Santuário de Nossa Senhora do Cabo / Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel / Santuário de Nossa Senhora da Pedra da Mua

IPA.00006165
Portugal, Setúbal, Sesimbra, Sesimbra (Castelo)
 
Arquitetura religiosa, seiscentista e barroca. Santuário nacional Mariano composto pela igreja, longo terreiro retangular frontal, delimitado pelas hospedarias, formando um U desigual, com cruzeiro no topo, tendo à frente mãe de água, inserida em horta murada e constituindo o término de um aqueduto, e, isolada e junto à falésia, a ermida da Memória. Igreja seiscentista de planta retangular composta por nave e capela-mor, interiormente com ampla iluminação axial e bilateral e coberturas em falsas abóbadas, em estuque, a da nave de berço e a da capela-mor de aresta, tendo adossado casa da tribuna, torres sineiras, sacristias retangulares e anexos. Fachada principal harmónica, terminada em frontão triangular com imagem do orago num nicho no tímpano, e rasgada por três eixos de vãos retilíneos, o portal central maior e entre pilastras sustentando frontão. No interior segue o esquema maneirista, com coro-alto sobre pilares, capelas laterais à face com arcos de volta perfeita simples sobre pilares, encimadas, num segundo registo, demarcado por cornija, por telas pintadas, e com púlpito ao centro, de bacia retangular em cantaria e guarda em talha plena, acedido por porta e escada de caracol. Arco triunfal de volta perfeita enquadrado por capelas colaterais semelhantes encimadas por telas pintadas. Cobertura com pinturas em "trompe l'oeil", com quadraturas e figuras alegóricas. A capela-mor possui retábulo-mor de talha policroma, em barroco nacional, de planta côncava e um eixo. Os edifícios das hospedarias dos círios têm planta retangular e fachadas de dois pisos, a principal com arcada no piso térreo e janelas de peitoril no segundo. A mãe de água setecentista apresenta planta hexagonal, coberta por domo campaneiforme, com lanternim, e fachadas de cunhais apilastrados, terminadas em friso e cornija, a principal com portal de verga reta encimado por frontão sem retorno. No interior tem fonte tipo nicho "rocaille". A Ermida da Memória, construída onde terá aparecido a imagem da Virgem, tem planta quadrangular simples, de espaço único, coberta por domo e interiormente em falsa abóbada de berço e iluminação bilateral. O acesso é feito por portal em arco abatido e no interior tem silhar de azulejos setecentistas com a história da aparição e a construção do santuário.
Número IPA Antigo: PT031511010003
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Religioso  Templo  Santuário  

Descrição

Santuário composto por igreja, terreiro retangular frontal, delimitado lateralmente pelas hospedarias, formando um U, tendo ao centro do topo E. cruzeiro, mais para E. a denominada Casa da Água, integrada num espaço murado e em eixo com a igreja e o cruzeiro, algumas construções de apoio e a casa da ópera a N. e a S. das hospedarias e, a NO., junto à falésia, a Ermida da Memória. IGREJA de planta retangular composta pela nave e capela-mor, a que se adossa em eixo a casa da tribuna, lateralmente duas torres sineiras quadrangulares, duas sacristias retangulares e outros anexos, alguns em ruínas. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhado de duas águas na igreja, sacristias e anexos e de três na capela-mor, rematadas em beirada simples, e em em coruchéu piramidal nas torres. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com pilastras toscanas nos cunhais, percorridas por soco de cantaria e terminadas em friso e cornija. Fachada principal virada a E., terminada em frontão triangular, sobreposto por aletas e, ao centro, cruz latina de braços quadrangulares sobre acrotério. No tímpano abre-se nicho em arco, de volta perfeita, sobre pilastras, assentes em mísulas tendo a meio silhar com cartela recortada, ladeadas por aletas, e encimado por frontão de volutas interrompido, tendo no interior abóbada concheada e imagem pétrea do orago; enquadra o nicho dois elementos de cantaria formando triângulo. A fachada é rasgada por três portais de verga reta, o central maior, ladeado por duplas pilastras almofadadas, sustentando entablamento com friso de almofadas convexas e frontão semicircular com concha no tímpano, sobreposto por pináculos laterais e espaldar recortado, com inscrição alusiva à construção da igreja, e cruz latina. Os portais laterais possuem a moldura encimada por frontão semicircular em concha. Superiormente abrem-se três janelas retilíneas, com molduras almofadadas e recortadas nos ângulos. No alinhamento da fachada dispõem-se as torres sineiras, de cunhais apilastrados e dois registos, definidos por friso e cornija, o primeiro rasgado por três frestas sobrepostas e o segundo, revestido a cantaria, rasgado, em duas faces, por vão em arco de volta perfeita sobre pilastras, a frontal da torre direita contendo relógio de sol circular, em cantaria. Rematam em friso e cornija, sobreposta por platibanda plena de perfil facetado, interrompido nos cunhais por pináculos piramidais sobre acrotérios. Entre as torres a as alas das hospedarias existe corpo retangular, simétrico, correspondendo à casa das pratas (esquerdo) e à habitação do capelão ermita, (direita). Formam passadiço inferior, em arco de volta perfeita sobre pilastras, e o registo superior é rasgado por janela de sacada, retilínea, com guarda em ferro; o corpo remata em cornija de alvenaria, sobreposta por espaldar recortado, com aletas e vaso central. Fachadas laterais da nave com três panos, definidos por pilastras, a posterior coroada por pináculos piramidais sobre acrotério, e cobertura alteada sobre o remate, rasgando-se em cada pano janela retilínea. Sacristias de dois pisos, rasgados por dois eixos de janelas retilíneas, as do primeiro piso mais pequenas, e o anexo posterior por janela quadrangular. Fachada posterior da nave terminada em empena, coroada por cruz latina de cantaria, a da capela-mor terminada em empena reta e a casa da tribuna em empena, coroada por cruz latina, e rasgada por janela jacente e óculo circular; a torre direita tem porta de verga reta entaipada. INTERIOR com pavimento de cantaria e coberturas em falsas abóbadas, a da nave de berço, de estuque, e a da capela-mor de aresta, com pinturas em tromp l'oeil, sobre o entablamento. Coro-alto de madeira de perfil contracurvo, assente em duas pilastras laterais e dois pilares centrais, os quais integram pias de água-benta gomeadas encimadas por vieira, e com guarda em balaustrada de madeira, acedido por portas de verga reta; no lado da Epístola tem órgão positivo e, no sub-coro, com teto de três apainelados ornados com motivos fitomórficos, tem guarda-vento em madeira do Brasil. A nave tem as paredes revestidas a mármore branco e vermelho, num jogo rítmico, formando dois registos separados por cornija. O primeiro é rasgado, de cada lado, por portal de verga reta, encimado por cornija reta e almofada retangular, e quatro capelas laterais, em arco de volta perfeita com chave volutada, sobre pilastras igualmente almofadadas, e albergando retábulos de talha policroma e dourada, de planta reta e um eixo, sendo a quarta do lado do Evangelho profunda. As capelas intercalam-se por almofadas retangulares de mármore, sobrepostas, e, ao centro, por púlpito de bacia retangular, inferiormente decorada com acantos e com guarda plena em talha, decorada com elementos vegetalistas e concheados vazados, encimado por baldaquino retangular, em talha, ornado de acantos, lambrequim, e com pináculo tipo balaústre, possuindo inferiormente pomba do Espírito Santo; os púlpitos têm acesso por porta de verga reta e escada de caracol desenvolvida no intradorso da caixa murária, a partir de porta sob os mesmos. No topo da nave existe ainda vão retilíneo, dos antigos confessionários embutidos. Ao nível do segundo registo e intercalados por pilastras almofadadas sobre mísulas, surgem as três janelas laterais, com balaustrada de madeira, quatro painéis pintados, a óleo sobre tela, com cenas da vida da Virgem, dispostos sobre as capelas, e dois nichos, em arco de volta perfeita sobre pilastras, interiormente concheados e albergando imaginária, dispostos sobre os púlpitos. Arco triunfal de volta perfeita, sobre pilastras almofadadas, com chave volutada, ladeado por duas capelas colaterais com retábulos de talha dourada e policroma, encimadas por painel pintado, com programa igual aos laterais. Todos os vãos retilíneos apresentam molduras almofadadas e de ângulos recortados. Ao longo das capelas laterais e em frente do arco triunfal corre presbitério de cantaria, pontuado por alguns balaústres em mármore. Capela-mor coberta por falsa abóbada de aresta, pintada com cartelas concheadas seguras por anjos e contendo flores de simbologia Mariana, e elementos volutados e fitomórficos, enquadrando ampla cartela com firmamento, coroa, estrela de seis pontas e inscrição. As paredes são seccionadas em três registos, o inferior com silhar de azulejos azuis e brancos, com motivos vegetalistas Marianos e inscrição em cartelas entre volutados; são rasgadas por portas de verga reta de acesso às sacristias e, sobre o supedâneo, por arco de volta perfeita, com fecho volutado, sobre pilastras almofadadas. No segundo registo, definido inferiormente por friso de talha, a branco, ritmado por mísulas intercaladas por acantos relevados, e, superiormente, por cornija de cantaria, tem, no lado do Evangelho três painéis pintados, a óleo sobre tela, com cenas da vida da Virgem e, no lado da Epístola, tribuna real, a toda a largura da parede, com arco abatido e sacada de perfil curvo, com guarda em balaustrada. No último registo abre-se janela de verga abatida, enquadrada por pinturas murais. Sobre supedâneo com três degraus centrais, dispõem-se o retábulo-mor, em talha policroma a imitar mármores, de planta côncava e um eixo, definido por quatro pilastras ornadas de motivos vegetalistas, assentes em plintos paralelepipédicos, e quatro colunas torsas centrais, assentes em mísulas, com capitéis coríntios dourados, que se prolongam pelo remate, em quatro arquivoltas de igual decoração, unidas por aduelas e possuindo no fecho brasão com as armas reais. Ao centro possui tribuna em arco de volta perfeita, com boca ornada com elementos vegetalistas recortados dourados, interiormente revestida a apainelados de talha e albergando maquineta com imagem do orago, sobre estrutura de talha dourada; esta integra, ao centro, sacrário facetado, ornado por colunas torsas e a porta com querubins. Sotobanco com plintos paralelepipédicos de cantaria. Altar paralelepipédico, com frontal de cantaria, tripartido, e moldura de talha dourada com acantos. Nas sacristias, com pavimento de cantaria e cobertura em falsa abóbada de berço, de estuque, sobre cornija, existem armários embutidos e arcazes, em madeira do Brasil, encimados por nicho em arco de volta perfeita, sobre pilastras almofadadas, sobreposto por seguintes relevados e cornija reta. As HOSPEDARIAS ou casas dos círios têm planta retangular, irregular, distribuídas em duas alas paralelas, a disposta a N. mais comprida, com volumes articulados e coberturas diferenciadas de duas, três e quatro águas, rematadas em beirada simples. Fachadas de dois pisos, rebocadas e pintadas, a principal virada ao terreiro, com o primeiro piso ritmado por arcaria, de arcos em asa de cesto, de tijolo, com altura e largura sensivelmente diferente, assentes em pilares quadrangulares, de cantaria; o segundo piso é rasgado por janelas de peitoril, retilíneas, de molduras simples, num módulo de duas a duas, com chaminés em alguns dos intervalos; na ala N. conservam-se algumas gárgulas de canhão. Sob a arcaria, com arcos diafragmas, as dependências são rasgadas por portas de verga reta e janelas de peitoril retilíneas e de molduras simples. No INTERIOR o piso térreo tem as lojas, com forno, e o superior, sobradado, acedido por escada comum a dois elementos, é maior, tem janelas conversadeiras e também uma cozinha rudimentar; algumas ainda têm a estrutura de suporte da cobertura, de quatro águas. A ala N. tem o total de 43 compartimentos, 22 no piso térreo e 21 no superior, enquanto a ala S. tem 36 compartimentos, 18 em cada um dos pisos. O TERREIRO tem planta retangular, com 27 m de largura e cerca de 150 m de comprimento, atualmente pavimentado a gravilha, e tendo no topo E. CRUZEIRO. Este é constituído por plataforma de planta quadrangular, com três degraus, plinto paralelepipédico, terminado em quarto de círculo côncavo reverso, e sobre o qual assenta base, em gola reversa. Cruz de braços quadrangulares almofadados, com remate piramidal truncado, formando volutas, tendo no topo da face frontal cartela com monograma "IHS". A CASA DA ÁGUA ou mãe de água tem planta centralizada, hexagonal, coberta por domo campaneiforme, em alvenaria de tijolo, rebocada, rematada por lanternim, de que apenas subsistem os pilares de arranque. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com cunhais apilastrados, percorridas por soco e terminadas em friso e cornija. A fachada principal, virada a O. é rasgada por portal de verga reta, com moldura encimada por frontão triangular sem retorno e com o tímpano de cantaria. As restantes faces são cegas. No INTERIOR possui pavimento com lajes de cantaria em disposição concêntrica, paredes rebocadas e pintadas de branco, circundadas por um bailéu, e cobertura em cúpula facetada. No intradorso da porta existem vestígios de figuras de convite, em azulejos azuis e brancos, e sobre o bailéu restos de um silhar de azulejos, azuis e brancos, com cenas alusivas à estadia dos círios e aos peregrinos. Na parede testeira possui fonte tipo nicho, de planta semicircular e vão em arco de volta perfeita, de moldura côncava e fecho relevado, ladeada de outra moldura, recortada na base e sobreposta por frontão triangular, albergando no interior bica carranca inserida em concheado, de onde pende motivo vegetalista. Em frente possui tanque de perfil curvo e facetado, com bordo saliente e mais alto lateralmente. Insere-se no ângulo NE. de recinto poligonal, o denominado "cercado", vedado por alto muro, em alvenaria, alteado sobre o acesso, em frente da mãe de água, por portal em arco de volta perfeita sobre pilastras. O cercado organiza-se em várias plataformas, tendo muro a delimitar o acesso à fonte, onde, na zona final, tem escadaria de acesso; a S. do muro e adossado a esse, existem dois tanques retangulares, um no interior e outro no exterior, que recebem água por caleira existente no cimo do muro. Na casa da água termina o AQUEDUTO de abastecimento do santuário, com cerca de 2 km, desde a nascente na Azóia, e composto por troços subterrâneos e outros à superfície, um deles com arcaria de seis arcos de volta perfeita (v. IPA.00033811). Apresenta também alguns respiradouros, com cerca de 2 m de altura, permitindo o acesso ao interior. A ERMIDA DA MEMÓRIA tem adro quadrangular frontal, da mesma largura, delimitado por muro, em alvenaria rebocada e pintada, capeada a cantaria, e acesso a S., existindo desse lado e adossado à capela bancos corridos, igualmente capeados. A capela apresenta planta centralizada, quadrangular, coberta por domo cego com remate agudo. Tem fachadas rebocadas e pintadas de branco, terminadas em empena reta, sendo a principal, virada a E., rasgada por portal de verga abatida, com moldura encimada por silhar de cantaria e cornija reta, desenvolvida sobre a empena. Nas fachadas laterais abre-se ao centro janela de arco agudo, molduradas e atualmente cegas, a da fachada esquerda ladeada por dois painéis de azulejos, azuis e brancos, representando dois santos peregrinos, muito danificados. A fachada posterior é cega. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento em lajes de cantaria, rosa e branco, dispostas em losango, e coberta por falsa abóbada de berço, de estuque. No intradorso do portal possui duas figuras de convite em azulejos, azuis e brancos, representando Santo Antão (esquerda) e São Francisco (direita) e, no interior, silhar de azulejos, azuis e brancos, com dez painéis de composição figurativa alusiva à lenda e culto de Nossa Senhora do Cabo e à construção da igreja e das hospedarias.

Acessos

Sesimbra (Castelo), Cabo Espichel; EN. 379

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 37 728, DG, 1.ª série, n.º 04 de 05 janeiro 1950 / ZEP / Zona "non aedificandi", Portaria, DG, 1.ª série, n.º 280 de 29 novembro 1963 / Incluído no Parque Natural da Serra da Arrábida

Enquadramento

Rural, isolado, no extremo poente do promontório do Cabo Espichel que integra o conjunto montanhoso da Arrábida e que avança sobre o Oceano Atlântico, em cuja linha se integra, a S., o Farol do Cabo Espichel (v. IPA.00016891). Destaca-se numa plataforma inclinada para nordeste cujas altitudes variam entre os 50 m e os 150 m aproximadamente nas extremidades E. e O. e formando um conjunto de superfícies aplanadas a diferentes níveis. Este promontório natural termina numa vasta e alta arriba erosiva de abrasão marinha, com grande número de vales suspensos com níveis de praias antigas e rechãs. Toda a zona é profusa em linhas de água que se perdem em profundidade sendo as linhas de festo pouco perceptíveis. A linha de água dominante é a ribeira da Mareta que corre de E. para O. e inflectindo repentinamente num ângulo de 90º após o que desagua no mar por um vale suspenso cerca de 25 m. Esta ribeira tem o seu leito assente entre duas épocas geológicas que separam a margem esquerda, mais elevada e com uma rede menos ramificada, da margem direita, rebaixada pela erosão. O clima do local tem características mediterrânicas, com verão tendencialmente quente e seco e inverno frio geralmente húmido. A estas associa-se uma influência atlântica devido à proximidade do mar que gera maiores humidades e consequentemente uma maior amenidade nas temperaturas ao longo do ano. A disposição do cabo mantém o local abrigado dos predominantes ventos setentrionais, no entanto, é constante a presença de outras massas de ar que circulam e se encontram neste local. A insolação apresenta duas fases, uma de luminosidade crescente (janeiro a agosto) e outra de luminosidade decrescente (setembro a dezembro) o que tem influência ao nível da vegetação. Geologicamente, esta área é constituída por formações da era Mesozóica, do período Jurássico com passagem ao Cretácico inferior na Baía dos Lagosteiros. A Ribeira da Mareta separa o jurássico superior do inferior aos quais correspondem respectivamente calcários (duros ou margosos) e arenitos ou conglomerados. Ao Cretácico inferior correspondem cerca de 40 m de argilas. A proximidade do mar, através da abrasão marinha, mas sobretudo a acção tectónica e os processos de erosão hídrica de origem sedimentar são responsáveis pelo contorno que apresentam as rochas carbonatadas da superfície. Nesta zona é visível a estrutura monoclinal que decorre da inversão tectónica, ou seja, as camadas de idades mais recentes ocupam um lugar inferior às mais antigas devido a fenómenos tectónicos compressivos. Nas arribas e falésias adjacentes ao Santuário encontram-se as jazidas de icnofósseis da Pedra da Mua (v. IPA.00030888) e dos Lagosteiros (v. IPA.00030891), importante conjunto do domínio da paleoicnologia dos dinossáurios pela elevada qualidade dos icnitos e dos trilhos em que se constituem, pelo seu número, diversidade e distribuição no tempo. Em todo o promontório abunda uma vegetação rasteira bastante preservada junto à costa, em constante alternância com espaços agrícolas em faixas paralelas à linha de costa, utilizados para culturas de sequeiro. De uma forma generalizada surgem matos baixos com formas alapadas e almofadadas devido à acção eólica, constituídos por carrascais densos e rasteiros e zimbrais de Juniperus phoenica ssp. turbinata (sabina-das-praias). As espécies existentes são resistentes à salsugem com grande ocupação por Atriplex halimus (salgadeira). Em matagais abertos e nos afloramentos rochosos predominam a Euphorbia pedroi ou a Convolvus fernadesii e em locais mais protegidos surgem espécies pouco comuns em Portugal entre as quais alguns endemismos arrabidenses, como é o caso da Matthiola fruticolosa, a Fagonia cretica, a Withania frutescens ou a Lavatera marítima. Por toda a área encontra-se a Oxalis pés-caprae (trevo-azedo), infestante proveniente da África do Sul.

Descrição Complementar

Santuário com localização geográfica privilegiada, num promontório ermo e plano, com características biofísicas especiais que, conjugadas com o conjunto arquitetónico e a relação que o homem estabelece com eles, concretizam a existência de um sítio. A igreja, construída no início do séc. 18, substituindo uma anterior, segue uma estrutura maneirista, de dimensões atarracadas, mas com janelas muito largas e desproporcionadas relativamente à fachada e aos portais. No interior destacam-se as pinturas da cobertura da nave em perspetiva ilusionista e com iconografia Mariana, feitas por Lourenço da Cunha, em 1740, as únicas sobreviventes do pintor, e repintadas por ordem do rei, em 1770, pelo pintor José António Narciso. O seu restauro recente permitiu verificar, no entanto, que José António Narciso repintou ou reforçou as zonas laterais com as quadraturas sobre a pintura original que existia e que refez a zona central, repetindo o tema anteriormente existente, ou seja, Nossa Senhora da Assunção (Junqueira 200, p. 126). Segundo Giuseppina Raggi "as cores da representação central da Assunção da Virgem (...) pertencem já a uma sensibilidade mudada, falam a leve linguagem feita de tonalidades e cores claras do clima rococó, as figuras mais alongadas e finas mostram uma maior fragilidade, respeitante ao mundo pleno, feito de tonalidades cálidas, de marcado plasticismo das figuras das Virtudes, na banda baixa da abóbada, única faixa sobrevivente da pintura original" (Monumentos, p. 129). Os retábulos da nave são em barroco joanino e têm estrutura semelhante, ainda que cada um deles tenha sido feito a expensas de um círio, tendo sido reformados em 1770, na zona do remate e tribuna, o que acentuou as semelhanças. Durante o seu restauro verificou-se que no centro de cada altar havia uma cartela sobreposta, talvez em 1770, identificado o círio que o mandara fazer, a data original e a da recuperação, e sob a qual existia a original, pintada diretamente no altar, numa cartela rodeada de flores. Os retábulos colaterais são já rococós. Segundo Vítor Serrão, as duas tábuas quinhentistas, representando Santo António e São Tiago Maior, seriam possivelmente do antigo tríptico ou retábulo da antiga igreja, integrando-se no chamado ciclo "manuelino" do chamado Mestre da Lourinhã (Serrão: 1986, 76). As atuais hospedarias dos círios, de estrutura regular e esquema simétrico, sobretudo na fachada principal, substituindo as anteriormente existentes, irregulares e a fecharem-se sobre o templo, foram construídas progressivamente, à medida que aumentava a grande afluência de romeiros. Assim, em 1715 iniciou-se a sua construção, entre 1745 e 1760 intensificaram-se as obras e depois, em 1794, ampliou-se a ala N., resultando no seu maior prolongamento relativamente à ala S.. A longa sucessão das arcadas térreas das hospedarias, enquadrando o terreiro, constituem o ponto de fuga que conduz à igreja. Em eixo com esta e com o terreiro ergue-se, em frente e afastado, a mãe de água e a horta, que proviam, respetivamente, água e alguns alimentos aos romeiros. A ermida da Memória é bastante simples e surge afastada das restantes construções do santuário, distinguindo-se pela cobertura em domo pontiagudo, o que lhe dá uma certa feição mourisca, com semelhanças aos morábitos. No interior apresenta silhar de azulejos rococós com a representação da história do santuário, e na qual se procura juntar as duas principais tradições subjacentes à sua fundação. Ou seja, surgem representados os dois idosos a sonhar com a Senhora no promontório do cabo, a sua viajem para se certificarem da verdade, o seu encontro e partilha dos sonhos, segundo refere Frei Cláudio da Conceição; bem como a sua admiração ao verem a Senhora subir pela rocha, a divulgação do milagre, e a chegada de outras pessoas para admirarem o prodígio, conforme referido por Frei Agostinho de Santa Maria. A capela tinha no altar, em mármore, um painel pintado a óleo setecentista, alusivo à Aparição de Nossa Senhora do Cabo, entretanto roubado. A igreja tem a nave coberta por falsa abóbada de berço, pintada com quadraturas, compostas por colunas pintadas de vermelho, cornijas, quarteirões e capitéis predominantemente a dourado, integrando num primeiro nível albarradas, Virtudes, figurando, no lado do Evangelho, a Justiça e uma alegoria à Igreja, e, no da Epístola, a Caridade e a Esperança, centrando brasão com as armas reais e uma embarcação, e num segundo registo, separado por balaustrada, vãos em arco e cúpulas com lanternim; ao centro surge a Assunção da Virgem. Na parede testeira da nave, sobre o entablamento, existe pintura com representação perspética de estrutura facetada, separada por colunas pintadas de verde e sustentando remate em entablamento, com três nichos, em arco de volta perfeita sobre pilastras, o central em mármore e interiormente albergando imagem do Crucificado e os laterais pintados e albergando anjos com instrumentos musicais. Ladeia a estrutura cartelas com a lua (Evangelho) e o sol (Epístola), envolvidas por aletas sustentando açafates. No coro-alto, dispõe-se órgão de tubos positivo, encerrado numa caixa retangular de talha, a branco, com três castelos, divididos por pilastras ornadas de motivos vegetalistas, rematados em cornija, contracurva na zona central proeminente e encimada por espaldar formado por decoração fitomórfica vazada. Os castelos são planos, com gelosias vazadas por motivos fitomórficos. Consola em janela ladeada pelos botões de registo. Os retábulos laterais da nave têm estrutura semelhante e são em talha policroma e dourada, de planta reta e um eixo, definido por duas colunas torsas, pintadas de preto, sobre mísulas, alguns com anjos atlantes, e de capitéis coríntios, e duas finas pilastras, interiores, com friso vertical vegetalista, sobre plintos paralelepipédicos com a mesma decoração. A estrutura remata em duas arquivoltas, a exterior pintada com florões e a interior com friso vegetalista igual ao das pilastras, formando um falso frontão, sobreposto por cartela recortada com concheados e com tímpano extravasado pelo nicho central. Este é recortado por volutas e interiormente contém apainelados pintados de acantos, albergando ampla peanha galbada sustentando imaginária. Banco com apainelado contendo volutas e cartelas. Altar paralelepipédico com frontal pintado a imitar brocado, marcado por sanefa e sebastos. A capela lateral profunda, do lado do Evangelho, possui portadas de madeira, em falsos balaústres planos, rendilhados, possuindo superiormente a inscrição: "MORDOMO DO BODO DA FRISÇA DE N. SRA. / D'AJUDA DE BELÉM. FRANCO FERR. ANNO 1821.". Os retábulos colaterais da nave têm planta reta e um eixo, definido por colunas de fuste canelado, sobre plintos galbados assentes em mísulas, e de capitéis coríntios, ladeadas por apainelados sobrepostos por mísulas e baldaquinos, sustentando o remate, em falso frontão, ornado de laçarias, festões e cartela central, enquadrado por duas arquivoltas. Ao centro abre-se nicho, em arco de volta perfeita e com boca recortada, interiormente albergando imaginária sobre peanha. Banco com apainelados sobrepostos decorados com motivos vegetalistas e cartelas concheadas. Altar paralelepipédico. No segundo registo da nave surgem dez telas com cenas da vida da Virgem, figurando, do lado do Evangelho, o Menino entre os Doutores, Fuga para o Egito, Circuncisão, Nascimento da Virgem e Aparição de Cristo à Virgem; do lado da Epístola, a Assunção da Virgem, Coroação, Triunfo, Agonia e Morte da Virgem; os painéis têm molduras de talha ornadas de acantos relevados. Na capela-mor, a cobertura tem a inscrição "AVE MARIS STELLA" e os painéis de azulejo as inscrições "QVASI OLIVA" e "QVASI PALMA". Os painéis pintados do lado do Evangelho representam a Adoração dos Magos, a Natividade e a Apresentação no Templo, e têm molduras com acantos. Nos parapeitos de quatro janelas da ala N. das hospedarias existe a inscrição repartida "CAZAS DO SÍRIO DA IRMANDADE DE LIXBOA". Na fachada E. da hospedaria S. existe a inscrição: "POR GRAÇA ESPECIAL Q. O PRINCEPE REG.TE N.S. / D. JOÃO VI Q. D. G.DE FOI SERUIDO, CONCEDER POR SEU / REGIO AUIZO D. 8 DE MAIO DE 1804 DETREMINOU / Q. TODAS AS PESSOAS Q. QUIZEREM UENDER NESTE / ARRAIAL DE N. S. DO CABO TODA / A QUALI.DE DE VIUERES / LIUREM.TE SEM PAGAREM PENÇÃO ALGUMA O TERRA/DO EM TODOS OS SIRIOS E FESTEUID.ES Q. SE FIZEREM A / MESMA S. ESTE SE FEZ PELO SIRIO DOS SALOIOS EM / O ANNO D. 1806 P. PPO.COR J.A.S." Outras lápides das hospedarias têm as inscrições: "ESTAS CAZAS / MANDOV FAZER / JOÃO JORGE MILANE / S DE NASSÃO E VISC / ONSVL DO IMPERIO / MOR EM BELEM"; "ESTAS CA / SAS SÃO / P ...ELA / SALTOE / BAIXO / 1724"; e "CAZAS DE NOSSA S. / DO CABO FEITAS, POR / CONTA DO SIRIO DOS / SALOIOS NO ANNO DE / 1737 / P. ACOMODAÇÃO DOS / MORDOMOS QUE / VIERAM DAR BODO". Além das habitações dos romeiros, existem corpos interligados e acrescentados, nomeadamente a casa dos festeiros; o armazém da berlinda, as cozinhas, casa das lenhas, cavalariças e casa do forno dos romeiros, todos no topo O. da ala N., onde ficava também o alojamento da Família Real; e casa da ópera, em ruínas, com acesso por um corredor que liga o terreiro ao exterior a N., onde existia uma porta principal para o foyer e duas laterais para as salas. Um dos painéis da fachada lateral esquerda da Capela da Memória tem a inscrição "A sceculo non est auditum qui / Joan Cap. 9:32". Os painéis figurativos da Ermida da Memória têm as seguintes inscrições: "Sonham dous venturosos velhos / que apparecia a Senhora / n'este mesmo logar"; "Põem-se a caminho para se certificarem da verdade, onde se encontram, e comunicam entre si os sonhos"; "Chegando a este sitio, vem / com admiração subir a / Senhora pela rocha"; "Publicada por elas a maravilha, vem outras em sua companhia para admirarem o prodígio"; "Edificou-se esta ermida para os primeiros cultos"; "Com a concorrência das gentes se fabrica outra, no logar onde hoje se vê a majestosa egreja"; "Fórma do arraial d'aquelles primeiros tempos"; "Dá-se o principio à majestosa egreja, em 1707"; "Faz-se o novo arraial"; "Entrada de festeiros no novo arraial".

Utilização Inicial

Religiosa: santuário

Utilização Actual

Religiosa: santuário

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Setúbal) (igreja e hospedarias da ala S.) / Pública: estatal (hospedarias da ala N.) / Municipal (terrenos)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: João Antunes (1701-1707), (atr.). BORDADOR: José Camanha (1770). EMPREITEIROS: António da Costa Saraiva (1964-66, 1972-1975); Fernando Branco de Almeida (1969, 1971-1972); Lourenço, Simões & Reis, Ldª (1990). FÁBRICA DE AZULEJOS: Fábrica de Belém (1770). OFICINA DE RESTAURO: Junqueira 220 (200-2001). PEDREIRO: João Jorge (1745-1760). PINTORES: José António Narciso (1770); Lourenço da Cunha (1740); Pedro Teixeira (1770).

Cronologia

1366 - referência ao culto de Nossa Senhora do Cabo num documento da chancelaria de D. Pedro I; 1385 / 1410 - datas apontadas como sendo a do primeiro Compromisso da Confraria; séc. 15 - construção da ermida da Memória, no local onde, segundo a tradição, terá sido descoberta a imagem milagrosa de Nossa Senhora, por dois idosos, um da Caparica e outro de Alcabideche, avisados em sonhos por Deus *1; 1414 - carta de doação da Ermida de "Santa Maria do Cabo" por Diogo Mendes de Vasconcelos, comendador de Sesimbra, ao convento do Carmo, de Lisboa; 1428 - doação da ermida e lugar de Santa Maria da Pedra de Mua ao convento de São Domingos de Lisboa, por Diogo Mendes de Vasconcelos; 1430 - os frades dominicanos recusam a oferta porque "o sitio he muyto áspero, & deserto", passando o local para a alçada da Câmara de Sesimbra, que lá mantinha um ermitão; instituição do "giro" entre 30 freguesias da margem N. do Tejo, dos concelhos de Cascais, Sintra, Loures, Oeiras, Lisboa, Odivelas e Mafra, com deslocação anual ao santuário, constituindo o denominado Círio Saloio *2; 1431 - segundo as "Memórias..." decorriam 21 anos "sobre o aparecimento da milagrosa Imagem de N. Senhora do Cabo, segundo a melhor tradição, e da edificação da primeira Ermida no Sítio do Cabo Espichel"; 1432 - data da fundação da primeira confraria do círio saloio durante o giro de São Romão de Carnaxide; 1450 - a freguesia de Nossa Senhora da Ajuda inicia o costume de distribuir bodo pelos pobres; 1490 - durante o círio de Santa Maria e São Miguel de Sintra decide-se a edificação de uma igreja (PATO, p. 309); 1495 - durante o círio de Nossa Senhora da Misericórdia de Belas, inicia-se a construção da primeira igreja de Nossa Senhora do Cabo, visto a ermida ser demasiado pequena para a quantidade dos romeiros; 1511 - referência a esta data como sendo a do centenário do achado da imagem; 1516 - visitação à ermida refere que o templo possuía "hu retavollo pequenino cõ suas portas em que estão pintados os tres magos"; em torno da igreja existem hospedarias, sem planeamento, construídas pelos romeiros e confrarias; 1550 - segundo J. R. Guimarães, D. Álvaro de Lencastre, duque de Aveiro, agrada-se do sítio e consegue incorporá-lo na sua casa; 1585, 15 maio - bula apostólica de salvaguarda dos romeiros com várias medidas de protecção; 1600 - as hospedarias dispunham-se de forma circular quase fechada; 1662 - sob a alçada do quarto Duque de Aveiro, D. Raimundo de Lencastre, manda-se construir um templo maior mas, devido a ter sido condenado à morte, acaba por não se realizar; instituição da confraria de Nossa Senhora do Cabo; posteriormente, o santuário do Cabo e restante património da Casa de Aveiro é confiscado e incorporado na Casa do Infantado; 1672 - construção do forte de Nossa Senhora do Cabo nas imediações do santuário, de que subsiste atualmente apenas um pequeno muro; 1680 - círio de Lisboa oferece a maquineta de prata do retábulo-mor, para colocação da imagem de Nossa Senhora do Cabo; séc. 17 / 18 - a família Real, nomeadamente D. Pedro II e a Casa do Infantado, concede atenção especial ao santuário, financiando as obras; 1701 - início da construção da atual igreja, no local onde se erguia a primeira e da qual não existem vestígios, sob a orientação de D. Francisco, da casa do Infantado, geralmente atribuída ao arquiteto João Antunes que, como arquiteto da Casa do Infantado, promotora da obra, e arquiteto régio, seria o responsável pelo risco da igreja e da regularização das hospedarias; 1704 - a freguesia de Santa Maria dos Olivais participa nos Círios saloios pela primeira e única vez; 1707, conclusão da igreja e inauguração da mesma; 7 - 9 julho - cerimónia da transladação da imagem da Senhora do Cabo desde a ermida para a nova igreja, tendo assistido D. Francisco, filho de D. Pedro II, senhor da Casa do Infantado; 1709 - a freguesia de Bucelas abandona o Círio saloio; 1711 - a freguesia de Unhos (Loures) abandona o Círio saloio; 1715 - início da construção das hospedarias atuais, substituindo as casas dos romeiros que se dispunham em volta do primitivo templo; 1716 - freguesia de Arranhol abandona o Círio saloio; 1718 - 1722 - feitura dos vários retábulos da nave a expensas dos diversos círios e seguindo modelo idêntico; 1718 - feitura do altar de Nossa Senhora da Conceição pertence ao Círio de Almada; 1720 - feitura do altar de São Joaquim e de Santa Ana pelo Círio dos saloios, do altar do senhor Jesus do Bonfim pelo do círio de Setúbal e do de São José pelos círios de Arrentela e Amora; 1720 - construção da estrada da Apostiça para uso dos círios, pavimentação de outras estradas e abertura de fontes ao longo do percurso; 1720 - 1722 - feitura da imagem de São Pedro por iniciativa e custeada pelo círio de Setúbal; 1722 - feitura do altar de São Pedro pelo círio de Palmela e o de São Lourenço de pelo do Azeitão; a freguesia de Santo André de Mafra abandona o círio saloio; 1723 - armam-se palanques para tês dias de touros no Terreiro do Paço, em Lisboa, por iniciativa da Irmandade de Nossa Senhora do Cabo e sendo seu provedor o Infante D. Francisco, revertendo a receita em favor das obras do Santuário; 1730, cerca - feitura dos painéis de azulejos da capela-mor, com representação de motivos Marianos; 1740 - D. João V encarrega o pintor Lourenço da Cunha para pintar a cobertura da igreja e oferece uma berlinda para o transporte da imagem da Senhora; 1742 - feitura do órgão do coro-alto, conforme data inscrita; 1743 - pintura dos painéis pintados sobre tela da nave por autor não identificado, por vezes atribuído ao pintor Lourenço da Cunha; 1745 - 1760, entre - intensificação das obras das hospedarias, devido à grande afluência de peregrinos, com sua ampliação e prolongamento pelo pedreiro João Jorge; 1750, cerca - feitura dos painéis de azulejos da Ermida da Memória; 1751 - os romeiros de São João Degolado da Terrugem oferecem uma imagem peregrina que passa a acompanhar o pendão de Nossa Senhora do Cabo nos Círios saloios; os círios saloios instituem capelania no templo; 1755, 1 novembro - sismo provoca a queda de parte da cobertura da nave; 1758 - 1759 - fabricam-se vários objetos de prata para o santuário; 1770 - sendo juiz da Irmandade o rei D. José, procede-se a grandes obras no santuário: reforma dos retábulos da nave, visto eles serem desiguais entre si, dado terem sido executados pelos vários círios e segundo as suas posses; provável feitura da tribuna real na capela-mor; repinte da pintura do teto da nave por José António Narciso, por ordem e custeado pelo rei, e sob superintendência de Pedro Teixeira; construção da casa da água, com azulejos da Fábrica de Belém, "para descanso e refrescamento e lazer", o aqueduto e os tanques de abastecimento na horta-jardim, denominada o "cercado" *3; construção da "casa da ópera", pelo círio de Lisboa, com cenários e acomodações; o monarca dota o tesouro com jóias e alfaias, incluindo paramentos bordados por José Camanha, bordador da casa real, e diversas peças de prata; 24 - 27 maio - toda a família real assiste à festa de Nossa Senhora do Cabo, acompanhado por muitos nobres; armam-se barracas na parte S., houve três tardes de touros e o rei dá 16 bois para o bodo; depois das festas continuam as obras nas hospedarias; 1777 - data do guarda-vento em madeira do Brasil; 1780 - Círio de Lisboa acrescenta o altar de Nossa Senhora da Conceição; 1784 - deslocação da rainha D. Maria I ao santuário; 1790 - construção do farol, a cerca de 600 m a S. do santuário; 1794 - prolongamento da ala N. da hospedaria; 1807 - as tropas francesas de Junot roubam parte do tesouro do santuário; 1810 - com a ida da corte e nobreza para o Brasil, decrescem as festas e o culto a Nossa Senhora do Cabo; D. Miguel, o juiz do círio de Belas, representado pelo visconde de Santarém, oferece uma nova berlinda à Senhora; 1821 - data pintada nas portadas da capela lateral profunda do Evangelho; 1833 - apreensão do tesouro pelas tropas miguelistas; 1848 - D. Maria II oferece bandeira ao santuário com imagem de Nossa Senhora do Cabo; 1872 - ainda existe o arquivo do santuário, entretanto desaparecido; 1887 - terminam as romarias ao cabo Espichel pelos círios saloios; a imagem peregrina deixa de ir ao santuário, quando a freguesia de Belas entrega a imagem diretamente à freguesia seguinte, sem que esta fosse ao santuário; passa a ser transmitida diretamente entre as freguesias do "giro"; 1888 - rainha D. Maria Pia oferece a Nossa Senhora da Misericórdia de Belas uma nova bandeira para os anjos; 1891 - a imagem volta ao santuário; 1898 - data do novo compromisso; a partir desta data, as freguesias do giro deixaram de visitar o santuário cada uma em seu ano, continuando porém a réplica da imagem da Senhora a circular entre elas com a mesma periodicidade; estabelece-se também que, de 26 em 26 anos, sempre que um giro se fechasse, os círios das freguesias peregrinariam todos juntos ao santuário do cabo; 1902 / 1903 - rainha D. Amélia é juiz a honorária dos círios de São Martinho de Sintra e de Almargem do Bispo; 1904 - data das pinturas da cobertura da tribuna, provavelmente executadas para a visita do rei D. Carlos; 1910 - a imagem peregrina que devia ter ido para Carnaxide permanece em Alcabideche e os círios são interrompidos; 1926 - a freguesia de Odivelas retoma a tradição dos círios saloios; 1976 - a imagem da Senhora volta ao santuário; 1976 - 1978 - os círios são interrompidos; 1986 - último ano em que o giro se completa, quando a freguesia de Alcabideche recebe a imagem de Santa Maria e São Miguel de Sintra; 1995, 15 novembro - Decreto 40/95, DR 267 autoriza a Confraria de Nossa Senhora do Cabo Espichel a doar ao Estado a ala N. do santuário e a recuperação de todo o conjunto, para adaptação a uma pousada da Enatur; 2000, 15 setembro - escritura de doação por parte da Confraria de Nossa Senhora do Cabo Espichel ao Estado Português da ala N. do santuário, imóvel composto de "rés-do-chão e primeiro andar, tendo cada um dos pisos quinze divisões (...) sendo a doação sujeita às seguintes condições: o imóvel doado tem de ser destinado à construção de uma unidade hoteleira, não podendo o ser-lhe dado outra ocupação sem o acordo expresso da entidade dadora; deverão de ser realizadas todas as obras necessárias ao restauro da Ala Sul, efectuando a recuperação e reabilitação da Hospedaria de peregrinos e dos respectivos serviços de acolhimento ao público".

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de pedra e tijolo, rebocada e caiada; placas e cintas de betão; pilastras, pilares, frisos, cornijas, molduras dos vãos, pináculos, relógio de sol e outros elementos em cantaria calcária; revestimentos interiores da igreja, púlpito, acrotérios da teia, fonte da mãe de água e outros em mármore; retábulos, guarda e baldaquino do púlpito em talha policroma e dourada; telas pintadas; pinturas murais; coro-alto e respetiva guarda em madeira; silhares de azulejos azuis e brancos; pavimentos de cantaria calcária, mármore e soalho; cobertura de telha.

Bibliografia

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Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DRML

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRML, DGEMN /GSRP, SIPA; Associação de Reitores dos Santuários de Portugal / Paulinas

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSARH, DGEMN /GSMN, DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

1758 - restauro da ermida da Memória; 1758 / 1759 - restauro de imagens; 1810 - restauro do órgão, por ordem de D. Miguel; 1876 - estando o santuário em muito mau estado, os Duques de Palmela mandam repará-lo; 1904 - data das pinturas na zona do retábulo-mor e talvez nas pinturas dos tímpanos da nave, ambos praticamente refeitos; 1940 / 1950 - feitura de várias intervenções descaraterizantes, nomeadamente o repinte dos retábulos da nave com tintas industriais espessas e de má qualidade e cor; 1955 - pároco manda executar obras nalgumas dependências na casa dos círios, na arcada junto ao templo, as quais não prosseguiram faltando a cobertura e acabamentos interiores; informação de não terem sido repostas nos seus lugares as cantarias apeadas dos vãos, que são guarnecidos com betão armado; DGEMN: 1964 - limpeza do terreiro, consolidação de troços das fachadas que ameaçavam ruir; arranjos urgentes nas coberturas e nos rebocos exteriores; 1964 / 1965 - obras urgentes de conservação e beneficiação na ala N. das hospedarias, pelo empreiteiro António da Costa Saraiva: execução de escoramentos em coberturas e pavimentos de modo a conservar o existente; levantamento de telha e aproveitamento de materiais possíveis, para execução de cintas de travamento de betão armado; demolição de alvenaria em elevamento e nas entregas dos arcos a fim de permitir bom encastramento de vigas e cintas de betão armado; recalcamento de fundações de paredes exteriores e regularização dos pisos térreos existentes com camada de enrocamento e massame para futuro acabamento; aproveitamento de pedra e escoramento do pavimento das arcadas; restauro dos pilares e construção de pilares na zona que ruiu, aproveitando o material existente e fornecendo o que faltar, incluindo bases e capitéis; colocação de cobertura com telha portuguesa e estrutura em barrotes de eucalipto semelhantes aos existentes; regularização dos pavimentos térreos e do terreiro da igreja; limpeza e desentupimento de todo o aqueduto a fim de conduzir as águas; 1966 - trabalhos de consolidação do santuário, que são o prosseguimento das levadas a anteriormente, adjudicadas a António da Costa Saraiva: execução de escoramentos em coberturas e pavimentos, de modo a conservar o existente da ala N. (2ª fase) e da ala S.; levantamento de beirado de duas fiadas de telha na largura das paredes exteriores para execução de cintas de travamento de betão armado incluindo limpeza de telha nas fachadas principal e posterior; demolição de alvenaria de pedra em elevação nas paredes interiores e exteriores de modo a permitir a execução de cinta de betão armado; consolidação de alvenarias em elevação, gateando e regularizando toda a alvenaria; betão armado em cintas e vigas; reposição de telhas na zona dos beirados; encasque de paredes existentes; 1968 - elaboração de projeto de recuperação do conjunto arquitetónico, elaborado pelo arquiteto Francisco Keil do Amaral, António Pinto de Freitas e Francisco da Silva Dias, financiado, em parte, pela Fundação Calouste Gulbenkian; o projeto de recuperação previa a criação de núcleo museológico, ocupando algumas salas e a antiga cadeia do santuário; 1969 - trabalhos de recuperação do santuário, nomeadamente as "habitações" para adaptação aos fogos da população que se prevê manter no local, por Fernando Branco de Almeida: a nível das coberturas e pavimentos, em péssimo estado de conservação, procede-se ao apeamento das coberturas, incluindo aproveitamento da telha de canudo, apeamento de todos os pavimentos de madeira, demolição de todos os tabiques de madeira e de paredes de alvenaria que não satisfaçam o projeto, sondagens e conveniente consolidação das fundações de todas as paredes exteriores e interiores; picagem dos rebocos dos paramentos de todas as paredes; execução de pilares, vigas, cintas e lajes de betão armado, da estrutura da cobertura em elementos de betão pré-esforçado, tijoleira cerâmica, lâminas de compressão e ripa moldada e solidária; assentamento de telha; massame nos pavimentos térreos e construção de alvenarias e coberturas para as futuras e anexas instalações sanitárias; emboço e reboco dos paramentos; 1970 - recuperação da cobertura da igreja, assente em cinta e estrutura em betão armado; 1971 - trabalhos de recuperação da zona do setor mais desmoronado na área reservada a museu: levantamento de telha da cobertura, apeamento das estruturas de madeira e remoção, demolição das divisórias existentes ou paredes de alvenaria que não façam parte do projeto, abertura de fundações e seu calçamento, construção de alvenaria de tijolo, de lajes de pavimento e das coberturas; execução de cintas de betão; 1971 / 1972 - trabalhos de recuperação por Fernando Branco de Almeida; 1972 / 1973 - obras de recuperação no lado nascente da ala N. para a instalação do albergue e da pousada, por António da Costa Saraiva, com consolidação das alvenarias e substituição de pavimentos e coberturas e algumas paredes interiores; 1973 / 1974 - trabalhos de recuperação do troço poente da ala N. adjudicadas a António da Costa Saraiva: com demolição de estruturas de madeira em cobertura, demolição das alvenarias que ameaçam ruína e já não permitem consolidação; abertura de roços constituindo caixas para a construção de cintas e pilares de betão armado; abertura de caboucos para a reconstrução de paredes de alvenaria a demolir, dado que estas estão assentes quase à superfície do terreno; construção de pavimentos em lajes aligeiradas de betão e tijolo, bem como a esteira da cobertura; colocação de algerozes em chapa de zinco; escavação de caixas para a construção de massames no piso térreo; 1974 / 1975 - continuação dos trabalhos de recuperação do troço poente da ala N. e revisão de beirados da ala S. das hospedarias, por António da Costa Saraiva; 1983 - orçamento relativo ao restauro dos azulejos da Ermida da Memória e ao levantamento e restauro dos dois painéis exteriores com colocação no interior da mesma, pela AZULARTE, Azulejaria de Arte, Ldª;1986 - aprovação de projeto de recuperação do conjunto arquitetónico, prevendo uma ocupação para atividades religiosas, turísticas e culturais, através da comparticipação de várias entidades; posteriormente, decide-se não prosseguir com as obras de recuperação até se estabelecer a forma jurídica mais adequada, que justificasse o avultado dispêndio de verbas prevista, face à situação patrimonial do conjunto, que sendo da confraria de Nossa Senhora do Cabo Espichel, não se encontrava devidamente realizada; 1986, 25 julho - despacho conjunto do Ministro da Educação e Cultura, do Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, e do Secretário de Estado do Turismo, criando um grupo de trabalho a quem a DGEMN dá o apoio necessário com vista ao estabelecimento das bases e finalidade em que se deverá processar a recuperação do santuário, de acordo com o projeto de arquitetura já aprovado; o grupo de trabalho será constituído por dois representantes da DGEMN, um representante do IPCC, um representante da Direção-Geral de Turismo e um representante da Enatur; 1987, 6 janeiro - elaboração de relatório pelo grupo de trabalho composto pelos arquitetos Pedro Quirino da Fonseca, Leonor Figueira, Manuel Samora, José Alves Gonzalez, José Fernando Canas e pelo Dr. Lino Martins, com avaliação e propostas de alteração ao projeto anteriormente elaborado pelo arquiteto Francisco Keil do Amaral; 10 fevereiro - elaboração de relatório final; previa-se que a ala S. fosse ocupada por instalações da Confraria, algumas habitações permanentes, uma hospedaria destinada a acolher peregrinos e uma zona de serviços e acolhimento público, que poderia abranger também a casa arruinada junto àquela ala; na ala N. ficaria instalada uma pousada e ainda algumas oficinas de artesanato e um auditório público, em cujo átrio se instalaria um pequeno museológico sobre o Cabo Espichel; conservação da instalação elétrica da igreja; 1989 - elaboração de novo projeto de adaptação do santuário do Cabo Espichel para instalação de pousada; 1990 - substituição de coberturas da igreja, por Lourenço, Simões & Reis, Ldª; 1995, 27 dezembro - tomada de posse administrativa das alas das hospedarias pela DGEMN; 1996 - referência à imperiosa desocupação das hospedarias para se proceder à sua recuperação e salvaguarda; 1997 / 1998 - obras exteriores de conservação na igreja: rebocos, caiação, limpeza de cantarias, restauro de caixilharias e ferragens, instalações sanitárias, elétrica, redes de água e esgotos; 1998 - conclusão das obras exteriores e de infraestruturas; 1999 - restauro do teto do altar-mor; talha e molduras de quadros; 2000 / 2001 - execução de projeto de reabilitação e restauro abrangendo a ala N. das hospedarias, com reutilização e pequena ampliação do topo O. da mesma, e a ala S.; tratamento do reboco, suporte e pinturas da cobertura da nave e respetivos tímpanos; fixação, limpeza e reintegração das pinturas; durante a limpeza descobre-se a união da parte central da cobertura nova (1770) com os laterais existentes originalmente, visto que o estuque que vinha do centro se sobrepunha aos laterais, havendo ainda restos de pintura subjacente; restauro dos retábulos com limpeza, desinfestação e consolidação do suporte; levantamento integral do soalho de madeira que existia até ao presbitério; restauro e colocação nos seus antigos lugares dos balaústres em brecha da Arrábida da antiga teia do presbitério; recuperação de caixilharias; iluminação dos tetos, do altar-mor e dos laterais e das telas; reboco e caiação; 2002 - projeto e execução de novo ambão, mesa de altar, bancos e genuflexório; CMSesimbra: 2008 - arranjo do terreiro frontal, cobrindo o pavimento de gravilha e colocando pilaretes a toda a volta do mesmo; entaipamento de todos os vãos no corpo da hospedaria a S. e os vãos do primeiro piso da hospedaria a N..

Observações

*1 - A origem do culto de Nossa Senhora do Cabo está ligada a duas lendas. A primeira (que se subdivide em duas variações) relata o achado de uma imagem de Nossa Senhora, esquecida no Cabo de Espichel. Segundo uma primeira variante, escrita em 1701, por Frei Agostinho de Santa Maria, "Os venturosos, e os que primeyro descobrirão este rico thesouro, forão alguns homes da Caparica, que hião àquella serra a cortar lenha; e daqui teve princípio serem elles os primeiros tambem, que a festejassem". A segunda versão, e a mais conhecida, é registada por Frei Cláudio da Conceição, em 1817. Refere-se ao achado de dois idosos, um de Alcabideche e outra da Caparica, que tinham visto a imagem da Virgem em sonhos no promontório de Espichel. Após o sonho, o homem de Alcabideche dirige-se ao local ali se encontrando com a devota mulher da Caparica, "a qual sabendo tambem do maravilhoso caso, com indústria apressará os passos, deixando o Saloio entregue ao somno, e chegando primeiro ao sítio do Cabo, ficará para sempre Caparica com a preferencia dos Cultos". O idoso acorda e, não achando a mulher que se oferecera para o acompanhar na jornada, "ardendo seu peito na mais viva chamma de amor, apressa os passos para os últimos fins do Norte, seguindo a Luz do Sonho que tivera. (...) embrenha-se em suas escarpas róchas, entrenha-se nas matas, cruza fragosas veredas como Moysés as do Oreb, e chega à presença de Maria. (...). Sim, vê a Prodigiosa Imagem da Mãi de Deos, a quem já adorava a venturosa Caparicana. O Saloio se prostta junto a ella e reverente (...) e conhecendo ser vontade de Deos, que se desse Culto á Santissima Mãi naquelle lugar retirado, na solidão do deserto assim o promettem, e se tem praticado até ao presente. (...) Divulgado por toda a parte o prodigio, fez-se a Ermida, e nella se colocou a Prodigiosa Imagem, que he lindissima, e tão magestosa, que em todos os que a veem infunde respeito". Relativamente ao próprio achado da imagem, existem alguns pormenores divergentes noutros relatos. O primeiro e mais antigo, representado no silhar de azulejos, refere que ambos os velhos teriam partilhado o sonho. As outras divergências são transmitidas por um documento de 1828, publicado por Heitor Baptista Pato. Segundo o autor, as pequenas diferenças são: a visão, e não sonho, de uma luz sobre o Espichel; o sonho como explicação do significado da luz misteriosa, ou seja, uso do sonho como oráculo; a aparição da Senhora nos sonhos, tanto do velho de Alcabideche como da Caparica; início do percurso a um sábado; e a construção de uma ermida, com ramos de alecrim, no mesmo dia do achado da imagem. A segunda tradição do culto de Nossa Senhora do Cabo é transmitida por Frei Agostinho de Santa Maria, no Santuário Mariano. "Outros affirmarão que a Senhora apparecera na praya que lhe fica em baixo da mesma penha, aonde se aedifcou a Ermidinha, e que apparecera sobre uma jumentinha, e que esta suba pela rocha assima, e que ao subir hia firmando as mãos, e os pés na mesma rocha, deixando impressos nella os vestígios das mãos, e pés; e que de ser isto assim o affirmava a tradição dos que virão estes mesmo sinaes, que já hoje tem gastado, e consumido o tempo. E como a Deos lhe não he impossivel obrar mayores maravilhas, bem podemos crer obraria esta, para que assim fosse por ella buscada, evenerada aquella Santissima Imagem. Aquella Ermidinha que se fundo no lugar aonde a Senhora parou, naquella liteirinha vivente que a levava, desfez muytas vezes o tempo; mas a devoçam dos que a servem, a reformou outras tantas vezes, pezar dos seus rigores". A versão lendária que se tornará mais conhecida é a que é divulgada no séc. 19 por Frei Cláudio da Conceição, não integrando nenhuma mula. *2 - Até 1798 todas as freguesias que faziam parte do "giro" do círio saloio visitavam em círio o santuário de Nossa Senhora do Cabo, cada uma no seu ano, ou seja, com intervalos de 30 anos e, depois de 1722, de 26 anos, no domingo da Ascensão. A freguesia à qual competia realizar o círio em determinado ano partia um ou dois dias antes daquela data, organizava a festa no Cabo e, no final, o juiz do círio entregava a bandeira da Senhora ao juiz do círio da freguesia que lhe seguia no "giro". Atualmente, a romaria constitui uma festa frequentada quase exclusivamente por habitantes do concelho de Sesimbra, sendo organizada por uma Comissão de festas composta maioritariamente por pescadores. *3 - A horta era assegurada por um criado de D. José I, Maurício Ferreira. Posteriormente, o próprio rei D. Pedro III distribuía gratuitamente os produtos da horta pelos romeiros durante a festividade e, no resto do ano, pelos moradores do Cabo.

Autor e Data

Paula Noé 2013 (no âmbito da parceria IHRU / Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja)

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