Palacete na Avenida Fontes Pereira de Melo, n.º 28 / Edifício da Sede do Metropolitano de Lisboa

IPA.00005619
Portugal, Lisboa, Lisboa, Arroios
 
Palacete ecléctico, de planta rectangular simples, com as fachadas divididas em panos escalonados e com tratamento diverso, dinamizando-as, sendo mais exuberante a fachada principal, onde são visíveis os quatro pisos que compõem o imóvel, correspondendo à cave, a dois pisos e ao aproveitamento do sótão. Possui um amplo pátio na fachada posterior e pequeno logradouro na lateral esquerda, para onde surge um acesso de marquise em ferro forjado e vidro, com escadas do mesmo material. As fachadas são revestidas a cantaria, o primeiro piso com tendência para apresentar silharia fendida e percorrido por friso de acantos, que ligam as molduras das várias janelas, sendo o superior simples, com remates em cornija angular, em platibanda plena ou balaustrada, encimada, no gaveto por urnas. É rasgado por janelas em arco de volta perfeita, com molduras simples ou múltiplas, surgindo casos de tríforas, que abrem para varandas, uma delas alpendrada, na fachada principal. A decoração é exuberante e mesclada de vários estilos, desde a tendência clássica para a dupla ordem arquitectónica e a silharia fendida, com elementos neobarrocos, visíveis os festões e grinaldas, bem como elementos Arte Nova, patentes nos ferros forjados que guarnecem as guardas e portões. Edifício alvo do prémio Valmor, constituindo um exemplar típico das obras de Norte Júnior, vivendo, exteriormente, da profusão de elementos decorativos, de uma estética revivalista, e do jogo de volumes e formas, havendo uma tendência para seccionar as fachadas em panos com remates e tratamento distintos; o horror ao vazio surge-nos patente, com todos os elementos preenchidos por apontamentos decorativos ou estruturais. A fachada principal é particularmente exuberante, com a existência de varanda alpendrada e varanda simples, para onde abrem portas janelas, que contrastam com a fachada plena do segundo pano, tripartido por duas ordens de pilastras e rasgado regularmente por vãos em arco de volta perfeita, onde se distingue o portal, encimado por falsa bandeira em arco ultrapassado, protegida por grade metálica geométrica, sendo esta zona marcada pelo assinalar do sótão, através de enorme arco de volta perfeita, de molduras múltiplas, onde se rasga trífora, rematado por platibanda clássica com festões barrocos. As janelas de sacada nesta zona são particularmente interessantes, com a guarda mista, em cantaria recortada, encimada por ferro forjado vazado. Os vãos ostentam mísulas de perfis distintos, desde as simples, às consolas, passando por umas mais modernas, de perfil em quarto de círculo. O gaveto, como elemento de transição para uma via secundária, na época, aparece marcado por uma sacada corrida, rematado por amplas urnas, profusamente ornadas. Para o pátio posterior, abre a garagem, executada em época posterior, de planta rectangular e evoluindo em dois pisos, com amplos portões em arco abatido, surgindo, no piso superior, janelas em arco de volta perfeita com moldura de cantaria na zona superior, imitando as da corpo principal.
Número IPA Antigo: PT031106440259
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

Planta rectangular irregular, com um dos ângulos arredondados, formando o gaveto, apresentando volumetria composta por vários corpos escalonados, com coberturas diferenciadas em telhados de quatro águas e em terraço. O edifício evolui em dois pisos, possuindo a cave, com os vãos visíveis ao nível do embasamento e com aproveitamento do sótão. Fachadas em cantaria de calcário liós, percorridas por embasamento de cimento, tendo, na zona superior, faixa revestida a silhares de cantaria, dispostos de forma aleatória, dando uma aparência de rusticado; nesta zona, rasgam-se, ao longo das fachadas viradas à rua, onze janelas rectilíneas e jacentes, que iluminam a cave, com moldura recortada, rematando em cornija, apresentando três falsas aduelas de fecho e volutas laterais; encontram-se protegidas por grades metálicas de ferro forjado, pintado de verde, formando elementos volutados. Os vãos apresentam caixilharias de madeira e vidro simples, com portadas interiores do mesmo material e pintadas de branco. Fachada principal virada a N., composta por dois panos, o do lado esquerdo rematando em cornija sustentada por quatro mísulas, possuindo dois andares, o inferior composto por varanda em arco de volta perfeita com aduelas almofadadas, que interrompem friso concheado e volutado, que assentam em pequenas colunas de inspiração jónica, sustentadas por mísulas que terminam em falsos pingentes; para esta varanda, com guarda em ferro forjado pintado de verde, decorado por flores estilizadas e volutas, abre uma porta janela e duas janelas de peitoril, todas em arco de volta perfeita e com molduras comuns, assentes em pilastras ou em fragmentos das mesmas, de fuste liso e capitéis de inspiração coríntia. No lado esquerdo, abre vão para um pequeno logradouro lateral. Está encimada por varanda com guarda semelhante, tendo acrotérios laterais, marcados por elementos decorativos em cantaria e assentes em mísulas, para onde abrem três portas janelas de volta perfeita, assentes em pilastras de fuste liso e capitéis de inspiração coríntia. O pano do lado direito é tripartido, dividido por duas ordens de pilastras, assentes em mísulas, com fustes em silharia fendida, a inferior com capitéis de inspiração jónica e a superior de inspiração coríntia No primeiro piso, ao centro, o portal de moldura recortada, assente em colunas de fuste liso, marcado por anéis, e com capitéis coríntios, assentes em altos plintos paralelepipédicos; remata em cornija angular interrompida por cartela em forma de coração e com acantos, onde se inscreve o número de polícia, encimada por vão em arco ultrapassado, ornado por botões e aduelas salientes, criando uma bandeira de vidro protegida por grade em ferro forjado pintada de verde, criando elementos decorativos geométricos. É ladeado por duas janelas de peitoril em arco de volta perfeita, assente em impostas salientes e ornadas por acantos, com pequena guarda de peitoril em ferro forjado pintado de verde, criando feixes de enrolamentos. No piso superior, três janelas de sacada, em cantaria e sustentadas por consolas, com guarda em cantaria recortada, encimada por grades de ferro forjado, pintadas de verde, com acrotérios laterais; os vãos são de volta perfeita, com três arquivoltas, a interior terminando em enrolamento, a intermédia de acantos e as exteriores unidas e assentes nas pilastras que dividem a fachada. O extremo esquerdo remata em cornija angular, assente em consolas, encimada por elemento de cantaria recortado. O lado oposto, forma um quarto piso, aproveitando o sótão, assente em duas cornijas volutadas que assentam em mísulas, de onde pendem grinaldas de flores e arranca um arco de volta perfeita, decorado por friso de círculos divididos por aduelas, que envolvem uma trífora com moldura comum de volta perfeita, dividida por pilastras de fustes lisos e capitéis de inspiração coríntia, possuindo pequenas grades de peitoril em ferro forjado; sobre esta, uma cornija angular e, no topo, platibanda balaustrada, com duplos pilares laterais. Sob a janela, surgem acantos e enrolamentos. A área que forma gaveto, de dois pisos, tem o inferior revestido a sailharia fendida, rasgado por quatro janelas de peitoril em arco de volta perfeita, assente em impostas que formam um friso que percorre toda esta zona, ornado de acantos; cada janela possui uma pequena guarda de ferro forjado. No piso superior, sacada corrida, de perfil curvo, assente em cinco grupos de mísulas duplas e com guarda em ferro forjado, pintado de verde, para onde abrem quatro portas janelas em arco de volta perfeita, com moldura na zona superior, terminando em botão. Remata em platibanda plena, com pequenos plintos ornados por festões, que sustentam urnas. No lado esquerdo, surge um amplo portal de acesso a um pequeno logradouro, composto por duas peças fixas e por duas folhas, todas metálicas e com decoração de enrolamentos, divididas por pilares de cantaria, decorados por elementos fitomórficos e com remate campaniforme, Fachada lateral esquerda, virada a E., com dois pisos, o primeiro marcado por ampla estrutura metálica e de vidro martelado e pintado, de planta contracurva, que leva a escadas do mesmo material, de acesso ao logradouro e ao pátio da fachada posterior; surge, ainda, janela de peitoril em arco de volta perfeita, com moldura na zona superior, terminando em botões e com pequena guarda de ferro forjado. Fachada lateral direita, virada a O., de dois panos, o lateral esquerda com o primeiro piso revestido a silharia fendida, rematando em pequena platibanda e guarda em ferro forjado pintado de verde; é rasgada, em cada piso, por duas janelas de peitoril em arco de volta perfeita, com moldura superior, terminando em botões e com guarda de ferro forjado, a inferior com impostas, que formam friso de acantos que percorrem todo o pano e que prolongam a zona do gaveto, assentes em mísulas. O pano do lado direito remata em cornija angular e elemento em cantaria que acompanha esta forma, possuindo dois pisos, cada um com duas janelas semelhantes às anteriores. No lado direito, surge um muro em cantaria e encimado por grade em ferro forjado, que envolve um pequeno pátio, possuindo portal semelhante ao da fachada principal. Fachada posterior rebocada e pintada de bege, de dois panos, formado por um ressalto no extremo direito, evoluindo em três pisos, o intermédio rasgado por sete janelas em arco de volta perfeita, com moldura na zona superior, terminando em botões, e com guarda de ferro forjado; é encimada por sete janelas rectilíneas, com guarda semelhante. INTERIOR com escadaria, sobre a qual surge uma pintura mural a representar a Baía do Guanabara. Pavimentos de madeira com embutidos de espinheiro e acapuz, madeiras exóticas, com os corrimãos feitos de madeira provenientes do Brasil. A compartimentação interna organiza-se em torno da escada que, desenvolvida em sucessivos lanços rectos, se implanta ao centro, sendo as áreas de circulação garantidas por corredores em U ao nível de cada piso. Podem observar-se compartimentos rectangulares, reconhecendo-se a presença de alguns como principais - em termos funcionais e consequentemente, decorativos - no 1º andar, ao longo dos alçados N. e O., enquanto a zona de serviços se encontra ao longo da fachada S.. No extremo esquerdo da fachada lateral direita, ergue-se o corpo da garagem, de planta rectangular simples e coberturas diferenciadas em telhado de três e uma água, encontrando-se adossado ao edifício anexo. As fachadas são rebocadas e pintadas de bege, evoluindo em dois pisos, divididos por dois frisos de cantaria e rematadas em friso, cornija e beirada simples. A fachada virada ao exterior possui, no piso inferior, dois amplos portões em arco abatido, protegidos por folhas triplas de madeira e vidraças protegidas por grades, encimados por duas janelas em arco de volta perfeita, com moldura na zona superior e peitoril de cantaria. A fachada virada ao pátio tem dois panos, formados por um ressalto no extremo direito, rasgada, no piso inferior por e, no superior, seis janelas de peitoril, semelhantes às da fachada virada ao exterior.

Acessos

Avenida Fontes Pereira de Melo, n.º 28; Rua Andrade Corvo, n.º 34 a 38

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 5/2002, DR, 1.ª série-B, n.º 42 de 19 fevereiro 2002 *1

Enquadramento

Urbano, isolado, fazendo gaveto. Junto ao edifício, situa-se uma das entradas para a Estação do Metro das Picoas, rodeada por estrutura de ferro, imitando as entradas Arte Nova do de Paris, da autoria de Martins Correia. Abre para duas vias bastante movimentadas, a Avenida Fontes Pereira de Melo e a Rua Andrade Corvo, de que se separa por um passeio público largo, pavimentado a calçada. Encontra-se rodeado de edifícios de serviços, de cércea maior, tendo, ao lado, o Edifício na rua Andrade Corvo, n.º 32 (v. PT031106441381).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Serviços: sede de empresa

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Manuel Joaquim Norte Júnior (1910-1913).

Cronologia

1897, 10 Abril - primeiro testamento do Visconde de Valmor, deixando um legado à CML para instituir um prémio de arquitectura dos edifícios executados em cada um dos anos; 1898, 3 Setembro - novo testamento, estipulando a quantia de 50:000$000 réis para o efeito; 1902 - a Câmara estabelece, pela primeira vez, as condições do concurso e refere que o prémio seria de 1:800$000 réis, a dividir, em partes iguais *2; 1903 - primeira reunião, sendo o primeiro júri presidido por José Luís Monteiro; 1910- início da construção de edifício de habitação para José Maria Moreira Marques, capitalista que fizera fortuna no Brasil, conforme projecto do arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior (11962); 1913 - introdução de alterações ao projecto inicial (zona de serviços e escada de acesso ao jardim), encontrando-se o edifício em construção; construção do anexo das garagens; 1914 - atribuição do Prémio Valmor ao edifício *3, dado pelo júri composto por Artur Manuel Rato, presidente, Miguel Ventura Terra e Adolfo António Marques *4; 1915 - 1945 - o proprietário José Maria Moreira Marques habitou com alguma permanência o edifício; 1941-1942 - foi habitado por uma das filhas do proprietário, Elisabeth Marques Tenreiro; 1946-1951 - era proprietário do edifício Henrique dos Santos Tenreiro; 1951-1952 - aquisição do edifício pela Câmara Municipal de Lisboa; 1954, 6 Novembro - o Metropolitano de Lisboa requer à Conservatória do Registo Comercial de Lisboa a mudança da sua sede da Rua Castilho para este edifício.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria mista, revestida a cantaria de calcário liós; pilastras, colunas, modinaturas, arcos, urnas, mísulas, sacadas, platibanda em cantaria de calcário liós; guardas, portões, estrutura e escada na fachada lateral esquerda em ferro forjado, pintado, esta com vidro martelado e colorido; caixilharias de madeira e vidro simples; portas, portadas de madeira; coberturas estuque, ferro forjado, vidro.

Bibliografia

FRANÇA, José-Augusto, A Arte em Portugal no Século XIX, Vol. II, Lisboa, 1966; AAVV, História da Arte em Portugal, Vol. 14, Lisboa, 1986; BAIRRADA,Eduardo Martins, Premio Valmor (1902-1952), Lisboa, 1986; FERREIRA, Fátima, e OUTROS, Guia Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa, Lisboa, 1987; PEDREIRINHO, José Manuel, História do Prémio Valmor, Lisboa, 1988; FERNANDES, José Manuel, e OUTROS, A Arquitectura do Princípio do Século em Lisboa (1900 - 1925), Lisboa, 1991; PEDREIRINHO, José Manuel, Dicionário dos Arquitectos Activos em Portugal do Século I à Actualidade, Porto, 1994; JACINTO, Francisco, Prémio Valmor 1914, Edifício-sede do Metropolitano de Lisboa desde 1954, in Sítios e Memórias, Maio / Junho 1995, pp. 36-47; http://arqpapel.fa.utl.pt/jumpbox/node/74?proj=Pal%C3%A1cio+Jos%C3%A9+Maria+Marques, 20 Setembro 2011.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA, DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras (Pº n.º 14.040)

Intervenção Realizada

1915 - construção de marquise; 1939 - obras gerais de beneficiação e limpeza; 1941 - obras gerais de beneficiação e limpeza; 1942 - pintura dos gradeamentos de ferro; 1946 - reparações nos portões; 1948 - construção de anexo destinado a funcionar como garagem; 1949 - pintura dos gradeamentos de ferro; 1951 - obras gerais de beneficiação.

Observações

*1- DOF:.. "Moradia (palacete) na Avenida de Fontes Pereira de Melo, incluindo as áreas do antigo jardim anexo residencial e garagem, que foi pertença de José Maria Marques (1º proprietário), actual sede social do Metropolitano de Lisboa, na Avenida de Fontes Pereira de Melo, 28, e na Rua de Andrade Corvo, 34 a 38". Moradia na Avenida Fontes Pereira de Melo, incluindo as áreas do antigo jardim, anexo residencial e garagem. *2 - o prémio exigia o cumprimento de determinadas cláusulas, como a doação de uma quantia ao proprietário e ao arquitecto, além de um diploma comprovativo; a Câmara tinha que convocar um juri anual, em Março, formado por 3 arquitectos; havendo mais que um edifício, existiriam menções honrosas. *3 - na lápide, ocorre um erro de data, assinalando o ano de 1915; *4 - neste ano, surgiram três menções honrosas, a primeira atribuída ao actual Museu Rafael Bordalo Pinheiro, a Cervejaria Portugália e um edifício demolido, situado na Rua Cidade de Liverpool, n.º 16.

Autor e Data

Teresa Vale e Maria Ferreira 1997 / Paula Figueiredo 2008

Actualização

 
 
 
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