Paço Episcopal do Porto

IPA.00005452
Portugal, Porto, Porto, União das freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória
 
Arquitectura religiosa residencial, barroca, rococó e neoclássica. Paço episcopal de planta rectangular, envovendo um pátio central, com fachadas de grande regularidade de fenestração e ampla escadaria desenvolvida no interior, sendo esta ricamente decorado com estuques policromos. Exemplar do tardobarroco portuense, cuja ornamentação rococó das aberturas imprime ritmo às fachadas e à sua monumental escadaria. Constitui um exemplar de arquitectura civil barroca. A decoração em estuques revela uma admirável capacidade de integração e adaptação dos elementos de tradição barroca com as laçarias e fitas suspendendo os medalhões, grinaldas e festões de influência neoclássica. Para além da riqueza iconográfica, revela ainda un notável sentido de composição e aproveitamento de valores, conseguindo obter uma difícil unidade decorativa, sublinhada pela cor. É também um dos exemplares mais representativos de palácio na arquitectura portuguesa.
Número IPA Antigo: PT011312140007
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Paço eclesiástico  Paço episcopal  

Descrição

Planta rectangular, desenvolvendo-se à volta de pátio central. Coberturas diferenciadas em telhados de duas e quatro águas e em zimbório sobre parte de uma das alas. Alçados adaptados ao desnível do terreno, com pilastras nos cunhais e cornija decorada. Fachada principal virada a N. com três pisos, sendo o inferior em mezanino. Embasamento em cantaria encimado por pequenos vãos com molduramento de cinco faces. Estes ligam-se alternadamente às janelas do primeiro piso que, por sua vez, através de bandeira superior em cantaria, se ligam às janelas de sacada do segundo piso, coroadas por cornijas curvas, alternadamente diferentes, de tímpano decorado. Ao centro, estrutura de cantaria enquadrando portal de arco pleno e janela de sacada, sobrepujada por brasão com as armas dos condes de Vale dos Reis, que interrompe a linha do telhado. As fachadas viradas a E. e a N. apresentam-se mais simples. As janelas voltadas a S. permitem uma extensa vista sobre o rio Douro e Vila Nova de Gaia. No INTERIOR, amplo vestíbulo, ao fundo do qual sobressai a grandiosa escadaria que, após o primeiro lanço, se abre num amplo patamar e se divide em dois lanços paralelos, conduzindo a um grande portal de frontão interrompido pelas armas do Bispo fundador. O corrimão, paredes e abóbada são revestidos a estuques polícromos, com molduras e medalhões concheados, com numerosas figuras emblemáticas, troféus de instrumentos musicais, fitas, laços, grinaldas e festões. Ao centro da abóbada, clarabóia possibilitando grande luminosidade.

Acessos

Terreiro da Sé

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910 / incluído na Zona Histórica da Cidade do Porto (v. PT011312070086) e no Centro Histórico da Cidade do Porto (v. PT011312140163)

Enquadramento

Urbano, em pleno centro histórico, em colina elevada, sobranceira ao rio Douro, em terreno de acentuada pendente, rodeado por diversas construções. A N. o Terreiro da Sé, onde se encontra o Pelourinho do Porto (v. PT011312140018), a Sé do Porto (v. PT011312140001), a Casa do Cabido, a Torre de D. Pedro Pitões (v. PT011312140249) e a Casa da Rolação (v. PT011312140228). A SO., em plataforma inferior, situa-se o Convento dos Grilos (v. PT011312130050).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: paço eclesiástico

Utilização Actual

Residencial: paço eclesiástico

Propriedade

Pública: Estatal

Afectação

Fábrica da Sé do Porto; auto de entrega de 18 / 3 / 1932

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Arquitectos: Nicolau Nasoni , Mestre de Carpintaria: Manuel da Cruz; Mestre de Pedraria: Miguel Francisco da Silva; Mestre de Serralharia: Francisco João dos Santos.

Cronologia

Séc. 12, segundo quartel - Provável construção do primitivo paço, segundo Carlos de Passos; 1227 - o Bispo D. Martinho Rodrigues, terá vivido na primeira residência dos prelados portuenses; 1387, 2 Fevereiro - D. João I celebra o seu casamento com D. Filipa de Lencastre no primitivo paço; 1394 - D. João recebe em audiência o embaixador de Génova; 1454 / 1456 - segundo o Episcopológico da Santa Igreja do Porto, de Manuel Pereira de Novais, foram feitas obras durante o bispado de D. Luís Pires, sendo feita uma grande escadaria sobre arcos de cantaria, com as armas do bispo; 1507 / 1537 - o bispo D. Pedro da Costa manda ampliar e fazer diversos restauros no paço, colocando também as suas armas; séc. 16, segunda metade - D. António Prior do Crato instala-se no Paço; 1560 - o primitivo paço é visitado por São Francisco de Borja; 1574 / 1578 - o bispo D. Aires da Silva manda fazer algumas obras para a conclusão das diversas quadras do edifício; 1580 - o general espanhol D. Sancho de Ávila instala-se no Paço; 1619 / 1627 - o bispo D. Rodrigo da Cunha manda reformar o portal principal e colocar as suas armas, e remodelar diversas salas; 1639 / 1671 - periodo de sede vacante; 1668 / 1669 - representação iconográfica do imóvel, efectuada pelo italiano Pier Maria Baldi *1, que acompanhou o príncipe Cosme de Medicis na sua viagem por Espanha e Portugal; 1673 / 1683 - o bispo D. Fernando Correia de Lacerda manda fazer novas remodelações no paço; 1675, 4 Dezembro - data do contrato de carpintaria com Domingos Lopes; tratava-se de uma obra virada para o jardim e para um pátio, onde assentavam pilares de pedra e internamente dividida em seis casas todas iguais, para as quais se acedia por um corredor com cinco palmos e meio de largo; séc. 17, finais - o monge beneditino Frei Manuel Pereira de Novais refere o antigo paço como uma magnífica e sumptuosa habitação, melhor do que qualquer palácio de prelados em toda a Espanha, com muitas salas com pinturas e uma escadaria perfeita. Possuia ainda uma vista esplêndida sobre a cidade e o rio Douro; 1709 / 1717 - são feitos diversos melhoramentos no Paço, a mando do bispo D. Tomás de Almeida, nomeadamente a abertura de diversas janelas e a construção da nova Casa da Câmara Eclesiástica, em cujo tecto estavam pintadas as armas dos Almeidas; 1717 / 1741 - D. Tomás de Almeida torna-se o primeiro Patriarca de Lisboa, entrando a diocese do Porto num periodo de sede vacante; 1724 / 1726 - o Cabido empreende diversas obras no Paço, nomeadamente a reforma dos telhados e diversos concertos em cantarias e portas; trabalharam nestas obras o mestre carpinteiro Domingos João Calhau, o mestre serralheiro Miguel Ferreira e os mestres pintores Manuel Pinto Monteiro e Luís Correia; 1734 - o Cabido manda remodelar ou realizar obras de conservação de parte do velho paço medieval, entregando o projecto a Nicolau Nasoni *2; 17 Março - encontra-se a trabalhar na remodelação o mestre Miguel Francisco da Silva, com refere Robert Smith, tendo recebido cerca de duzentos mil réis; Maio / Junho - os pagamentos relacionam-se com uma parede do quintal; 4 Outubro - Nicolau Nasoni recebe 40 mil réis pela elaboração de uma planta; 1737, Janeiro - inicia-se a reforma da "sala e loge"; 5 Março / 1738, 4 Outubro - o trabalho de remodelação limita-se à obra de um novo "quarto" do Paço, no respeita à pedraria; a vigilância da obra e a compra de materiais seria da responsabilidade do padre António Alves; a obra de carpintaria foi entregue a Manuel da Cruz e o mestre serralheiro Francisco João dos Santos forneceu as ferragens; 1741 / 1752 - com a vinda do novo bispo, D. Frei José da Fonseca e Évora, o paço é ricamente adornado, com tapeçarias, estátuas, bufetes, etc, dispostas à maneira romana; 1766 - o "quarto" projectado por Nasoni é referido na "Espanha Sagrada"; 1771 / 1793 - segundo o padre Agostinho Rebelo da Costa, o bispo D. Frei João Rafael de Mendonça manda reedificar o paço, não havendo qualquer documentação que possa atribuir o risco do novo paço; 1793, 6 Junho - morre D. Frei João Rafael de Mendonça, continuando as obras num ritmo muito lento, ficando o Paço incompleto durante vários anos;séc. 18, finais / séc. 19, inícios - construção da clarabóia sobre a escadaria monumental e revestimento desta por estuques; 1808 - aqui tiveram lugar reuniões da Junta do Governo Supremo do Reino, por ocasião da revolta contra Junot; 1809 - conquista do Porto pelo general francês Soult, levando à fuga do bispo D. Frei António de São José de Castro; 1816 - é eleito bispo D. João de Magalhães e Avelar; 1832 - durante o cerco do Porto o edifício foi muito danificado, tendo estado nele instalada uma bateria de defesa da cidade; o bispo foge da cidade; o Paço serviu de depósito das Livrarias, o que veio a constituir o fundo da primeira Biblioteca Pública; 1832 / 1843 - cisma religioso, não havendo notícias de obras no Paço; 1843 / 1854 - início da reparação dos estragos, provocados pelo cerco do Porto, durante o bispado de D. Jerónimo José da Costa Rebelo; 1860 / 1861 - período de sede vacante, sendo feitas algumas obras levadas a cabo pelos cónegos João Bernardo e Silêncio Xavier Ferreira; 1868 / 1871 - período de sede vacante; conclusão do ângulo SO., sob a direcção dos cónegos João Álvares de Moura e João Constantino Alves do Vale, tendo limitado-se às paredes exteriores, sem abranger os compartimentos interiores respectivos; foram promovidas algumas reparações no interior; 1916 / 1956 - aqui funcionavam os Paços do Concelho; 2003 - visita dos técnicos da DREMN; participação oral do responsável da Casa Episcopal da entrada de água pelo zimbório.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes e estrutura mista.

Materiais

Estrutura de granito rebocada e pintada; granito aparente em elementos da envolvente (muros de retenção e de vedação, pavimentos e escadas), nos vãos, nos arcos, pilares e colunas, frontão, arcos botantes / contrafortes, cunhais, platibandas, chaminé, gárgulas / goteiras, escadas; ferro em balaustradas das fachadas, candeeiros, ferragens das janelas e portas; aço em ferragens de portas; telha cerâmica na cobertura; telas asfálticas no zimbório; vidro simples e duplos nas janelas e portas; madeira nas vigas das fachadas, coberturas, caixilharia e portadas de janelas e portas, estrutura e revestimento de pavimentos interiores; estuque em abóbadas e tectos.

Bibliografia

ALMEIDA, Alberto Pereira de, Porto Monumental, Porto, s.d.; CERDEIRA, Eleutério, O Porto. Monumentos Religiosos, Barcelos, s.d.; FERREIRA, José Augusto, Porto. Origens Históricas e seus Principais Monumentos, Porto, 1928; BASTO, Carlos, Nova Monografia do Porto, Porto, 1938; Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1976; BORGES, Nelson Correia, O Barroco Joanino. A Arquitectura in História da Arte em Portugal, vol. 9, Lisboa, 1986, pp. 7 - 39; Porto a Património Mundial, Porto, 1993; QUARESMA, Maria Clementina de Carvalho, Inventário Artístico de Portugal, Cidade do Porto, Lisboa, 1995; VASCONCELOS, Flórido de, Os Estuques do Porto, Porto, 1997; ALVES, Joaquim Jaime B. Ferreira, Da construção à conclusão do Paço Episcopal do Porto, in Monumento nº 17, Lisboa, 1997; ALVES, Joaquim Jaime B. Ferreira, A casa nobre no Porto na época moderna, Lisboa, 2001.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DREMN

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN

Intervenção Realizada

DGEMN: 1981 - Beneficiação e recuperação do zimbório existente sobre a escada nobre; 1982 - remodelação dos aposentos do Arcebispo; 1983 / 1985 - construção e recuperação do vão do telhado da ala O. (cinco quartos, com casa de banho, dois escritórios, etc.); 1986 - trabalhos interiores de beneficiação, com incidência no hall de entrada; beneficiação de carpintarias exteriores e guarda-vento da entrada; 1987 / 1988 - trabalhos urgentes de conservação: valorização de exteriores, fachadas, e do tecto da sala do trono; 1990 / 1991 - obras de adaptação e conservação de interiores: instalações eléctricas e elevador; 1995 - continuação das beneficiações interiores no segundo piso das alas O. e N.; 1996 - continuação das obras de conservação interior, na sala de audiências, sala do promotor de justiça, secretaria e arquivo do tribunal, sala e gabinete do Vigário; obras de construção civil, tratamento dos pavimentos, reboco e pintura das paredes, limpeza de granitos; instalação eléctrica; 1997 - obras de conservação dos interiores; 1998 - continuação das obras de conservação interior, nomeadamente no primeiro piso, na Ala Nobre: sala de estar e de recepção, salas de audiências, leitura e biblioteca; obras de construção civil com tratamento de pavimentos, paredes e tectos; obras de electricidade e de segurança contra incêndios: obras de decoração com revestimento de paredes, colocação de estores, reposteiros e sanefas; 1999 - conservação e restauro das paredes e tectos da escadaria de acesso ao andar nobre; conservação de carpintarias do lanternim da escadaria principal; tratamento e restauro de estuques e pinturas; 2000 - obras de conservação interior, na zona da entrada, com tratamento do pavimento, limpeza de granitos, pintura de paredes e tectos, tratamento de vãos; tratamento dos vãos e das caixilharias do lanternim da escadaria de acesso ao andar nobre; 2001 - 1ª fase de conservação geral de caixilharias, compreendendo os vãos da fachada lateral O.; 2002 - 2ª fase de conservação geral de caixilharias, compreendendo os vãos da fachada principal; 2003 - 3ª fase de conservação geral de caixilharias, compreendendo os vãos da fachada S.; 2004 - 4ª fase de conservação geral de caixilharias, compreendendo os vãos da fachada E., S. e do corpo N. do edifício.

Observações

*1 - Os únicos desenhos que se conhecem do primitivo Paço Episcopal são duas vistas feitos do lado de Vila Nova de Gaia, sendo a mais antiga do pintor Pier Maria Baldi. O edifício desenhado era formado por um conjunto de torres justapostas com alguns corpos que as ligavam, inserindo a sua estrutura, ainda que mais imponente, na tipologia da casa-torre; *2 - Nicolau Nasoni terá vivido com a sua esposa no Paço.

Autor e Data

Isabel Sereno 1994

Actualização

Patrícia Costa 2004
 
 
 
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