Jardins da Quinta dos Marqueses de Fronteira

IPA.00005599
Portugal, Lisboa, Lisboa, São Domingos de Benfica
 
Espaço verde de produção agrícola / Espaço verde de recreio. Quinta de Recreio maneirista, enquadrada no estilo Chão. Todo o plano se organiza a partir de códigos abstratos teóricos e normativos que se enquadram em princípios estéticos vigentes à época de construção; contudo, esta erudição formal não atenua a força das características do sítio, resultando daí um espaço artificial, onde a força do sítio e o espaço construído se tornam um todo. A quinta (o artificio natural) emana das características do próprio sítio. Pelo seu valor patrimonial e artístico constitui um importante testemunho histórico-cultural, nomeadamente o valor iconográfico dos azulejos.
Número IPA Antigo: PT031106390345
 
Registo visualizado 5178 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Espaço verde  Jardim         

Descrição

Quinta murada que se estende do terço superior ao terço inferior da encosta. A topografia estrutura funcionalmente a quinta. O terço superior é ocupado por uma mata; o terço médio recebe o edifício, o conjunto dos jardins formais e parte do pomar de laranjeiras; o terço inferior a horta e pomar. Os espaços que constituem a Quinta (mata, pomares, hortas, jardins e palácio (v. IPA.00005598)), revelam uma autonomia própria e estabelecem entre si relações funcionais, formais e visuais, através de elementos de transição e de ligação (pequenas passagens / portas, nomeadamente a ligação entre o PASSEIO DA ORATÓRIA e o JARDIM DE VÉNUS, a passagem da GALERIA DOS REIS para o JARDIM DE VÉNUS e para a MATA, HORTA e POMARES, a existente entre JARDIM GRANDE e HORTA, pavilhões da GALERIA DOS REIS) frequentemente associados a diferenças altimétricas significativas. A diferença de cotas entre o ponto mais alto e o mais baixo determinou grandes movimentações de terras, tendo sido o terreno armado em socalcos, com auxílio de muros de encosto, transfigurados em cenografias de arquitecturas de prazer, veja-se a GALERIA DOS REIS, a FONTE DA CARRANQUINHA e a CASA DE FRESCO de fronte do tanque dos "SS". Os socalcos reforçam as relações com a paisagem e dão alguma privacidade aos jardins formais e ao palácio que, numa situação favorável de relações visuais com o exterior, estão física e visualmente isolados das restantes áreas. O sistema topográfico é indissociável do hídrico, uma vez que são simultâneos e que se relacionam no modo como estruturam a propriedade. A ribeira que percorre toda a propriedade, ainda que estruturante da paisagem não participa na estrutura do espaço, por isso o seu percurso é omisso no atravessamento dos jardins formais levando à construção de um leito subterrâneo. Através de minas abertas na mata foi possível elaborar todo o sistema hidraúlico. A água acumulada em alguns reservatórios (sub-sistemas) é distribuída por gravidade em caleiras (regadio) ou canalizações subterrâneas (elementos ornamentais). Os Tanques dos Loureiros, da Vinha, da Carranquinha e do Jardim Grande, são os elementos que evidenciam os sub-sistemas parcialmente em funcionamento. Toda a água utilizada na rega dos jardins formais é elevada por bombas eléctricas e distribuída por canalizações recentes. A rede de percursos é individualizada para cada uma das partes, individualização essa que surge imposta pela topografia, pelo programa de cada uma das partes e pela vontade do criador, ainda que cada uma das redes apresente a mesma geometria regular à excepção da mata onde se verifica um atenuar do formalismo dessa rede, em direcção a uma geometria orgânica não totalmente assumida e possivelmente resultante da adaptação ao terreno. A vegetação tem uma função protectora, produtiva e lúdica. Há uma diluição organizada da vegetação da Mata para o Jardim de Venús enquanto que do Jardim Grande para a zona produtiva se observa um prolongamento. Os jardins formais constituídos pelo Jardim Grande, Jardim de Vénus e os Passeios que lhes são adjacentes (Galeria dos Reis, Passeio da Oratória e de Jasmim) ocupam o segundo e o terceiro patamares. O Jardim Grande, de estrutura ortogonal polarizado por 5 taças de água e elementos escultóricos é dominado pelo Palácio que o delimita a O.; apresenta-se como a grande clareira em que o esplendor da luz que a gramática do jardim de buxo determina, associada ao uso da imagética decorativa do azulejo e ao carácter centrífogo do espaço, constitui a característica particular deste espaço e que sai reforçada pelo contraste que se estabelece, em termos formais, funcionais e decorativos, com o Jardim de Vénus e com a Horta. Ainda que apresente uma elevada carga decorativa e erudita e um acentuado carácter lúdico recreativo, este espaço não nega a sua relação visual com a área de produção que lhe está a jusante, determinando por isso a construção de um caramanchão, outrora de vinha, miradouro no muro de delimitação a E.. O Jardim de Vénus, situado no patamar acima do jardim grande, desenvolve-se a S. do edifício. O denso copado arbóreo, a escala, o próprio encerramento do espaço determinado pela edificação, configuram-no como o mundo da sombra e da intimidade em oposição ao Jardim grande. Polarizam este espaço a Taça de Vénus e, na periferia o conjunto Casa dos Banhos e Tanque dos "SS", outrora enquadrados por um labirinto de citrinos. A Mata sugere a continuidade deste espaço com a paisagem envolvente, a montante; as hortas e os pomares, estabeleceriam essa mesma continuidade com a paisagem rural a jusante do Vale de Benfica. A esta macroestrutura programática que organiza o espaço sobrepõe-se um discurso iconográfico apoiado na azulejaria e na estatuária que estabelece a ligação entre as partes e que reforça o seu carácter de sociabilidade ou intimidade. Na MATA o estrato arbustivo representa cerca de 70%, sendo pouco diversificado. A GALERIA DOS REIS funciona como transição entre a zona produtiva e os JARDINS FORMAIS, é ainda a ligação do JARDIM GRANDE (de buxo) ao JARDIM DE VÉNUS como passeio periférico que, à mesma cota, une estes dois espaços, uma vez que não há qualquer eixo que os una. A estrutura de caminhos é, por vezes, indefinida dada a evolução desordenada e a invasão da vegetação, não funciona como elemento estruturante no âmbito da macro-estrutura. A rede de caminhos é densa e está associada a passeios e sítios de estar (pavilhões, caramanchão, casas de fresco, conversadeiras) sendo notória uma hierarquia, em função da sua importância e relações com o Palácio e a paisagem e pelos materiais utilizados, aparece em função das necessidades de acesso e do programa que servem. No POMAR os percursos são acrescidos de zonas de estar promovendo a relação entre o lúdico e a produção. Nos JARDINS FORMAIS os caminhos, para além de elemento físico de ligação, passam a desenvolver o papel de passeio mais erudito (Passeio da Oratória e Galeria dos Reis). No JARDIM GRANDE os percursos acompanham a geometria criada pelos canteiros, permitindo uma relação próxima com a vegetação, uma escadaria faz o acesso ao Palácio. Existem grandes áreas revestidas por painéis e silhares de azulejo, sobretudo no Jardim Grande, as alegorias, iconologias e invocações estão patentes nas temáticas representadas.

Acessos

Largo de São Domingos de Benfica

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 28/82, DR, 1.ª série, n.º 47 de 26 fevereiro 1982 / ZEP, Portaria n.º 1094/94, DR, 1.ª série-B, n.º 283 de 09 dezembro 1994 *1

Enquadramento

Arredores de Lisboa, numa encosta arborizada da serra de Monsanto. Situa-se no terço médio da encosta exposta a Norte, numa acolhedora dobra. A proximidade das construções externas, cujas cerceas são mais altas que o topo dos outeiros, destrói os planos enquadradores da paisagem envolvente. Na mesma encosta, e no mesmo terço, localiza-se o Convento de São Domingos de Benfica (v.IPA.00006478) e a Quinta Desvime (v.IPA.00005078).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Recreativa: jardim

Utilização Actual

Recreativa: jardim

Propriedade

Privada: fundação

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Frederico George. ARQUITECTOS PAISAGISTAS: Gonçalo Ribeiro Telles (1962); Atelier Castel-Branco, Arquitectura paisagista (2005, 2008 e 2010); PINTOR: Eduardo Nery (2010 - azulejos das fontes do Jardim do Laranjal).

Cronologia

1667 - início da construção por D. João de Mascarenhas, 1º Marquês de Fronteira; 1671 / 1972 - inauguração provável; 1755 - realização de obras de vulto após o terramoto, passando a constituir residência permanente da família Mascarenhas; 1887 - já não constava a vinha descrita no séc. 17 e a Mata tinha avançado sobre um dos socalcos; 1924 - a partir desta data foram realizados pela 10º Marquês de Fronteira muitos melhoramentos nos Jardins e no Palácio; 1941 - O ciclone que assolou Lisboa terá sido o factor responsável pelas últimas transformações ocorridas na vegetação do Jardim Grande; 1950 - foi forçado o traçado ortogonal sem se ter em conta a vegetação arbórea; 1962 - elaboração de um projecto de arquitectura paisagista por Gonçalo Ribeiro Telles para a zona adjacente ao anexo do palácio, onde além de um pomar de limoeiros foi proposto também um aproveitamento da linha de água que passa perto desta casa; 2005 - restauro do Jardim de Vénus (área Nascente), no seguimento da reconstrução do muro de suporte do terraço de Vénus; 2008 - restauro do Sistema Hidráulico da Casa de Fresco e Lago dos SS, financiado pelo programa EEAGrant; 2010 - construção do Jardim do Laranjal, financiado pelo programa EEAGrant.

Dados Técnicos

Materiais

INERTES: Azulejo; alvenaria (Galeria dos Reis), saibro e calcário (pavimentos).

Bibliografia

CARDOSO, Homem, Tratado de Grandeza dos Jardins em Portugal ou da originalidade e desaires dessa arte, Lisboa, 1987; CARITA, Helder, GIL, Júlio, Os Mais Belos Palácios de Portugal, Lisboa, 1992, (pp. 222 - 229); CARAPINHA, Aurora e TEIXEIRA, J. Monterroso, A Utopia com os Pés na Terra. Gonçalo Ribeiro Telles, 2003, p. 264; MATEUS, João, A Quinta de Recreio dos Marqueses de Fronteira, um jardim Português, Évora - UE, 1995; MATEUS, João, Quinta de Recreio dos Marqueses de Fronteira, in Architécti, nº49, Jan.-Fev.-Mar. 2000, pp20-25; NEVES, José Cassiano, Jardim e Palácio dos Marqueses de Fronteira, Lisboa - CML, 1954; RIBEIRO, Luís Paulo Almeida Faria, Quintas do Concelho de Lisboa - Inventário, Caracterização e Salvaguarda, Lisboa - UTL, ISA, 1992; RODRIGUES, Jacinto, Arte, Natureza e a Cidade, 1993, (p. 34).

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa; UE

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa, DGEMN/DSARH; UE

Intervenção Realizada

FCFA: Restauro das estátuas da Galeria dos Reis, da Estátua da Ocasião. Recuperação (limpeza, fixação e consolidação) dos elementos cerâmicos e tratamento de protecção contra fungos, líquenes e algas. Está em curso o restauro do conjunto azulejar de toda a quinta, a consolidação e estabilização de todos os muros de suporte, redesenho da estrutura verde do Jardim de Vénus, revalorização da horta e pomares, redefinição dos percursos da Mata e revalorização da Mata, redesenho das latadas do Jardim de Vénus e caramachão do Jardim Grande.

Observações

*1- DOF: Palácio, jardins, horta e mata dos marqueses de Fronteira. Zona Especial de Proteção Conjunta do Palácio Fronteira e do Convento de São Domingos. *2- Existe um plano global de valorização da quinta, coordenado por João Mateus, que tem por objecto o estudo e a reabilitação de toda a estrutura verde (ver MATEUS, João, in Architécti, nº49, 2000 - apresentação parcial do plano ).

Autor e Data

Paula Simões 1997

Actualização

 
 
 
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