Igreja Paroquial de Santa Leocádia / Igreja de Santa Leocádia
| IPA.00005808 |
Portugal, Vila Real, Chaves, Santa Leocádia |
|
Igreja românica de planta poligonal composta por nave única e capela-mor rectangular, mais estreita, com sacrisitia adossada à fachada lateral S.. Igreja de romaria com alpendre exterior. Fachada principal terminada em empena truncada por dupla sineira e rasgada por portal de verga recta simples e janela rectangular. Todo o seu interior era revestido a pinturas murais, ao que parece com 2 níveis pictóricos sobrepostos, com figuras representadas em grande escala. Sabe-se que o pintor era de Coimbra e as pinturas foram feitas com base nas gravuras de Wohlgemuth, mestre do séc. 15, de Nuremberga. A figura de São Cristóvão na nave possui grande qualidade plástica, portando manto de decoração algo cuidada, imitando brocado, contrapondo-se com a figura do Menino no ombro, de traço muito menos cuidado; São Cristóvão apresenta alguns repintes ou várias mãos. Os grotescos no fundo destas são típicos do séc. 16 e surgem também nos frescos da Igreja de Vila Marim. Algumas das pinturas possuem legenda, com troços delidos, com referência ao seu promotor e / ou data de execução. Quer a pintura mural da parede testeira da capela-mor, que poderá ter constituído uma estrutura retabular, quer os dois painéis do retábulo-mor, possuem iconografia idêntica, representando as figuras de São Pedro e São Paulo. O retábulo lateral do Evangelho possui estrutura muito arcaica, maneirista, e decoração joanina, com alguns elementos rococós. O retábulo-mor é maneirista, de andares, com elementos de talha nacional, apresentando muitos elementos reaproveitados. Interior com coro-alto, cobertura de madeira, em caixotões com flores pintadas, provavelmente do séc. 19, púlpito do lado do Evangelho, dois retábulos laterais de talha dourada e policroma maneiristas e um barroco e retábulo-mor de talha dourada e policroma maneirista. |
|
Número IPA Antigo: PT011703290009 |
|
Registo visualizado 646 vezes desde 27 Julho de 2011 |
|
|
|
Edifício e estrutura Edifício Religioso Templo Igreja paroquial
|
Descrição
|
Planta poligonal composta por nave única e capela-mor quadrangular, mais baixa e da mesma altura, tendo adossado a ambas na fachada lateral S. sacristia também quadrangular. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas e uma na sacristia. Fachadas com paramentos de cantaria aparente. Fachada principal virada a O., terminada em empena de cornija truncada por dupla sineira de arco de volta perfeita, ambas com sino, terminadas em cornija encimada por pináculos e cruz central. É rasgada por portal de verga recta rústica e, sobre ele, por uma janela rectangular com gradeamento de ferro; ladeia-a relógio circular. Fachadas laterais terminadas em cornija, lisa na nave e decorada com folhagens de remate boleado na capela-mor, assente em cachorrada, decorada com cabeças humanas, animais e motivos geométricos; a lateral N. é rasgada por uma fresta e dois portais entaipados: um de arco quebrado e tímpano liso e outro de arco contracurvado, e a do lado S. possui na nave duas janelas e um portal de verga recta, uma fresta de arco de volta perfeita e um portal de arco quebrado entaipado; na parede da nave, corre em plano intermédio consolas decoradas de apoio a um alpendre já desaparecido. Na parede da sacristia abre-se uma janela rectangular rústica. A fachada posterior apresenta ao centro fresta de duas arquivoltas decoradas com rosetas e enxaquetado, assentes em impostas decoradas com folhagens e em colunelos de fuste decorado com caras e folhagens de remate boleado. Sobre a empena angular uma cruz de âncora. INTERIOR de paramentos rebocados e caiados de branco, com pavimento de lajes regulares de granito, cobrindo inúmeros enterramentos, alguns deles assinalados por letras, algarismos ou molduras gravadas, coberto por soalho de madeira, e cobertura de madeira, formando caixotões pintados com flores nos ângulos e ao centro, de cores rosa e outras azuis. Coro-alto de madeira, com balaustrada de madeira, pintado a marmoreados rosa e verde, acedido por escada disposta no lado da Epístola; no coro possui escada de madeira que, através de alçapão, permite aceder à sineira; no sub-coro, pia baptismal circular protegida por balaustrada de madeira. No lado do Evangelho dispõe-se, frente ao portal lateral, púlpito rectangular sobre mísula volutada com guarda de madeira pintada; segue-se-lhe retábulo de talha dourada e policroma, de planta recta e três eixos, e, no topo da nave, um outro, igual ao existende no lado da Epístola em posição confrontante, também de talha dourada e policroma, mas de planta recta e um eixo, encimados por baldaquino rectangular pintado a marmoreados. No lado do Evangelho, desenvolvem-se pinturas murais ao longo de 5 m., destacando-se entre os dois retábulos a pintura representando a imagem de São Cristóvão, em grande escala, segurando um cajado e levando no ombro esquerdo o Menino Jesus. No lado da Epístola, onde a superfície é sensivelmente menor, destaca-se painel rectangular com moldura envolvente, criando composição independente das outras, e tendo na zona inferior a inscrição "sta imãgen Mãdou pimtar ... Ãdaes por sua..."; ao centro do painel vê-se uma figura feminina. Arco triunfal quebrado com arquivoltas pintadas com enxadrezado de óvulos, enxaquetados e dentes de serra com pérolas nos intervalos, assente em impostas lisas; inferiormente, surgem pintados acantos enrolados. Na capela-mor, paredes laterais com pinturas murais; no paramento do lado do Evangelho, mais rico, possui várias cenas pintadas, divididas, criando vários registos; uma cena da Visitação, com a figura da Virgem e de Santa Isabel, tendo como fundo porta em tromp l'oeil, na zona central uma figura que poderá corresponder à Anunciação, e depois um Menino Jesus amparado por mãos femininas, talvez a cena do "Massacre dos Inocentes"; no paramento do lado da Epístola, surge representado uma figura profana, num fundo paisagístico, um tocador de gaita de foles tendo a seu lado uma outra figura, segurando nas mãos um cajado; encima a cena um anjo segurando nas mãos filactera com inscrição "A 1?61". Na zona inferior dos paramentos, surge pintado faixa larga com motivos geométricos, tipo mosaico, e na zona superior grotescos pompeianos, com motivos vegetais, anjos, aves e outros animais. De cada lado do arco triunfal, surge uma inscrição de caracteres góticos pintada; no lado direito parece ".. esta obra mandou fazer Dom Fernando..." e do esquerdo "... El rey ... de Coimbra...outeiro...". A parede testeira apresenta pintados à direita, a figura de São Paulo e, à esquerda, a de São Pedro, ambas de grande dimensão, enquadradas numa espécie de edículas separadas por colunas de capitéis coríntios e tendo como fundo grotescos. Retábulo-mor de planta recta e três eixos delimitados por colunas torsas decoradas por pâmpanos e anjos, assentes em mísulas volutadas e, nos extremos, em plintos; as colunas centrais prolongam-se em arquivoltas, formando o ático e envolvendo o arco de volta perfeita da tribuna central, revestida a painéis de talha decorados com acantos; na zona central, sotobanco muito elevado para receber o sacrário e trono de três andares. Nos laterais, painéis com mísulas contendo imagens encimadas por entablamento encimado por dois painéis pintados, no lado do Evangelho com a figura de São Pedro e no oposto com a de São Paulo; remate com aproveitamento de elementos de talha. No banco, duas portas entalhadas de acesso à tribuna. |
Acessos
|
Santa Leocádia, Rua da Eira |
Protecção
|
Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 44 075, DG, 1.ª série, n.º 281 de 05 dezembro 1961 |
Enquadramento
|
Rural, isolado, no rebordo ocidental da serra da Padrela, na periferia da aldeia, sobranceiro a um vale agrícola. Adro sobrelevado, murado com acesso frontal por portão de ferro, antecedido por cruzeiro e escadório desenvolvido em leque, e ladeado por altos ciprestes; pavimento de terra, relvada, com dois sarcófagos antropomórficos encostados à igreja. |
Descrição Complementar
|
Retábulo lateral do lado do Evangelho de planta recta e três eixos delimitados por, pilastras nos extremos, e colunas torsas, de espira fitomórfica, e capitéis coríntios, assentes em mísulas com anjos atlantes, e suportando entablamento de friso decorado com concheados; no eixo central, nicho de arco de volta perfeita decorado, contendo imagem em mísula e nos laterais, de fundo pintado por flores, mísula e baldaquino; tabela pintada ladeada por quarteirões, aletas laterais e pináculos no alinhamento das colunas extremas, rematado por frontão de volutas. Os retábulos laterais do topo da nave têm planta recta e um eixo, delimitado por colunas coríntias com o terço inferior decorado com acantos e querubins, assentes em plintos ornados com acantos e suportanto entablamento, sobre o qual assenta tabela rectangular ladeada por quarteirões, aletas e pináculos sobre acrotérios; remate em frontão de volutas interrompido; ao centro, nicho de arco de volta perfeita enquadrado por alfiz decorado por acantos em forma de voluta, contendo imagem. |
Utilização Inicial
|
Religiosa: igreja paroquial |
Utilização Actual
|
Religiosa: igreja paroquial |
Propriedade
|
Privada: Igreja Católica (Diocese de Vila Real) |
Afectação
|
Sem afectação |
Época Construção
|
Séc. 12 / 16 / 17 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
|
Desconhecido. |
Cronologia
|
Séc. 12 - Provável construção da igreja românica (OLIVEIRA E CASTRO); 1264, 28 Setembro - o rei, atendendo às queixas recebidas da parte dos abades das Igrejas de Santa Leocádia, Moreiras e São Miguel de Nogueiras, ordena aos juízes de Chaves que não obrigassem os habitantes das terras que as referidas igrejas possuiam nos termos de Chaves e Montenegro a irem em anúduva ao castelo de Chaves; 1287- documento relativo a um acordo entre Dom Telo, Arcebispo de Braga e os monges de Castro de Avelãs, figura um "Domino Joanne Didaci - Abate Ecclesiae Sanctae Leocadie de Monte Negro"; séc. 16 - ampliação da nave, dada a linha de "costura" evidente do lado N. e porta de arco contracurvado; realização das pinturas murais; séc. 17 / 18 - data dos retábulos de talha; séc. 18 - alterações na fachada principal, com abertura de novo portal e janela; provável alteamento da capela-mor e ampliação da nave para O.; 1727 - data gravada sobre o janelão da fachada S.; 1799 - tecto da sacristia; 1824 - remodelações assinaladas na padieira da primeira janela e porta da fachada S.; séc. 19 - pinturas do tecto; 1997 - durante os trabalhos arqueológicos, detectou-se no cunhal NE. da capela-mor um muro de aparelho romano, confirmando a existência de restos de um edifício desse período, talvez um "mutatio", alicerces que existem sob a igreja e o adro; 2002 / 2004 - visitas ao imóvel para elaboração da Carta de Risco (DGEMN/DREMNorte). |
Dados Técnicos
|
Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
|
Estrutura, paredes, arcos, janelas em granito; pinturas murais a têmpera, retábulos de talha dourada e policroma, pavimento e coberturas interiores de madeira; coro-alto e guarda do púlpito de madeira pintada. Cobertura exterior em telha de aba e canudo; algerozas de zinco. |
Bibliografia
|
DIAS, Nuno José Pizarro, Chaves Medieval (séculos XIII e XIV, in Rev. Aquae Flaviae, vol. 3, Chaves, 1990, p. 35 - 94; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra, Relatório da intervenção no painel da Matança dos Inocentes, na Igreja de Santa Leocádia, [efectuada por António José Duarte], Cacém, 1999; GRAF, Gerhard N., Portugal Românico - 2, Madrid, 1988, pp. 431 - 432; HESPANHOL, Pilar Pinto, NUNES, José, As recém-descobertas pinturas murais de Santa Leocádia in Revista Aquae Flaviae, nº 19, Chaves, 1998, p. 39 - 56; JÚNIOR, António de Souza Oliveira, CASTRO, Luís de Albuquerque e, A Igreja Românica de Santa Leocádia, Actas do Congressso Histórico de Portugal Medievo, in Bracara Augusta, 16 - 17 (39 - 40), 1964, pp. 161 - 167; MARTINS, A. Veloso, Monografia de Valpaços, 1990, pp. 265 - 267; Quadrifólio, Relatório final do trabalho de análise de pinturas murais que revestem os paramentos interiores, abertura de janelas de amostragem para a comprovação da pintura mural subjacente, incluindo-se a apresentação de uma proposta de intervenção para a sua consolidação, conservação e restauro, das igrejas: Igreja Paroquial de Vilarinho de Agrochão, Igreja de São Tomé de Abambres, Igreja de Santa Leocádia, s.l., 1996; Relatório dos Trabalhos de Acompanhamento Realizados pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, ao Abrigo dos Protocolos com a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (1997 - 1999) (2001 - 2002), (Universidade do Minho), Braga, 2002. |
Documentação Gráfica
|
IHRU: DGEMN/DREMN, DGEMN/DSID; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra |
Documentação Fotográfica
|
IHRU: DGEMN/DREMN, DGEMN/DSID; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra; Arquivo " Mural da História " |
Documentação Administrativa
|
IHRU: DGEMN/DREMN, DGEMN/DSID; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra |
Intervenção Realizada
|
DGEMN: 1996 - Substituição da cobertura e reparação das paredes exteriores; análise de pinturas murais que revestem os paramentos interiores, abertura de janelas de amostragem para a comprovação da pintura mural subjacente, incluindo-se a apresentação de uma proposta de intervenção para a sua consolidação, conservação e restauro; 1997 - beneficiação do pavimento da capela-mor; decide-se conservar o pavimento sem qualquer regularização, como previsto, a fim de preservar os enterramentos existentes sob as lajes; beneficiação do pavimento e paramentos da sacristia; reparação e substituição de caixilharias de vãos; trabalhos de drenagem exterior e execução de pavimento exterior perimetral em lateano de granito, com acompanhamento arqueológico pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, ao abrigo do Protocolo com a DGEMN; renovação da instalação eléctrica; conservação do retábulo-mor em talha e das pinturas murais no tardoz do retábulo-mor; conservação do tecto da sacristia e do arcaz; execução do ambão e mesa de celebração cerimonial; 1998 - conservação do pavimento da nave; 1999 - conservação do tecto da capela-mor; restauro das pinturas murais da capela-mor; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra: 1999 - intervenção no Painel dos Inocentes, com levantamento da cal, fixação e consolidação geral da película cromática, limpeza da camada pictórica, colocação de massas de preenchimento de lacunas e reintegração cromática; DGEMN: 2000 - conservação e restauro do tecto da nave; conservação e restauro dos baldaquinos sobre os retábulos colaterais; reparação das coberturas; 2002 / 2003 - conservação e restauro das paredes interiores, das pinturas murais da nave, dos retábulos, púlpito e coro; 2003 / 2004 - conservação dos retábulos, reposicionados afastados da parde para permitir a visualização das pinturas; reforma do pavimento, adaptando-o à nova posição dos retábulos; 2005 - reparação das paredes da sacristia, soalho dos arrumos, porta do confessionário e tampo da pia baptismal; colocação de um corrimão nas escadas de acesso à igreja; conservação de uma parte do muro de suporte do adro (previstas). |
Observações
|
A Igreja de Santa Leocádia foi Reitoria e Comenda da Casa de Bragança e pertenceu ao Arcebispado de Braga até à criação da diocese de Vila Real. A realização de sondagens interiores puseram a descoberto pinturas murais na primeira parte da nave e na capela-mor. Foram executadas a têmpera, com aglutinante de gema de ovo detectando-se a presença de resina, sobre uma argamassa pouco carbonatada. A paleta é relativamente variada, sendo os pigmentos mais usados os ocres, terras, vermelhos e verdes. |
Autor e Data
|
Isabel Sereno e Ricardo Teixeira 1994 / Paula Noé 2003 |
Actualização
|
|
|
|
|
|
| |