Teatro de São João

IPA.00005524
Portugal, Porto, Porto, União das freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória
 
Arquitectura civil pública, neoclássica. Teatro de planta rectangular, com sala de espectáculos em ferradura, inspirado na arquitectura francesa da passagem do século (renovação do estilo Luís 16). Apesar da sua forma clássica, utiliza técnicas modernas, sendo mesmo os ornatos executados em betão. O revestimento, tendo em vista a sua correcta inserção urbanística, foi dotado de uma coloração própria que, com o envelhecimento se assemelha ao granito.
Número IPA Antigo: PT011312140059
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Cultural e recreativo  Casa de espetáculos  Teatro  

Descrição

Planta rectangular com coberturas em terraço e em telhado de duas águas. Fachada principal num dos lados menores do rectângulo, enquadrada lateralmente, por cunhais de ângulo rusticados, acentuados por caprichosas urnas e grinaldas. Andar nobre com 3 arcadas sobre pilastras embebidas, inscritas em colunas de amplo fuste e capitéis jónicos, com as portas das logias rematadas por frontões interrompidos. As 3 logias prolongam-se em sacadas fazendo soleira na grossura das paredes interligadas por uma varanda corrida assente em 4 fortes consolas no mesmo alinhamento das colunas de ordenamento. As arcadas têm um fecho em mísulas de suporte e transição para o entablamento no qual se abre um friso correspondente a um "mezzanino" de três aberturas e baixos-relevos alusivos às paixões humanas (A Dor, O Ódio, A Bondade e O Amor), com legendas sobre a arquitrave. Um cordão denticulado remata, superiormente, o friso e indicia o arranque da forte cornija assente em mísulas de ressalto, densas no ritmo repetitivo que percorrerá todo o edifício. Coroando a fachada em empena, ergue-se uma alta platibanda, com o mesmo ritmo tripartido da fenestração do alçado e o insinuado desenho formal de compósita e ornamentada balaustrada cega. As fachadas laterais são simétricas quanto a vãos, cheios e decoração. No r/c, abrem-se 3 portas arqueadas (encimadas por uma varanda corrida apoiada em 4 consolas da mesma génese das outras sacadas), ladeadas por 2 pequenas portas, com um remate / frontão curvo interrompido. Dão sobre a varanda 3 portas que se repetem nos dois outros pisos superiores, aí com varandas de peitoris, entre 4 pilastras jónicas embebidas. O conjunto é ladeado por fortes mascarões, ao nível do piso intermédio, sobre os quais se abre na parte superior uma janela e na parte inferior uma pequena fresta. Correspondendo à zona de palco, abrem-se altas frestas. Nesta zona, o corpo da cena eleva-se acima do entablamento, acompanhando as formas requebradas dos encontros ou remates das empenas, sublinhada pela faixa moldurada e ornamental que debrua as superfícies. São elementos que se evidenciam na fachada posterior, com uma linguagem mais contida e com uma imediata leitura dos 6 pisos do teatro. INTERIOR - No r/c, o vestíbulo, ocupa toda a largura do edifício, com acesso através das 3 portas da fachada principal e 2 laterais. Deste espaço acede-se aos corredores que conduzem à plateia ou, lateralmente, às escadas para os pisos superiores. Sobre o átrio e vestíbulo, no primeiro andar, localizam-se respectivamente o salão "avant-foyer" e o "foyer", que, embora parecendo ocupar toda a largura do edifício, tem lateralmente duas salas para restaurante e sala de fumo. De pé-direito duplo, correspondendo ao andar nobre em fachada, revela internamente, por entre profusa decoração, em janelas e balaustres e largo óculo sobre as portas de transição para o "avant-foyer", os 2 pavimentos correspondentes aos camarotes de 1ª ordem e ao camarote real, e, superiormente a estes, os camarotes de 2ª ordem e o segundo balcão. Das circulações avistam-se o "avant-foyer" e "foyer" com as suas varandas desenhadas. Nos últimos pisos estão as galerias e o anfiteatro, formando um só grupo de lugares mas com diferentes acessos, um ao nível dos andares mais baixos, outro ao nível dos mais elevados. No primeiro pavimento do anfiteatro ficava uma arrecadação e uma oficina de pintura iluminada superiormente. Do r/c partem as escadas para as galerias e anfiteatros, por duas entradas directas, exteriores, rasgadas sobre as fachadas laterais. A disposição da sala em ferradura, previa um total de 1328 lugares, incluindo os 6 camarotes de boca, projectados amplamente, sendo o do lado direito, à altura do 1º andar, destinado em alternativa a camarote real. No espaço de transição da plateia para o palco, em fosso, ficava instalada a orquestra, com entradas independentes, bem denunciadas sobre as fachadas laterais. O espaço de cena e os camarins, autónomos, com entradas laterais e posteriores, podem ser separados da sala por um pano de cena metálico.

Acessos

Sé, Praça da Batalha; Rua de Augusto Rosa

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 16/2012, DR, 1.ª série, n.º 132 de 10 julho 2012

Enquadramento

Urbano. Isolado, no centro da cidade, na zona alta. O edifício gera a totalidade de um quarteirão. A fachada principal tem enorme presença na Praça da Batalha, confrontando a lateral esquerda com a Rua de Augusto Rosa, a direita com a Travessa do Cativo e a posterior com a Rua do Cativo.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Cultural e recreativa: teatro

Utilização Actual

Cultural e recreativa: teatro

Propriedade

Pública: Estatal

Afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Arq. José Marques da Silva; mestre António Baganha Pai (estuque e argamassa de cimento); Diogo de Macedo, Sousa Caldas, Joaquim Gonçalves da Silva e Henrique Moreira (estatuária); José de Brito e Acácio Lino (pinturas); Arq. João Carreira (projectista e coordenador das obras de reabilitação em 1993 - 1995).

Cronologia

1798 - Inauguração do "Teatro do Príncipe", designação dada nessa data; 1908, 11 Abr. - o teatro sofre um incêndio; nesse mesmo ano é nomeado pelo Governador Civil uma comissão destinada a promover a construção de um novo teatro; 8 Out. - abertura dos projectos de concurso, submetendo-os a um juri composto por Eng. Basílio Alberto de Sousa Pinto, Xavier Esteves, Casimiro Jerónimo de Faria, Arq. Marques da Silva e condutor de obras públicas Isidro de Campos, que os consideram fora das condições impostas pelo concurso; uma semana depois anuncia-se novo concurso, com bases e programas ligeiramente reformulados; 1910, 22 Fev. - abertura das propostas dos anteprojectos; Marques da Silva obteve o 1º prémio e João de Moura Coutinho de Almeida d'Eça o 2º; antes da realização do concurso foi encarregue das obras Moura Coutinho, então na Direcção das Obras Públicas de Braga; 6 Maio - em Sessão Camarária, aprova-se o projecto de Marques da Silva; as obras são executadas pela empresa Soconstroi; 1918 - conclusão do edifício; 1920, 7 Mar. - inauguração com apresentação de Aida, de Verdi; 1932 - foi construida uma cabine de projecção, passando a funcionar como cinema, e com a designação de São João Cine; 1982, 26 fevereiro - classificação como Imóvel de Interesse Público através do Decreto nº 28/82, DR, 1ª série, n.º 47; 1992 - aquisição do teatro pelo Estado à familia Pinto da Costa; 1994, 23 novembro - proposta da DRPorto, para a reclassificação como MN;1995 - depois de obras de remodelação, o teatro entra em funcionamento regular, com a designação de Teatro Nacional de São João;1996, 22 abril - despacho do Vice-Presidente do IPPAR a devolver à DRPorto para completar a instrução; 2005, 12 setembro - nova proposta da DRPorto; 2008, 1 outubro - parecer favorável do Conselho Consultivo do IGESPAR, I.P., que ainda propõe o não estabelecimento de ZEP por estar integrado na Zona Histórica do Porto, conjunto classificado; 2010, 14 outubro - despacho de homologação do Secretário de Estado da Cultura.

Dados Técnicos

Estrutura mista.

Materiais

Soalho de madeira no palco e os dois andares dos camarins; "parquet" de carvalho no "foyer" e "avant-foyer"; lambrins, fachas e contrafachas, alizares, rodapés, guarnições são fundamentalmente em madeira da Suécia, tal como as principais portas; mármore nas portas das logias do andar nobre, e, ainda, nos degraus das escadas principais, pelo menos até ao balcão; os patamares têm ladrilho mosaico de mármore, tal como o átrio e os patamares das escadas principais do r/c e os socos dos degraus. Há uma larga utilização do ferro em caixilharias, cantarias em frestas, nas sacadas interiores e exteriores com diferentes desenhos e algumas aplicações ornamentadas. Toda a armação do palco é de ferro laminado, excepto os barrotes do telhado e forro que são de madeira.

Bibliografia

FRANÇA, José Augusto, A Arte em Portugal no século XIX, vol. 2, Lisboa, 1990; VÁRIOS, Porto a Património Mundial, Porto 1993; CARDOSO, António, O Teatro Nacional de S. João, in Pedido de Apoio a Projecto Piloto de Conservação do Património Arquitectónico Europeu, 1994; QUARESMA, Maria Clementina de Carvalho, Inventário Artístico de Portugal. Cidade do Porto, Lisboa, 1995; SÁ, José Manuel Vieira, BARROSO, Eduardo Paz, CASTRO, Paulo Ludgero, Teatro Nacional S. João, Boletim IPPAR, 1, Porto, 1995; CARDOSO, António, O Arquitecto José Marques da Silva e a Arquitectura no Norte do País na primeira metade do Séc. XX, Porto, 1997; Porto 1901/2001, Guia de Arquitectura Moderna, Porto, 2001.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

IPPAR: 1992 - Obras de segurança e instalações de apoio ao público; 1993 - obras de beneficiação dos camarins, caixa de palco, instalações sanitárias e remodelação da instalação eléctrica; instalação de um grupo gerador de energia; limpeza, consolidação e restauro da envolvente exterior do edifício; 1994 - consolidação e restauro integral das fachadas do edifício; recuperação de toda a decoração escultórica e tratamento dos panos lisos em argamassa pigmentada; nova caixilharia de madeira e ferro; 1995 - reabilitação interior; 2019, julho - início das obras de conservação e restauro das fachadas, orçadas em cerca de 80 mil euros.

Observações

O teatro primitivo fora construído no fim do séc. 18 (1796), segundo projecto do Italiano Vicente Mazzoneschi, tendo sido inaugurado a 13 de Maio de 1798, devendo-se a sua construção a Francisco de Almada Mendonça. Originalmente, o edifício era constituído por 4 andares, com janelas de peitoril. Na fachada principal tinha um brasão real e, sobre ele, uma inscrição. Em 11 de Abril de 1908 ardeu, sendo reconstruído no seu lugar o teatro actual. Antes do incêndio a planta era em forma de ferradura. O tecto, redondo, fora pintado por Joaquim Rafael e em 1856 recebeu nova pintura de Paulo Pizzi. Tinha quatro ordens de camarotes, ficando a tribuna real na segunda. O átrio era amplo, os corredores largos e tinha boas escadarias. No pavimento da 2ª ordem de camarotes existia um magnífico salão para concertos. O teatro possuía uma excelente acústica. O pano do palco tinha sido pintado por Sequeira, sendo substituído em 1825 por um novo da autoria do espanhol João Rodrigues e mais tarde por outro de Palucci. Até 1838 a iluminação foi de velas de sebo e depois de azeite.

Autor e Data

Isabel Sereno e João Santos 1994

Actualização

 
 
 
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