Núcleo urbano da vila de Caria / Centro histórico de Caria

IPA.00005900
Portugal, Castelo Branco, Belmonte, Caria
 
Núcleo urbano sede de freguesia. Vila situada em margem fluvial. Casa Medieval, Fortaleza Moderna, Igreja Renascentista, Capela Classicista e Popular, Solar Barroco. Casa de planta em L irregular com cobertura a 4 águas e porta em arco quebrado. Vestígios de fortaleza de planta trapezoidal com três baluartes em cantaria e cisterna no interior do recinto. Igreja de planta longitudinal composta, com portal em arco pleno ladeado por pilastras molduradas, com três naves quase à mesma altura, com quatro tramos. Arcos formeiros de volta inteira sustentados por pilares toscanos e cobertura única em madeira. Retábulos de talha dourada, do estilo nacional. Capela de planta longitudinal simples, com exonártex alpendrado, assente em pilares quadrados e socos almofadados, com portal em arco pleno e cobertura interna de madeira, em masseira. Solar de planta em L irregular com capela adossada, cobertura a quatro águas e dois pisos. Portal e janelas do piso nobre em arco abatido com frontão curvo interrompido com concheado central. Casa da Torre de raiz medieval mas modificada no séc. 18, integrando na sua cerca vestígios de fortaleza abaluartada. Capela do Calvário adossada à muralha, apresentando um exonártex alpendrado com púlpito exterior. Óculo ladeia o portal principal, no lado esquerdo. Igreja Matriz com fachada e corpo da capela-mor em cantaria aparente. Varanda corrida em madeira revestida por rótulas no Solar Quevedo Pessanha.
Número IPA Antigo: PT020501020006
 
Registo visualizado 580 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto urbano  Aglomerado urbano  Vila  Povoação medieval  Povoação medieval  Eclesiástica (Bispo)

Descrição

A CASA DA TORRE apresenta planta em L irregular, com cobertura a quatro águas. Alçado principal voltado a SO., sendo o acesso ao recinto processado através de um lanço de degraus, formando espécie de embasamento ou pódio em cantaria. Divide-se em três registos, de três panos separados por pilastras formadas por reboco saliente, sendo o pano central em cantaria e correspondente à antiga torre. No primeiro registo, duas portas laterais de lintel recto e moldura simples, com escadaria centrada de duplo lanço com direcção coincidente de acesso ao piso superior, denominada cais. O segundo registo apresenta porta central com inscrição no lintel *2 e seis janelas equidistantes de lintel recto e moldura simples, sendo o terceiro rasgado por seis janelas idênticas. Remate em cornija. Alçado NE. possui igualmente três registos, o primeiro formando o corpo saliente, correspondente à cozinha, com janela. Surgem, ainda, duas portas de lintel recto e outra em arco quebrado, junto da qual existe inscrição *3. O segundo registo possui porta e janela de lintel recto e moldura simples. O corpo da cozinha é cego, formando terraço a este nível. No registo superior, porta e duas janelas, e porta e janela na zona do terraço. Alçado NO. tem, no primeiro registo, duas portas, no segundo, porta, sendo o terceiro cego. Alçado SE. é cego no primeiro registo, tendo nos segundo e terceiro janela. Remate em empena, sem cornija. Interior de três pisos, sendo o inferior destinado a serviços. Entrada nobre a nível do segundo piso. Corpo principal integra em cada piso três salas de dimensão regular e planta rectangular quase quadrangular, sendo a do lado NO. de planta trapezoidal. No corpo secundário, cozinha de planta quadrangular com armário embutido na parede, bem como duas salas, uma das quais integrando lareira. Vestígios de FORTIFICAÇÕES e CISTERNA, existentes na cerca - surgem troços de muralha da cidadela ou reduto que apresentaria planta trapezoidal a tender para o quadrado, apresentando três baluartes em cantaria e a torre ( corpo central da Casa da Torre ), ocupando o ângulo N.. Entre os baluartes, observam-se muros de alvenaria de granito. A cisterna está situada no centro do reduto, com planta rectangular, semi-enterrada no solo, com acesso através de lanço de escadas. CAPELA DO CALVÁRIO ou de Santo António, com planta longitudinal rectangular, simples, com cobertura homogénea a três águas. Fachada principal voltada a NO., apresentando exonártex com acesso através de lanço de degraus semi-circulares, formando embasamento elevado e composto por alpendre sustentado por oito pilares quadrados, com os ângulos chanfrados, dois dos quais assentando directamente no parapeito e os restantes em soco almofadado. Púlpito exterior adossado ao ângulo NE., apresentando forma cúbica e apoiando-se em coluna. Cobertura interna com tecto de caixotão único em madeira e portal em arco pleno com impostas salientes. Pequena abertura lateral com inscrição "1767 COSTA". Alçado NE. encontra-se adossado à muralha. Alçado SO. com janela de lintel recto sem moldura. Alçado SE. cego, com remate em empena, sem cornija e cimentada. INTERIOR de espaço único, sem diferenciação nave / capela-mor, esta com retábulo em talha dourada e policromada. Pavimento lajeado, com cobertura em tecto tripartido. IGREJA MATRIZ com planta longitudinal, composta por dois rectângulos justapostos, duas sacristias de planta quadrangular adossadas à cabeceira e torre sineira adossada à fachada principal, com massas dispostas horizontalmente e volumes articulados. Cobertura homogénea a duas águas. Fachada principal orientada a O., com dois registos, o primeiro rasgado por portal em arco pleno, ladeado por pilastras molduradas e rematado por friso com pináculos embebidos. Segundo registo com óculo quadrilobado com friso concordante saliente e remate em empena, com cornija. Alçado N. rasgado por porta de lintel recto de acesso à sacristia, no primeiro registo, sendo o segundo rasgado por janela no corpo da sacristia e duas janelas de lintel recto e moldura simples no corpo da nave. Rematado por cornija. Alçado S. tem, no primeiro registo, porta de lintel recto no corpo da nave, escada de acesso à torre com voluta no arranque da guarda, surgindo, no superior, duas janelas na nave, uma na sacristia e outra na capela-mor, de lintel recto. Remate com cornija. Alçado E. cego e remate em empena, com cornija. A torre é de planta quadrada, com três registos, o primeiro e segundo com óculo quadrilobado, porta de lintel recto e friso, surgindo, no terceiro, quatro aberturas sineiras em arco pleno; remate recto com cornija, gárgulas de canhão e pináculos nos ângulos; coroamento: cobertura piramidal rebocada. INTERIOR de três naves quase à mesma altura, com quatro tramos separadas por arcos plenos, sustentados por pilares toscanos, moldurados e de secção quadrada. Púlpito em talha policromada, de forma cúbica, adossado a pilar e assente em coluna. Altares laterais com retábulos em talha dourada. Silhar de azulejos com padrão geométrico perspectivado de cor azul, branca e amarela. No pavimento, tacos de madeira e cobertura única em falsa abóbada, em madeira. Arco triunfal de volta inteira. Capela-mor percorrida por silhar de azulejos semelhante ao da nave, rasgada por portas simétricas de acesso à sacristia. Retábulo em talha dourada. Pavimento lajeado e cobertura em tecto de caixotões pintados. SOLAR QUEVEDO PESSANHA - planta em L irregular com volumes diferenciados com capela adossada e massas dispostas horizontalmente. Acesso através de portão em arco abatido, encimado por frontão curvo interrompido com concha central. Cobertura homogénea a quatro águas. Fachada principal orientada, com dois registos e quatro panos separados por pilastras. O pimeiro registo com portal em arco abatido com frontão curvo interrompido e porta de lintel recto. No segundo, portal idêntico com acesso através de um lanço de escadas com guardas rebocadas e remate em cantaria, surgindo três janelas em arco abatido, encimadas por frontão curvo interrompido com concha central. Cornija no remate. Pedra de armas no cunhal SE.. Alçado S. com dois registos, divididos em quatro panos, separados por pilastras. No primeiro, porta e três janelas em arco abatido e friso saliente, enquanto no segundo surgem quatro janelas idênticas ao alçado principal. Remate em empena, com cornija. No alçado posterior, destaca-se varanda corrida em madeira, sustentada por pilares quadrados do mesmo material e revestida por rótulas. Integra na cerca poço quadrangular. CAPELA de planta longitudinal simples, tendo a fachada principal voltada a S., de dois registos, tendo o primeiro portal em arco abatido moldurado encimado por frontão curvo interrompido e o segundo óculo quadrilobado. Remate em empena, com cornija. Alçado E. adossado à fachada principal do solar. Casa das Caras na R. Direita e Tv. do Poço, normalmente considerada a anitga Casa da Câmara. Casa Manuelina na R., Direita, n.º 16 e Tv. do Poço, antiga Câmara da Sede dos Bispos. CASA da RODA com inscrição e data, tendo, no interior, dois berçários de pedra, pintados um de rosa e outro de azul.

Acessos

Largo do Reduto, Largo de Santo António, Rua da Igreja.

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, implantado em margem fluvial (Ribeira de Caria ou de São Sebastião e de Santa Ana). A Casa da Torre, vestígios da fortificação e cisterna formam um conjunto que se destaca na cota mais elevada da povoação, situada entre a Ribeira de Caria ou de S. Sebastião e a Ribeira de Santana *1, enquanto a Capela do Calvário está adossada a troço de muralha integrada na cerca, com Passo da Via Sacra contíguo. A Igreja Matriz situa-se isolada, mas na proximidade da anterior e do cemitério e o Solar Quevedo Pessanha situa-se a meia encosta, isolado e cercado por muros.

Descrição Complementar

Casa das Caras ( R. Direita e Tv. do Poço) e Casa Manuelina ( R. Direita, n.º 16 e Tv. do Poço ).

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Não aplicável

Afectação

Não aplicável

Época Construção

Séc. 01 / 04 / 14 / 16 / 17 (conjectural)

Arquitecto / Construtor / Autor

Afonso Peres e Frei Martinho de Alcobaça ( Casa da Torre )

Cronologia

Época romana - hipotética construção de fortificação, de que restam alguns vestígios da cidadela na Casa da Torre; construção de duas pontes; Caria e a Casa da Torre constituía um cruzamento de vias romanas: a via Mérida - Idanha - Braga e a via Covilhã - Vale do Lobo que encontrava com a anterior neste Ponto; existiria aqui uma "mutatio", podendo a Casa da Torre ter constituído um mansio (Aurélio Ricardo Belo) e junto à qual existiria uma calçada romana; a Casa da Torre poderá ter sido "villa"; época medieval - reconstrução do castelo senhorial e respectiva cerca; 1226, 31 Janeiro - referência ao cónego Martim Caria como sendo donatário de uma Póvoa; 1245 - o cónego fixa residência no local, que passa a denominar-se Póvoa de Caria; com a morte deste, passam os seus bens para o bispado da Guarda, apesar dos protestos do concelho da Covilhã, que alegava poderes sobre o local; 1278 - D. Frei João Martins conseguiu privilégios semelhantes aos de um concelho para Caria; 1311, 23 Outubro - o bispo D. Vasco Martins de Alvelos instalou-se no local, para pôr cobro às disputas com o concelho da Covilhã; 1320 - é referida a Igreja de Santa Maria de Caria; 1360 - adaptação da Torre a residência do Bispos da Guarda, no tempo de D. Martinho Pais, tendo sido mestre Afonso Peres e delineada por Frei Martinho de Alcobaça ( inscrição na parede junto da porta em arco quebrado ); 1512 - concessão de carta de foral a Caria por D. Manuel; estruturação da Rua Direita; séc. 16 - construção da Igreja Matriz dedicada a Nossa Senhora da Conceição; 1644 (provável) - construção de reduto no local da antiga cidadela ( Casa da Torre ); construção do Solar Quevedo Pessanha; séc. 17 - na sequência da Guerra da Restauração, foram construídas trincheiras para proteger a população nas entradas da povoação, em São Sebastião e Santa Ana; 1710 - remodelação da Igreja Matriz; 1712 - o Padre Carvalho da Costa refere que a povoação pertencia ao termo da Covilhã e tinha 335 vizinhos; 1758 - referida nas Memórias Paroquiais, a existência da Casa da Câmara com sino para convocar a população para os actos de Concelharia e para as audiências nas Quartas-feiras e Sábados; possuía Casa da Cadeia e, por baixo, o açougue; encontrava-se sujeita no crime e órfãos ao juíz de fora da Covilhã e, no cível, ao Tribunal da Relação do Porto, sendo da correição e comarca da Guarda, cujo corregedor se desloca de 3 em 3 anos para eleição dos juízes e oficiais; a povoação tinha 286 vizinhos; 1767 - hipotética construção ou remodelação da Capela do Calvário; 1784 - data na Casa da Roda, criada na sequência de legislação de Pina Manique; 1792 - obras de renovação da Casa da Torre; 1855, 7 Setembro - extinção do concelho, sendo anexada à Covilhã; 1898, 13 Janeiro - Caria passou a integrar o concelho de Belmonte; séc. 19, finais - a Casa da Torre funcionava como casa de campo dos Bispos da Guarda, que apresentavam o priorado de Caria; 1873, 17 Agosto - a Junta pede autorização para vender a Casa da Roda, um curral, sendo o dinheiro destinado à construção de uma escola; a Casa da Cadeia e curral foram vendidos a José Pires Soares, por 121$000, e a Casa da Roda a José Domingues, por 43$300; 1895, 7 Setembro - a povoação é anexada à Covilhã; 1898, 13 Janeiro - passa a integrar o concelho de Belmonte; 1915, 21 Janeiro - decisão de instalar iluminação pública; 1924, 19 Dezembro - elevada a vila, por decreto publicado no Diário do Governo n.º 282; 1984, 12 Setembro - incêndio na Casa da roda, provocado por fuga de gás; 1994, 19 Dezembro - proposta de classificação como imóvel de interesse público pela DRCoimbra; 1995, 5 Abril - despacho de abertura do processo de classificação pelo Presidente do IPPAR; 2009, 23 outubro - caduca o processo de classificação conforme o Artigo n.º 78 do Decreto-Lei n.º 309/2009, DR, 1.ª série, n.º 206, alterado pelo Decreto-Lei n.º 265/2012, DR, 1.ª série, n.º 251 de 28 dezembro 2012, que faz caducar os procedimentos que não se encontrem em fase de consulta pública.

Dados Técnicos

Não aplicável

Materiais

Não aplicável

Bibliografia

COSTA, P. António Carvalho da, Corografia Portugueza..., 2.ª ed., tomo II, Braga, 1868 [1.ª ed. de 1712]; LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, 1873; PROENÇA JÚNIOR, Francisco Tavares, Archeologia do Distrito de Castelo Branco - 1ª Contribuição para o seu Estudo, Leiria, 1910; VEIGA, Duarte, Castelos e Monumentos Militares das Beiras in Boletim da Casa das Beiras, Lisboa, 1939 (nº 11 - 12, ano V, II série) e 1940 (nº 15); ALMEIDA, João de, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, Lisboa, 1948; REIS, António dos, Vila de Caria, Covilhã, 1959; BELO, Aurélio Ricardo, Dois Marcos Miliários Inéditos do Troço Centum Cellae - Valhelhas da Via Militar Romana Mérida - Viseu - Braga in Arqueologia e História, Lisboa, 1964, vol. XI; AZEVEDO, Correia de, Terras com Foral ou Pelourinhos das Províncias do Minho, Trás-Os-Montes e Beiras, Porto, 1967; SALVADO, António, Elementos para um Inventário Artístico do Distrito de Castelo Branco, Castelo Branco, 1976; ALMEIDA, José António Ferreira de, dir., Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1980; DIONÍSIO, Sant'Ana, Guia de Portugal, Lisboa, 1984; BASTOS, Carlos Pinto, Caria e a Casa da Torre in Jornal de Belmonte, 1985, nº 18; TAVARES, Joaquim Cardoso e MARQUES, Manuel, Subsídios para uma Monografia da Vila de Belmonte, Belmonte, s.d. *5; MARQUES, Manuel, Concelho de Belmonte - Memória e História, Belmonte, 2001.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; IGESPAR: IPPAR

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; IGESPAR: IPPAR

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID; IGESPAR: IPPAR

Intervenção Realizada

Fábrica da Paróquia de Caria: séc. 20, 2.ª metade - trabalhos de conservação e reparação na Igreja Matriz.

Observações

EM ESTUDO. *1 - na proximidade da povoação existem vestígios do Castro de Caria. *2 - "Mille Dolis victis domus / est haeC Condita quando / X indiCat et major / lIttera quaeque tibI" contendo decifração enigmática da data MDCCXCII" ( M. Marques ). *3 - "Esta Casa foi feita na Era MCCCLX / no tempo do Bispo Dom Martinho / e ele nunca a viveu / Afonso Perez foi o mestre / Frei Martinho, Frade / d'Alcobaça, a fez." ( C. P. Bastos ). *5 - texto do processo de classificação da autoria de Manuel Marques, 1989. *6 - Caria conserva ainda o Solar dos Condes de Caria e a Casa da Morgada, edifícios dos séc. 17 / 18.

Autor e Data

Margarida Conceição 1994

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login