Convento de Nossa Senhora de Sacaparte / Santuário de Nossa Senhora de Sacaparte

IPA.00005264
Portugal, Guarda, Sabugal, Aldeia da Ponte
 
Arquitetura religiosa, barroca. Santuário fechado por muro, implantado em planalto, composto pelo templo, cruzeiro, chafariz, alpendres de feira, bancos de cantaria, antiga hospedaria e celeiro, fronteira à qual se implantava a casa do ermitão, entretanto demolida. O templo teve uma primitiva construção medieval, impulsionado, segundo a tradição, pela rainha Santa Isabel, tendo-se tornado um dos mais importantes pontos de peregrinação da Beira, o que atraiu uma comunidade religiosa, os Camilos, ao local, onde se instalaram em meados do séc. 18, construindo um convento, de que subsistem os vestígios da ala posterior da zona regral, marcada pela cozinha, refeitório, ainda com a marcação do púlpito de leitura, e zona do dormitório. A estrutura da igreja filia-se no esquema seguido nos templos construídos no séc. 16 pelas ordens militares pertencentes à Coroa, estando esta anexa à de Alfaiates, pertencente à Ordem de Cristo, com fachada larga, em empena e com vãos rasgados num eixo, que não deixam transparecer a estrutura interna, de três naves com quatro tramos, definidos por arcos formeiros de volta perfeita, assentes em pilares conjugando secção quadrada e octogonal. Foi remodelada no séc. 18, altura em que foram alteradas as modinaturas dos vãos da fachada principal, colocadas novas coberturas em falsas abóbadas de berço de madeira. Está iluminada, na nave, unilateralmente, devido ao adossamento da zona conventual, tendo iluminação uniforme na capela-mor. Possui coro-alto amplo, que atravessa as três naves e se prolonga em tribunas nas naves laterais, correspondendo às necessidades de uma comunidade religiosa, atualmente com acesso por escadas rasgadas num pequeno endo-nártex, que acede ao corredor dos confessionários, que marcam a parede da nave colateral do Evangelho. O púlpito, já sem guarda, adossa-se, como é típico nestas igrejas quinhentistas, a um dos pilares da nave, com acesso por escadas em caracol. No séc. 16, a capela-mor foi decorada com pinturas murais, que subsistem na casa da tribuna, representando o Anúncio do nascimento de Maria e uma Árvore de Jessé. No lado do Evangelho, surge, adossada, uma pequena capela facetada, dedicada a Nossa Senhora do Carmo, orago da devoção dos padres Camilos, que esteve na origem da criação de uma Irmandade encarregue deste culto e que se repercute na iconografia da pintura da abóbada da nave central, o único vestígio da antiga cobertura setecentista. A pequena capela lateral, com interessante decoração exterior, marcada por colunas e janelas com modinaturas recortadas, tem o efeito de um camarim transparente, utilizado frequentemente no séc. 18. As estruturas retabulares são do estilo tardo-barroco, altura em que elementos da talha barroca, rococó e neoclássica se misturam, sendo rematadas por altos espaldares com folhagem vazada. Tem um Cruzeiro de caminho, com degraus circulares, com base quadrangular e fuste circular, com cruz com imagem de Cristo esculpida.
Número IPA Antigo: PT020911070016
 
Registo visualizado 2893 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Conjunto constituído por amplo terreiro pavimentado a seixos, onde se implantam, ao centro, a igreja, com antiga albergaria adossada, as ruínas das dependências conventuais, o cruzeiro, um chafariz e bancos corridos em cantaria de granito, surgindo, a ladear o muro do portal, os alpendres de feira; surgem, ainda, um chafariz a E., uma fonte de mergulho e palheiro rústico. A IGREJA está antecedida por pequeno adro delimitado por muros de cantaria e pavimentado a lajeado, situado em cota inferior à do terreiro, com acesso por escadas, ladeadas por duas ordens de plintos, as inferiores de arestas biseladas, sendo os superiores paralelepipédicos, encimados por pináculos piramidais. O templo é de planta retangular composta por três naves, apenas visíveis interiormente, com pequena capela facetada adossada ao lado esquerdo, e capela-mor com sacristia e corredor adossado ao lado esquerdo, que ligava à antiga ala conventual. É de volumes articulados e escalonados com cobertura homogénea em telhado de duas águas, sendo em cantaria de três águas na capela adossada. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, as da nave percorridas por socos de cantaria, flanqueadas por cunhais apilastrados, firmados por pináculos do tipo balaústre, e rematadas em frisos e cornijas. Fachada principal voltada a O., rematada em empena e rasgada por portal de verga reta e moldura simples, ladeado por pilastras almofadadas, encimado por friso com respiradouro e remate em frontão alteado e interrompido por nicho em abóbada de concha, rodeado por acantos e contendo a imagem de um anjo; está encimado por janelão retilíneo com peitoril assente em duas consolas, encimado por concheado que integra campo aberto para as armas reais, ladeado por volutas; está protegido por vitral representando a Virgem com o Menino. Fachada lateral esquerda com três janelas retilíneas com molduras simples e protegidas por grades, duas na nave e uma delas entaipada. À nave, adossa-se a capela facetada, em cantaria de granito aparente, tendo, nos ângulos colunas de fustes lisos e capitéis de inspiração coríntia, que sustentam o temate em entablamento com cornija formada por friso de dentículos. Cada uma das três faces é rasgada por amplas janelas retilíneas com molduras recortadas. O cunhal esquerdo da capela-mor é marcado por contraforte com esbarro em bisel. Fachada lateral direita marcada por três frestas jacentes no corpo do corredor, tendo, no extremo direito, porta de verga reta. O corpo da sacristia, parcialmente em cantaria aparente, é rasgado por fresta de verga reta, protegido por rede, possuindo, na base, o acesso retilíneo à antiga cisterna. A capela-mor possui duas janelas retilíneas, uma em capialço e vestígios de esperas. Fachada posterior rematada em empena cega, possuindo, a meia altura, duas mísulas. INTERIOR com três naves de quatro tramos definidos por quatro arcos formeiros, de volta perfeita e de arestas biseladas, assentes em pilares de secção quadrada até um terço da sua altura, sendo depois de secção octogonal, surgindo no topo E., apenas mísulas. As paredes interiores são em alvenaria de granito aparente no coro e capela-mor, sendo rebocada e pintada de branco na nave com coberturas em madeira, em falsa abóbada na central, com painel pintado, e em abas nas laterais, e pavimento em lajeado. Possui amplo coro-alto de cantaria, que se prolonga pelas três naves e lateralmente em U, assente em arco abatido na central e em arcos ultrapassados, tendo guarda de madeira torneada, pintado de castanho. O sub-coro, com cobertura de madeira pintada de azul, em gamela, forma um endo-nártex, com arco de volta perfeita de acesso às escadas de acesso ao coro no lado do Evangelho, surgindo, no lado oposto, arco de acesso a porta de verga reta que liga ao anexo e ao antigo corredor dos confessionários, ainda marcados nos paramentos. No lado do Evangelho, vestígios do púlpito adossado a um dos pilares, de que subsiste a bacia quadrangular sobre consola, com acesso por escadas de cantaria. No mesmo lado, a Capela de Nossa Senhora do Carmo, com acesso por arco de volta perfeita saliente e altar em cantaria, onde assenta peanha, possuindo as janelas protegidas por vitral, com representações de Nossa Senhora do Carmo, criando o efeito de camarim transparente. No lado da Epístola, os confessionários embutidos no muro. Arco triunfal de volta perfeita assente em pilastras toscanas e encimado por óculo oval. Está ladeado por duas capelas retabulares colaterais, ambas dedicadas a Nossa Senhora da Póvoa. Capela-mor com cobertura em falsa abóbada de berço pintada com apainelados e a imagem do orago, reforçado por tirante metálico e assente em cornijas marmoreadas; as paredes laterais inclinadas, especialmente a do Evangelho, têm adossados bailéus de alvenaria. Na parede testeira, o retábulo-mor de talha pintada de marmoreados fingidos, de planta reta e três eixos definidos por oito colunas de fustes lisos e capitéis coríntios, assentes em duas ordens de plintos, os superiores galbados e os inferiores paralelepipédicos. Ao centro, tribuna de perfil recortado e moldura saliente, contendo trono de cinco degraus facetados. Os eixos laterais possuem nichos de perfil recortado, com mísulas na base e rematados por folhagens; sob estes, duas portas em arcos apontados, de acesso à casa da tribuna. A estrutura é ladeada por apainelados de madeira e remata em entablamento e espaldar central, enquadrado por fragmentos de frontão, tudo encimado por folhagem vazada; o fundo, de madeira está seccionado por pequenas pilastras e, sobre os eixos laterais, surgem pequenos frontões semicirculares, encimados por losangos com decoração fitomórfica. Altar em forma de urna, ornado por motivos fitomórficos e encimado por sacrário embutido na estrutura, encimado por decoração vegetalista vazada. A casa da tribuna apresenta pinturas murais. A ANTIGA HOSPEDARIA está adossada ao lado direito da fachada, abrindo para o adro, de planta retangular simples com cobertura homogénea em telhado de três águas. As fachadas estão rebocadas e pintadas de branco, flanqueadas por cunhais de cantaria. Fachada principal virada a N., com cunhais apilastrados, o do lado esquerdo duplo e o do lado direito muito espesso, rematada em friso e cornija; está seccionada em dois panos definidos por pilastra toscana colossal, cada um deles rasgado por um eixo de vãos, os inferiores de volta perfeita, assentes em pilastras toscanas, o esquerdo entaipado e o direito parcialmente entaipado formando porta de verga reta; estão encimados por janelas de varandim com guardas almofadadas, a do lado esquerdo entaipada. A fachada lateral esquerda parcialmente adossada ao templo, com a zona inferior claramente mais espessa, e rasgada por portal de verga reta e moldura simples. A fachada lateral direita é flanqueada por cunhais apilastrados e rematada em friso e cornija, com a zona inferior mais espessa, o inferior com porta de verga reta e moldura simples; no topo, três janelas em capialço, a do lado esquerdo entaipado. Fachada posterior rematada em empena, com o cunhal direito perpianho, e vazado por pequeno postigo com moldura de cantaria. INTERIOR com dois pisos, o inferior em dois compartimentos, com pavimento em terra batida e cobertura em abóbada de aresta, de tijolo, numa delas, e teto plano em betão. O segundo piso tem igualmente dois compartimentos e cozinha, com pavimento cimentado e cobertura em vigamento de madeira, que sustenta o telhado *1. RUÍNAS DO CONVENTO com planta retangular, a que se adossam dois corpos, um correspondente à cozinha, de planta retangular, adossado a E., e vestígios de outro corpo similar, a O.. Fachadas evoluindo em dois pisos, em cantaria de granito aparente, rasgadas por vãos retilíneos com molduras simples. Fachada virada a O., com dois pisos definidos por friso, o inferior com duas portas, que possuem bandeira, e quatro janelas de peitoril; no piso superior, muito arruinado, são visíveis três vãos, encimados por arcos de descarga. No lado direito, existia um corpo bastante saliente, arruinado, sendo visíveis dois vãos sobrepostos. Fachada virada a N. com dois pisos, rasgado, no lado direito, por vãos retilíneos sobrepostos. Fachada virada a S. com dois pisos, o primeiro com duas janelas e o segundo com janela de sacada com bacia apoiada em três consolas e uma pequena janela de peitoril. O corpo da cozinha, anexo e marcado por chaminé sustentada por cachorrada, é rasgada por fresta jacente e marcado pela existência de uma gárgula em canudo. Fachada virada a E., rasgada por duas portas e quatro janelas de peitoril, encimadas por cinco janelas de peitoril, uma de sacada e uma porta. O corpo da cozinha, com dois panos delimitados por pilastras tem, no corpo do lado direito, duas janelas jacentes, uma delas na face N.. O INTERIOR está arruinado, tendo desaparecido os elementos definidores dos pisos, sendo ainda visíveis dois compartimentos, que antecedem arco abatido de acesso à cozinha. Esta integra lavabo com tanque em forma de concha, encimado por carrancas e jarrões e rematado por friso coroado por pinha e volutas. Um púlpito surge na zona do refeitório, com porta em arco abatido e base do balcão apoiada em mísula volutada.

Acessos

EN 233-3, para a Rua do Reboleiro, a cerca de 2Km. de Alfaiates

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 2/96, DR, 1ª série, nº 56 de 6 março 1996 (Cruzeiro) / Decreto n.º 5/2002, DR, 1ª série, nº 42 de 19 fevereiro 2002 (Convento)

Enquadramento

Rural, isolado, situado num planalto, a E. da vila de Alfaiates, nas imediações de vários cursos de água, nomeadamente a Ribeira da Senhora e a Ribeira de Alfaiates. O recinto do Santuário, bastante amplo, encontra-se envolvido por muro em alvenaria, com acesso por portal em cantaria de granito, onde se inscreve arco de volta perfeita, assente em pilastras, rematado por cornija e por peanha com cruz latina, flanqueada por pináculos piramidais. A NO. do recinto, situa-se uma anta.

Descrição Complementar

A COBERTURA DA NAVE possui painel pintado em T, com moldura de madeira saliente, que contém pintura, envolvida por moldura recortada por rocalhas, enrolamentos e acantos, tendo, na base um painel com o Apostolado, encimado pela representação das Almas do Purgatório, resgatadas por Nossa Senhora do Carmo. A COBERTURA DA CAPELA-MOR apresenta o fundo branco e moldura dourada, do tipo "ferronerie", envolvida por acantos, tendo dois medalhões nos ângulos. A zona interior encontra-se dividida em apainelados recortados com acantos, tendo, ao centro, painel quadrifoliado, contendo a imagem de Nossa Senhora de Sacaparte; entre os painéis surgem apontamentos de flores e rosetões. No ângulo da Epístola, surge a inscrição: "Oficina / Casa Fanzeres / Braga 1972". A CASA DA TRIBUNA apresenta pinturas murais figurativas, as da parede testeira formando uma ordem de pilastras, surgindo, nas paredes laterais painéis figurativos sobre alto rodapé de grotesco, em "grisaille" sobre fundo vermelho; os painéis estão orlados por frisos, o superior formado por acantos enrolados. O do lado da Epístola, apresenta, no painel superior, seccionado por coluna, dois episódios, a representar o anúncio do anjo a São Joaquim e Santa Ana, surgindo, na base, um painel do encontro do casal na Porta Dourada; no lado oposto, uma Árvore de Jessé. CRUZEIRO DA SENHORA em cantaria de granito, composto por plataforma circular de quatro degraus com focinho saliente, e coluna, marcada inferior e superiormente por anel, possuindo capitel ornado por folhas de acanto, encimadas por quatro cabeças de anjo e quatro quadrifólios. Cruz de hastes retilíneas com figuração rudimentar de Cristo, apresentando crânio de Adão na base e sendo rematada pela cartela com inscrição "INRI". Os ALPENDRES DE FEIRA delimitam o recinto no lado S., existindo ainda um pequeno conjunto no lado O., ladeado por construção em betão. De planta retangular, apresentam, nas faces posteriores, um muro contínuo em alvenaria de granito e, na principal, bancadas contínuas, onde assentam pilares de secção octogonal com capitel de igual secção, que sustentam cobertura a uma água, com telha de canudo. O CHAFARIZ DO TERREIRO em cantaria, composto por pilar paralelepipédico rematado por pináculo troco-cónico, possuindo torneira e tanque quadrangular, algo deteriorado. O CHAFARIZ NOVO é em cantaria composto por espaldar ladeado por duas pilastras e rematado em empena com cruz no vértice sobre dado. Tem inscrição e duas bicas que vertem para tanque retangular de bordos simples, quase ao nível do pavimento.

Utilização Inicial

Religiosa: capela *2

Utilização Actual

Religiosa: santuário / Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese da Guarda)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 16 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

CAIADOR: António Pina (1950). CARPINTEIROS: José Esteves Cordeiro (1950); Manuel Lourenço Bargana (1950). ENTALHADOR: António Luís de Almeida Barbas (1891). PINTOR: Casa Fânzeres (1972). PINTOR-DOURADOR: António Rebelo (1902). PINTOR DE VITRAL: João Moreira (2008); Vitral d'Arte (2013).

Cronologia

Época visigótica - hipotética edificação de capela no local; 1286 - D. Álvaro Nunes de Lara andava desavindo com o rei D. Sancho de Castela, por ter sido expropriado da cidade de Albarracin, que pertencia a sua mulher, D. Teresa Álvares de Asagra, que terá lutado no local com o rei de Castela, não tendo este invadido a povoação por ação da Virgem, invocada pela população para os manter à parte (saca parte) *3; 1293 -o rei D. Dinis passa a proteger o Santuário; provável reconstrução da igreja, que passa a pertencer ao Padroado Real; 1297 - o território passa a integrar o reino de Portugal; 1320, 23 maio - bula do Papa João XXII concedendo a D. Dinis, por três anos, para subsídio de guerra contra os mouros, a décima de todas as rendas eclesiásticas do reino, sendo a igreja taxada em 8 libras; integra o termo de Alfaiates e o bispado de Ciudad Rodrigo; 1327 - a Rainha Santa visita o Santuário e regressa ao local a quando do seu regresso de Santiago de Compostela (1335); 1321 - a igreja é taxada em 8 libras; 1525 - 1550 - reconstrução da igreja e feitura das pinturas murais; 1603 - D. Filipe I teria mandado edificar um hospital e casa de hospedaria; 1643 - Brás Garcia Mascarenhas , alcaide do Castelo de Alfaiates, informa que à romaria acorrem as paróquias vizinhas pela Quaresma, Páscoa, Espírito Santo e a 8 de setembro; 1650 - Frei António Brandão refere que a igreja é formosa com um poço cuja água é milagrosa e tem um hospital que acolhe muitas pessoas; 1710 - construção de um novo forro da capela-mor por 300$000; 1711 - Frei Agostinho de Santa Maria refere a existência da capela, com a casa do ermitão e a casa dos romeiros; a igreja é administrada pela câmara de Alfaiates, que nomeia o Ermitão e Mordomo; as Câmaras de Castelo Bom, Castelo Mendo, Sabugal e Vilar Maior fazem romagem ao templo nos sábados da Quaresma; Castelo Mendo vem na Oitava do Espírito Santo, representado por 18 cavaleiros, desnudos a partir da cintura, com bandeiras reais, armados com espingardas e círios, que depositam no templo, após darem três voltas ao recinto; a igreja é de grandes dimensões, com retábulo onde estão as armas reais, com a imagem do orago, de madeira e com cerca de cinco palmos, tendo, no interior do templo, uma fonte milagrosa; a casa dos romeiros é grande; 1726 - fundação do convento pelos Frades da Ordem de Clérigos Agonizantes de Tomina, sujeitos ao Ordinário; início das obras do convento; no Aquilégio Medicinal, é referida uma cisterna na igreja, que fazia grandes prodígios de curas; 1746, 11 agosto - Alvará régio de fundação do Convento; 1747 - o Padre Luís Cardoso refere a existência da capela com um hospício de religiosos, com 12 padres e um diretor; 1748, 27 fevereiro - o rei D. João V determina que o Santuário se intitule como Real Casa da Senhora de Sacaparte e permite a colocação das armas reais na fachada principal da nova casa e igreja que se constrói; 1751 - agregação dos 25 religiosos à Ordem dos Clérigos Regulares de São Camilo de Lelis, vocacionada para serviços de apoio a doentes e peregrinos; criação da Irmandade de Cristo Agonizante; 1752 - abertura de seminário e estabelecimento de ensino médio; obras na igreja e convento; 1758 - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco António Carvalho Baptista, é referido que os oficiais da Câmara tinham cadeiral na capela-mor, em troca da cedência de fazendas ao convento; dentro da igreja, junto à Capela de São José, existe uma fonte, com fama de milagrosa; informa que, na segunda-feira do Espírito Santo, a Câmara de Castelo Mendo vem em romagem à igreja, começando no cruzeiro da cerca e terminando num banquete na Casa da Hospedaria; nos Sábados da Quaresma, a vila vai em romagem, bem como a de Vilar Maior e 14 lugares do Sabugal; refere que a igreja tem duas naves e capela-mor, com quatro arcos, coro e um altar dedicado a Nossa Senhora do Carmo, no lado direito; tem ordem professa com vários irmãos e altar privilegiado; séc. 19 - proibição episcopal de romaria, que integrava homens a cavalo, nus da cintura para cima, que percorriam o recinto com tochas na mão; 1815 - inventário dos bens da Senhora, que consistiam em três coroas de prata, três toalhas para o altar, seis camisas (três da Senhora e três do Menino), quatro pulseiras de punho, quatro saias de seda, três vestidos do Menino, quatro mantos de seda, 3 varas de seda roxa, ramos de flores, 41 fitas e 2 varas espanholas de galão branco; 1834 - com a extinção das ordens religiosas, o convento torna-se posse de um particular (família Camejo), que o adquire por 800$000, cercando-o com muro alto; do convento, restam dois pisos, com cozinha e refeitório no primeiro, sendo o dormitório no superior; o templo é encerrado; 14 agosto - inventário dos bens do Convento; 1840 - concessão do templo à Irmandade de Nossa Senhora do Monte do Carmo; o recinto tem alpendres, hospedarias, estrebarias, fontanários, pios e o denominado Poço dos Milagres; séc. 19, meados - D. Bernardo Beltrão Freire, bispo de Pinhel, proíbe a procissão de homens com troncos nus, um de cada freguesia; 1885 - aprovação dos estatutos da Irmandade de Nossa Senhora do Monte do Carmo; 02 outubro - inventário dos bens da Irmandade com várias propriedades rústicas, casas, um cálice de prata, duas coroas de prata e uma de prata dourada, um caixão para a cera, duas varas, dois bancos dos Mesários, dois confessionários portáteis e duas toalhas de linho; 1886 - aprovação canónica dos estatutos da Irmandade; 1888, 01 junho - decide a Irmandade fazer obras na capela-mor e restaurar os retábulos; 1889, 19 fevereiro - é posta a lanços a obra da capela-mor e sacristia, com levantamento das paredes, e a feitura de uma nova cobertura, por 250$000; 1896, 08 março - a Irmandade decide reconstruir a cobertura da nave, a casa das Sessões e os três alpendres; 1891, 20 setembro - início da construção do Chafariz novo; colocação do pavimento em lajeado e cobertura do poço; 11 outubro - construção da tribuna da capela-mor pelo mestre António Luís de Almeida Barbas; 1893 - primeira referência ao culto de Nossa Senhora da Póvoa; 1902, 30 março - douramento do retábulo-mor e teto da capela-mor por António Rebelo de Freixedas; 1972 - pintura da cobertura da capela-mor pela Casa Fânzeres de Braga; 1983 - construção do arco de entrada no terreiro; 14 agosto - inauguração do arco de acesso ao terreiro; 1989 - renovação do piso superior da antiga hospedaria, uma parte a funcionar como celeiro, como se pagavam as esmolas; 1996, 07 outubro - Despacho de homologação da classificação do edifício como Imóvel de Interesse Público, pelo Ministro da Cultura; 2003 - 2004 - durante obras de restauro, são encontradas as pinturas murais da casa da tribuna; 2008 - pintura dos vitrais da Capela da Senhora do Carmo e da nave por João Moreira, do Atelier "Escola Antiga", em Turquel, Alcobaça; 2013 - pintura dos vitrais da capela-mor pela oficina Vitral d'Arte, de Fátima.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria e cantaria de granito, parcialmente rebocada e pintada; cruzeiro, bancos, chafariz, modinaturas, pavimentos, colunas, pilastras, escadas, muros em cantaria de granito; coberturas, guardas, mobiliário e portas de madeira; retábulos de talha; casa da tribuna com pinturas murais; janelas com vitral; coberturas em telha de aba e canudo.

Bibliografia

AFONSO, Luís Urbano - «Devoções maiores e devoções menores na pintura mural portuguesa dos séculos XV e XVI» in Cultura Revista de História e Teoria das Ideias. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2010, vol. 27, pp. 11-23; AMBRÓSIO, António - Alfaiates na Órbita de Sacaparte. Lisboa: Colégio Universitário Pio XII, 1991, vol. III; BIGOTTE, Quelhas - O Culto de Nossa Senhora na Diocese da Guarda. Lisboa: s.n., 1948; CASTRO, José Osório da Gama e - Diocese e Distrito da Guarda. Porto: Typografia Universal A Vapor, 1902; CORREIA, Joaquim Manuel - Terras de Riba-Côa, Memórias sobre o Concelho do Sabugal. Lisboa: Federação dos Municípios da Beira Serra, 1946; COSTA, Américo - Dicionario Chorographico de Portugal Continental e Insular. Porto: Typografia Universal A Vapor, 1929; HENRIQUES, Francisco da Fonseca - Aquilégio Medicinal. Lisboa: Oficina da Música, 1726; JORGE, Carlos Henrique Gonçalves - O concelho de Alfaiates em 1758 - Memórias Paroquiais. Sabugal: 1989; LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa Pinho - Portugal Antigo e Moderno - Dicionário Corográfico. Lisboa: Cota d'Armas, 1874; MARIA, Frei Agostinho de Santa - Santuário Mariano... Lisboa: Officina de António Pedrozo Galram, 1711, tomo 3; NEVES, Duardo - Muy nobre vila de Alfaiates - Santuário de Sacaparte. Alfaiates: Comissão de Festas de Sacaparte, 2008; VAZ, Padre Francisco - Alfaiates na Órbita da Sacaparte. Esboço monográfico. Lisboa: Edição do Autor, 1989, 3 vols; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/72158 [consultado em 2 janeiro 2017]; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/73470 [consultado em 2 janeiro 2017].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DREMCentro/DM

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMCentro, SIPA; Diocese da Guarda: Departamento do Património Cultural; Associação de Reitores dos Santuários de Portugal / Paulinas

Documentação Administrativa

PT DGEMN:DSARH-010/226-0042 (processo de classificação do Cruzeiro); DGLAB/TT: Arquivo do Ministério das Finanças, Conventos extintos, Convento de Nossa Senhora de Sacaparte da vila de Alfaiates, cx. 2194 (não consultado)

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1710 - obras de restauro da igreja; 1891 - lajeamento da nave da igreja e é tapado o poço; 1950 - revisão do soalho e forro do coro-alto e do forro da sacristia pelos carpinteiros de Alfaiates, José Esteves Cordeiro e Manuel Lourenço Bargana, pela quantia de 1.900$00; conserto do teto da igreja por José Esteves Cordeiro; pintura da igreja por António Pina, caiador de Robolosa; 1970 - pintura geral e retoque nos dourados do retábulo-mor por 35.900$00; 1971 - restauro e pintura do teto da capela-mor por 45.000$00; 1984 - restauro do exterior da igreja por 375.000$00; 1986 - beneficiação da antiga albergaria: reparação dos rebocos exteriores e picagem dos rebocos interiores, reparação da cobertura, execução de instalação sanitárias e chaminé na antiga albergaria; 1991 - iluminação do recinto; PROPRIETÁRIO / MURAL DA HISTÓRIA: 2004 - restauro das pinturas murais da casa da tribuna; PROPRIETÁRIO: 2008 / 2009 / 2010 / 2011 / 2012 / 2013 - restauro do edifício, com revisão das coberturas, de rebocos e pinturas, aplicação dos vitrais nas janelas e restauro das estruturas retabulares; restauro da pintura mural.

Observações

*1 - no lado oposto à Hospedaria, estava a Casa do Ermitão. *2 - possuía três feiras anuais, coincidindo com as festas da Anunciação, Natividade e Assunção. A romaria anual com procissão agradecia a proteção da Virgem na luta contra os castelhanos, destacando-se, na procissão, o desfile dos homens em tronco nu, denominados localmente como "encoirados", "encaçapos", "pelados" ou "encarrapatos", armados e que davam três voltas ao tempo. *3 - existem várias lendas relativas ao nome do Convento, uma delas referindo a batalha em que D. Sancho de Castela desavindo com um fidalgo castelhano (Álvaro Nunes de Lara) travam uma batalha em Portugal, clamando a população local que "sacai-nos a boa parte", ou seja que os livrasse dos malefícios da guerra; outra lenda refere que o fidalgo, durante a batalha, invocara Nossa Senhora, clamando "sacai-nos a boa parte".

Autor e Data

Paula Figueiredo 2014 (no âmbito da parceria IHRU / Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja / Diocese da Guarda)

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login