Casa da Quinta do Molha Pão

IPA.00006098
Portugal, Lisboa, Sintra, União das freguesias de Queluz e Belas
 
Arquitectura residencial, maneirista. "Casa nobre" de grande sobriedade, planimetricamente integrada na tipologia da chamada "casa comprida", com capela no extremo do frontespício, subordinada à cornija da casa, que manifesta exteriormente a usual divisão social do espaço. Fenestração de moldura rectilínea simples. Na fachada posterior, loggias ao gosto italiano, abrem para os jardins. Interior com decoração azulejar barroca de inícios do séc. 18 e inspirada em gravuras. Conservando a sua integridade, a casa nobre de Molha Pão constitui um excelente exemplar maneirista, cuja maior animação se verifica na fachada posterior devido às loggias de sabor italiano. Contraste entre o rigor maneirista das fachadas e o barroquismo interior, devido ao revestimento azulejar das salas do andar nobre, cuja temática parece ter-se adaptado à função das várias dependências. Os azulejos do vestíbulo, sala e quarto integram-se na produção do "ciclo dos Mestres", sendo os do vestíbulo atribuídos ao mestre P. M. P.. Embora tenham algumas manifestações arcaizantes, têm também um tratamento cuidado das paisagens, dos fundos de arquitectura e das figuras denotando a ascendência de António Oliveira Bernardes. Os das loggias, quarto do Conde de Anadia e os de uma outra sala inserem-se na "grande produção joanina". José Meco (1989 a, p. 229), atribui-os ao pintor Teotónio dos Santos, que terá trabalhado em colaboração com o mestre P. M. P.. Destes, salientam-se os de uma sala da ala direita, com enquadramentos cenográficos e com um concheado apontando já para o rococó. Santos Simões data o azulejo figurando uma mulher penteando ou catando um homem de c. de 1720. A pintura dos tectos da capela segue a corrente decorativa da época ao empregar enrolamentos e volutas de folhas de acanto. Original retábulo, onde através da pintura em trompe l'oeil, se procurou dar profundidade e dinamismo aos muros, tornando-os ilusoriamente arredondados. Os painéis de albarradas da capela são recentes.
Número IPA Antigo: PT031111040075
 
Registo visualizado 1059 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo planta retangular

Descrição

CASA inserida em quinta (v. PT0311111040121). Casa de planta rectangular, volumes simples de acentuada horizontalidade e cobertura homogénea com telhados de 4 águas tendo as mestras rasgadas por 3 águas furtadas. No frontespício, parastáticas e embasamento em cantaria; meias janelas no 1º piso; andar nobre com portal central de cornija saliente precedido por escadaria de 2 lanços opostos e janelas de bandeira com cornija. CAPELA: no extremo esquerdo, marcada por sineira e cruz; portal simples. Fachada posterior com o 1º piso definido pela fenestração; andar nobre de 3 panos, tendo nos laterais loggias de 3 arcadas e janelas de bandeira no central. Interiormente a casa tem como eixo central vestíbulo e escada, à volta dos quais se dispõem as divisões, com janelas conversadeiras e lambril de azulejos decorados com cenas mitológicas (vestíbulo), galantes e de caça (sala), balaústres, festões e flores (escada), etc.; salões abrem para loggias. Ala esquerda com tribuna para capela, de 2 tramos sublinhados por arco triunfal. Lambril de albarradas e abóbadas de berço pintadas com enrolamentos de folhas de acanto; na capela-mor medalhão central com 2 anjos segurando símbolos alusivos ao orago. Retábulo em trompe l'oeil com Nª Sª do Rosário em nicho. No terreiro frente à casa dispõem-se 2 alas de anexos agrícolas, de 2 e 1 pisos e coberturas diferenciadas; fecha-o pano de muro com portão para a quinta; entre a casa e 1 das alas, portal de frontão triangular e brasão no tímpano. Junto à fachada posterior jardim de buxos, lago em losango e bancos forrados de azulejos com as "Quatro Estações".

Acessos

Estrada da Carregueira. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,795567; long.: -9,299136

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 740-DE/2012, DR, 2.ª série, n.º 248 de 24 dezembro 2012

Enquadramento

Rural. Meia encosta, confrontando com campo de tiro, implantação harmónica, antecedida por alameda arborizada, isolada por muro. Portão de acesso junto à estrada municipal, ladeado de volutões, com frontão tiangular, brasão e coronel no tímpano.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Residencial: casa

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTORES de AZULEJOS: Teotónio dos Santos (séc. 18); Valentim de Almeida (séc. 18).

Cronologia

1633 - Antão Gonçalves compromete-se a pagar foro da Quinta do Molha Pão a António Correia, senhor da casa e vila de Belas; 1682 - vende propriedade a Bartolomeu Quifel Barberino, fidalgo de origem italiana, conselheiro dos reis D. Pedro II e D. João V; institui a quinta em morgadio e reconstroi a casa; Séc. 18 - pintura dos azulejos numa parceria de Teotónio dos Santos e Valentim de Almeida; 1719 - depois da sua morte, a casa passa ao filho, D. Manuel Rebelo de Figueiredo Quifel Barberino; não deixando descendência, herda a quinta o sobrinho Gaspar Xavier de Almeida e Vasconcelos Quifel Barberino; 1770 - sem descendência, herda-a seu irmão, Manuel Estevão de Almeida e Vasconcelos Quifel Barberino, membro do Conselho do Rei e alcaide-mor da vila de Penedo; por troca com os condes de Pombeiro, senhores de Belas, deixa-lhes de pagar o foro; 1800 - herda-a o neto, Miguel Pais do Amaral de Almeida e Vasconcelos Quifel Barberino, casado com D. Maria Joana de Saldanha de Oliveira e Daun, de quem não teve descendência; 1855 - a quinta passa a seu irmão Manuel Pais do Amaral de Almeida e Vasconcelos Quifel Barberino, casado com D. Maria Luísa de Sá Pereira e Meneses, 3ª condessa de Anadia e 2ª viscondessa de Alverca; 1859 - sucedeu-lhe o filho, José Maria de Sá Pereira e Meneses Pais do Amaral de Almeida e Vasconcelos Quifel Barberino, 4º conde de Anadia; 1870 - sucedeu-lhe seu filho secundogénito, José de Sá Pereira e Meneses Pais do Amaral Quifel Barberino, 4º visconde de Alverca; a casa passa a ser alugada; c. 1899 - Adriano Júlio Coelho adquiriu azulejos holandeses do Palácio Galvão Mexia, que haviam escapado ao terramoto de 1755; 1917 - herda-a a filha secundogénita D. Filipa de Sá Pais do Amaral, 6ª viscondessa do Alverca; sucedeu-lhe José Manuel de Sá Pais do Amaral Coelho; 1946 - juntamente com sua mulher, Maria Adelaide, a família instala-se novamente na quinta, procedendo a grandes obras de restauro; 1993, 03 setembro - proposta de classificação pela DGEMN; 1996, 07 maio - parecer de classificação como Imóvel de Interesse Público pelo Conselho Consultivo do IPPAR; 31 maio - Despacho de homologação da classificação como Imóvel de Interesse Público do Ministro da Cultura com a Designação Oficial de Quinta do Molha Pão (conjunto intra-muros), incluindo a "Casa Barberino", anexos agrícolas, jardins, portão, nora, sistema hidráulico e a nascente/represa; 1997, 08 abril - o proprietário propõe a diminuição dos limites a classificar; 1999, 29 março - proposta da DRLisboa a alterar a delimitação e designação da classificação; 2002, 29 dezembro - proposta de fixação da Zona Especial de Proteção pela DRLisboa; 2006, 29 dezembro - nova proposta da DRLisboa para a classificação do edifício; 2007, 19 março - parecer favorável do Conselho Consultivo do IGESPAR, relativa à classificação e à fixação da Zona Especial de Proteção; 2011, 20 Setembro - publicação do projecto de decisão de classificar o imóvel como Monumento de Interesse Público e fixação da respectiva Zona Especial de Protecção, de 50 metros, em Anúncio n.º 13105/2011, DR, 2.º série, n.º 181.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante de alvenaria rebocada e cantaria.

Materiais

Calcário, azulejos, pinturas; pavimentos de tijoleira e madeira; cobertura de telha a 2 e 4 águas.

Bibliografia

SIMÕES, J. M. dos Santos, Azulejaria em Portugal no Século XVIII, Lisboa, 1979; STOOP, Anne de, Quintas e Palácios nos Arredores de Lisboa, Barcelos, 1986; QUEIRÓS, José, Cerâmica Portuguesa, vol. 1, Estarreja, 1987; MECO, José, Azulejaria Portuguesa, Lisboa, 1989; idem, O Azulejo em Portugal, Lisboa, 1989; SERRÃO, Vítor, História da Arte em Portugal - o Barroco, Barcarena, Editorial Presença, 2003.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

1946 - obras de limpeza e conservação; substituição da cobertura.

Observações

*1 - A designação de Molha Pão adveio de uma sopa popular oferecida aos pobres desde longa data todas as 5ªs feiras. Na nave da capela estão emoldurados painéis de azulejos holandeses, um deles assinado por Willen Van der Kloet , e de c. 1707. Representam cenas da vida de Cristo: "Anunciação", "Adoração dos Pastores", "A Fuga para o Egipto", "Baptismo de Cristo", "Calvário" e "Deposição no Túmulo". Possuem grande perfeição técnica, elegância de desenho e composição, sendo no entanto menos calorosos e sem a amplitude decorativa dos azulejos portugueses. No portão da quinta inscrição "MOLHAPÃO MORGADO QVIFEL". Sobre a porta da fachada posterior, lápide com a seguinte inscrição: "ESTE MORGADO FOI INSTITUIDO NO ANNO DE / NOSSO SENHOR DE 1682 PELO DESEMBARGADOR / BARTTSOLOMEU QUIFAL BARBERINO FIDALGO / DO CONSELHO D'EL REI D. PEDRO II E / D. JOÃO V. SUA VISNETA Dª FILIPA, VISCONDESSA / DE ALVERCA DA BEIRA MANDOU COLOCAR / ESTA LÁPIDA NO ANO DE 1952 PARA / MEMÓRIA DOS VINDOUROS". Várias representações das armas dos Barberini, 2 delas com as abelhas em roqueta. Proposta de classificação de Julho 1993.

Autor e Data

Paula Noé 1993

Actualização

 
 
 
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