Povoação de Sortelha / Aldeia de Sortelha / Zona Histórica da Vila de Sortelha

IPA.00005930
Portugal, Guarda, Sabugal, Sortelha
 
Núcleo urbano sede de freguesia. Povoação situada em colina. Vila medieval de jurisdição régia com castelo e cerca urbana. Núcleo urbano fortificado medieval, com intervenções manuelinas e seiscentistas. Perímetro coincidente com a cerca muralhada de traçado oval, interceptada pelo Castelo implantado no lado exterior. Estrutura composta em função de um eixo principal, ligando duas portas e conjugando o percurso da Rua Direita com um espaço nodal heterógeneo: Lg. do Pelourinho / Lg. da Igreja. Rossio localizado intra-muros junto à porta. Malha tendencialmente orgânica, marcada pela irregularidade topográfica. Arrabalde distante, caracterizado pela presença de casas solarengas. Espaço edificado dominado pelo tipo construtivo beirão: casas de dois pisos com diferenciação funcional, planta rectangular concentrada e telhado de duas águas, mostrando o acesso à habitação com escada de tiro interna ou escada exterior com patamar ou balcão simples. Conjunto construído pouco compacto, singularizado pela presença generalizada de grandes rochedos. Adossamentos pontuais à muralha, fenómeno que dificulta o entendimento das ruínas de uma provável igreja paroquial extra-muros, depois transformada em Misericórdia. Definição morfológica ambígua dos espaços significativos. Lg. do Pelourinho marcado pela entrada do castelo. Conserva troço de calçada medieval. Possui apenas uma dezena de habitantes permanentes, na proporção inversa à vocação turística da aldeia.
Número IPA Antigo: PT020911330023
 
Registo visualizado 840 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto urbano  Aglomerado urbano  Povoação  Vila medieval  Vila fortificada  Régia (D. Sancho II)

Descrição

Estrutura urbana - a mancha construída é delimitada pelo perímetro muralhado de traçado oval, daí se destacando o recinto do Castelo, erguido sobre um penhasco projectado para o exterior. Revelando uma laboriosa adaptação à extrema irregularidade topográfica, o conjunto tende a uma disposição em anfiteatro, orientando-se a SE.. Apresenta uma malha pouca densa, pois as construções não chegam a ocupar a área urbana disponível, em grande parte preenchida por grandes rochedos, que marcam profundamente a imagem da Vila. Estrutura-se a partir de um eixo principal, de ligação entre as Portas da Vila, composto pela R. da Fonte e pela R. Direita, que se articulam num espaço intermédio onde se formam, quase contiguamente, o Lg. do Pelourinho e o Lg. da Igreja. Trata-se de um percurso deslocado em função da proximidade do acesso ao castelo, mas que dificilmente engendra um conjunto de vias paralelas e respectivas transversais. O sentido rectilíneo deste eixo estruturante é comprometido por numerosas inflexões, fortes pendentes e alargamentos, que originam largos de formas perimetrais muito ambíguas: Lg. da Cerdeira, Lg. Dá Mesquita e Lg. do Campanário. Mais precisa é a forma e a função do Lg. do Corro, um rossio intra-muros, situado na sequência imediata da Porta da Vila. Uma fraca dinâmica construtiva permanece também fixada nos escassos adossamentos à muralha. Do mesmo modo, não conheceu um processo de crescimento no espaço extra-muros imediato. Somente junto à Porta Nova se observam algumas construções importantes, embora insuficientes para a consistência de um núcleo extra-muros ( Igreja e Hospital da Misericórdia, Capela de Santiago, cemitério ). O arrabalde desenvolveu-se numa zona fértil e mais afastada, atraindo a implantação de casas solarengas. Espaço construído - o tipo dominante refere-se à casa de dois pisos com diferenciação funcional, apresentando planta rectangular concentrada e formando um volume compacto, coberto com telhado de duas águas. No piso térreo localiza-se a loja, reservando-se o segundo piso para a habitação, onde se localiza a área da cozinha ou o denominado Lar, com a lareira e o chão lajeado. O acesso ao andar é interior, através de uma escada de tiro em madeira, ou através de escadas externas com patamar e balcão simples, sendo rara a presença do alpendre. A fenestração reduz-se às aberturas essenciais e a decoração dos vãos surge muito pontualmente (janela manuelina, moldura de meia-cana, elementos estruturais biselados). Retirando a excepcionalidade do Castelo (autoridade militar), do Pelourinho, e por inerência de funções, da Casa da Câmara e Cadeia (autoridade civil), bem como a Igreja Matriz (autoridade religiosa), observa-se que não existem edifícios monumentais. As casas mais significativas apenas se revelam no tratamento diferenciado, mas discreto, da fachada principal.

Acessos

EM 18-3, EN 233, EM 542, Rua de São Sebastião

Protecção

Em vias de classificação / Inclui Castelo de Sortelha (v. PT020911330002) / Pelourinho de Sortelha (v. PT020911330005) / PP - Plano de Pormenor (Salvaguarda e valorização de Sortelha), Declaração n.º 352/97, DR, 2.ª série, n.º 186 de 5 dezembro 1997

Enquadramento

Urbano / rural. Aglomerado urbano fortificado, situado a cerca de 770 m de altitude, ocupando um cabeço que rivaliza com a Serra de São Cornélio. Sobretudo a partir do Castelo (v. PT020911330002), e como ponto marcante do território envolvente, domina um vasto horizonte. Daí se avista, sobre o vale encaixado da Ribeira do Casteleiro, a Serra da Malcata, bem como a Cova da Beira, Belmonte e o enquadramento final da Serra da Estrela. A implantação é fortemente marcada pela presença de afloramentos ciclópicos de granito. No sopé da Vila, a uma distância de 300 metros, desenvolve-se o Arrabalde, acusando já o impacto de numerosas construções dissonantes.

Descrição Complementar

O tecido urbano é composto por quarteirões muito irregulares, sendo manifesta a tendência para o isolamento de uma construção, ou de um conjunto de construções, no respectivo logradouro. O alinhamento das fachadas face à rua, e adossadas lateralmente, apenas surge como regra nas ruas mais importantes: o eixo R. da Fonte / R. Direita, o troço da R. Dá Mesquita entre a Porta Nova e a Porta Falsa, e no quarteirão situado entre a R. das Lajes e o Lg. da Cerdeira, aqui devido à proximidade da igreja. Porém, as parcelas, consideradas isoladamente, expõem uma nítida preferência pelas formas quadrangulares ou rectangulares, organizando lotes pouco profundos, facto explicado pela abundância de área edificável. Talvez em parte por essa mesma razão, é frequente as habitações, apesar de alinhadas, se encontrarem separadas por uma espécie de quelha muito estreita, nem sempre com uma função viária, antes mais aproximável ao estilicídio. A delimitação entre espaço público e privado não é portanto muito precisa. A fim de vencer alguns desníveis nos arruamentos, surgem também pequenos lanços de degraus, por vezes cavados na própria rocha. Caracterização dos espaços significativos: o Largo do Corro, cujo topónimo traduz a sua vocação polifuncional, constitui um amplo terreiro onde se ergue uma árvore secular, que lhe serve de principal referência visual. É delimitado em dois lados pela muralha e nos restantes por casas, algumas destacadas pela escadaria em ressalto. Num dos ângulos situa-se a fonte de mergulho (v. PT020911330035), um equipamento vital, mas sem qualquer impacto volumétrico. O Lg. do Pelourinho mostra um espaço ainda mais heterogéneo, embora o Pelourinho (v. PT020911330005) seja capaz de lhe conferir uma centralidade e uma outra consistência representativa, também relacionada com a presença da Casa da Câmara e Cadeia (v. PT020911330032). No entanto, é o Castelo, directamente acessível a partir deste ponto, que constitui o cenário enquadrante e visualmente de maior relevância, emprestando a este espaço um sentido espectacular. Um dos lados do Lg. do Pelourinho dilui-se no denominado Lg. da Igreja, que possui limites muito imprecisos. Se o pequeno adro fronteiro ê porta principal da Matriz (v. PT020911330024) é demasiado exíguo, o seu alçado lateral abre já para um terreiro bem dimensionado. Contudo, acusando um grande desnível, obrigou á construção de um muro de suporte e das escadas que lhe dão acesso. Assim, a superfície do largo torna-se fragmentada e na realidade funciona como articulação viária entre a R. da Fonte e a R. Direita. O Lg. da Cerdeira, espaço de respeito junto à capela-mor da Igreja, constitui igualmente uma pequena encruzilhada onde entroncam vias secundárias ( R. da Fontinha, R. Dá Mesquita, R. das Lajes ), ligando-se directamente ao Lg. da Igreja. Curiosamente, é de anotar o facto da igreja, e mais precisamente o espaço do Lg. da Cerdeira, quase ocupar o centro geométrico da forma perimetral do aglomerado. A fluidez dos espaços urbanos é também confirmada pelo Lg. do Campanário, referido ê torre erguida em frente da Igreja. Com efeito, este espaço dominado por afloramentos rochosos é apenas delimitável pela área sobrante dos logradouros dispostos em seu redor. O mesmo é ainda observável no Lg. Dá Mesquita, uma zona residual, de fraca densidade construtiva e onde as características topográficas não permitem uma clara definição das linhas viárias. No tecido construído apenas é possível destacar alguns edifícios civis que mostram na fachada certos pormenores mais cuidados, e que tendem a corresponder a uma também singular identidade social do ocupante: Casa do Governador (v. PT020911330050), Casa do Juiz (v. PT020911330053), Casa do Escrivão (v. PT020911330044). Outros exemplos estão relacionados com o modo como se impõe a escadaria ou outro detalhe arquitectónico. Ao contrário, no Arrabalde, o impacto das casas nobres é notório: Casa de São Gens (v. PT020911330036), o conjunto do Nossa Senhora da Conceição (v. PT020911330037), sua Casa de Hóspedes (v. PT020911330038) e Casa de Santo António (v. PT020911330039) e, um pouco mais distante, a Casa da Corredoura (v. PT020911330040).

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Não aplicável

Afectação

Não aplicável

Época Construção

Séc. 12 / 13 / 16 / 17

Arquitecto / Construtor / Autor

Não aplicável

Cronologia

Época pré-romana - provável existência de castro, depois romanizado; 1181 - repovoamento por D. Sancho I, com recurso a povoadores de outras zonas, tal como Valença; 1228 - concessão de carta de foral por D. Sancho II e provável edificação do castelo; séc. 13 - hipotética reparação ou reconstrução do castelo por D. Dinis; 1320 - taxação da Igreja Matriz de S. João, única paróquia medieval e que se situava extra-muros; séc. 14, fins - possível intervenção nas estruturas defensivas por D. Fernando. Ainda durante a época medieval foi construída uma calçada extra-muros; 1510 - renovação da carta de foral por D. Manuel e, ainda neste reinado, beneficiação do castelo e edificação do Pelourinho e Casa da Câmara e Cadeia; 1522 - concessão da alcaidaria-mor a Garcia Zuzarte, Guarda-mor do rei; 1527 - tinha 78 vizinhos intra-muros; elevação a cabeça de condado, a favor de Luís da Silveira, Guarda-mor de D. João III; 1573 - transferência da única paróquia da Vila para a zona intra-muros e construção da respectiva igreja sob invocação de Nossa Senhora das Neves; séc. 16 / 17 - hipotética construção do fontanário no Lg. do Corro; tendência para a renovação das habitações privadas, em especial ao nível das fachadas; 1615 - elaboração do Tombo de Sortelha pelo Dr. Pedro Godinho de Carvalho, por ordem de D. Filipe II; 1617 - morte de Luís da Silveira, terceiro e último conde de Sortelha; 1626 - fundação da Misericórdia, instalada na antiga Igreja de São João; 1640 - intervenções pontuais no recinto do castelo, entaipamento da denominada Porta Falsa NO.; 1645 - edificação da casa atribuída ao Governador; séc. 17 / 18 - desenvolvimento do Arrabalde, zona preferencial para a implantação das casas solarengas, 1691 - contava 400 vizinhos; 1758 - possuía 211 fogos; 1742 - colocação dos Passos da Via Sacra; 1855 - extinção do estatuto concelhio; 1996, 12 agosto - declaração da área crítica de recuperação e reconversão urbanística (ACCRU) da Aldeia de Sortelha, pelo Decreto n.º 23/96, DR n.º 186, 1.ª série-B; 1999, 16 agosto - aprovado superiormente pelo Ministério da Cultura o projecto de valorização de ruínas arquológicas no Centro Histórico; 2022, 29 novembro - publicação da abertura do procedimento de classificação da zona histórica da Vila de Almeida em Anúncio n.º 257/2022, DR, n.º 230.

Dados Técnicos

Não aplicável

Materiais

Não aplicável

Bibliografia

HENRIQUES, João Baptista, Corografia Lusitana e República Portuguesa, Lisboa, 1691 (BNL Ms. 38); COSTA, António Carvalho da, Corographia Portugueza, Lisboa, 1708; SANTOS, Vigário João dos Santos, Dicionário Geographico de Portugal, (Memórias Paroquiais), 1758, nº 220, pp. 1513 - 1526; COLAÇO, J. M. Tello de Magalhães, Cadastro da População do Reino, Lisboa, 1929; ALMEIDA, João de, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses; Lisboa, 1945; CORREIA, Joaquim Manuel, Terras de Riba-Côa, Memórias sobre o Concelho do Sabugal, Lisboa, 1946; NEVES, Vítor Manuel Leal Pereira, A Antiga Vila de Sortelha, Aldeia - Museu de Portugal, Castelo Branco, 1979; GIL, Júlio, As Mais Belas Vilas e Aldeias de Portugal, Lisboa, 1984; PEREIRA, Mário, dir., Castelos da Raia da Beira, Distrito da Guarda, Catálogo da Exposição, Guarda, 1988; CONCEIÇÃO, Margarida Tavares da, Inventário do Património Edificado, Estudos de Caracterização do Plano Director Municipal do Sabugal, Sabugal, 1990.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN; Câmara Municipal do Sabugal; Proprietários privados

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN; Proprietários privados

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN; Proprietários privados

Intervenção Realizada

DGEMN: 1940 / 1952 / 1994 - obras de reconstrução do Castelo e cerca muralhada; 1951 - obras de reconstrução da Casa da Câmara e Cadeia; Câmara Municipal do Sabugal: 1985 / 1987 - construção dos sanitários públicos junto à Casa da Câmara; Fábrica da Igreja Paroquial: 1960 / 1970 - obras de renovação da Igreja Matriz e das Capelas de Santiago e de São Sebastião, com efeitos descaracterizadores; Proprietários privados: 1960 / 1997 - obras de renovação e conservação das habitações, por vezes com adaptação para fins turísticos *1; Câmara Municipal do Sabugal (Programa de Reabilitação das Aldeias Históricas): 1995 / 1996 - intervenção arqueológica e obras de renovação da antiga Casa do Governador, adaptada para posto de turismo; 1996 - realização de duas sondagens no troço de calçada medieval situada junto á Porta Nova; substituição do troço de calçada medieval situada no exterior da Porta da Vila por novo pavimento em paralelos de granito; 1996 / 1997 - reformulação da rede de águas e esgotos; enterramento da rede eléctrica, telefónica e TV; escavação arqueológica de emergência no Lg. do Corro, entre a Porta da Vila e a muralha, e no Lg. da Igreja; reconstrução do muro de suporte ao templo; repavimentação geral das ruas com paralelos de granito; Câmara Municipal do Sabugal / Proprietários privados: 1997 - obras de recuperação das fachadas (limpeza, picagem das juntas cimentadas e sua substituição por junta seca rachoada com utilização pontual de argamassa bastarda), limpeza e reparação dos telhados, correcção de elementos dissonantes (chaminés, materiais desadequados), trabalhos de manutenção das caixilharias.

Observações

*1- conjunto caracterizado por grande número de casas recuperadas para segunda habitação e Turismo de Habitação.

Autor e Data

Margarida Conceição 1997

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login