Convento de São Francisco da Guarda / Arquivo Distrital da Guarda

IPA.00005238
Portugal, Guarda, Guarda, Guarda
 
Arquitectura religiosa, quinhentista e seiscentista. Convento masculino, franciscano de raiz medieval, com intervenção quinhentista e remodelação seiscentista. Conjunto de planta rectangular incluindo num dos lados a igreja de planta longitudinal composta pela nave e capela-mor. Claustro de planta quadrada com arcaria contínua no primeiro piso, composta em cada um dos lados por cinco arcos abatidos assentes em pilares quadrados. Fachada principal, integrando endonártex, composta por três panos separados por pilastras, sendo o pano central rematado por frontão angular. Portal em arco abatido encimado por janela de sacada em arco pleno, enquadrada por pilastras e volutas. Porta interna de lintel recto moldurado mais largo do que as ombreiras, com paralelo em muitos outros portais existentes na Guarda, como por exemplo, no antigo Paço Episcopal e Seminário (v. PT020907420020). Composição irregular conjugando vãos de lintel recto de características diferenciadas na dimensão, proporção e moldura. Da construção medieval restam talvez alguns arcos plenos entaipados e uma fresta estreita com capialço. Presença pontual de gárgulas de canhão. Conjugação de claustro e pátio interior. Fonte de coluna, de planta circular, rematada por esfera gomada e esfera armilar. Porta de acesso à capela-mor em arco pleno moldurado. No claustro ( segundo registo do alçado N. ) observa-se uma peanha em forma de fragmento de coluna embebida na caixa murária. Nesse alçado verifica-se que os vãos eram antes janelas de sacada. Destaca-se ainda nos alçados do claustro a presença de pequenas janelas quadradas cuja moldura apresenta um sulco reentrante.
Número IPA Antigo: PT020907420025
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos (Província de Portugal)

Descrição

Conjunto de planta rectangular, incluindo, no lado N., a igreja de planta longitudinal composta pela nave e capela-mor. O claustro desenvolve-se a S. do alçado lateral da igreja e organiza as numerosas dependências dispostas em U. Junto à capela-mor e a E. do claustro existe um pátio fechado, de planta rectangular. A fachada principal, orientada a O., integra o acesso à igreja. Apresenta dois registos separados por friso e três panos murários delimitados por pilastras e cornija. O pano central, correspondente ao endonártex, é marcado por largo portal em arco abatido encimado por janela de sacada em arco pleno, enquadrada por pilastras, volutas e duas janelas. É rematada por frontão interrompido que assinala a projecção do frontão angular. Destacam-se nas pilastras laterais duas gárgulas de canhão. Os panos laterais mostram uma composição irregular com janelas de lintel recto e moldura lisa de diferentes características. A S. prolonga-se um outro pano murário correspondente a uma ampliação do edifício. O alçado N. corresponde ao corpo da igreja. Observa-se aí uma dependência anexa com entrada alpendrada, bem como o escalonamento do plano da nave (onde se regista a presença de um arco pleno entaipado) e da capela-mor. A fenestração é composta por janelões de lintel recto e conjuga-se com algumas janelas com capialço moldurado. O lado S. do edifício é composto por um longo corpo mostrando uma composição regular com janelas de lintel recto sem moldura, enquanto o lado E. reflecte o adossamento de corpos incaracterísticos. O espaço interno reflecte as numerosas adaptações. É de registar a porta da igreja, de lintel recto moldurado e rematado por friso, apresentando-se bastante mais largo do que as ombreiras. O espaço da nave foi subdividido em dois pisos. No endonártex observa-se a N. um arco entaipado e no lado oposto a porta de acesso às antigas dependências conventuais, também com o lintel moldurado e encimado por nicho em arco pleno. Permite aceder ao claustro e à escadaria de quatro lanços perpendiculares. O claustro, de planta quadrada, apresenta ao centro uma fonte de coluna, de planta circular, rematada por esfera gomada e esfera armilar. Os alçados do claustro são definidos no piso térreo por arcaria contínua com cinco arcos abatidos em cada um dos lados, assentes em pilares quadrados. No segundo piso, separado do inferior por listel contínuo, observa-se a correspondência de cinco janelas por alçado, todas elas de lintel recto mas mostrando características diferenciadas na dimensão, proporção e moldura.

Acessos

Jardim José de Lemos; Campo de São Francisco

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano. Situa-se junto ao antigo Campo de São Francisco ou Campo da Feira, hoje ocupado pelo jardim e que constituía o rossio medieval. Implanta-se sobre terreno desnivelado, o que se reflecte nas cotas de soleira do edifício. Apenas o alçado lateral da igreja confina com a via pública, já que a área da antiga cerca permanece murada. Acede-se à entrada principal através de escadaria que conduz a plataforma ajardinada. O edifício conventual é acompanhado por outras construções relativamente recentes que se foram dispersando pela cerca ( quartel da GNR e edifício da Direcção de Finanças ). Salienta-se aí um conjunto de ulmeiros centenários que constituem um ponto de referência no perfil urbano.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Cultural e recreativa: arquivo

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

DGLAB, Decreto-Lei n.º 103/2012, DR, 1.ª série, n.º 95 de 16 maio 2012

Época Construção

Séc. 13 / 17

Arquitecto / Construtor / Autor

PEDREIRO: Pêro Martins (atr., séc. 13).

Cronologia

1217 ou 1235 - fundação lendária do convento pelos Frades Gualter e Zacarias, enviados por São Francisco após a sua estada na Península; 1236 - hipotética data da fundação, um ano após a instituição do Convento de São Francisco da Covilhã ( ESPERANÇA, 1656 ); 1246 - data apontada pela maioria dos autores para a existência do Convento, onde talvez tenha trabalhado Pêro Martins, pedreiro galego, que deixa no seu testamento bens ao convento, referindo que o fazia por "algumas cousas que ouve deles [dos frades] qunado com eles morava"; 1298 - a construção do edifício decorria ainda, facto que é documentado pela doação testamentária de 10 maravedis, efectuada pelo Cónego Pedro Pais ( GOMES, 1987 ); séc. 16, 1ª metade - Isabel de Pina, filha do cronista Rui de Pina e sepultada na igreja do Convento, terá mandado restaurar a igreja ( ESPERANÇA, 1656 ); 1525, 17 Mar. - Pagamento de 5.400 reais a Antão saraiva para as obras do Convento; 1600 - Filipe II ordenou o lançamento de uma finta de cem mil réis sobre os habitantes do termo da Guarda a fim de custear as obras de renovação do templo; 1656 - contava 28 religiosos; 1726 - o Aquilégio Medicinal refere que, no claustro, desaguava uma fonte de água fria, muito leve e diurética, com benefícios para problemas de estômago; 1758 - albergava as Irmandades de Santo António e de São Brás; 1834 - extinção do Convento; 1866 -levantamento do edifício efectuado pelo engenheiro militar Joaquim António Dias; 1898 - instalação de uma unidade militar ( Regimento de Infantaria 12 ), de que resultaram sucessivas obras de adaptação no edifício e cerca conventual; 1939 - instalação do Batalhão de Caçadores 7; 1982, 11 fevereiro - Despacho do presidente do IPPC, a determinar a eventual classificação do edifício; 1982 - 1984 - adaptação das instalações a Arquivo Distrital, permanecendo parte da cerca afecta à Guarda Nacional Republicana, à Direcção de Finanças e à Câmara Municipal; 1992, 01 junho - o imóvel é afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126; 11997, 20 Março - o imóvel foi afeto ao Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo, por Decreto-Lei n.º 60/97, DR, 1.ª série-A, n.º 67; 2007, 29 março - afetação do Arquivo à Direção-Geral de Arquivos, Decreto-Lei n.º 93/2007, DR, 1.ª série, n.º 63; 2009, 23 outubro - caduca o processo de classificação conforme o Artigo n.º 78 do Decreto-Lei n.º 309/2009, DR, 1.ª série, n.º 206, alterado pelo Decreto-Lei n.º 265/2012, DR, 1.ª série, n.º 251 de 28 dezembro 2012, que faz caducar os procedimentos que não se encontrem em fase de consulta pública.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Granito, cantaria e alvenaria sem revestimento; madeira; telha de aba e canudo.

Bibliografia

ESPERANÇA, Frei Manuel da, História Seráfica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco da Província de Portugal, Lisboa, 1656, I parte; HENRIQUES, João Baptista, Corografia Lusitana e República Portuguesa, Lisboa, 1691 (BNL Ms. 38); COSTA, António Carvalho da, Corographia Portugueza, Lisboa, 1708; Dicionário Geographico de Portugal, (Memórias Paroquiais), 1758; LEAL, Augusto Pinho, Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, 1873; CASTRO, José Osório da Gama e, Diocese e Distrito da Guarda, Porto, 1902; LANDEIRO, José Manuel, Diocese da Guarda com Sede em Idanha -a-Velha ( Egitânia ), Penamacor e Guarda, Vila Nova de Famalicão, 1940; OLIVEIRA, Carlos de, Apontamentos para a Monografia da Guarda, Guarda, 1940; FONSECA, Alberto Dinis da, São Francisco de Assis esteve na Beira-Serra, in Altitude - Boletim Mensal da Federação de Municípios da Beira -Serra, Guarda, 1942, vol. II, pp. 143 - 144; RODRIGUES, Adriano Vasco, Monografia Artística da Guarda, Guarda, 1977; GOMES, Jesué Pinharanda, História da Diocese da Guarda, Braga, 1981; Subsídios para a História Militar da Guarda, in Altitude, Guarda, 2ª série, 1983, nº 7-8, pp. 77 - 83; DIONÍSIO, Sant'Ana, Guia de Portugal, Lisboa, 1984; GOMES, Rita Costa, A Guarda Medieval, 1200-1500, Lisboa, 1987; PEREIRA, José Fernandes, Guarda, Lisboa, 1995; HENRIQUES, Francisco da Fonseca, Aquilégio Medicinal, Lisboa, 1998 [1.ª ed. de 1726]; ALVES, Alexandre, Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e Viseu, vol. II, Viseu, 2001.

Documentação Gráfica

Arquivo Distrital da Guarda; DGA/TT: Corpo Cronológico, Parte II, maço 124, doc. 103; Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar, 7082 - 5 - 76 - 74

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Biblioteca Pública de Viseu, Manuscritos, 20-1-17, Sentenças da Sé da Guarda, fol. 78 - 78 vº; Arquivo Distrital da Guarda; DGA/TT

Intervenção Realizada

IPA (Instituto Português de Arquivos): 1984 - adaptação de parte das antigas instalações conventuais a Arquivo Distrital, intervenção nas coberturas; LNEC: 1989 - estudo das patologias do edifício; IPA: 1990 - elaboração do estudo prévio do projecto de remodelação e ampliação das instalações do Arquivo, da autoria do Arqº. Bruno Soares; IPA: 1991 / 1992 / 1993 / 1994 / 1995 - intervenção restrita às actuais instalações do Arquivo: demolição das lajes em betão degradadas e de algumas paredes internas, demolição dos pavimentos em madeira e coberturas, construção de lajes maciças em betão armado nas coberturas e estrutura dos pavimentos, impermeabilização dos pavimentos, aplicação de novos revestimentos nos pavimentos: lajeado no claustro, mosaico no 1º piso, soalho e corticite no 2º piso, tratamento das paredes exteriores: picagem dos rebocos antigos, afundamento e refechamento das juntas da cantaria, substituição integral das caixilharias, assentamento de novas soleiras em granito, construção de dreno para desviar a água da mina que alimentava a fonte, substituição da escadaria em granito de acesso à antiga cerca, nova compartimentação interna obedecendo aos critérios funcionais da organização do Arquivo, aplicação de reboco em parte das paredes interiores, revestimento dos tectos com tabuado, construção de novas instalações sanitárias, colocação do guarda-vento da porta principal, renovação integral da rede de água e esgotos e da instalação eléctrica; IAN/TT: 1999 - substituição das coberturas externas da antiga igreja e dependências anexas (obra em curso).

Observações

No terreno actualmente pertencente ao município projecta-se construir uma sala de espectáculos. Frei Manuel da Esperança afirma que foi sepultada na igreja D. Lopa de Sequeira, senhora nobre de Linhares, uma figura associada a diversas lendas locais e que terá vivido no séc. 13 ou 14. A fonte existente no claustro era abastecida por uma mina situada a N., cuja localização exacta é desconhecida.

Autor e Data

Margarida Conceição 1999

Actualização

 
 
 
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