Paço de Vilar de Perdizes

IPA.00005766
Portugal, Vila Real, Montalegre, União das freguesias de Vilar de Perdizes e Meixide
 
Arquitectura residencial e de saúde, seiscentista, barroca e neoclássica. Solar barroco, de planta rectangular, fachadas de dois pisos rebocadas, com pilastras nos cunhais e terminadas em cornija, rasgadas por vãos de molduras simples. Fachada principal aberta no primeiro piso por três portas largas e no segundo por janelas de peitoril, tendo acesso ao andar nobre por escada descentrada, com guarda plena e alpendre no topo assente em colunas toscanas. Nas outras fachadas rasgam-se essencialmente janelas de peitoril sobrepostas. No interior dispõem-se salas intercomunicantes entre si com tectos do andar nobre em madeira entalhada, formados por caixotões amplos facetados, alguns com pintura decorativa. Antigo hospital maneirista, de planta rectangular, com cunhais apilastrados e remate em cornija, com fachada principal de dois panos, um deles rasgado por portal de verga recta inscrita e encimada por frontão de volutas interrompido por nicho. Capela de planta longitudinal, com fachada principal terminada em empena, rasgada lateralmente por janelas, espaço único no interior com retábulo neoclássico, de talha policroma, de planta recta e três eixos. Complexo de grande valor histórico constituído por solar e hospital, botica, capela e cruzeiro junto ao caminho de Santiago e de apoio aos peregrinos, referindo-se o facto de dois mapas galegos, um de 1598, de F. Fer Ojea, editado em Amberes, e outro de 1608 apócrifo, incluírem Vilar de Perdizes nos Caminhos de Santiago e não a maior parte das cidades portuguesas junto à fronteira, nomeadamente Bragança. Constitui um dos poucos, senão único, Morgadio em Portugal que se sabe ter sido instituído por comenda pontifícia. O cunhal SO. do solar, pela sua estrutura e pelo corte e dimensão da cantaria, indicia ser o mais antigo, provavelmente pertencente à estrutura inicial do séc. 16 ou do 17. Na fachada E. conserva latrina saliente coberta por laje de cantaria, possivelmente do séc. 17, e na fachada posterior as várias mísulas sob as janelas do piso térreo poderão indicar a existência de um antigo alpendre. O hospital, de fundação quinhentista e integrando capela, entretanto arruinada, apresenta fachadas maneiristas sóbrias, com maior destaque para o portal, com imagem de São Tiago no nicho; lateralmente possui silhares com carrancas possuindo argolas para prender os animais; a fachada principal, com cunhal esquerdo apilastrado, foi prolongada posteriormente para encostar ao solar; interiormente possui numa das salas lareira. Ao que parece, integrava-se na categoria dos hospitais relativamente bem providos, visto que se dava a comer aos peregrinos caldo de azeite, caldo de carneiro e frango, possuindo um talho ao seu serviço. A capela actualmente existente, separada, corresponde à capela-mor de uma igreja que ficou por concluir, possuindo grande contraste entre a fachada principal, pouco cuidada e de carácter muito simples e robusto, porque foi feita apressadamente para fechar o espaço, com as restantes fachadas, rebocadas, de cunhais apilastrados, coroados por elegantes pináculos, terminadas em friso e cornija. No interior, as pilastras facetadas com capitéis fitomórficos de modinatura oitocentista na parede fundeira, deveriam pertencer ao pretendido arco triunfal. O retábulo-mor possui três eixos, os laterais muito mais estreitos, com mísulas. Constitui um dos poucos morgadios que se sabe ter sido instituído em Portugal por comenda pontifica.
Número IPA Antigo: PT011706280015
 
Registo visualizado 766 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Quinta  Casa nobre  Tipo planta retangular

Descrição

Compõem-se de solar, um hospital, as ruínas da antiga capela de Santa Cruz, a capela actual, uma botica e uma casa em ruínas, dispondo-se desalinhados, oblíquos entre si e conflituosamente próximos. SOLAR: de planta rectangular, volume simples de dois pisos, com cobertura em telhado de quatro águas. Fachadas em cantaria aparente, de aparelho irregular, conservando em algumas zonas o reboco, terminadas em cornija. Fachada principal virada a S. com escadaria descentrada de lanço único de acesso ao andar nobre, com guarda de cantaria plena, alpendre sobre o patim, apoiado em duas colunas de granito, e vão inferior tendo porta de verga recta. No primeiro piso abrem-se três portas largas, uma delas no vão da escada, de verga recta, e, no segundo, nove janelas de peitoril, molduradas e com caixilharia de guilhotina, e uma outra, possivelmente de sacada, entaipada. À direita da escada, adossa-se obliquamente corpo rectangular em ruínas do antigo hospital. Fachadas laterais rasgadas por duas janelas em cada piso, na voltada a O. todas de peitoril com caixilharia de guilhotina e na voltada a E. de peitoril com portadas, no piso inferior, e de sacada, com guarda de ferro e possuindo bandeira, no piso superior; nesta fachada destaca-se caleira de saída das águas de lavagem da cozinha, e latrina, em pedra, saliente, de planta rectangular, sobre duas mísulas, coberta por laje. A fachada posterior, voltada a N., é rasgada em cada piso por sete janelas de peitoril, sobrepostas e molduradas a cantaria, com espaçamentos distintos entre si; os vãos do piso térreo, tendo inferiormente mísulas pétreas, possuem portadas simples de madeira, sem vidros, tendo apenas uma caixilharia de guilhotina, e os do segundo piso têm todos este tipo de caixilharia. No cunhal SO. apresenta vestígios de uma pedra de armas dos Sousa do Prado, feita em estuque. INTERIOR: compartimentado através de uma parede mestra central que o divide transversalmente e de três paredes mestras longitudinais, para além das dos topos. Organiza-se em oito grandes salas por piso, intercomunicantes através de portas de verga recta e de dupla folha, com pavimentos de terra batida no primeiro piso e de madeira no segundo, comunicando os dois pisos por escada em L de dois lanços localizada na cozinha. Junto ao quarto próximo do cunhal NE. foi construída uma instalação sanitária com paredes de tijolo, constituindo a única excepção aos salões do restante solar. No andar nobre, as várias dependências apresentam tectos facetados, formando caixotões, assentes em trompas, entalhados, alguns deles em branco ou com pintura. Destaca-se o da sala de jantar, octogonal, de amplos caixotões, com florões de talha dourada nos encontros, apresentando ao centro os brasões do 8º morgado Alexandre de Sousa Pereira Coutinho e de sua mulher, com pintura policroma; e um dos quartos, com pintura policroma de motivos fitomórficos. HOSPITAL: de planta quadrangular e um só piso, em ruína e sem coberturas. Fachadas em cantaria aparente. A fachada principal, virada a O., termina em cornija e é marcada por dois panos por pilastra; no pano da esquerda, abre-se portal de verga recta, moldurado, com inscrição na padieira, encimado por frontão de volutas interrompido por um nicho, em arco de volta perfeita, abóbada concheada, albergando imagem de São Tiago, em pedra, sobre mísula; ladeia o portal dois silhares, esculpidos com uma carranca, e com argola para de ferro. A fachada lateral N., oblíqua em relação à fachada do solar, distanciando um mínimo de 0,30 m e um máximo de 1,40 m desta, é rasgada por dois grandes vãos; a lateral S. apresenta uma janela engradada pertencente à capela original que ruiu e outros vestígios como azulejos na parede e sepulturas no pavimento; sobre o cunhal SO. surge relógio de sol. Fachada posterior marcado por antigo vão entaipado, encimado por janela rectangular jacente. INTERIOR apresentando na parede N. uma lareira ao centro, assente em duas mísulas, ladeada pelos dois vãos. CAPELA: implantada entre o corpo do antigo hospital e a botica, apresentando-se afastada destes, possui planta longitudinal e volume simples, de 10 metros de comprimento, com cobertura em telhado de duas águas. Fachada principal virada a O., em cantaria aparente de aparelho irregular, terminada em empena simples e rasgada por portal de verga recta, moldurado. Fachadas laterais rebocadas, terminadas em friso e cornija de cantaria sobrepujada por beiral, rasgadas por janela rectangular com capialço e tendo adossado a S. sacristia rectangular, também rebocada, com pilastras nos cunhais, terminada em cornija e beiral e com cobertura de apenas uma água; na fachada S. abrem-se duas janelas rectangulares jacentes. Fachada posterior da capela com pilastras nos cunhais, encimados por plintos adelgaçados, e terminada em empena, de friso e cornija, sobrepujada por beiral e com cruz de cantaria sobre plinto; a da sacristia é cega. INTERIOR: com paramentos rebocados e pintados de branco, com vãos laterais possuindo moldura recortada e formando avental; pavimento lajeado integrando três sepulturas e tecto em falsa abóbada de berço, de madeira decorada, assente em friso e cornija moldurada, a qual na parede fundeira possui pilares facetados com capitel estilizado fitomórfico. Sobre supedâneo acedido por três degraus, retábulo em talha policroma, de planta recta e três eixos, definidos por colunas coríntias com o terço inferior marcado por enrolamentos e assentes em plintos sobrepostos, os inferiores paralelepipédicos, decorados com elemento fitomórfico, e os superiores jacentes, marmoreados a azul, e duas pilastras toscanas exteriores; no eixo central abre-se tribuna, em arco de volta perfeita, de moldura marmoreada, com o fundo pintado de branco e tecto em caixotões, albergando trono de cinco degraus com coroa fitomórfica; nos eixos laterais, muito mais estreitos, mísulas; ático em cornija encimada por anjos centrais. Altar paralelepipédico, com frontal decorado com cartela recortada e elementos fitomórficos, sobre o qual surge banqueta e sacrário, marmoreados, este com porta decorada por cruz latina e enquadrada por quarteirões volutados. No interior da sacristia, com paramentos rebocados e pintados de branco, pavimento de lajes e tecto plano de madeira, existe um lavabo com espaldar superiormente recortado, possuindo florão central encimado por pequeno reservatório concheado e bacia trilobada. CRUZEIRO: implantado no terreiro fronteiro à capela, é composto por plinto paralelepipédico, com face frontal de almofada concava, e cruz, de braços quadrangulares, possuindo frontalmente sulcos gravados. BOTICA: de planta rectangular e volume simples coberto por telhado de quatro águas; fachadas em cantaria aparente de aparelho irregular, rematado nos cunhais por pináculos, rasgadas por vãos moldurados e apresentando vestígios de outras construções adossadas e actualmente em ruína.

Acessos

Vilar de Perdizes, desvio da EN 103

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria nº 383/2011, DR, 2.ª série, n.º 36, de 21 fevereiro 2011 *1

Enquadramento

Rural, isolado. Localiza-se numa posição estratégica no Caminho de Santiago, junto à fronteira N. com Espanha, na extremidade E. da Serra do Barroso, mais concretamente no vale do rio de Porto de Rei. Implanta-se numa plataforma junto a um caminho estreito, adaptado ao desnível do terreno, possuindo junto à fachada posterior do solar extenso terreno agrícola em direcção a N. e mais curto e não cultivado no sentido E., de cota mais baixa. O terreiro fronteiro ao Paço, em terra batida, é delimitado por um muro baixo, em forma de "L", apresentando quatro pináculos, dois de marcação da entrada e mais um em cada vértice.

Descrição Complementar

Inscrições: Inscrição gravada na padieira da entrada do hospital; granito; sem moldura com duas volutas a enquadrar a data; tipo de letra: capital quadrada; leitura: "HOSPITAL PARA AGASALHO DOS ROMEIROS DE SANTIAGO, ANO DE 1724"; 2 - sepultura da capela: "AQUI JAZ DONA MARIA DA / GRAÇA DE SOUSA PEREIRA / COUTINHO SEGUNDO VISCON- / DESSA DA S NOGUEIRA S. FILHA / MAIS VELHA DE ANTONIO DE / SOUSA. PEREIRA COUTINHO / MORGADO. DE. VILAR. DE. / PERDIZES - FALECIDA. A TRE / ZE. DE FEVEREIRO. DE. MIL. NO / VECENTOS. E. VINTE. E. TRES". Os brasões do 8º morgado Alexandre de Sousa Pereira Coutinho e de sua mulher têm a seguinte leitura: o da esquerda tem no I quartel as armas de Yebra, no II as de Pimentel, no III as de Oca e no IV as de Ulla, esquartelado pela Calatrava dos Ribadeneyra; o brasão da direita tem as armas dos Sousas do Prado em pleno, I quartel e IV com leão e II e III com as armas de Portugal.

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: quinta

Utilização Actual

Agrícola e florestal: quinta

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 (conjectural) / 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO PAISAGISTA: Gonçalo Ribeiro Telles (1965).

Cronologia

Séc. 12 / 13 - Vilar de Perdizes era senhorio de Martim Afonso de Sousa Chichorro (1275 - 1323), quinto avô do instituidor do vínculo com o mesmo nome; D. Fernando concede a honra de Vilar de Perdizes a D. Gil Fernandes de Carvalho, 6º Grão-Mestre da Ordem de Santiago da Espada, devido aos serviços prestados, nomeadamente a tomada de Monterrey com D. Fernando de Castro; Idade Média - constituía, juntamente com Meixide, Gralhas, Padroso, Padornelos e Tourém, uma das seis Honras; 1551, 26 Junho - o Abade António de Sousa, Deão de D. Jaime e D. Teodósio, Duques de Bragança, outorga, em Chaves, escritura de doação e nomeação de bens para o Hospital de Santa Cruz, em Vilar de Perdizes, para "agazalho dos romeiros de Santiago", vinculando o remanescente dos bens da paróquia, bens próprios e a capela de Santa Cruz (ainda não erigida); 14 Outubro - carta de instituição do Morgadio de Vilar de Perdizes com funções eminentemente militares, informando, no entanto, que já possuía casas no local; a carta de instituição do Morgadio declara: "caso se soubesse de alguém doente noutro lugar visto que é montanha e aldeia onde não há físico, e não conseguisse caminhar, seria trazido ao Hospital ou levado a Monterrei em besta paga pelo cofre do Hospital"; informava ainda que se os peregrinos tivessem de descansar, seriam acolhidos até nove durante três noites, excepto se estivessem doentes; 1555, 21 Maio - Bula papal de Paulo IV, confirmando a instituição do Hospital de Santa Cruz, e concedendo a Comenda perpétua de São Miguel de Vilar de Perdizes e a administração de rendimentos de toda a paróquia para manutenção do Hospital e da Capela; o instituidor vinculava ainda, com o mesmo fim, rendimentos de terras em Chaves, Favaios e Monforte do Rio Livre, as primícias das ofertas da vila de Pasais e os "domínios" de Soutelinho e Meixide; 1557, 13 Dezembro - disposições adicionais de António de Sousa, em Braga, determinando que a capela de Santa Cruz tivesse dois capelães, cada um deles recebendo 3$000 rs e 30 alqueires de centeio anualmente, e para que se rezassem não duas, mas seis missas semanalmente; séc. 16 - construção da capela de Santa Cruz, que possuía uma cripta, abóbada de seis arcos e portal para o exterior, e que deveria ser acompanhada de uma botica; 1605 - morte em combate em Ceuta do 3º morgado António de Sousa Pereira; 1641, 14 Agosto - ataque dos castelhanos que saquearam e incendiaram Vilar de Perdizes; c. 1650 - novo ataque dos castelhanos fazendo prisioneiro o morgado; 1659, 14 Janeiro - morte do herdeiro da casa, Alexandre de Sousa Pereira, na defesa de Elvas; 1665, 17 Junho - ataque dos castelhanos ao Paço; 1680, 14 Maio - foram vinculados ao morgadio de Vilar Perdizes por António de Sousa Pereira, bens imóveis localizados em Casas Novas; 1686, 21 Dezembro - sepultamento de António de Sousa Pereira, 5º morgado de Vilar Perdizes, na capela; 17 / 18 - provável destruição da capela, durante algum dos vários ataques que o Paço sofreu; 1708 - invasão de castelhanos que terá destruído grande parte do Paço e dos seus anexos, após o que terá começado a reconstrução do mesmo; 1714, 2 Fevereiro - sepultamento de Alexandre de Sousa Pereira, 6º morgado, na capela; 1724 - termo da construção do novo hospital, cuja data surge inscrita na verga do portal; 1738, 16 Abril - sepultamento de António de Sousa Pereira, 7 º morgado de Vilar Perdizes, na capela; 1749 - Tombo do Morgadio levantado pelo desembargador Martinho Teixeira Homem; 1758 - segundo as Memórias Paroquiais, o hospital era então administrado por Alexandre de Sousa Pereira, fidalgo da Casa Real e Capitão de Cavalos Dragões na Praça de Chaves, e tinha de renda os dízimos da freguesia e duas anexas, que renderiam cada ano cerca de 1:200$000; 1769 - grande renovação e expansão do Paço após o casamento do 8º Morgado com D. Beatriz Agustina de Yebra y Oca, o qual constituiu uma aliança com uma importante casa galega, a dos Marqueses de Lâncara; 1777 - carta à rainha D. Maria I aludindo às primeiras experiências com técnicas piemonteses por iniciativa de Alexandre de Sousa Pereira Coutinho e Castro para introdução da cultura do bicho da seda; 1787, 23 Janeiro - testamento de Alexandre de Sousa Pereira Coutinho e Castro, recomendando que seu filho natural João de Sousa Coutinho Pereira, reitor de Vilar Perdizes, acabe as obras de reedificação da capela de Santa Cruz, nas quais já havia sido dispendido dinheiro, sob pena de devolução daqueles montantes; 1790 - vivia-se grandes dificuldades no hospital; 1794, 14 Julho - atestado do Desembargador do Porto a José Maria de Miranda Magalhães e Meneses, de Ruivães, pelos serviços prestados na direcção das Escolas de Fiação de Seda e Administração do Pano de linho para fornecimento do exército, entre outras coisas; 1797 - construção da entrada e do muro de suporte do terreiro; 1809 - invasão de Soult originando a interrupção da construção da nova igreja, erigida sob a direcção de João de Sousa Coutinho Pereira, Reitor de Vilar de Perdizes e meio-irmão do 9º Morgado; a capela-mor da futura igreja foi entaipada e assim se mantém até à actualidade; no paço esteve hospedado Bedford nas vésperas do confronto militar; 1836 - na sequência da Guerra Civil portuguesa e do decrescimento das peregrinações, o hospital deixou de funcionar; séc. 19, até meados - cultivava-se linho da quinta; 1869 - a propriedade é posta à venda; mais tarde passa para a família Canedo; 1910, cerca - venda de algum mobiliário do paço, nomeadamente a cómoda que veio a ser adquirida pelo Coronel Bento Esteves Roma; 1913 - partes do imóvel são arrendadas à Guarda-fiscal e outras passam a escola primária; 1940 - ciclone fez abater o telhado do hospital e provoca grandes estragos no pomar da propriedade, ficando apenas uma grande macieira; leilão de parte do recheio do solar; 1947 - transferência para Ermesinde do sino que existia sobre o beiral da chamada "Casa da Guarda", e onde se tocava sempre que nascia um morgado; 1950 - tecto da sala de entrada, assente em cachorros de águias bicéfalas, ruiu; 1964 - a propriedade volta aos descendentes da família dos antigos morgados; prospecção arqueológica executada a pedido dos proprietários, pelo Prof. D. Fernando de Almeida; nas escavações foram descobertas as escadas de acesso à botica e à casa contígua e detectaram-se elementos estruturais da primitiva capela integrados na muralha norte; 1965 / 1967 - colocação de novo mobiliário nos salões e quartos; 1965, 12 Setembro - Diocese de Vila Real autoriza a reabertura da capela ao culto; arranjo paisagístico pelo Prof. Gonçalo Ribeiro Telles; 1967 - acordo com a Guarda-fiscal para passagem para o piso térreo e botica até à construção de um novo quartel; 1986 - com a entrada de Portugal na União Europeia e a abertura das fronteiras do espaço comunitário, a Guarda-fiscal deixa de estar instalada no Paço; 1994, 20 outubro - proposta de classificação da Associação Portuguesa de Casas Antigas; 1995, 04 setembro - proposta de abertura do processo de classificação da DRPorto; 05 setembro - Despacho de abertura do processo de classificação do Presidente do IPPAR; 1995, Inverno - ruiu troço da muralha E. tendo sido recuperada pelos proprietários, no mesmo ano; pedido de classificação do conjunto construído pela APCA; 1996 - queda da última macieira do antigo pomar; 1999 - tremor de terra provoca danos estruturais na escadaria exterior do solar e no portal da capela; 2001 - elaboração de relatório pormenorizado sobre as principais patologias do edifício principal por técnicos da DGEMN; 2003 - corte dos choupos e salgueiros, de grande porte, existentes no terreno junto ao regato devido ao seu envelhecimento e à queda de algumas, que punham em risco pessoas e bens; 2004 - está em curso um novo plano de arborização da autoria do Prof. Gonçalo Ribeiro Telles; Janeiro - elaboração da Carta de Risco do imóvel pela DGEMN; 2007, 30 janeiro - proposta da DRPorto para a classificação como Imóvel de Interesse Público e definição de Zona Especial de Proteção; 19 março - parecer favorável para a classificação como Imóvel de Interesse Público do Conselho Consultivo do IPPAR e definição de Zona Especial de Proteção; 2009, 21 outubro - despacho de homologação para a classificação do imóvel e definição de Zona Especial de Proteção do Ministro da Cultura.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Paredes exteriores de alvenaria de granito rebocado, com cunhais e guarnições dos vãos em cantaria; cobertura em estrutura de madeira revestida a telha de barro; pavimentos em terra, soalho de madeira ou lajeado de granito; tectos em madeira, alguns de caixotões, e pintados; retábulo de talha policroma; caixilharias de madeira.

Bibliografia

AZEVEDO, José Correia de, Inventário Artístico de Portugal, vol. 2, Lisboa, 1991; BETTENCOURT, Alexandre, Sinopse Histórica de apoio ao Projecto de Valorização do Património Arquitectónico do conjunto anexo ao Paço de Vilar de Perdizes (não publicado), Lisboa, 2003; BETTENCOURT, Jacinto Moniz de, O Morgadio de Vilar de Perdizes, Lisboa, 1986; Guia de Portugal - Trás-os-Montes e Alto Douro, Lisboa, 1987; SÃO PAYO, Luíz de Mello Vaz de, Bordonhos e Vilar de Perdizes, in Armas e Troféus, Série III, Tomo III, nº 223, 1978; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/156234 [consultado em 11 janeiro 2017].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco; IAN/TT: Dicionário Geográfico, vol. 41, nº 300, pp. 1827-1830

Intervenção Realizada

Proprietário: séc. 20 - substituição do telhado, introdução de instalação eléctrica, água canalizada e sanitários; 1964 - prospecção arqueológica executada pelo Prof. D. Fernando de Almeida, tendo-se descoberto pedras com "amarelejos" da cripta seiscentista; importantes obras de restauro, onde se inclui um novo telhado "à portuguesa", aproveitando a maioria da telha antiga; renovação de todas as janelas, portas e portadas; restauro dos pavimentos do andar nobre; restauro da capela; 1970 / 1971 - execução de novo telhado; 1971 - prolongamento da chaminé da lareira da sala de jantar acima do pau de fileira; 1989 - construção de instalações sanitárias na divisãoi NO. do primeiro piso; 1990, década - obras de conservação; 1991 - recobrimento da estrada de acesso, com sucessivas camadas, provocando o seu alteamento relativamente ao muro de suporte e portão da Parada; 1993 - colocação de novo telhado na capela; 1995 - recuperação da muralha.

Observações

*1 - A Zona Especial do Paço é conjunta com a da Capela de Nossa Senhora das Neves (v. PT011706280169). *2 - A origem deste Paço está intimamente ligada a Santiago de Compostela, pois a criação inicial da botica e hospital tinha como objectivo o apoio a esses peregrinos. Analisando a rede viária romana e medieval, os principais afluxos de peregrinos para Santiago deveriam chegar sobretudo pela via que vinda da Beira Alta (Lamego) apanha a estrada romana Vila Real - Chaves e que depois de Oura, inflecte em Santa Eulália de Anelhe para Vilar de Perdizes passando em Redondelo e Calvão, ou a que vinha da Beira Baixa segue por Idanha-a-Velha, Guarda, Marialva, Mirandela, Valpaços, Valtelhas, Vilarandelo e Chaves. De Chaves este segundo trajecto apanha a "estrada das capelas" ou "estrada velha de Montalegre" por Sanjurge, calçada do Lapedo, Paimogo, São Caetano, Soutelinho da Raia e Vilar de Perdizes. À saída de Soutelinho o caminho principal apanhava a calçada que segue paralela à fronteira até à ponte da Assureira, vencia o Monte Meão até à ponte de Chaves e, passada esta, curva junto à Alminha de Ás-da-Loba, seguindo depois sobre a actual estrada nacional até se desviar para N. para atravessar o lameiro a O. da fraga da Caravela e entrar, a direito, em Vilar de Perdizes a meia encosta do monte da Cruz apanhando a vreia, até à Parada do Paço e ao hospital. De Vilar de Perdizes o caminho principal seguiria pelo Caminho Real que assente em calçada romana passa perto do Castro de São Millan, em direcção a Lucenza, Ginzo e Ourense. O hospital teria capacidade para 9 a 12 catres e, ao que parece, estava relativamente bem apetrechado, visto a carta de instituição determinar oferecer, para além do fogo, água e sal aos peregrinos, oferecer também um caldo de azeite, caldo de carneiro e frango. Aliás, em Vilar de Perdizes, existia um talho ao serviço do hospital. O pão seria feito no forno, nomeadamente no de cima da vila. A tradição oral de Vilar de Perdizes diz que quem agarrasse as argolas existentes na frontaria do Hospital ficava sob jurisdição do Morgado e não poderia ser perseguido. Julga-se que nessa época nas proximidades estaria a residência do Abade António de Sousa. Nos termos da instituição do Morgadio, e da organização tradicional do exército português, existiam unidades militares formadas por soldados da terra, sob o comando do Morgado, que formavam no terreiro fronteiro ao Paço, ainda hoje conhecido por "parada". Há registo de que o 9º Morgado de Vilar de Perdizes, João António de Sousa Pereira Coutinho, possuía no Paço uma biblioteca com 4000 volumes. O solar de Vilar de Perdizes terá ainda desempenhado um papel importante na introdução da cultura do bicho da seda em Trás-os-Montes, tendo as primeiras experiências sido ai realizadas. Aliás, uma amoreira centenária testemunho dessa tentativa sobreviveu no Parada do Paço até há poucos anos.

Autor e Data

Ricardo Teixeira e Isabel Sereno 1996 / Nuno Vale e Teresa Ferreira e Paula Noé 2004

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login