Moinhos de Vento no Lugar de Montedor / Moinho do Marinheiro e Moinho de Cima

IPA.00006173
Portugal, Viana do Castelo, Viana do Castelo, Carreço
 
Moinhos de vento fixos construídos no séc. 19. Apresentam planta circular e em pedra, com tejadilho cónico, de madeira, com rotação feita por sistema de rabo, a solução mais usual no norte. do país, um com sistema de velame composto por quatro velas triangulares de pano (moinho de Cima) e outro composto por quatro velas trapezoidais de tábua (moinho do Marinheiro), outrora muito corrente nas costas entre os rios Lima e Minho. Fachadas de dois pisos, rasgados por duas janelas, uma sobre a porta e outra na face oposta. O moinho do Marinheiro, com o sistema de moagem operacional, foi um dos últimos exemplares conhecidos a funcionar com um velame constituído por quatro velas trapezoidais de madeira dispostas em cruz e atualmente reconstituído. Ambos possuem data inscrita na verga da porta assinalando a sua possível construção. Segundo Jorge Dias, pode-se incluir na segunda categoria dos moinhos mediterrâneos, de pedra, estabelecidos por Krüger, designado por "sistema intermédio". Os moinhos de Carreço integram-se no chamado "ciclo do pão", juntamente com os moinhos de água de São Lourenço da Montaria e o Núcleo Museológico do Pão, em Outeiro.
Número IPA Antigo: PT011609080027
 
Registo visualizado 481 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício  Extração, produção e transformação  Moagem    

Descrição

Moinhos de planta circular, de volume simples e cobertura homogénea, de madeira, pintada de preto. Fachadas de dois pisos, em cantaria aparente de aparelho irregular com juntas cimentadas. Fachada principal rasgada por portal de verga recta, a do moinho do Marinheiro com a inscrição "MARÇO 1877" e a do de Cima com a data de 1835, e possuindo argola de ferro na jamba esquerda e na direita, respectivamente; deslocada à direita, abre-se pequena janela rectangular, possuindo uma outra na fachada oposta. Cobertura móvel, formada por armação cónica de caibros partindo de um bloco de madeira, o peão, e assentando no frechal, onde possui um intervalo entre si de 40 cm, entarugados a meio do seu cumprimento e recobertas por tábuas de formato triangular, com extremidades inferiores avançando dos paramentos, formando beiral. O rabo parte do peão, apoia na trave onde joga a parte posterior do mastro, sai para fora por baixo do beirado, até quase ao solo, onde se empurra à mão para o lado desejado. MOINHO DO MARINHEIRO: sistema de moagem composto por quatro velas trapezoidais de madeira, em que as tábuas se dispõem sobre grade de madeira, armadas em quatro braços inseridos em cruz no mastro, ficando as velas centradas e dispostas no sentido da base do trapézio, em posição ligeiramente inclinada como as pás de uma hélice. INTERIOR de paramentos de cantaria parcialmente aparente entre as largas juntas de cimento, sendo sensivelmente mais espessas até à altura do soalho, que assenta no desnível produzido, capeado a cantaria. Piso térreo com pavimento lajeado e soalho do piso superior assente em traves de madeira, a que se acede por escada também de madeira, com um primeiro degrau de pedra, encostada à parede. Ao nível do piso superior, o capeado das paredes tem aberto calha, forrada de madeira, onde roda o frechal, com 20 x 10,5 cm de secção, sobre rodas de cerca de 20 cm de diâmetro, colocadas regularmente a 85 cm de distância; na face oposta à porta, tem inferiormente cavidade para permitir a substituição das rodas. A meio dispõem-se as duas mós, o pouso mais alto e a andadeira, apoiados em duas grossas vigas de madeira, afastadas, possuindo entre elas, sob o soalho, o urreiro, onde apoia e gira o veio da mó andadeira, assente numa das pontas num travessão que tem por base dois prumos, ficando a outra suspensa num barrote, o aliviadouro, que sobe ao sobrado ao lado do bloco das mós e aí remata por uma travessa em T e regulável por uma cunha, provocando a subida e descida do urreiro e com ele o veio da mó, graduando a distância entre as duas mós, de modo a produzir farinha mais ou menos fina. Sobre as mós, surge a entrosga, ligada ao mastro por quatro braços de madeira dispostos em cruz, com aro provido de dentes, transversais, que engrenam num carreto tipo lanternim; este é constituído por dois discos de madeira e seis fuselos, cintados com aros metálicos e é atravessado por um eixo de ferro, de secção quadrangular, que joga em cima numa chumaceira e termina em baixo numa espiga que entra na segurelha, peça de ferro encaixada na face inferior da mó andadeira. O pé da mó surge parcialmente descoberto, mas a mó andadeira surge totalmente envolvida e coberta por caixa de madeira, o tremonhado, sobre a qual assenta a moega, onde se coloca o grão para moer; esta é de madeira, de formato piramidal invertida assente em quatro pés, interligados por duas travessas. O grão cai da moega através da quelha de madeira até ao olho da mó, sendo fixa atrás e suspensa à frente de dois cordéis ligados a tornos cravados na parede da moega, através dos quais se pode graduar a sua inclinação e, consequentemente, a queda de mais ou menos grão. O cereal triturado é expelido para fora do intervalo das mós pela acção de força centrífuga, caindo numa caixa de madeira, com tampa. Encostado à parede, dispõem-se arca de madeira para guardar o cereal e pequeno banco, igualmente de madeira. MOINHO DE CIMA: sistema de velame constituído por quatro velas triangulares de pano, dispostas em cruz, armadas em quatro pares de varas. Estruturalmente, o INTERIOR apresenta-se semelhante ao moinho anterior, mas o pavimento do piso superior é formado por grelha metálica, acedido por escada metálica, ambos com guarda de ferro. No piso térreo dispõem-se vários elementos do antigo moinho, como uma chumaceira, um frechal, fuselos do carreto, mó, um antigo marco de propriedade e outros, e painéis com fotografias antigas dos moinhos; no piso superior surgem amplos painéis com a história da moagem, descrição dos moinhos e seu sistema de moagem, devidamente ilustrados com esquemas e fotografias.

Acessos

Carreço, Montedor. WGS84 (graus decimais) lat.: 41,748889; long.: -8,875595

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 95/78, DR, 1.ª série, n.º 210 de 12 setembro 1978 / ZEP / Zona "non aedificandi", Portaria, DR, 2.ª série, n.º 130 de 08 junho 1982

Enquadramento

Urbano, isolado. Situam-se a menos de duas léguas da cidade de Viana, no alto da povoação de Montedor, perto da escarpa sobre o mar, possuindo nas imediações algumas construções. Ambos os moinhos são rodeados por anel com pavimento lajeado e enquadrados por vegetação rasteira. À porta do Moinho de Cima existem várias mós. Nas proximidades, mas numa cota mais elevada e no seu alinhamento, ergue-se o Moinho do Petisco (v. PT011609080021).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Extração, produção e transformação: moagem

Utilização Actual

Cultural e recrativa: museu vivo

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARTESÃO: Manuel Pereira.

Cronologia

1835 - data do dintel no "Moinho de Cima" assinalando provavelmente a sua construção; 1877 - data do dintel do "Moinho do Marinheiro" assinalando a sua provável construção; 1992 - ambos estavam arruinados; 1993 - adquiridos pela Câmara Municipal de Viana do Castelo; posteriormente iniciou-se o seu restauro, com tecnologia artesanal pelo artesão Manuel Pereira, de Santa Marta de Portuzelo; o moinho do Marinheiro foi integralmente reconstruído, passando o de Cima a funcionar como centro de recursos, com painéis expositivos; 2002, 28 Setembro - cerimónia de inauguração dos moinhos, que incluiu a reconstituição dos antigos métodos de fabrico de pão.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura de granito; juntas cimentadas; tejadilho, portas, janelas, escadas e velas do moinho do Marinheiro e parte do sistema de moagem em madeira; pavimento do piso térreo em lajes e do superior em soalho (moinho do Marinheiro) e em grelha metálica (moinho de Cima).

Bibliografia

DIAS, Jorge, Sistemas Primitivos de Moagem em Portugal, vol. 2, Porto, 1959; FELGUEIRAS, Guilherme, Moinhos e Azenhas no Alto Minho inertes ou decadentes in Cadernos Vianenses, vol. 8, Viana do Castelo, 1984; LEAL, António J. Cunha, Roteiro Arqueológico de Viana do Castelo, Viana do Castelo, 1992; AAVV, Núcleo Museológico Moinhos de Montedor, Viana do Castelo, 2002; RIBEIRO, Luísa Teresa, Moinhos de vento de Carreço inaugurados no fim do mês, Diário do Minho, 4 Setembro 2002, p. 9; Carreço - Moinho de vento volta a trabalhar, O Dia, 20 Setembro 2002, p. 14.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

CMVC: 2002 - Conclusão das obras de recuperação e reconstrução dos moinhos, no caso do moinho do Marinheiro integral, e sua musealização.

Observações

As velas de madeira armavam-se nas varas de madeira, tal como nos moinhos de vento vulgares, mas apenas em número de quatro, que se reforçam pelo prolongamento das mechas que entram no mastro, formando como que uma segunda vara encostada à vara normal. As velas eram grades de madeira, formadas por ripes e travessas, dispostas de modo a poderem nelas ser aplicadas as tábuas, presas depois pelos taramelos. O número das tábuas era variável, pondo-se mais ou menos conforme a intensidade do vento. As duas janelas dispõem-se frontalmente para permitir introduzir o mastro no interior do moinho.

Autor e Data

Paula Noé 1992 / 2005

Actualização

 
 
 
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