Paço Real de Salvaterra de Magos e Capela

IPA.00006162
Portugal, Santarém, Salvaterra de Magos, União das freguesias de Salvaterra de Magos e Foros de Salvaterra
 
A nível volumétrico e estrutural a igreja inscreve-se na gramática maneirista mas a planimetria aproxima-se já do Barroco com a adopção de um espaço centralizado conferido pelo octágono inscrito num quadrado; é uma solução típica do Barroco setecentista, utilizada em particular por João Antunes que a ela recorre na Igreja do Menino de Deus (optando porém por cúpula sobre pendentes) . A presença aqui de tal planimetria revela-se pois precoce (logo no Séc. 16 a ter em consideração a data da fundação da capela) ; será todavia prudente entrar em linha de conta com as renovações seiscentista e setecentista do Paço que poderão ter-se estendido ao templo. Hoje isoladas entre si, a Capela e a Falcoaria do antigo Paço Real formavam outrora um núcleo comum, compreendendo um vasto conjunto de edifícios e espaços descobertos, incluindo, entre outros, hortas, jardins, aposentos da família real, comitiva e serviçais, Casa da Ópera, Residência do Almoxarife, cozinhas, cocheiras, cavalariças e anexos agrícolas. Para além da Capela, das Casas da Falcoaria e de alguns elementos dispersos, restam apenas duas chaminés das antigas cozinhas, hoje incorporadas num edifício onde está instalado um estabelecimento comercial. As casas do antigo Paço Real de Salvaterra de Magos tinham como eixo viário estruturados principal a "vala" ou "sangria", canal fluvial artificial com capacidade para cerca de 60 embarcações e munido de porto de rio, que, correndo a N. da Vila de Salvaterra, permitia o transporte directamente do Tejo, para o Paço e para a Falcoaria.
Número IPA Antigo: PT031415040001
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Residencial senhorial  Paço real    

Descrição

Planimetria longitudinal composta, corpo octogonal inscrito num quadrado e capela-mor de dois tramos e três naves; volumes articulados da sacristia e outras dependências a N.; massas dispostas na horizontal; cobertura diferenciada em telhado de duas e quatro águas. Fachada principal (colocada na transversal relativamemte ao eixo longitudinal S. - N.) de pano único definido por cunhais de cantaria; dois pisos, rasgado o inferior por pórtico arquitravado de frontão triangular sobreposto de óculo; à direita janelão cego, de verga e ombreiras molduradas, munido de frontão triangular coroado de cruz de pedra; no piso superior, ao centro, janela cega de verga alta moldurada; remate em cornija. No INTERIOR, espaço diferenciado: a S. endonártex; corpo octogonal formado por colunata toscana que a S. e nos quatro ângulos se embebe nos muros; arcaria de volta perfeita descarregando nas colunas munidas de altas impostas, molduradas no seguimento da cornija arquitravada que corre os muros e se prolonga pela capela-mor; cobertura em cúpula sobre trompas; naves laterais comunicando com a central, com a sacristia e demais dependências a N. ; cobertura da nave central em abóbada de berço, de dois tramos, decorada com pinturas polícromas e douradas, de cariz vegetalista; arco triunfal de volta perfeita assente em pilares rectangulares adossados de meias colunas toscanas; retábulo-mor de arquivolta tripla e colunas compósitas em talha dourada.

Acessos

Largo dos Combatentes; Praça da República

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 39 175, DG, 1.ª série, n.º 77 de 17 abril 1953 *1

Enquadramento

Urbano. Capela integrada na malha urbanística da vila e flanqueada por casas de habitação, algumas destoantes; fachada principal abrindo para via de circulação rodoviária. Nas proximidades, a NO., localiza-se a Falcoaria do antigo Paço Real (v. PT031415040005).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: paço real

Utilização Actual

Cultural e recreativa: edifício multiusos

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, protocolo de cedência de 16 Novembro 1998

Época Construção

Séc. 16 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETOS: Baltazar Álvares (1581); Custódio Vieira (séc. 18); Giacomo Azzolini (séc. 18); João Carlos Bibiena (séc. 18); João Frederico Ludovice (séc. 18); Manuel do Couto (1689); Miguel Arruda (séc. 16); Petronio Mazoni. CARPINTEIROS: André da Costa (séc. 17); António Franco (1640); António Gonçalves (1625); António Pires (séc. 16); Bartolomeu Rodrigues (séc. 17); Francisco Carvalho (1779); Manuel Gomes (séc. 18); Sebastião da Costa (1649); Simão Dias (séc. 16). ENGENHEIRO: Custódio Vieira (1734). ENGENHEIRO MILITAR: Carlos Mardel (séc. 18). MESTRE-DE-OBRAS: António Mendes (séc. 16); José Rodrigues Ramalho (1707); Miguel de Arruda (séc. 16). PEDREIROS: Atanásio Barroso (1636); João Rodrigues (séc. 16).

Cronologia

1383 - Assinado dentro do Palácio Real de Salvaterra de Magos, o contrato de casamento da infanta D.Beatriz com D.João I de Castela, sendo de presumir que o Paço já existisse; Séc. 16, primeira metade - Reedificação do Paço por ordem do Infante D. Luís, Duque de Beja, para quem transita o senhorio da Vila de Salvaterra; 1514 - Fundação da capela pelo Infante D. Luís; 1576, 07 Dezembro - nomeação de António Mendes como mestre-de-obras do paço, por falecimento de Miguel de Arruda; recebia 2 moios de trigo, pagos pela jugada de Santarém; séc. 16, 2.ª metadel - por ordem do Cardeal D. Henrique, o senhorio de Salvaterra, herdado por D. António, Prior do Crato, é integrado com todas as suas propriedades na casa real; 1581 - nomeação de Baltazar Álvares para mestre das obras dos Paços de Santarém, Almeirim e Salvaterra; séc. 16, finais - Filipe II atribui um orçamento anual de 80 mil reis para ampliação e conservação do Paço; 1610 - falecimento do carpinteiro do paço, António Pires, sucedendo-lhe no cargo Bartoloemu Dias; anteriormente era carpinteiro Simão Dias; 1616, 28 Janeiro - nomeação de João Rodrigues como pedreiro do paço, com o ordenado de 2 moios de trigo; 1625, 16 Abril - é nomeado mestre de carpintaria do Paço António Gonçalves; 1636, 06 Agosto - nomeação de Atanásio Barroso como mestre de pedraria do Paço; 1640, 23 Maio - nomeação de António Franco como carpinteiro do Paço; 1649 - é carpinteiro do Paço André da Costa, filho de Sebastião da Costa, a quem sucedeu; 1689, 15 Dezembro - Manuel do Couto é nomeado Mestre de Obras do Paço; 1690 - ampliação e renovação do Paço por ordem de D. Pedro II, iniciando-se a pintura do teto; 1707, 29 maio - é mestre-de-obras das hortas do palácio José Rodrigues Ramalho; séc. 18, meados - ampliação e remodelação dos edifícios do Paço e construção de uma casa da Ópera por ordem de D. José; 1734 - 1747 - a obra do Paço é dirigida por Custódio Vieira; é carpinteiro do Paço Manuel Gomes; 1747 - Carlos Mardel sucede a Custódio Vieira na direcção da obra do Paço; 1753 / 1792 - Representam-se numerosos espectáculos de ópera da autoria de Jomelli, Cimarosa, Sousa Carvalho e David Peres entre outros, com cenários de Bibiena, Azzolini, Piolti e Oliveira Bernardes (CORREIA, 1990); 1755 - O Paço é gravemente danificado pelo terramoto, sendo nos anos seguintes, objecto de profundas obras de restauro e reconstrução, que incluiram a casa da Ópera e a Falcoaria; Séc. 18, segunda metade - São numerosas as deslocações da família real a Salvaterra; 1775 - Construção de um novo picadeiro, junto ao Paço; 1779, 17 Março - trabalha no paço o carpinteiro Francisco de Carvalho, nomeado mestre das obras, por D. Maria I; 1785 - feitura de uma Nossa Senhora da Piedade pela escola de Machado de Castro; 1788, 29 de Janeiro - Casamento do duque de Lafões com D. Henriqueta de Menezes, filha do Marquês de Marialva, realizado na Capela Real de Salvaterra, tendo sido padrinhos a rainha D. Maria I e o Príncipe D. José; séc. 18, finais - Mantém-se a conservação periódica do Paço, mas as estadias da família real vão sendo progressivamente mais raras; risco para o teatro do Paço, feito por João Carlos Bibiena; 1815 - alojamento das tropas francesas; o almoxarife do Paço faz insistentes pedidos de obras; 1817 - Incêndio provoca graves danos no Paço, salvando-se apenas a Capela, a Falcoaria, a casa da Ópera e duas das nove chaminés das cozinhas; 1818, 28 de Setembro - Outro incêndio agrava o estado de ruína em que o Paço já se encontrava; 1827 - A pedido de António Eliseu da Costa Freire, almoxarife do Paço, são realizados alguns consertos; 1833, 30 de Janeiro - O almoxarife do Paço participa ao Conde de Basto a necessidade de reparações em parte da Falcoaria, nas coberturas da Ópera que se encontravam em ruínas, na galeria das damas e nas cozinhas, das quais restavam apenas duas chaminés; 1849, 10 de Setembro - A rainha D.Maria I determina a cedência ao Estado de todos os prédios da Coroa, dependentes do Almoxarifado de Salvaterra, incluindo o que restava do Paço, Capela, cavalariças, pombais e Falcoaria, que se encoantravam já bastante arruinados; 1858 - Tremor de terra provoca o demoronamento do paredão da fachada do Paço real; por essa época e durante cerca de sessenta anos a Capela, de invocação do Bom Jesus, serviu de igreja Matriz; 1862 / 1863 - Exceptuando a Capela, as ruínas do Paço são arrematadas em hasta pública e parte das suas paredes demolidas, aproveitando-se a pedra para as ruas e estradas do concelho; os proprietários particulares das construções que ainda restavam vão modificando a sua traça primitiva com remodelações, substituições de telhados e construção de anexos; 1950 - as chaminés encontram-se transformadas em armazéns e a Falcoaria em casa de habitação; 1997 - construção, pela Câmara Municipal, de um anfiteatro encostado à capela, no espaço do antigo picadeiro.

Dados Técnicos

Estrutura mista.

Materiais

Pavimentos - tijoleira e lajedo de cantaria (capela); estruturas - alvenaria, cantaria; revestimentos - reboco a cal; coberturas - estrutura de ferro e de material pré-esforçado apoiado em cintas de betão armado; placas de estafe (capela); telha românica.

Bibliografia

BRITO, Manuel Carlos de, A Opera de Corte em Portugal no séc. XVIII , Colóquio Artes, nº 76, Março, 1988; BRITO, Manuel Carlos de, Opera in Portugal in the Eighteenth Century, Cambridge, 1989; CÂNCIO, Francisco, Curiosidades Históricas de Salvaterra de Magos, Vida Ribatejana, Março - Abril, 1952; CORREIA, Joaquim M. Silva, Algumas notícias da Real Falcoaria de Salvaterra de Magos, Caça e tiro ao voo, Ano 1, nº 2, 1964; CORREIA, Joaquim M. Silva e GUEDES, Natália Brito Correia, O Paço Real de Salvaterra de Magos - a Corte, a Ópera, a Falcoaria, Lisboa, 1989; IDEM, Falcoaria Real, (catálogo da exposição realizada no Museu Nacional dos Coches), Lisboa, 1990; COUTINHO, Maria João Fontes Pereira, A produção portuguesa de obras de embutidos de pedraria policroma (1670-1720). Lisboa, Dissertação de Doutoramento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa, 2010, 3 vols.; ESTEVAM, José, Anais de Salvaterra de Magos - Dados Históricos desde o séc. XIV, Lisboa, 1959; Monumentos, n.º 6 e n.º 17, Lisboa, DGEMN, 1997 e 2002; NUNES, Manuel Carlos, Guia turístico de Salvaterra de Magos, s.d.; PEREIRA, Camacho (org.), Salvaterra de Magos, Cruz Quebrada, 1953; RODRIGUES, Ana Duarte, O homem por detrás da obra: Machado de Castro (1731-1822), in ARTIS, Lisboa, Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras de Lisboa, 2005, n.º 4, pp. 331-353; SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Santarém, Vol. 3, Lisboa, 1949; VITERBO, Sousa, Diccionario Historico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portuguezes ou a serviço de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1904, 3 vols.; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74283 [consultado em 28 dezembro 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DRMLisboa; Câmara Municipal de Salvaterra de Magos

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa

Intervenção Realizada

1966 / 1967 - Obras de reparação e conservação na capela: coberturas, paramentos exteriores, rebocos, caixilhos e pavimentos; reconstrução de colunas; 1979 - obras de reparação na capela: reparo do retábulo - mor com execução, em madeira de casquinha, dos elementos em falta em colunas e arcos e fixação e ajuste de capitéis desconjuntados; demolição do coro; reconstrução tecto da cúpula em placas de estafe; picagem e reconstrução de rebocos; levantamento do pavimento das naves; 1980 / 1981 - reconstrução troços das bases das colunas da capela e conservação dos seus revestimentos; substituição parcial do vigamento na ousia; conservação pavimentos; arranjo de portas e janelas; 1991 - reparação da cobertura da capela; 1992 - reparação de rebocos, pavimentos e caixilharias na capela; 1993 - reparação interior e beneficiação da instalação eléctrica; 2001 - consolidação, restauro e limpeza das abóbadas em estuque pintado dos tectos da capela-mor; CMSalvaterra de Magos: 2002 - consolidação das abóbadas do tecto da capela-mor; limpeza e fixação das respectivas pinturas.

Observações

*1 - Classificação conjunta com a Falcoaria (v. PT031415040005). Prevê-se que o anfiteatro fique instalado no antigo Cemitério e o núcleo museológico nas salas anexas à nave da Capela integrando peças do seu espólio bem como da Igreja Matriz de Salvaterra.

Autor e Data

Rosário Gordalina 1992 / 1993

Actualização

Mónica Figueiredo 2003
 
 
 
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