, António e Teotónio Francisco, responsáveis pela obra, que resolveram manter as subsistentes, que "até aformoseiam a cidade"; 1944 - aparecimento de cobelo medieval a S. do Lg. da Misericórdia; 1952 - demolição de muros e desaterro na Rua Maximiano de Aragão, pondo a descoberto parte do troço das muralhas da cidade; 1970 - expropriação de cinco prédios para demoliç¦o, para desobstruir a muralha; 1997 - demolição de parte da muralha, na zona de Soar de Cima; 1999 / 2000 - intervenção arqueológica no Lg. de Santa Cristina, pondo a descoberto a primitiva muralha romana *5; 2005 - durante uma prospecção arqueológica, na Rua Formosa, foram postas a descoberto um troço das antigas muralhas romanas; museulização do troço da muralha, com colocação de vidro para visualizar as estruturas; durante as obras foram achadas moedas e cerâmica romanas; 2006 - junto a estas, foram encontradas moedas e cerâmica dos séc. 01 e 02, bem como alguns esqueletos; projecto de musealização do troço da muralha romana, com colocação de equipamento de controlo de arejamento, temperatura, humidade e iluminação do espaço; 06 Agosto - abertura das muralhas musealizadas ao público.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes; estruturas mistas.

Materiais

Granito; alvenaria; cantaria; aparelho ciclópico; afloramentos rochosos graníticos.

Bibliografia

PROENÇA, Raúl (Dir.), Guia de Portugal, Beira - II - Beira Baixa Baixa e Beira Alta, Lisboa, s.d.; Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol 28, Lisboa / Rio de Janeiro, s.d.; MOREIRA, F. de Almeida, Imagens de Viseu, Porto, 1937; VALE, A. de Lucena, O Castelo romano de Viseu, in Beira Alta, n.º 30, 1957, pp. 215-226; AZEVEDO, Correia de, Arte Monumental Portuguesa, vol. IV, Porto, 1975; LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho, Portugal Antigo e Moderno Dicionário, vol. XII, Lisboa, 1980; FERNANDEZ, Sérgio, A acrópole e a cidade, in Monumentos, n.º 13, Lisboa, Setembro de 2000, pp. 52-55; ALVES, Alexandre, Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e Viseu, vols. I e II, Viseu, 2001; RODRIGUES, A., Muralhas da Rua Formosa - final da musealização está à vista, in Diário da Guarda, 15 Dezembro 2005; Musealização da muralha romana na Rua Formosa está pronta, in Diário Regional de Viseu, 22 Fevereiro 2006; Rua Formosa - pedras da muralha romana utilizadas em construções antigas, in Diário Regional de Viseu, 07 Março 2006; FONSECA, José, Arqueólogos encontraram cerâmica e moedas junto à muralha romana, 29 Março 2006; BONDOSO, Rui, Muralha romana na calha para abrir, in Jornal de Notícias, 03 Agosto 2006; Muralha de Viseu à vista, in 24 Horas, 06 Agosto 2006; Muralha romana à vista, in Correio da Manhã, 06 Agosto 2006; Muralha romana à vista de todos, in Diário de Notícias, 06 Agosto 2006; Troço da muralha de Viseu exposto ao público, in Público, 06 Agosto 2006; Troço de muralha exposto ao público a partir de hoje, in Diário de Coimbra, 06 Agosto 2006; Muralha romana da Rua Formosa em museu de vidro, in Jornal de Notícias, 07 Agosto 2006; Troço exposto ao público desde Domingo, in Notícias de Viseu, 10 Agosto 2006; COSTA, Jorge Braga da e CRUZ, Júlio, Monumentalidade Visiense, Viseu, AVIS, 2007; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70675 [consultado em 2 janeiro 2017].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

DGEMN: 1943 - demolição de paredes de alvenaria, apeamento de cantaria, consolidação e reconstrução de muralhas de cantaria apicoada, sendo as juntas preenchidas com argamassa hidráulica; CMV: 1944 - demolição de alguns degraus da escada de acesso ao caminho de ronda e de alguns vestígios destes; abertura de portais e reduç¦o da espessura do muro entre a Porta do Postigo e a dos Cavaleiros; DGEMN: 1951 - obras de conservação nas muralhas junto às Portas de Soar e dos Cavaleiros; CMV: 1952 - obras na Porta do Soar; DGEMN: 1957 / 1958 - reconstrução de prédio junto à Porta de Santa Cristina; 1969 - reconstituição de silharia em falta; 1970 - reconstituição de panos de muralha, substituindo-se alguns silhares; 1971 - apeamento e reconstrução dum troço de muralha na R. Silva Gaio, preenchendo-se as juntas com argamassa de cimento; consolidação do pano de muralhas junto à Porta do Soar.

Observações

*1 - a lápide atesta que D. Afonso V mandou cercar a cidade de muralhas em 1472. *2 - nesta zona, situava-se a Porta de São José ou Cimo da Vila. *3 - esta seguia até à desaparecida Porta de São Miguel ou da Regueira. *4 - no local, surgia a Porta de S. Sebastião; *5 - a escavação inscreveu-se no projecto de construção de um parque de estacionamento neste Largo. Alguns troços da muralha foram, então, postos a descoberto, sendo necessário limpar e transportar as pedras, por não ser viável a sua conservação "in situ". Os responsáveis pensaram, então, preservar a memória da muralha, utilizando uma marcação no pavimento onde ela se inscrevera.

Autor e Data

João Carvalho 1996

Actualização

Paula Figueiredo 2000
 
 
 
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